COPA de 1938

                          O mundo vivia momentos de grande tensão, com o fortalecimento de Hitler e a expansão do nazismo na Alemanha. A Inglaterra liderava intenso esforço diplomático para manter a paz, mas a expectativa era de guerra. Jules Rimet não desconhecia o perigo, mas seguia trabalhando para cumprir a resolução do Congresso de Berlim, que programara o 3º Campeonato Mundial de Futebol para Junho de 1938, na França. Havia 45 países inscritos um ano antes do programado início. A Argentina que teve rejeitada em Berlim sua proposta de alternância de sedes entre Europa e América, recusou o convite, a Espanha em guerra civil e a Inglaterra ainda afastada da FIFA não se inscreveram.

                         A campeã Itália e a anfitriã França imediatamente confirmaram suas presenças; era preciso selecionar mais 14 participantes do turno final. O presidente da FIFA não vacilou em reservar 11 lugares para a Europa, que lhe garantia a presença em 21 jogos eliminatórios. A França foi escolhida para sediar a Copa de 38 sob protestos argentinos. Jules Rimet, fundador da FIFA era francês e o sucesso comercial de Copas anteriores motivou a decisão de manter o torneio na Europa e ignorar o rodízio dos continentes, apesar da eminência de uma nova guerra. Os argentinos revoltados com a decisão abandonaram a Copa.

                         Colômbia, Costa Rica, El Salvador, Guiana Holandesa, México e Uruguai foram solidários e não enviaram seus atletas à França. Do continente americano apenas Cuba e Brasil estiveram presentes na Copa de 1938. Desde a primeira edição a Copa do Mundo foi um sucesso de público. As seleções de todo o mundo passaram a se interessar e a partir da Copa de 1938 foram necessárias eliminatórias para a fase final devido ao enorme interesse dos países. Para Copa da França, 36 países disputaram as 16 vagas da competição.

                          A política influenciou de vez a Copa: a Guerra Civil Espanhola, uma avant premiére da Segunda Guerra, mutilou a “Fúria”; O público francês vaiava os jogadores italianos e alemães quando estes faziam as saudações fascistas; A squadra azzurra mudou seu uniforme para preto, cor oficial do fascismo; e no escudo alemão, a indefectível suástica. Além da Itália que era a atual campeã e a França por ser a organizadora do mundial, os outros 14 países que iriam disputar a 3ª Copa do Mundo eram os seguintes: Europa: Alemanha, Bélgica, Holanda, Hungria, Noruega, Polônia, Romênia, Suécia, Suíça, Checoslováquia e Áustria. América do Sul: somente o Brasil. América do Norte, Central e Caribe: somente Cuba e pela Ásia: somente a Indonésia.

                        As 16 seleções foram divididas em 8 grupos de 2 seleções cada. A Suécia avançou automaticamente às quartas-de-final, pois seu adversário que seria a Áustria não compareceu ao mundial, pois foi proibida pelo governo alemão de ir à França. Toda a Copa do Mundo foi disputada em sistema eliminatório.

JOGOS DA PRIMEIRA FASE (OITAVAS-DE-FINAL)

04-06-1938

Alemanha 1 x 1 Suíça
05-06-1938 Hungria 6 x 0

Indonésia

05-06-1938

Cuba 3 x 3 Romênia
05-06-1938 França 3 x 1

Bélgica

05-06-1938

Itália 2 x 1 Noruega
05-06-1938 Checoslováquia 3 x 0

Holanda

05-06-1938

Brasil 6 x 5

Polônia

                          A abertura do mundial contou com um jogo somente. Foi no Parc dês Princês, em Paris, como já estava programado, com o jogo entre Alemanha e Suíça. Foi um jogo muito disputado, onde a Suíça entrou em campo para não tomar gol, pois jogou o tempo todo na defesa e esperando o momento certo para o contra ataque. E foi o que aconteceu. Abriram o placar ainda no primeiro tempo, mas num descuido da defesa permitiram o empate. Veio então a prorrogação de 30 minutos, mas ninguém marcou. Sendo assim, foi marcado um novo jogo para o dia 9 de junho no mesmo local. A Suíça veio a campo com o mesmo sistema tático da primeira partida, mas logo no início da partida o zagueiro suíço Lorscher desviou a bola para o fundo de suas próprias redes. Pouco depois a Alemanha aumentou o placar e fez 2 a 0. Pouco antes do final do primeiro tempo, os suíços diminuíram a vantagem.

                        Começa o segundo tempo e logo no início a Suíça empatou a partida em 2 a 2. O público presente não acreditava, mas era a realidade. Mais assustados ficaram, quando a Suíça marcou mais dois gols e assim dessa maneira, venceu a partida por 4 a 2 e a Alemanha que era a favorita para aquele jogo, acabou perdendo e estava fora do mundial. No outro jogo entre Cuba e Romênia que também terminou empatado, aconteceu a mesma coisa, ou seja, na prorrogação ninguém marcou, sendo assim, uma nova partida foi marcada para o dia 9 de junho e uma nova surpresa, a favorita Romênia perdeu para Cuba por 2 a 1 e também estava fora.

                         Dia 5 de junho, um dia após a abertura da Copa, os demais jogos foram realizados, com exceção da Suécia e Áustria, pois os austríacos não compareceram ao mundial. E foi neste 5 de junho que tivemos um jogo simplesmente espetacular, onde o Brasil venceu a Polônia por 6 a 5. Diante de um público de 18.000 pessoas, os 22 jogadores se empenharam em um dos mais sensacionais jogos daquela Copa. Ao final dos 90 minutos, em campo inundado por fortes chuvas e sob violento temporal, as duas equipes chegaram ao surpreendente 4 a 4.

                        Veio então a prorrogação de 30 minutos, com o campo impraticável, um lamaçal sem grama. Os poloneses marcaram seu quinto gol e os brasileiros fizeram mais dois, fechando assim o placar de 6 a 5 para o Brasil. Os gols brasileiros foram marcados por Leônidas da Silva (4), Romeu e Perácio. 

QUARTAS-DE-FINAL

12-06-1938

Suíça 0 x 2 Hungria

12-06-1938

Suécia 8 x 0 Cuba
12-06-1938 França 1 x 3

Itália

12-06-1938 Brasil 1 x 1

Checoslováquia

                          Em Paris, no estádio de Colombes, no jogo que muitos consideravam a verdadeira final da Copa, 60 mil espectadores viram a Itália eliminar a França por 3 a 1 com dois gols de Piola e um de Colaussi. Foi a maior presença de público na Copa, com os franceses estimulados pelo público sustentando o empate de 1 a 1 até o final do primeiro tempo. Mas nos 45 minutos finais, os jogadores franceses demonstraram estar esgotados fisicamente e não resistiram a pressão italiana que marcou mais dois gols, eliminando dessa maneira a dona da casa daquele mundial. No outro jogo das quartas-de-final, a Suécia goleou Cuba por 8 a 0 mostrando a todos que realmente era a favorita para aquela partida. Esta foi a maior goleada de toda a competição.

                         A seleção brasileira enfrentou a Checoslováquia num jogo dramático e tumultuado, que terminou empatado em 1 a 1, mesmo depois da prorrogação . O Brasil saiu na frente com um gol de Leônidas da Silva, mas os checos empataram através de Nejedly cobrando pênalti. O goleiro checo foi a grande atração da partida, fazendo defesas sensacionais. O árbitro da partida, o húngaro Hertzka teve muito trabalho e expulsou os brasileiros Zezé Procópio e Machado e o checo Riha. Dois jogadores checos sofreram fraturas em lances violentos.

                        Como tinha que haver um vencedor, foi marcado um novo jogo para o dia 14 de junho no mesmo local. Neste dia o Brasil jogou com a chamada equipe branca, ou seja, a reserva, pois dos onze que vinham jogando, somente o goleiro Walter e o centroavante Leônidas da Silva entraram em campo. A Checoslováquia abriu o placar através de Kopecky. Após o intervalo, o Brasil virou o placar com um gol de Leônidas da Silva e outro de Roberto, fazendo 2 a 1 que sustentou até o final. Esta vitória garantiu ao Brasil a permanência entre os quatro melhores, que iriam disputar as semi-finais.

SEMI-FINAL

16-06-1938

Hungria 5 x 1 Suécia
16-06-1938 Brasil 1 x 2

Itália

                          Em Paris, a Hungria passou fácil pela Suécia, goleando por 5 a 1, demonstrando dessa maneira que a seleção húngara estava muito bem preparada para aquele mundial. Com esta vitória a Hungria já estava classificada para a grande final, cujo adversário sairia do confronto entre brasileiros e italianos.

                          O jogo entre Brasil e Itália foi realizado na cidade de Marseille. O estádio estava completamente ocupado por 35.000 espectadores. A sensação brasileira Leônidas da Silva, se contundira no jogo desempate com os checos e não pode jogar esta partida. O Brasil não tinha outro centroavante, porque a inscrição do jogador Niginho não foi aceita pela FIFA, que já o inscrevera pela Itália, como oriundo italiano. O técnico brasileiro Ademar Pimenta improvisou e escalou Romeu no comando do ataque.

                        Somente no segundo tempo de jogo, ou seja, aos 12 minutos, foi que a Itália abriu o placar através de Colaussi. Pouco depois, o árbitro marcou um polêmico pênalti contra o Brasil. Domingos da Guia levou um pontapé do italiano Piola e de imediato, Domingos revidou. O árbitro só viu quando Domingos da Guia estava chutando o adversário e marcou pênalti. O gol de pênalti marcado pela Itália, foi anotado por Giuseppe Meazza. Com este gol ele se tornou um herói em seu país e o estádio do Milan em Milão ganhou o seu nome. Ainda no final da partida Romeu marcou o único gol brasileiro, que com aquela derrota estava fora da conquista do título.

                        Domingos da Guia nunca se conformou com o lance e lamentava a falta de critério do árbitro. Comenta-se que a Itália foi favorecida pela arbitragem durante toda a competição, principalmente porque o líder fascista Benito Mussolini estava presente em todas as partidas e usou a vitória italiana como propaganda do regime totalitário.

DECISÃO DO TERCEIRO LUGAR

19-06-1938

Brasil 4 x 2

Suécia

                           Brasileiros e suecos se enfrentaram em Bordeaux, no dia 19 de junho, sob as ordens do árbitro belga Langenus pelo terceiro lugar. Leônidas da Silva já recuperado da contusão voltou ao time e fez dois gols, que lhe deram a condição de artilheiro da Copa com 8 gols.

                        A partida transcorreu tranquila e disciplinada, com indiscutível superioridade brasileira. Os outros dois gols brasileiros foram anotados por Romeu e Perácio, enquanto que para os suecos marcaram Jonasson e Nyberg. Neste dia o técnico Ademar Pimenta mandou a campo os seguintes jogadores: Batatais, Domingos da Guia e Machado; Zezé Procópio, Brandão e Afonsinho; Roberto, Romeu Pellicciari, Leônidas da Silva, Perácio e Patesko.

FINAL

19-06-1938

Itália 4 x 2

Hungria

                         No mesmo dia em que Brasil e Suécia disputavam o terceiro lugar, Itália e Hungria decidiam o título da 3ª Copa do Mundo em Paris. No estádio de Colombes, 58.000 espectadores, com a tribuna de honra ocupada por diplomatas e altas autoridades pelo presidente Albert Lebrun e muitos de seus ministros, o dia 19 de junho, apesar da tensão pré-guerra, foi um dia de festa. A seleção da Hungria tinha a seu favor a simpatia e o entusiasmo dos franceses, demonstrados desde o momento em que entraram em campo ao lado do árbitro francês Capdvelli e dos jogadores italianos. E toda aquela torcida francesa pela Hungria, também se devia a eliminação de seu pais pela própria Itália no dia 12 de junho.

                         Para este jogo o técnico Vittorio Pozzo mandou a campo os seguintes jogadores; Aldo Olivieri, Michele Andreolo, Silvio Piola, Giuseppe Meazza, Pietro Serantoni, Alfredo Foni, Amedeo Biavati, Ugo Locatelli, Giovanni Ferrari, Gino Colaussi e Pietro Rava. No decorrer do jogo, os italianos foram sempre melhores, revelavam segurança, moral alta e domínio de jogo. Logo aos 6 minutos Colaussi fez o primeiro gol para os italianos. A reação húngara foi quase imediata. Em descida rápida, Titkis livrou-se de Serantoni e de Rava e disparou para vencer o arqueiro Olivieri.

                         O empate durou pouco. Piola, atuando como típico centro avante, no meio da zaga da Hungria, foi mais ligeiro que Polgar e colocou a Itália outra vez em vantagem. Antes que terminasse a primeira etapa, Colaussi fez o terceiro gol da Itália, cuja superioridade era evidente e revelando ter o jogo nas mãos, enquanto os húngaros pareciam conformados com a derrota, ou seja, com o vice campeonato.

                         Na volta para o segundo tempo, a Itália começou tranquila, diminuindo o ritmo. A Hungria sentiu o bom momento e esboçou reação, coroada com um belo gol de Sarosi, que animou a equipe e o jogo. Parecia haver esperança para os húngaros e para a torcida francesa, que naquele momento fazia muita festa, na esperança de uma reação húngara, mas eis que surge Piola novamente e marca o quarto gol italiano. E assim a Itália venceu por 4 a 2. Final de jogo, os italianos estavam consagrados como Bicampeões do Mundo e com todos os méritos.

PARTICIPAÇÃO  DO BRASIL

                         A campanha do Brasil nesta Copa foi a seguinte:  Disputou 5 partidas, venceu 3, contra a Polônia por 6×5, contra a Checoslováquia por 2 a 1 e contra a Suécia por 4×2.  Empatou uma contra a Checoslováquia por 1 a 1 e perdeu uma para a Itália por 1×2, e ficou em 3º lugar. Nesta Copa, o mundo ficou assombrado com o brasileiro Leônidas da Silva, pois ele foi o artilheiro daquela competição com 8 gols assinalados.

                         Leônidas também se transformou numa lenda, principalmente depois de sua atuação na estréia da seleção brasileira diante da Polônia, vencendo por 6×5. Seria injusto atribuir apenas à Leônidas o sucesso da campanha brasileira nesta Copa, pois o técnico Ademar Pimenta havia levado 22 jogadores de alto nível, entre eles estavam; Romeu, Tim, Hércules e Domingos da Guia. O Brasil foi eliminado da Copa, num jogo disputado com a seleção italiana, por um placar de 2×1, sendo que o segundo gol (de pênalti) de Domingos da Guia em cima de Piola foi muito discutido na época. Sendo assim, coube ao Brasil, disputar o terceiro lugar contra a Suécia, a qual vencemos por 4×2.

                        Depois das brigas entre cariocas e paulistas em 1930 e amadores e profissionais em 1934, pela primeira vez o país pôde jogar com força máxima em uma Copa do Mundo. O Brasil não disputou eliminatórias. Se classificou automaticamente ao lado de Cuba. A seleção brasileira foi mesmo badalada. Depois de acompanhar um treino, o jornal francês “L’Auto” disse: “Os brasileiros são perfeitos artistas com a bola nos pés. Dribles não são os segredos para eles. Seus movimentos são muito ágeis e sua sutileza é notável. Um time formidável”.

                         Os clubes do futebol brasileiro, depois de vários anos em conflitos, estavam pacificados em torno de uma Confederação Brasileira de Desportos (CBD). Pela primeira vez foram mandados à Copa do Mundo 22 dos seus melhores jogadores, sob o comando do técnico Ademar Pimenta. Eram duas equipes completas: a azul e a branca. Viajaram de navio, saindo do Rio de Janeiro, com escala na Bahia, onde realizaram um jogo treino no Estádio da Graça, entre os considerados titulares e os reservas. O jogo foi disputado como se fosse uma batalha, tal o vigor e a violência da disputa pelas posições. Os dirigentes desinformados, levaram Niginho, um centroavante descendente de italianos. Quando Leônidas da Silva se machucou, Niginho não pode jogar por ter sido inscrito antes pela Itália, como oriundo, fato que nenhum dirigente conhecia.

                         O narrador Gagliano Neto foi o único a enviar pelas ondas curtas, relatos radiofônicos dos jogos do Brasil. Na semi-final, em Marseille, na derrota brasileira para a Itália por 2×1, o gol da vitória italiana foi através daquele polêmico pênalti e que Gagliano em sua transmissão disse que o pênalti foi legítimo. Aqui no Brasil o narrador foi duramente atacado e passou a ser chamado em trocadilho com seu nome de “italiano nato” e praticamente teve a carreira encerrada.

Os jogadores brasileiros que formaram esta seleção:

Goleiros: Batatais e Valter

Zagueiros: Domingos da Guia – Machado – Jaú e Nariz

Meias: Afonsinho – Argemiro – Brandão – Brito – Martim e Zezé Procópio

Atacantes: Lopes – Patesko – Tim – Romeu – Leônidas da Silva – Hércules – Perácio – Roberto – Niginho e Luizinho

Técnico: Ademar Pimenta

SELEÇÃO DA ITÁLIA – CAMPEÃ DA COPA DE 1938
SELEÇÃO BRASILEIRA NA COPA DE 1938
JOGADORES QUE DEFENDERAM O BRASIL NA COPA DE 1938

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