FUTEBOL INTERIOR: a força do futebol paulista

HISTÓRIA

               Nenhum outro estado da federação tem nas cidades do interior times tão fortes, tradicionais e competitivos até mesmo em nível nacional. A princípio, o Campeonato Paulista era, na prática um campeonato paulistano, municipal da capital. Em 1904 houve a possibilidade de que um time do litoral, o Internacional de Santos disputasse o torneio, mas ele não se classificou. Em 1907, dois times do litoral, o Americano de Santos e o Internacional de Santos, passam a disputar o torneio, tornando-o estadual.

               Em 1910 o Sport Club Savóia de Sorocaba tem a chance de se tornar o primeiro time do interior a disputar o torneio mas não se classifica. Finalmente, em 1914,o Hydecroft Foot-Ball Club de Jundiaí é o primeiro time do interior do estado a disputar a Primeira Divisão. Depois disso, apenas em 1926 outro time do interior volta a disputar a Primeira Divisão Estadual: é o Paulista Futebol Clube também de Jundiaí. A proximidade da capital e o trem como transporte são vitais para essas participações devido às distâncias, pouca estrutura de transporte e amadorismo. Neste ano, outro clube do litoral participava da primeira divisão, o Clube Atlético Santista, de Santos, além do próprio Santos FC. Em 1927 o Paulista de Jundiaí termina o Paulistão na 3ª colocação, e em 1929 a Ponte Preta é vice-campeã estadual.

               Do fim da década de 1910 até o começo da década de 1930 era realizado o Campeonato Paulista do Interior, visto que o Campeonato Paulista da época abrigava em sua grande maioria clubes da capital – até por causa das dificuldades de locomoção dos times; apenas alguns outros como Ponte Preta, Guarani e Santos eram as exceções (as suas cidades, Campinas e Santos eram ligadas a São Paulo por ferrovias). Também foi disputada por 10 anos, de 1917 até 1927, a Taça Competência, onde se enfrentavam os Campeões do Campeonato Paulista e os Campeões do Campeonato Paulista do Interior. Esses campeonatos indicavam campeões de “zonas” e “regiões” do estado, ao vencedor o título de “Campeão Paulista do Interior”, posteriormente disputava o “Campeonato Paulista Amador” contra o clube vencedor do “metropolitano” com o vencedor da “capital”, sendo este a disputar com o vencedor do interior, saindo aí o “Campeão Paulista Amador”.

               Em 2007 voltou a ser instituído pela Federação Paulista de Futebol com o intuito premiar um clube do interior do estado. Disputam esta competição os melhores colocados do Campeonato Paulista que não estejam nas semifinais, com exceção dos clubes da capital e do Santos, dando ao vencedor o título de “Campeão do Interior”.

               Com o estabelecimento definitivo das Divisões inferiores e seu ascenço à Divisão de Elite Paulista, os clubes do interior ganharam o torneio ideal para seu crescimento. Para que um dos grandes da Capital ganhasse o Paulistão era decisivo ir bem nos difíceis jogos no interior. Apenas em 1970 o interior voltou a disputar para valer a taça, com a Ponte Preta novamente vice-campeã. Em 1976 foi a vez do XV de Piracicaba acabar vice-campeão, com o Guarani em 3º e Botafogo de Ribeirão Preto em 4º. A Ponte Preta ainda voltou a ser vice-campeã paulista em 1977, 1979, 1981 e 2008. O Guarani foi vice-campeão em 1988.

Porém o grande feito do interior no Paulistão veio em 1986, quando a Internacional de Limeira conquistou o Campeonato Paulista em cima do Palmeiras, num Morumbi pintado de verde.

               Em 1990, após o vice-campeonato do São José Esporte Clube em 1989, o futebol interiorano se superou e colocou dois times na chamada “Final Caipira” com o Bragantino campeão e o Novorizontino vice. O Bragantino ainda chegaria à final do Brasileirão do ano seguinte, terminando vice-campeão nacional de 1991 perdendo para o São Paulo. Em 2001 o Botafogo de Ribeirão Preto foi vice-campeão paulista e em 2002 o Ituano voltou a dar um título ao interior, mas esse os grandes da capital não participaram do torneio.

                Em 2004 o São Caetano acaba campeão paulista, vencendo na final o Paulista de Jundiaí, que no ano seguinte, consagra-se campeão da Copa do Brasil após eliminar Fluminense e Internacional de Porto Alegre, indo disputar a Copa Libertadores de 2006 quando chegou a derrotar por 2 a 1 o poderoso River Plate da Argentina em Jundiaí. Mas a maior façanha do futebol caipira foi o Campeonato Brasileiro conquistado pelo Guarani Futebol Clube de Campinas em 1978, após eliminar Santos, Vasco e Palmeiras. É até o momento o único clube do interior do Brasil a já ter ganho o título máximo nacional.

CELEIRO DE CRAQUES

               A Ferroviária chegou a ser desmontada várias vezes. Tudo porque era uma fábrica de talentos. Uma produção de craques que acabava enchendo os olhos dos diretores e técnicos do grande clube brasileiro. Para se ter uma ideia dessa realidade, em duas temporadas a Ferroviária perdeu praticamente um time inteiro para os grandes clubes. A diretoria teve que se desdobrar para formar outro time para o novo Campeonato Paulista, que era um dos mais importantes do futebol mundial. Rosã foi para o Palmeiras; Ismael para o Santos; Pimentel, Faustino e Baino para o São Paulo; Bazani e Galhardo para o Corinthians; Beni para o Independiente da Argentina, onde foi campeão mundial interclubes. Todo esse esquadrão esvaziou a Ferroviária em pouco menos de 20 meses. Mas entre um ano e outro, a Ferroviária foi produzindo novos talentos: Tales e Lance foram para o Corinthians; Pio e Nei para o Palmeiras, Teia e Djair para o São Paulo.

                  Em Araraquara, Ribeirão Preto, Piracicaba, Campinas, estão concentrados os maiores saudosistas do futebol brasileiro. E por que esse saudosismo? Porque eram dessas cidades e seus clubes que saiam os grandes jogadores que iriam brilhar no futebol brasileiro. Ferroviária, Botafogo, Comercial, Guarani, XV de Piracicaba, a cada novo campeonato produziam novos talentos que brilhavam os olhos dos diretores dos grandes clubes pelo Brasil afora.

               A Ferroviária, entre os anos 60 e 74, pouco antes de Pelé deixar o futebol paulista, tinha seus cofres recheados. Sobrava dinheiro para bons bichos, boas renovações de contratos. Jamais havia o atraso de salários. Alguns dizem que era obra da direção da antiga Estrada de Ferro Araraquara, que mantinha e custeava o time e o clube. Que nada! A Ferroviária era mantida pela fábrica de cracks. Seus olheiros estavam sempre rastreando talentos pelo interior, e virava e mexia apareciam com uma meninada magra, meio desengonçada, mas que, com um bom trato em pouco tempo estava esbanjando talento pelos gramados brasileiros e estrangeiros.

               O futebol brasileiro tinha talentos em excesso nas décadas de 1950, 1960 e 1970 porque as categorias de base dessas equipes forneciam os atletas para os times da capital. O zagueiro Luis Pereira, por exemplo, deu seus primeiros passos no São Bento de Sorocaba. Leivinha começou no Linense; Oscar, Dicá e Valdir Peres da Ponte Preta; Renato e Careca, do Guarani; Leão do Comercial de Ribeirão Preto; De Sordi e Mazzola, do XV de Piracicaba; Sócrates e Rai do Botafogo de Ribeirão Preto; Ademar Pantera da Prudentina; Gilmar e Baltazar do Jabaquara; Dudu, Faustino, Téia, Pio, Bazani, Nei e tantos outros da Ferroviária de Araraquara, enfim, a lista de atletas oriundos do interior paulista é variada, por isso que dizemos que o interior paulista sempre foi um celeiro de craques.

ESTÁDIOS

               O interior paulista possui belíssimos estádios que chegam a causar inveja a grandes clubes de outros estados. Como exemplo podemos citar o Estádio Santa Cruz que pertence ao Botafogo de Ribeirão Preto, o Prudentão da cidade de Presidente Prudente, o Moisés Lucarelli, que pertence a Ponte Preta, e o Brinco de Ouro da Princesa que pertence ao Guarani, ambos da cidade de Campinas. Temos também o Limeirão da cidade de Limeira, o Estádio Benedito Teixeira, popularmente conhecido por Teixeirão, que pertence ao América de São José do Rio Preto, o Estádio da Fonte Luminosa, que pertence a Ferroviária de Araraquara e outros com capacidade para receber um grande público.

OS GRANDES CLÁSSICOS

               No interior paulista existem alguns clássicos tradicionais, tanto locais como regionais, tais como: o Derbi Campineiro que envolve Guarani e Ponte Preta, o saudoso Come-Fogo, entre Comercial e Botafogo de Ribeirão Preto, o Derbi Limeirense, que envolve a Internacional e o Independente, temos ainda Rio Claro x Velo Clube, União Barbarense x Rio Branco de Americana e outros de menor rivalidade, mas que também sempre levou grandes públicos aos estádios e sem dúvida aquela ansiedade por parte dos torcedores antes de cada partida e depois dependendo do resultado, aquela gozação.

CAMPEÕES E VICE

               O Campeonato Paulista de Futebol é disputado desde 1902, com predomínio absoluto dos times da Capital. Mas afinal, quais foram os times do interior paulista que foram Campeões ou Vice-Campeões deste campeonato tão tradicional ao longo da história? e quais os times do interior que foram campeões de torneios nacionais? Respondendo a estas perguntas, podemos citar; Campeões Paulista: Internacional de Limeira em 1986, Bragantino em 1990, Ituano em 2002, São Caetano e 2004, O Santos é considerado um clube do interior paulista, mas nem vamos coloca-lo na relação, pois seria covardia.

                Vice Campeões Paulista: Ponte Preta em 1929, 1977, 1979, 1981 e 2008, o XV de Piracicaba em 1976, o Guarani de Campinas em 1988 e 2012, o São José de São José dos Campos em 1989, o Novo Horizontino da cidade de Novo Horizonte em 1990, o Botafogo de Ribeirão Preto em 2001, o América de São José do Rio Preto em 2002, o Paulista de Jundiaí em 2004, o São Caetano em 2007 e o Santo André em 2010. Campeões da Copa do Brasil; Santo André em 2004 e o Paulista de Jundiaí em 2005. E finalmente temos o Guarani que sagrou-se Campeão Brasileiro em 1978, numa das maiores conquista do interior paulista.

Guarani de 1978  –  Em pé: Zé Carlos, Edson, Mauro, Miranda, Gomes e Neneca    –   Agachados: Capitão, Renato, Careca, Zenon e Bozó
América de SJRP –   Em pé: Motta, Nelson, Adelson, Neuri, Mané Barbudo e Ambrósio    –    Agachados: Arcanjo, Cardoso, Gildo, Raul e Caravetti

Inter de Limeira campeã paulista de 1986  –  Em pé: Silas, João Luis, Bolivar, Juarez, Manguinha, Pecos e Kita   –    Agachados: Tato, Gilberto Costa, João Batista, Gilson Gênio e o massagista Bolão

B R A G A N T I N O
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