COPA de 1930

                         Finalmente havia chegado o grande dia, o sonho se tornou realidade. E tudo começou quando o governo uruguaio se candidatou para ser a sede do novo evento. Assegurando pagar todas as despesas, inclusive o transporte das equipes.

                        O Uruguai obteve a sua aprovação, com aparente facilidade. A queda da bolsa de Nova Iorque e a crise da economia eliminaram as possibilidades dos paises europeus. As vozes discordantes ainda eram muitas e os uruguaios tiveram dificuldade para superar obstáculos de todo o tipo, a partir da forte restrição às longas viagens.

                        A Associação Uruguaia de Futebol, com o apoio declarado do seu Governo, reiterou todos os compromissos assumidos e Jules Rimet não parou de trabalhar junto aos europeus.

                        Em julho de 1929, em Nuremberg, na Alemanha, instalou-se o Comitê Organizador, com representantes da Itália, da Alemanha, da Holanda e da Suécia. A eles juntou-se o uruguaio Enrique Buero, demonstrando o apoio do seu governo.

                        Curiosamente, os quatro europeus do Comitê Organizador, precisamente aqueles que diziam ter cedido o direito de realizar a Copa ao Uruguai, não se inscreveram (Suécia e Holanda) ou desistiram após a inscrição sem explicações (Alemanha e Itália).

                        Cancelaram as inscrições também a Áustria, a Espanha, a Hungria, a Suíça e a Inglaterra. Alegaram dificuldades de ordem econômica, resultantes da estrutura adotada pelo seu futebol com o advento do profissionalismo.

                        Se não era possível ter participantes por inscrição voluntária teria que haver outro caminho. Partiu para sondar os possíveis interessados, negociar a presença deles e realizar a Copa do Mundo, como se comprometera. Convidar as seleções nacionais de futebol dos países amigos foi a solução encontrada com o apoio irrestrito do Uruguai.

                  A Copa do Mundo só foi realizada após a reconstrução da Europa dos destroços da Primeira Guerra Mundial, por isso, somente em 1930 tivemos a primeira Copa, aquela que entraria para a história, porque depois dela viriam tantas outras, fazendo com que o futebol se espalhasse pelo planeta inteiro. E este privilégio de abrir esta importante competição, coube ao Uruguai, que mesmo sem o número de participantes desejado, Montevidéu sediou, com sucesso, a primeira Copa do Mundo, uma competição a nível mundial entre nações. E assim o Uruguai aproveitou para celebrar o Centenário de sua Independência. O povo uruguaio vivia em festa, o futebol fazia parte de tudo aquilo, pois eram os campeões olímpicos de 1924 e 1928.

                        A Copa de 1930 foi realizada no período de 13 a 30 de julho, em Montevidéu – Uruguai, que se preparou com dignidade para a 1ª Copa do Mundo.

                         Para receber solenemente as seleções visitantes, foi erguida uma gigantesca praça de esportes, o Estádio Centenário, que cabe 100 mil pessoas. Apenas 13 países participaram do campeonato e não houve eliminatórias. Os europeus protestaram que a primeira Copa fosse fora de seu continente e boicotaram o evento, tornando praticamente um torneio pan-americano. Os europeus também alegaram que por dificuldades que ofereciam uma travessia do Atlântico, não puderam comparecer em massa, sendo assim vieram somente a Iugoslávia, a França, a Bélgica e a Romênia, sendo que os três últimos vieram no mesmo navio. Do continente americano disputaram Brasil, Argentina, Chile, México, Bolívia, Peru, Estados Unidos, Paraguai e Uruguai. Dos atuais dez membros da Conmebol não participaram apenas Equador, Colômbia e Venezuela.

                        As 13 seleções foram divididas em quatro grupos. O Grupo “A” com quatro equipes e os demais com três equipes cada. Classificaram-se para as semifinais apenas os primeiros de cada grupo. Não houve disputa de terceiro lugar. Vitória valia dois pontos e empate um.

GRUPO – A 

13-07-1930

França

4

x

1

México

15-07-1930

França

0

x

1

Argentina

16-07-1930

Chile

3

x

0

México

19-07-1930

Argentina

6

x

3

México

19-07-1930

Chile

1

x

0

França

22-07-1930 Argentina

3

x

1

Chile

                        Estava tudo certo para que a Copa tivesse seu início dia 15 de julho, mas os jogos começaram dois dias antes, no dia 13 de julho, com abertura até certo ponto decepcionante. Em Pocitos, no estádio do Peñarol, com Jules Rimet na tribuna, não havia 1.000 espectadores. Entraram para a história do futebol, pelo registro do primeiro gol de uma Copa do Mundo o francês Laurent, que marcou e o goleiro mexicano Bonfiglio que o sofreu, na vitória da França por 4 a 1 sobre o México, sendo que o primeiro tempo terminou em 3 a 0.

                        A Argentina que venceu todos os jogos se classificou para a semi-final, que seria dia 26 de julho contra o classificado do Grupo “D”

GRUPO – B

14-07-1930 Iugoslávia 2 x 1 Brasil
17-07-1930 Iugoslávia 4 x 0 Bolívia
20-07-1930 Brasil 4 x 0 Bolívia


O Brasil estreou dia 14 de Julho, no Parque Central, perdendo de 2×1 para a Iugoslávia. O gol brasileiro foi marcado por Preguinho. Neste dia o Brasil jogou com; Joel; Brilhante, Itália; Hermógenes, Fausto, Fernando; Poly, Nilo, Araken, Preguinho, Teóphilo. O Brasil naquele ano, tinha uma população de 37.600.000 habitantes, sendo que somente o estado de São Paulo, tinha 22.400.000 habitantes. Neste ano também, o Papa Pio XI, proclamava Nossa Senhora Aparecida como a Padroeira do Brasil.

                       Dia 17 de julho a Iugoslávia voltou a vencer, desta vez sobre a Bolívia com o placar de 4 a 0. Com esta vitória a Iugoslávia estava classificada para a semi-final.  Restava ao Brasil entrar em campo no dia 20, apenas para cumprir tabela. Mas os jogadores brasileiros fizeram questão de encerrar sua participação naquele mundial de uma forma honrosa e assim venceu a Bolívia por 4 a 0, com gols de Moderato (2) e Preguinho (2). Neste dia o Brasil jogou com; Velloso; Zé Luiz, Itália; Hermógenes, Fausto, Fernando; Benedito, Russinho, Carvalho Leite, Preguinho, Moderato.  E assim dessa maneira, o Brasil ficou em 6º lugar naquele mundial.

 

GRUPO – C

14-07-1930 Romênia 3 x 1 Peru
18-07-1930 Uruguai 1 x 0 Peru
21-07-1930 Uruguai 4 x 0 Romênia

 

                         A data do centenário da Independência do Uruguai foi comemorada em grande gala. No dia 18 de julho de 1930, os portões do novo Estádio Centenário foram abertos pelas maiores autoridades do país para o jogo de estréia da Celeste Olímpica. Mais de 70 mil espectadores, até então o maior público reunido num estádio de futebol nas Américas.

                        Com um gol marcado ainda no primeiro tempo pelo jogador Castro, o Uruguai venceu o Peru por 1 a 0 em sua estreia naquele mundial. Três dia depois, com o Estádio Centenário quase lotado, pois 80 mil torcedores tomavam conta das arquibancadas, o Uruguai goleou a Romênia por 4 a 0. Neste jogo tivemos a arbitragem do brasileiro Almeida Rego. Com esta vitória o Uruguai se classificou para a semi-final, que seria dia 27 contra a Iugoslávia.

 

GRUPO – D

13-07-1930 Estados Unidos 3 x 0 Bélgica
17-07-1930 Estados Unidos 3 x 0 Paraguai
20-07-1930 Paraguai 1 x 0 Bélgica

 

                       O Estádio do Nacional, no Parque Central de Montevidéu, outro lado da cidade, recebeu um público de 10.000 pessoas para assistirem a vitória dos Estados Unidos sobre a Bélgica por 3 a 0. Quatro dias depois, os americanos voltaram a campo e venceram pelo mesmo placar, desta vez sobre o Paraguai. Com esta vitória os Estados Unidos estava classificado para a semi-final, que seria no dia 26 contra a Argentina.

 

SEMI-FINAL

Os quatro melhores de cada grupo estavam classificados para a semi-final. O melhor do Grupo “A” iria enfrentar o melhor do Grupo “D”, enquanto que o melhor do Grupo “B” iria enfrenta o melhor do Grupo “C”.

26-07-1930 Argentina 6 x 1 Estados Unidos
27-07-1930 Uruguai 6 x 1 Iugoslávia


A Argentina goleou os Estados Unidos por 6 a 1, perante 80.000 espectadores e no dia seguinte, 93.000 uruguaios assistiram à derrota da Iugoslávia para o Uruguai também por 6 a 1. Foram 14 gols em dois jogos, e a reafirmação da superioridade do futebol sul-americano, que já deslumbrava a Europa nas Olimpíadas de 1924 e 1928.

                        Não houve o jogo entre Estados Unidos e Iugoslávia para decidir o terceiro lugar, mas, pelos resultados da primeira fase, os Estados Unidos ficou com a terceira posição, enquanto que a Iugoslávia ficou em quarto neste mundial.

FINAL

30-07-1930

Uruguai 4 x 2

Argentina


A tarde de 30 de julho iria marcar a repetição da final das Olimpíadas de Amsterdam, quando os uruguaios dois anos antes, se tornaram bi-campeões olímpicos, derrotando precisamente a Argentina. Desde então chamada de “Celeste Olímpica” (pelo azul celeste de sua bandeira e da camisa de seu uniforme de jogo) a seleção uruguaia, para seus admiradores entusiásticos, estava disputando seu terceiro campeonato mundial.

                        Para esta grande final, o Uruguai entrou em campo com a seguinte formação; Ballestero, Mascheroni, Nasazzi; Andrade, Fernández, Gestido; Dorado, Scarone, Castro, Cea e Iriarte – Técnico: Alberto Suppici. Enquanto que a Argentina jogou assim; Botasso, Della Torre, Paternoster; J.Evaristo, Monti, Arico Suárez; Peucelle, Varallo, Stábile, Ferreira e M. Evaristo – Técnico: Francisco Olazar.

                         Na realidade, foi uma emocionante disputa. Com pouco mais de 10 minutos, Dorado colocou os uruguaios na frente. Os argentinos reagiram empatando, gol de Peucelle. Pouco depois, ainda no decorrer dos 45 minutos iniciais ficaram em vantagem com um belo gol de Stabile, o artilheiro máximo daquele mundial.

                        Nos primeiros momentos da segunda etapa, o zagueiro uruguaio Nazassi adiantou-se e marcou o gol de empate. Mas, enfrentando os protestos dos jogadores e os apupos ensurdecedores do público, o belga Langenus anulou o gol. Foram momentos difíceis, mas o árbitro manteve sua decisão e foi apoiado pelas autoridades. Os uruguaios redobraram seu entusiasmo e continuaram pressionando, até que o jogador Cea fulminou o goleiro Botasso para empatar o jogo em 2 a 2.

                        Ainda vibravam os torcedores, quando Iriarte completou para o fundo das redes argentinas um conjunto de belas jogadas uruguaias, 3 a 2. Faltavam ainda quinze minutos para o apito final, e o Uruguai era todo ataque, até acontecer o quarto gol, marcado por Castro, para a consolidação da vitória.

                        A festa uruguaia foi indescritível e prolongou-se por toda a noite depois de terminado o jogo. No dia seguinte foi feriado nacional. Enquanto o capitão do selecionado uruguaio Nazassi comandava a volta olímpica à frente de seus companheiros, Jules Rimet sorria feliz. 

                        Ao lado do presidente do Uruguai, o presidente da Fifa demonstrava toda a sua alegria por ver tornado realidade o seu sonho da Copa do Mundo de Futebol. Na verdade, seu entusiasmo era muito maior, porque ele sabia que, mesmo antes de terminar a competição, os europeus já se movimentavam para realizar a segunda Copa.  

                                           SELEÇÃO DO URUGUAI  –  CAMPEÃ DA COPA DE 1930

 

PARTICIPAÇÃO DO BRASIL

Nosso artilheiro foi Preguinho, jogador do Fluminense, filho do escritor Coelho Neto, com 3 gols. Mas o maior destaque brasileiro foi o centro-médio (denominação dada na época aos volantes) maranhense Fausto, apelidado pela imprensa uruguaia de “A Maravilha Negra”, um craque que brilhou no Vasco da Gama e no Barcelona da Espanha antes de morrer precocemente, de tuberculose, no Brasil, aos 34 anos.

                        A campanha brasileira neste mundial foi a seguinte:    Terminou em 6º lugar, realizou duas partidas, venceu uma contra a Bolívia por 4×0 e perdeu a outra para a Iugoslávia por 2×1.

                        Os jogadores brasileiros que participaram desta Copa, foram os seguintes:

Goleiros: Joel e Velloso

Zagueiros: Brilhante – Itália – Zé Luiz e Benedicto

Meias: Benevenuto – Hermógenes – Pamplona – Ivan Mariz – Fausto – Fernando Giudicelli–Oscarino e Fortes

Atacantes: Araken – Carvalho Leite – Poli – Doca – Manuelzinho – Russinho – Preguinho – Moderato – Theophilo e Zé Luiz

Técnico: Píndaro de Carvalho

 

Seleção Brasileira de 1930  =  Em Pé: Fernando, Fausto, Hermógenes, Itália, Joel e Brilhante   –  Agachados: Poli, Nilo, Araken, Preguinho e Teófilo

 

 

 

 

 

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