COPA de 1966

                          Os salões do Royal Garden Hotel, em Londres, em 6 de janeiro de 1966, eram o foco das atenções de todo o mundo esportivo. A BBC-TV, no comando de uma grande rede internacional, transmitia pela primeira vez na história do futebol, o sorteio dos grupos para a Copa do Mundo. Mais de uma centena de rádios de todo o mundo transmitiam a cerimônia presidida por Sir Stanley Rous. O secretário da FIFA, Helmut Kaser, conduziu o sorteio, explicando os critérios. Uma novidade a realização de um jogo isolado de abertura da Copa entre o país anfitrião e outro sorteado para o seu grupo. Escolhidas as seleções integrantes dos quatro grupos de quatro países que jogariam as oitavas de finais, o sistema de 32 jogos seguia como antes, com as quartas de finais eliminatórias, duas semi-finais para decidir quais seriam os quatro melhores do mundo.

                         A Copa do Mundo de 1966 foi realizada no período de 11 a 30 de julho e foi o reencontro do futebol com seu país de origem, a Inglaterra, que na primeira metade do século não dera muita importância à FIFA, chegando mesmo a não tomar conhecimento dos três primeiros campeonatos mundiais. Mas naquele ano, fazia questão de pagar com juros, por aquele descaso.

ELIMINATÓRIAS

                        Os setenta países inscritos disputaram jogos eliminatórios iniciados em setembro de 1964. Ao final destes jogos saíram os dezesseis países que iriam disputar o mundial, sendo; dez países da Europa, quatro da América do Sul, um da África, Asia e Austrália e um da América Central e da América do Norte.

JOGOS DA PRIMEIRA FASE  (OITAVAS-DE-FINAL)

GRUPO 1

11-07-1966

Inglaterra 0 X 0 Uruguai
12-07-1966 França 1 X 1

México

15-07-1966

Uruguai 2 X 1 França
15-07-1966 Inglaterra 2 X 0

México

17-07-1966

Uruguai 0 X 0 México
17-07-1966 Inglaterra 2 X 0

França

                          A Rainha da Inglaterra compareceu e o Estádio Wembley não estava lotado, em 11 de julho de 1966, quando a Inglaterra abriu a Copa do Mundo diante de 87.000 espectadores, empatando com a seleção do Uruguai, sem gols. O templo do futebol, com seu impecável gramado, foi maltratado pelas duas seleções, que apresentaram um futebol de má qualidade e decepcionante. No dia seguinte da abertura do mundial, França e México se enfrentaram em Londres diante de um público de 69.000 pessoas. O destaque daquele jogo era o goleiro mexicano Carbajal, não por empolgantes defesas, mas pelo fato de ser a sua quinta participação em Copas do Mundo, que começara a disputar 16 anos antes, no Brasil em 1950. Com gols de Hauser para a França e Borja para o México, a partida terminou empatada em 1 a 1.

                         A segunda rodada ficou marcada pela brutalidade de jogadas e a indisciplina. Em Londres, os uruguaios começaram perdendo para a França e os dois lados abusaram de jogadas ríspidas, com a passividade do árbitro checo. Na segunda etapa, os franceses não conseguiram evitar os dois gols de Pedro Rocha e Cortes para o Uruguai, que venceu por 2 a 1, com Bourgoing fazendo o único gol francês. Quatro dias depois de sua estréia, a Inglaterra voltou a Wembley e entusiasmou seus 92.000 espectadores, ganhando do México por 2 a 0, gols de Bobby Charlton e Hunt. Foi um jogo tranqüilo para os ingleses, que já começava a mostrar seu poderio como anfitrião daquele mundial.

                          A última e decisiva rodada começou em 17 de julho. Em Londres, brilharam os goleiros de Uruguai e México. O mexicano Carbajal, que não atuara na partida anterior, voltou à equipe para se despedir das Copas do Mundo. No lado uruguaio, Mazurkiewicz destacou-se com belas defesas. A partida assistida por 61.000 pagantes, terminou empatada em 0 a 0. A esta altura o México já estava eliminado, enquanto que o Uruguai dependia do resultado do jogo entre Inglaterra e França para saber se seria o primeiro ou o segundo do seu grupo. No último dia dos jogos da primeira fase, 98.000 espectadores estiveram em Wembley, onde a Inglaterra derrotou a França por 2 a 0, com dois gols do atacante Hunt. Os ingleses foram os primeiros do Grupo 1, sem seu goleiro Banks ter levado um único gol.

GRUPO 2

12-07-1966

Alemanha 5 X 0 Suíça
12-07-1966 Argentina 2 X 1

Espanha

15-07-1966

Espanha 2 X 1 Suíça
15-07-1966 Argentina 0 X 0

Alemanha

17-07-1966

Argentina 2 X 0 Suíça
17-07-1966 Alemanha 2 X 1

Espanha

                         Um dia depois da abertura do mundial, a Alemanha goleou a Suíça por 5 a 0, com uma grande estréia em Copa do Mundo de Beckenbauer, que fez dois gols, Haller mais dois e Held fechou o placar. Completaram a primeira rodada deste Grupo 2, Argentina e Espanha que se enfrentaram em Birmigham. As duas seleções melhoraram um pouco o nível dos jogos, perante 47.000 espectadores. O placar foi de 2 a 1 para a Argentina, com dois gols do atacante Artime, que anos depois viria jogar no Brasil, defendendo as cores do Palmeiras. Já para a Espanha, Pirri marcou o único tento. Na segunda rodada deste grupo, a Espanha começou perdendo para a Suíça, mas, no segundo tempo, virou o jogo e fez 2 a 1, com Sanchez e Amâncio, descontando Quentin para os suíços.

                         Fechando esta rodada, jogaram Argentina e Alemanha Ocidental. Diante de um público de 51.000 pessoas, argentinos e alemães fizeram um jogo feio e violento, principalmente por parte da defesa alemã, que o mau árbitro iugoslavo tolerou. No final, outro 0 a 0. Na última rodada deste grupo, a Argentina garantiu sua classificação ao vencer a Suíça por 2 a 0, gols de Artime e Onega, depois da igualdade em zero a zero no primeiro tempo. Foi a terceira derrota da Suíça em três jogos que realizou. Fez um gol somente e sofreu nove. No outro jogo deste grupo, a Alemanha venceu a Espanha por 2 a 1, gols de Emmerich e Seeler para os alemães, enquanto que Fuste marcou o único tento para os espanhóis. Com esta vitória a Alemanha classificou-se em primeiro lugar no seu grupo.

GRUPO 3

12-07-1966

Brasil 2 X 0 Bulgária
12-07-1966 Portugal 3 X 1

Hungria

15-07-1966

Hungria 3 X 1 Brasil
15-07-1966 Portugal 3 X 0

Bulgária

17-07-1966

Brasil 1 X 3 Portugal
17-07-1966 Hungria 3 X 1

Bulgária

                            No Grupo 3, o Brasil enfrentou a violência dos búlgaros, que o árbitro alemão Tschencher não soube reprimir. O Brasil venceu por 2 a 0, com gols de Pelé e Garrincha, ambos em cobrança de falta. A fraca estréia dos bicampeões do mundo foi vista por 48.000 espectadores. Neste dia o Brasil jogou com; Gilmar, Djalma Santos, Bellini, Altair e Paulo Henrique; Denilson e Lima; Garrincha, Alcindo, Pelé e Jairzinho. Técnico – Vicente Feola. No outro jogo do grupo, realizado em Manchester, tivemos uma grata surpresa com  a seleção de Portugal, comandada por Eusébio, que foi o astro da Copa. A Hungria foi um adversário difícil, mas os portugueses venceram por 3 a 1, gols de José Augusto (2) e Torres, enquanto que Bene marcou o único tento para os húngaros.

                            Veio então a segunda rodada deste grupo e o Brasil voltava a campo, desta vez para enfrentar a Hungria, a mesma que eliminou o Brasil na Copa de 1954. O jogo foi em Liverpool, terra dos Beatles. Já aos 2 minutos de jogo, o Brasil perdia por 1 a 0, de Bene para os húngaros. Pelé machucado no jogo anterior, não jogou esta partida, entrando em seu lugar Tostão, que empatou a partida aos 14 minutos ainda no primeiro tempo. Na fase complementar a Hungria, diante de um público de 57.000 espectadores, fez mais dois gols, através de Farkas e Meszoty e venceu merecidamente por 3 a 1. Neste dia o Brasil jogou com a seguinte formação; Gilmar, Djalma Santos, Bellini, Altair e Paulo Henrique; Lima e Gerson; Garrincha, Alcindo, Tostão e Jairzinho. Fechando a segunda rodada do Grupo 3, Portugal venceu a fraca Bulgária por 3 a 0, gols de Eusébio, Torres e o terceiro foi contra.

                            Na última rodada, jogando em Liverpool, o Brasil jogou no desespero, acreditando ainda numa classificação. Voltou Pelé à equipe, que apresentava uma defesa inteiramente nova. Portugal, sem necessidade, adotou também a violência. Pelé sofreu inúmeras faltas e, caído, foi pisado. O Brasil mereceu ser eliminado nas oitavas-de-final, coisa que não acontecia desde 1934. Simões iniciou a contagem e Eusébio, o maior jogador em campo, com dois gols definiu o jogo. Rildo marcou para o Brasil. O público foi o maior do grupo, com 62.000 pagantes. Neste dia o Brasil jogou com; Manga, Fidélis, Brito, Orlando e Rildo; Denilson e Lima; Jairzinho, Silva, Pelé e Paraná. Já Portugal venceu com; José Pereira, Morais, Batista, Vicente e Hilário; Jaime Graça e Coluna; José Augusto, Eusébio, Torres e Simões.  Técnico – Otto Glória. Com esta vitória, Portugal estava classificado em primeiro no seu grupo, pois, das três partidas que disputou, venceu as três. E no último jogo deste grupo, a Hungria garantiu sua presença nas quartas-de-final, ao vencer a Bulgária por 3 a 1. Foi um jogo tranqüilo, pois a Hungria entrou em campo sabendo que já estava classificada para a outra fase.

GRUPO 4

12-07-1966

Rússia 3 x 0 Coréia do Norte
12-07-1966 Itália 2 x 0

Chile

15-07-1966

Chile 1 x 1 Coréia do Norte
15-07-1966 Rússia 1 x 0

Itália

17-07-1966

Coréia do Norte 1 x 0 Itália
17-07-1966 Rússia 2 x 1

Chile

                              Abrindo a rodada deste grupo, a desconhecida Coréia do Norte rendeu-se à superioridade russa por 3 a 0. Foi um jogo tranqüilo, uma vez que a Coréia não tinha nenhuma expressão dentro do futebol mundial. Com o menor público da primeira rodada, ou seja, 30.000 espectadores, a Itália venceu o Chile por 2 a 0 sem nenhuma dificuldade. Na segunda rodada, tivemos uma surpresa, a Coréia do Norte empatando a dois minutos do final com o Chile, com um gol de Park Seung-jin. O Chile fizera o seu gol em pênalti cobrado por Marcos, mas depois deixou-se envolver pela correria dos asiáticos. 1 a 1 foi o placar final. Apenas 15.000 pagantes, o menor público da Copa. Ainda na segunda rodada, a Rússia qualificou-se antecipadamente ao derrotar a Itália por 1 a 0, com um gol de Tsienchenko. Na última rodada deste grupo, tivemos a maior surpresa daquele mundial. A Coreia do Norte surpreendeu a todos, não obstante seu empate com o Chile. Entrou buscando a passagem para as quartas-de-final e derrotou a Itália, em Middlesborough por 1 a 0, com um gol de Park-Do-Ik, aos 41 minutos, que os italianos não conseguiram reverter.

                             Fechando este grupo a Rússia derrotou o Chile por 2 a 1, com dois gols de Porkujan, que fazia seu primeiro jogo pela seleção russa. Marcos chegou a empatar para os chilenos ainda no primeiro tempo, mas no final os russos ganharam por 2 a 1 e estavam classificados para as quartas-de-final, juntamente com a Coréia do Norte, a grande surpresa da Copa. Após estes 24 jogos da primeira fase, somente oito seleções continuavam em busca do título, daquela que foi a oitava Copa do Mundo. De acordo com o regulamento, a tabela para a fase seguinte seria a seguinte:

QUARTAS-DE-FINAL

22-07-1966

Inglaterra 1 x 0 Argentina
22-07-1966 Alemanha 4 x 0

Uruguai

23-07-1966

Portugal 5 x 3 Coréia do Norte
23-07-1966 Rússia 2 x 1

Hungria

                                As quartas-de-final foram disputadas em quatro sedes. A Inglaterra em Wembley, apoiada por 90.000 espectadores, eliminou a Argentina por 1 a 0, em jogo que se tornou um grande escândalo. Os jornais do dia seguinte traziam a fotografia do argentino Rattin no meio do grande tumulto em campo e a manchete com a palavra ANIMAIS, que Alf Ramsey, o técnico inglês, usou para definir os argentinos. Desde o primeiro minuto a violência era usada para parar as jogadas, com maior incidência por parte da defesa argentina. Aos 35 minutos, Perfumo atingiu o atacante inglês com uma falta por trás e reclamava do árbitro que parara o lance, quando o capitão argentino Rattin se interpôs gesticulando como a pedir explicações, na mesma hora em que o goleiro Roma repunha a bola em jogo como se fosse um tiro de meta. O árbitro alemão Kleiten entendeu que Rattin o ofendera e o expulsou de campo.

                                Rattin reagiu e se recusou a sair, exigindo que lhe informassem que ofensa tinha proferido. Alegando só falar o espanhol, que o juiz alemão não dominava, Rattin com o apoio de seus companheiros não aceitava a sua expulsão. O destempero foi geral e toda a delegação argentina invadiu o campo para desafiar o árbitro e ameaçar o médio inglês Stiles, que vinha jogando de forma desleal e violenta. Nem Wembley, nem o futebol, nem os 90.000 espectadores mereciam o vergonhoso episódio. Depois de muitos minutos de pandemônio, Rattin trocando insultos com o público e apontando para as câmeras de televisão, acabou saindo, após amassar uma bandeira inglesa e fazer gestos obscenos ao público inglês. Os argentinos ficaram com 10 jogadores e fecharam-se na defesa. A Inglaterra atacou seguidamente e somente quando faltavam 13 minutos para terminar a partida, aproveitando uma bola alçada na área, em típica jogada da seleção inglesa, o centroavante Hurst fez, de cabeça, o gol da vitória inglesa.

                               Mais violência se verificou no jogo entre Alemanha e Uruguai. A defesa alemã começou parando com faltas violentas Pedro Rocha e Hector Silva, dois perigosos dianteiros uruguaios, sob o olhar complacente do árbitro inglês Finney. Os alemães conseguiram no início fazer 1 a 0 com um gol de Haller, desviando um chute de Held. No segundo tempo, uma bola uruguaia levantada na área alemã não foi interceptada pelo goleiro e Pedro Rocha cabeceou. A bola já ia entrando, quando o zagueiro alemão evitou o gol, afastando a bola com a mão. Os uruguaios protestaram, mas o árbitro não reconheceu o pênalti e mandou prosseguir. A partir daí, o futebol foi substituído por pontapés e agressões, com o capitão uruguaio muito irritado. Provocado por um chute em sua perna, revidou com um chute no estômago o jogador alemão. Expulso de campo, ao sair ainda aplicou uma bofetada, de passagem em outro jogador alemão.

                              Com nove jogadores em campo e os nervos totalmente descontrolados, a seleção uruguaia não resistiu. Beckenbauer aos 26 minutos do segundo tempo fez 2 a 0. A partir daí só deu Alemanha no ataque e acabou fazendo mais dois gols, fechando o placar de 4 a 0. No dia seguinte, tivemos um dos jogos mais emocionantes de toda a  Copa. Portugal iria enfrentar a surpreendente Coréia do Norte. E mais surpreendente ainda foi a Coréia estar vencendo por 3 a 0. Somente depois de acordarem do terrível pesadelo, foi que Portugal começou sua reação. Com quatro gols de Eusébio, sendo dois de pênaltis e um de José Augusto, Portugal não permitiu que a maior zebra de todas as Copas acontecesse naquele dia.

                             Fechando esta fase da competição, a Rússia jogou com a Hungria. O espanhol Gardeazabal foi um bom árbitro no encontro em que o goleiro russo Yashin teve grande atuação. Os soviéticos eliminaram a Hungria por 2 a 1, gols de Tschienki e Porkijan, com Bene marcando o tento húngaro.

SEMI FINAL

25-07-1966

Alemanha 2 x 1 Rússia
25-07-1966 Inglaterra 2 x 1

Portugal

                             Alemanha e União Soviética fizeram a semi-final em Liverpool, com arbitragem fraca do italiano Lo Bello, que, diante de 43.000 espectadores não conseguiu conter a violência iniciada pelos alemães. O último reduto defensivo da Alemanha, como fizera contra o Uruguai não escolhia onde bater no corpo adversário. Os soviéticos acabaram o jogo com nove jogadores (um contundido e um expulso ao revidar um pontapé) e derrotados por 2 a 1. Beckenbauer e Haller fizeram os gols da Alemanha e Porkujan fez o único tento russo a dois minutos do final da partida. A outra partida da semi-final foi realizada em Londres, com 94.000 pagantes, em Wembley, para ver a melhor exibição da Inglaterra naquela Copa, tendo Bobby Charlton como a sua grande estrela.

                              Portugal, que fizera surpreendente campanha, pareceu menos confortável em campo. Com um gol em cada tempo, ambos de Bobby Charlton, a Inglaterra era superior e justificava o placar ao seu favor. A menos de 10 minutos do encerramento do jogo, Eusébio continuava tentando e diminuiu a diferença, mas com 2 a 1 a Inglaterra ia decidir o título com os alemães.

DECISÃO DO 3º LUGAR

28-07-1966

Portugal 2 x 1

Rússia

                            Três dias depois, em 28 de julho, Portugal e União Soviética fizeram, em Wembley, o jogo do terceiro lugar, com os portugueses aparentando estar menos tensos e mais confiantes. Eusébio, de pênalti aos 13 minutos da primeira etapa fez um a zero. Malofejew, aos 44 empatou. Quando faltavam dois minutos para o final da segunda etapa, Torres fez o gol da vitória e do terceiro lugar na Copa.  

FINAL

30-07-1966

Inglaterra 4 x 2

Alemanha

                           Esta foi uma das finais mais polêmicas de todas as Copas. A arbitragem ficou a cargo do suíço Dienst que dirigiu a partida diante de 95.000 espectadores em Wembley. Durante a partida foram apontadas várias falhas graves do árbitro. Os alemães fizeram 1 a 0 com um gol de Haller, mas Hurst empatou cinco minutos depois. Peter fez o segundo gol da Inglaterra, quando faltavam apenas sete minutos para terminar a segunda etapa. Os ingleses venciam por 2 a 1 e já se preparavam para comemorar o título e reclamavam o fim do jogo, quando o árbitro marcou falta, aparentemente inexistente, próxima a área inglesa. Weber cobrou e empatou para a Alemanha. Logo em seguida o árbitro apitou o final da partida, empate de 2 a 2. Mas era a final da Copa, portanto, precisava haver um vencedor, sendo assim, tivemos uma prorrogação de 30 minutos. Aos 10 minutos da prorrogação Hurst fez o seu segundo gol. E foi aí que começou toda a confusão. Observadores afirmam que a bola não cruzou a linha do gol, tendo batido no travessão superior e voltado ao campo.

                          O bandeirinha russo Tofik Bakhemov, uns 10 metros atrás, não teve dúvidas e levantou a bandeira, assinalando gol. Os protestos alemães não foram considerados, as equipes trocaram de lado e imediatamente os ingleses iniciaram o quarto de hora decisivo no ataque. Nos contra-ataques, os alemães encontravam a segurança de Banks na baliza inglesa. Mais uma vez o cronômetro do árbitro suíço andava mais lentamente que os relógios ingleses. Aos 30 minutos de jogo, com muita gente já invadindo o gramado, Hurst fez seu terceiro gol do dia e assim, selou o título mundial para a Inglaterra por 4 a 2. Este quarto gol inglês, os alemães também reclamaram muito, alegando que havia muita gente dentro do campo quando ele foi marcado. Mas de nada valeram as reclamações, a Inglaterra era a campeã da Copa de 1966.

                            Antes de começar a Copa, durante os treinamentos, o treinador inglês Alf Ramsey, sempre afirmava categoricamente: “A Inglaterra vencerá”. De início, não se deu muita importância àquela convicção. Mas logo a frase, curta e incisiva, repetida sempre com a mesma ênfase, se tornou o lema do torcedor inglês antes e durante o campeonato. Organizados, conscientes, trabalhando sem descanso, dentro e fora do campo, os ingleses sabiam o que estavam fazendo.

PARTICIPAÇÃO DO BRASIL

                            Em 1966 o despreparo da seleção brasileira foi o grande responsável pela eliminação precoce. A inédita eliminação da equipe campeã logo na primeira fase foi inevitável.   Com uma equipe envelhecida, a Seleção Brasileira, atual bicampeã, acabou eliminada ainda na primeira fase, com derrotas para Hungria e Portugal, ambas por 3 a 1 e uma única vitória, contra a Bulgária, por 2 a 0, gols de Pelé e Garrincha. Essa foi a última partida oficial em que os dois jogadores atuaram juntos.

                            Quando a seleção brasileira começou seus treinamentos físicos, eles foram de tal forma negligentes que o responsável já não era mais Paulo Amaral ou qualquer outro com experiência em preparação física em algum time de futebol. O escolhido foi Rudolf Hermanny, um especialista em treinar praticantes de Judô e Karatê. Muita coisa mudou na seleção brasileira, além do preparador físico. A própria cúpula, tão coesa em 1958 e 1962, desentendia-se por motivos inteiramente alheios ao futebol. João Havelange e Paulo Machado de Carvalho não se entendiam. A vaidade da cartolagem não permitiu que o “Marechal da Vitória” continuasse no cargo. O certo, porem, é que, os paulistas não souberam se manter no poder. Por omissão, por excesso de confiança ou politicagem. Os erros começaram com a desastrosa temporada pela Europa em 1963. O treinador Aymoré Moreira, um grande estrategista, mas um péssimo político, tentou promover uma renovação em massa na seleção, e não deu certo. Humilhantes derrotas somente serviram para queimar bons valores que vestiam a camisa amarela pela primeira vez.

                            Mesmo sem Paulo Machado de Carvalho na chefia da delegação, Vicente Feola aceitou retornar à seleção. Só que, sem uma boa retaguarda, Feola sofreu pressão de todo lado e acabou chamando um número absurdo de jogadores para um período de três meses de treinamentos. Nada menos de 45 jogadores dos principais clubes do Brasil, mais Amarildo e Jair da Costa que jogavam na Itália. Com tanta gente não foi possível montar uma equipe. Feola dividiu os jogadores em quatro equipes: Azul, Verde, Branco e Grená.

                          Durante três meses a seleção perambulou por várias estações de águas diferentes em São Paulo, Rio e Minas, uma estúpida maneira de fazer política de boa vizinhança. Jogando apenas entre si, os atletas conviviam com o fantasma do “corte”. Dessa forma, a seleção era um grupo exausto e desunido. Um rascunho de um time de futebol. Muitos jogos foram realizados. Começaram em Caxambu, Minas Gerais e terminaram em Malmoe, na Suécia. Três meses de treinamento e Feola ainda não tinha uma equipe ideal para disputar uma Copa do Mundo.

                          Sintomaticamente, todos os membros da comissão técnica andaram renunciando e reconsiderando sua decisão em plena Inglaterra. Feola, desanimado e frágil, não sabia como escalar o time. Entre os veteranos, lá estavam Gilmar, Djalma Santos, Orlando, Bellini, Zito e Garrincha, cujas pernas tortas já não eram tão mágicas como quatro anos antes. A artrose que ele tinha no joelho há muito tempo não lhe permitia mais completar, com a mesma precisão, aqueles dribles pela direita. Feola pretendia utilizar Garrincha, ou melhor, a presença do Garrincha, como uma arma psicológica. Quanto aos novatos, Tostão e Alcindo, convocados para agradar Minas e Rio Grande do Sul, terminaram se impondo e garantindo seu passaporte para a Inglaterra.

                         O Brasil caiu num grupo reconhecidamente difícil. Estreou contra Bulgária e venceu por 2 a 0, com gols de Pelé e Garrincha, ambos na cobrança de faltas. Na seleção se refletia a desorganização de toda comissão técnica. Feola e Carlos Nascimento raramente chegavam a um acordo com relação a escalação do time. Nossos jogadores tinham problemas médicos, músculos cansados, minados, frouxos. Amarildo, vítima de uma distensão em Estocolmo, onde o Brasil fez dois amistosos, foi cortado antes de chegar à Inglaterra. O zagueiro Fidelis também estava machucado. Zito não tinha condições de entrar em campo. Pelé, com dores musculares, não enfrentou a Hungria. O resultado deste jogo foi um desastre total: Hungria 3×1. Para continuar na Copa, dependíamos de um bom resultado contra Portugal. Neste jogo, jogamos com uma seleção totalmente diferente e voltamos a perder por 3×1, dando adeus a Copa da Inglaterra. Para se ter ideia da desorganização do Brasil nesta Copa de 1966, basta dizer que, Vicente Feola, utilizou durante três jogos, vinte jogadores.

                         Foram convocados 47 jogadores ao todo como podemos ver nesta relação abaixo:

Goleiros: Fábio (São Paulo), Gilmar (Santos), Manga (Botafogo), Ubirajara (Bangu) e Valdi (Palmeiras).

Laterais: Carlos Alberto Torres (Santos), Djalma Santos (Palmeiras), Fidelis (Bangu), Murilo (Flamengo), Édson Cegonha (Corinthians), Paulo Henrique (Flamengo) e Rildo (Botafogo).

Zagueiros: Altair (Fluminense), Bellini (São Paulo), Brito (Vasco), Ditão (Flamengo), Djalma Dias (Palmeiras), Fontana (Vasco), Leônidas (América/RJ), Orlando Peçanha (Santos) e Roberto Dias (São Paulo).

Meio de Campo: Denilson (Fluminense), Dino Sani (Corinthians), Dudu (Palmeiras), Fefeu (São Paulo), Gerson (Botafogo), Lima (Santos), Oldair (Vasco) e Zito (Santos).

Atacantes: Alcindo (Grêmio), Amarildo (Milan), Célio (Vasco), Flávio (Corinthians), Garrincha (Corinthians), Ivair (Portuguesa de Desportos), Jair da Costa (Inter de Milão), Jairzinho (Botafogo), Nado (Nautico), Parada (Botafogo), Paraná (São Paulo), Paulo Borges (Bangu), Pelé (Santos), Servílio (Palmeiras), Rinaldo (Palmeiras), Silva (Flamengo), Edu (Santos) e Tostão ( Cruzeiro).

                     A campanha da Seleção Brasileira foi muito fraca, ficando em 11º lugar. Jogou 3 partidas, venceu uma e perdeu as outras duas. Marcou 4 gols e sofreu 6. Os artilheiros brasileiros nesta Copa foram: Rildo, Pelé, Tostão e Garrincha com 1 gol cada.

Os jogadores brasileiros que participaram desta Copa, foram os seguintes:

Goleiros: Gilmar – Manga

Zagueiros: Bellini – Brito – Fidélis – Djalma Santos – Rildo – Orlando – Altair – Paulo Henrique

Meias: Denilson – Zito – Lima – Gerson

Atacantes: Alcindo – Garrincha – Jairzinho – Tostão – Silva – Pelé – Edu – Paraná.

SELEÇÃO DA INGLATERRA – CAMPEÃ DA COPA DE 1966
SELEÇÃO BRASILEIRA DE 1966      –      Em pé: Orlando, Manga, Brito, Denilson, Rildo e Fidélis      –         Agachados: Mário Américo, Jairzinho, Lima, Silva, Pelé e Paraná

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