PAULISTÃO de 1950

                 Exatamente dois meses depois que terminou a Copa do Mundo de 1950, que foi disputada aqui no Brasil e que perdemos a final para o Uruguai por 2 a 1, começava o Campeonato Paulista. O torcedor brasileiro ainda estava triste com a perda do mundial e os jogadores ainda mais, pois viveram de perto aquela catástrofe, onde mais ou menos duzentas mil pessoas proporcionaram o maior silêncio já visto num estádio de futebol, um silêncio que podemos chamar de ensurdecedor. E no futebol paulista haviam vários jogadores que participaram daquele mundial e que iriam tentar esquecer aquela tristeza fazendo um belo campeonato. Entre eles estavam; Rui, Bauer, Noronha, Nena, Baltazar, Juvenal e Rodrigues.

               O campeonato contou com 12 participantes assim relacionados; (conforme a classificação final) Palmeiras, São Paulo, Santos, Portuguesa de Desportos, Corinthians, Guarani, Ypiranga, Juventus, XV de Piracicaba, Portuguesa Santista, Nacional e Jabaquara. O campeonato começou dia 20 de agosto com o Corinthians empatando com o Juventus em 2 a 2 no Parque São Jorge, o Palmeiras também empatando com a Portuguesa Santista em 1 a 1 no Parque Antarctica, o São Paulo vencendo o Nacional por 5 a 2 e o Santos perdendo para o Ypiranga por 2 a 0.  O São Paulo que era o atual bicampeão paulista vinha com um time forte, assim como o Santos e o Palmeiras, tanto é que o Palmeiras sagrou-se campeão com um ponto apenas de diferença deles dois.

               Para se ter uma ideia de como o campeonato foi acirrado, ele só foi decidido na última rodada, quando se enfrentaram São Paulo e Palmeiras, quem vencesse seria o campeão. Este jogo era muito importante, não só pela conquista do título paulista, mas também porque o vencedor teria o direito adquirido de participar da Copa Rio no ano seguinte, onde participavam outros clubes da Europa, como por exemplo a Juventus da Itália. O primeiro clássico paulista de 1950, aconteceu no dia 3 de setembro, quando o Santos derrotou o São Paulo por 3 a 2 na Vila Belmiro. Mas depois o Tricolor se firmou e venceu os cinco próximos compromissos. O Santos por sua vez, continuou vencendo e de goleada. Venceu o XV de Piracicaba por 5 a 2, o Nacional por 5 a 0 e outras mais.

              O Palmeiras também goleou o Nacional por 6 a 0 e o Guarani por 4 a 0. Mas não foi só do Santos e do Palmeiras o privilégio de vencer de goleada seus adversários, pois a Portuguesa de Desportos também não perdoou, pois venceu o Ypiranga por 5 a 2, o Nacional por 4 a 0, o XV de Piracicaba por 7 a 0, o Santos por 6 a 1 e o Jabaquara por 9 a 2. Mas a maior goleada do campeonato ficou por conta do São Paulo, que goleou o Guarani de Campinas por 10 a 0 no dia 11 de novembro. Outro jogo que entrou para a história desse campeonato, aconteceu no dia 20 de janeiro, pela décima rodada, quando Corinthians e Portuguesa de Desportos se enfrentaram no Pacaembu e fizeram um jogo com 9 gols. O jogo terminou com a vitória corintiana por 6 a 3, gols de ….

               O Verdão assumiu a ponta ao vencer o clássico do primeiro turno contra o São Paulo por 2 a 0, ambos os gols de Brandãozinho (Pacaembu, 15/10/1950). A liderança, porém, seria perdida pouco tempo depois, e a situação ficaria mais grave ainda depois de duas derrotas em dois clássicos, contra a Portuguesa por 3 a 1 e para o Santos por 4 a 2. E a coisa piorou na primeira rodada do novo ano, mais precisamente dia 7 de janeiro de 1951, quando o alviverde perdeu para o Corinthians por 3 a 1, com dois gols de Baltazar e um de Luizinho, enquanto que Aquiles marcou para o Verdão. Com essa derrota o Palmeiras ficou três pontos atrás do São Paulo e faltavam apenas mais três rodadas para terminar o campeonato e isto deixou a torcida esmeraldina muito preocupada. Não custa lembrar que naquela época uma vitória valia dois pontos, ou seja, duas vitórias e o São Paulo seria campeão antecipado.

               E a antepenúltima rodada apontava Palmeiras versus XV de Piracicaba no Parque Antarctica e São Paulo versus Ypiranga. O Palmeiras fez sua parte e venceu por 1 a 0, enquanto que o Tricolor para surpresa de muitos perdeu por 2 a 1. A diferença passou a ser de apenas um ponto. Na penúltima rodada o Palmeiras iria enfrentar a Portuguesa Santista lá na baixada santista, enquanto que o Tricolor tinha um clássico pela frente diante do Santos. O jogo seria no estádio do Canindé, que naquela época pertencia ao São Paulo. Esta rodada aconteceu dia 21 de janeiro de 1951.

              O Palmeiras não tomou conhecimento do adversário e venceu por 3 a 0, enquanto que o São Paulo mais uma vez desapontou sua imensa torcida ao perder por 2 a 1. E assim dessa maneira, o Palmeiras passou a frente do Tricolor por um ponto. E vinha a última rodada do campeonato e advinha qual o jogo que a tabela marcava para este dia. Exatamente, Palmeiras versus São Paulo, ou seja, um empate dava o título ao Palmeiras. Os outros jogos desta última rodada para os chamados grandes eram os seguintes; o Corinthians derrotou a Portuguesa Santista por 4 a 3, a Portuguesa de Desportos venceu o Guarani por 3 a 1 e o Santos venceu o Ypiranga por 2 a 1.

O JOGO DO TITULO

               O jogo foi no dia 28 de janeiro de 1951, um dia de muita chuva na capital paulista. O estádio era o velho Pacaembu que recebeu um grande público naquela tarde de domingo. A renda foi de Cr$ 855.922,00 e o árbitro foi o inglês Alwin Bradley.  Para este jogo o técnico Ventura Cambon do Palmeiras mandou a campo os seguintes jogadores; Oberdan, Turcão, Palante, Waldemar Fiúme, Luiz Villa, Sarno, Lima, Canhotinho, Aquiles, Jair Rosa Pinto e Rodrigues. Do outro lado o técnico do Tricolor, o experiente Vicente Feola, o mesmo que comandou nossa seleção na Copa de 58 na Suécia, onde conquistamos o nosso primeiro título mundial, escalou a seguinte equipe; Mário, Savério, Mauro Ramos de Oliveira, Bauer, Rui, Noronha, Dido, Remo, Friaça, Leopoldo e Teixeirinha.

               Uma fortíssima chuva antecedeu a peleja daquele domingo. Ainda assim, o juiz inglês, que já apitara quatro partidas do Palmeiras naquele torneio, deu início à decisão, que reunia cinco atletas que poucos meses antes haviam sido vice-campeões da Copa do Mundo do Brasil: do lado tricolor, o famoso meio-campo de Rui, Bauer e Noronha; da parte verde, Jair Rosa Pinto e o recém-contratado Rodrigues. Em meio ao aguaceiro, que tornou a partida eternamente conhecida como o “Jogo da Lama”, o São Paulo abriu o placar logo aos 4 minutos de jogo. A pressão são-paulina perdurou por todo o primeiro tempo, em que Oberdan Catani impediu que o placar fosse mais elástico.

               No intervalo, Jair cobrou aos berros mais empenho da equipe. A bronca pode ter lembrado aos demais a grandeza da camisa que vestiam; o fato é que no segundo tempo o Palmeiras foi outro. E a recompensa veio aos 15 minutos. Numa jogada iniciada por ele, Jair, a bola acabou nos pés de Aquiles, que não perdoou: 1 a 1. Os 30 minutos seguintes foram de uma intensa batalha, mas nenhuma meta foi vazada. Com o apito final, o Palmeiras sagrava-se campeão do Ano Santo de 1950, e toda aquela equipe, especialmente Jair, entrava de forma indelével na lista de heróis alviverdes. Curiosamente, Jajá da Barra Mansa, como também era conhecido, quase não participou daquela decisão: depois da derrota para o Corinthians por 3 a 1 no dia 7 de janeiro, fora afastado pelo técnico Ventura Cambon e não atuara nas partidas contra o XV de Piracicaba e Portuguesa Santista; na semana da decisão, porém, foi o destaque de um jogo-treino e garantiu seu retorno ao onze inicial.

               Nesta decisão houve um gol anulado que causou muita polêmica, o gol do são paulino Teixeirinha, gol que poderia dar o tricampeonato ao São Paulo, mas Alberto Chuari (Turcão) que também jogava no São Paulo afirmou que o gol foi corretamente anulado: “O bandeirinha estava certo. O Teixeirinha vinha de traz de mim para receber a bola. O bandeirinha levantou a bandeira antes dele se posicionar em condição de jogo.”

CURIOSIDADES:

               O Campeonato Paulista de 1950 teve 132 jogos, foram marcados 471 gols, o que nos dá uma média de 3,57 gols por partida. O Palmeiras sagrou-se campeão depois de disputar 22 jogos, sendo que venceu 13, empatou 6 e perdeu somente 3 vezes, que foram para a Portuguesa de Desportos por 3 a 1 no dia 10 de dezembro, para o Santos por 4 a 2 no dia 16 de dezembro e para o Corinthians por 3 a 1 no dia 7 de janeiro, todas elas no segundo turno. O Palmeiras marcou 45 gols e sofreu 22, tendo um saldo positivo de 23 gols. Somou 32 pontos, enquanto que São Paulo e Santos só chegaram aos 31 pontos. Por tudo isso, o alviverde de Parque Antarctica sagrou-se o legítimo Campeão Paulista de 1950. O rebaixado daquele ano foi o Jabaquara, pois dos 22 jogos que disputou venceu somente 3, empatou 2 e perdeu 17.

               Dia 11 de novembro (uma quinta feira a noite), o São Paulo goleou o Guarani por 10 a 0, sendo que o atacante Augusto marcou a metade dos gols. Teixeirinha marcou 3 e Leopoldo 2. O título conquistado pelo Palmeiras em 1950, impediu o São Paulo de conquistar o tricampeonato estadual, até hoje inédito para o clube. Vale dizer que, nas outras quatro vezes que o clube chegou ao bi, em três foi o Palmeiras o responsável pelo fim da série. Outra curiosidade, foi que este título do Palmeiras em 1950, ficou entre dois bicampeonatos de seus arqui-rivais, pois o São Paulo foi bi em 1948/49, enquanto que o Corinthians foi bi em 1951/52.

               Foi o título paulista de 1950 que deu ao Palmeiras o direito de disputar a Copa Rio, uma competição que participaram; Palmeiras, Vasco, Áustria Viena, Nacional de Montevidéu, Sporting de Lisboa, Olympique de Nice, Juventus de Turim e Estrela Vermelha de Belgrado. Depois de vencer os franceses, os iugoslavos e o Vasco da Gama, o Palmeiras foi decidir o título com a Juventus da Itália. O jogo foi no Maracanã dia 22 de julho de 1951. O Palmeiras jogava pelo empate e foi o que aconteceu, 2 a 2, foi o placar final, gols de Rodrigues e Liminha. Por tudo isso, o título de Campeão Paulista de 1950, entrou para a história do Palmeiras e também do futebol paulista.

 

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