PAULISTÃO de 1942

                No ano de 1942 tivemos um Campeonato Paulista que entrou para a história do futebol brasileiro, pois foi durante este campeonato que tivemos uma mudança do nome de um clube devido a Segunda Guerra Mundial, ou seja, morreu o Palestra Itália e nasceu a Sociedade Esportiva Palmeiras. Tudo isto aconteceu porque o Brasil declarou guerra a Alemanha e a Itália, e com isto começou uma perseguição às colônias desses países aqui no Brasil. Inicialmente, a equipe alterou sua denominação para Palestra de São Paulo. A mudança não satisfez as autoridades perseguidoras e representantes da sociedade da época, o que obrigou o clube a fazer uma nova alteração, desta vez definitiva, para Sociedade Esportiva Palmeiras, dias antes da partida que poderia decidir o campeonato.

               O Campeonato Paulista de 1942, teve início dia 22 de março, com uma vitória do Juventus sobre a Portuguesa Santista por 3 a 1. Tivemos a participação de 11 equipes, assim relacionadas (em ordem de classificação final): Palmeiras, Corinthians, São Paulo, Ypiranga, São Paulo Railway, Juventus, Santos, Portuguesa de Desportos, Portuguesa Santista, Comercial e Hespanha. Neste Campeonato Paulista de 42, foi registrado o maior público da história do Pacaembu: 70.281 pessoas assistiram ao empate em 3×3 entre São Paulo e Corinthians, no dia 24 de maio, que marcou a estreia de Leônidas da Silva com a camisa tricolor. Leônidas era a grande sensação do momento, principalmente depois da Copa de 38, onde ele foi o artilheiro com 8 gols.

                Neste dia também, Hércules fazia sua segunda partida pelo Corinthians, ele que também havia participado do mundial de 38 e veio do Fluminense com um belíssimo currículo. Neste dia, o São Paulo jogou com; Doutor, Fiorotti e Virgílio; Zacilis, Lola e Silva; Luizinho, Waldemar de Brito, Leônidas da Silva, Teixeirinha e Pardal. O Corinthians jogou com; Joel, Agostinho e Chico Preto; Jango, Brandão e Dino; Jerônimo, Milani, Servilio, Eduardinho e Hércules. Os gols do Tricolor foram anotados por Lola, Luizinho e Teixeirinha, enquanto que para o alvinegro marcaram, Jerônimo, Servilio (2).

               Durante o campeonato tivemos várias goleadas, como por exemplo; São Paulo 7×1 Comercial, Santos 8×1 Hespanha, Corinthians 7×2 Comercial, Corinthians 8×0 Hespanha, Santos 10×2 Comercial, Corinthians 6×2 Santos, São Paulo 5×1 Santos, São Paulo 8×1 Ypiranga, Corinthians 9×1 São Paulo Railway, sem falarmos de outras goleadas entre os chamados clubes pequenos.

               Quando ainda faltavam duas rodadas para o término do campeonato, o Palmeiras estava com 34 pontos e o Corinthians com 30 pontos. Na penúltima rodada o Palmeiras tinha pela frente o São Paulo enquanto que o Corinthians iria enfrentar o Juventus e para a última rodada a tabela marcava Palmeiras x Corinthians, ou seja, se na penúltima rodada o Palmeiras perdesse e o Corinthians vencesse, o título seria decidido na última rodada, quando esmeraldinos e alvinegros iriam se enfrentar. Pois bem, o Corinthians venceu o Juventus por 4 a 0, então os olhos estavam todos voltados para o grande clássico entre Palmeiras e São Paulo.

O JOGO DA DECISÃO

                Este jogo aconteceu dia 20 de setembro de 1942 no velho Pacaembu. Mas antes de falarmos do jogo propriamente dito, gostaríamos de falar dos acontecimentos que antecederam este jogo. Dia 22 de agosto de 1942, o Brasil declarou guerra à Alemanha e à Itália, entrando no conflito. A partir daí, tudo que tinha qualquer ligação com esses dois países, inclusive o Palestra Itália, teria de ser mudado. Caso contrário, seria confiscado e fechado. Sem fugir à regra, os diretores do Palestra organizaram uma reunião para decidir qual seria o novo nome. São sugeridas várias opções, entre elas Brasil, Piratininga e Palestra São Paulo.

               Sendo assim, foi marcada para o dia 13 de setembro de 1942, uma reunião no clube para a escolha do novo nome. Ficou por conta do sócio Mário Minervino, a sugestão de “Sociedade Esportiva Palmeiras”, que foi aprovada por todos os demais, cujas cores são o verde e branco (o vermelho foi retirado por fazer alusão à bandeira italiana). Na escolha do novo nome, foi levado em conta o fato do escudo já levar a letra P, além de vários atletas da equipe já terem atuado pela Associação Atlética das Palmeiras. Esta difícil decisão foi tomada dias antes do jogo mais importante do clube naquele ano, ou seja, da decisão do Campeonato Paulista de 1942.  O jogo seria contra o São Paulo.

               A campanha do time alviverde era de causar inveja. Às vésperas de enfrentar o Tricolor, o Palestra contava com 18 jogos, somava 16 vitórias e apenas 02 empates. Chega-se finalmente o grande dia, o clima em toda a cidade de São Paulo não poderia ser diferente. Todas as atenções estavam voltadas para o estádio do Pacaembu, que recebeu um público de 55.913 pagantes. Ao já então Palmeiras uma vitória garantia-lhe por antecipação o título Paulista de 42. Para “apimentar” ainda mais a partida, fora colocado em disputa o “Troféu Campeoníssimo”, que com uma só conquista, ficaria de posse definitiva da equipe que fosse campeã. O referido troféu era uma enorme escultura em bronze em tamanho natural, retratando um jogador de futebol. Hoje, esse troféu ornamenta a riquíssima sala das conquistas alviverdes. Chegou-se a pensar que aquela escultura referia-se a algum atleta alviverde, mas é fruto da laboriosa conquista de 42.

               Tentaram armar um clima totalmente hostil. A esquadra palestrina, assim que adentrasse o gramado do Estádio Municipal do Pacaembu, naquela histórica tarde, seria recebida com uma estrondosa vaia, jamais endereçada a uma equipe de futebol no Brasil. Sabendo do ardil são-paulino, os palestrinos tiveram a seguinte ideia: O oficial do exército brasileiro, o Capitão Adalberto Mendes adentraria ao gramado juntamente com os jogadores alviverdes, ostentando uma enorme bandeira brasileira. E foi assim que o Palmeiras entrou em campo pela primeira vez com o nome que é conhecido até os dias de hoje. E naquele momento todo o estádio silencia-se por alguns instantes. Ao invés de hostilidades e vaias, foram os atletas esmeraldinos, recepcionados e aplaudidos de pé, tanto pela gente palestrina, como pelos contrariados são-paulinos.

               Neste dia o Palmeiras jogou com; Oberdan, Junqueira e Begliomini; Zezé Procópio, Og Moreira e Del Nero; Cláudio, Waldemar Fiume, Villadoniga, Lima e Echevarrieta. O técnico foi Del Débbio. Do outro lado, o técnico Conrado Ross mandou a campo os seguintes jogadores; Doutor; Piolim e Virgílio; Lola, Noronha e Silva; Luizinho Mesquita, Waldemar de Brito, Leônidas, Remo e Pardal. E finalmente o árbitro Jaime Janeiro Rodrigues apitou o início daquele jogo histórico. Não demorou muito, e o Palmeiras abriu o placar aos 20 minutos de jogo, através do jogador Cláudio; 3 minutos depois, Waldemar de Brito, empata a partida 1 x 1. Partida nervosa, muito disputada, mas aos 43 minutos da primeira etapa, o Palmeiras volta a ficar a frente do placar, através de Del Nero. O primeiro tempo termina, 2 x 1 para a equipe alviverde.

               Inicia-se o segundo tempo, que prometeria fortes emoções aos presentes no Pacaembu, pois o empate garantia o título de Campeão Paulista a equipe palmeirense, e a equipe são-paulina, só a vitória interessava. Mas para a alegria da massa alviverde, seu time amplia o placar para 3 x 1, aos 14 minutos da etapa complementar, através do jogador Echevarrieta. Os jogadores são-paulinos sentiam que nada conseguiriam abalar o ânimo daqueles esmeraldinos. Então começaram a armar uma “farsa” naquela tarde no Pacaembu. Aos 19 minutos do segundo tempo, o árbitro expulsou de campo o atleta são-paulino Virgílio, após entrada desleal em Og Moreira e assinalou um pênalti a favor do Palmeiras.

              Os jogadores tricolores recusaram-se a dar prosseguimento a partida, e após se reunirem no meio campo, decidiram sentar-se ao gramado, impedindo com isso a cobrança do pênalti e o prosseguimento da partida. Ou seja, fugiram da possibilidade de uma goleada eminente, pois sabiam, que se com 11 contra 11 as coisas estavam difíceis frente à equipe esmeraldina, tamanha era a disposição que os atletas alviverdes disputavam aquela partida, o que dirá com um atleta a menos.

              Para a irritação de todos ali presentes, sejam atletas ou torcedores alviverdes, o São Paulo, resolveu “fugir de campo”, para que a vergonha não fosse ainda maior. O árbitro Jaime Janeiro aguarda o tempo regulamentar e dá a partida por encerrada. Para a alegria da imensa coletividade palestrina-palmeirense, seja presente no estádio, em toda a cidade de São Paulo, ou em qualquer lugar em que houvesse um torcedor palmeirense, o sofrido, perseguido e injustiçado Palmeiras, sagrava-se Campeão Paulista de 1942.  

              Assim encerrou-se mais uma página histórica da gloriosa conquista alviverde, que desde o ano de 1914, abrilhanta o esporte no Brasil. Portanto, o primeiro gol marcado com o nome de Palmeiras, foi do ponta direita Claudio, o mesmo Claudio que é o maior artilheiro da história do Corinthians com 305 gols e também um dos maiores ídolos da torcida corintiana, pois foi campeão em 1950, 51, 52, 53 e 54. E o técnico do alviverde campeão de 1942, também foi um jogador que fez história no Corinthians, pois foi campeão pelo clube alvinegro em 1922, 23, 24, 28, 29, 30, 37 e 39.

             Na última rodada, a tabela apontava Palmeiras x Corinthians para o dia 4 de outubro de 1942 e o Timão carimbou a faixa de campeão do Palmeiras ao vencer por 3 a 1, gols de Hércules, Milani e Begliomini contra, enquanto que para o alviverde, Lima marcou o único tento. Milani do Corinthians foi o artilheiro do campeonato com 24 gols.  O Palmeiras realizou vinte partidas. Venceu dezessete, empatou duas e perdeu somente uma. Marcou 65 gols e sofreu 19. Por isso, foi o legítimo campeão paulista de 1942. Segundo o lendário goleiro Oberdan Catani, a taça foi conquistada sobre o rival São Paulo graças aos jogadores que lutaram “até sair sangue pela boca”. Uma célebre frase poderia resumir o que foi a conquista do título Paulista de 1942. “Morre  O PALESTRA LÍDER, e  nasce O PALMEIRAS CAMPEÃO ! ”

Deixe uma resposta