A BATALHA DE BORDEAUX

                             Copa de 1938 disputada na França. O Brasil fez sua estreia diante da Polônia e venceu por 6×5, num dia de muita chuva e um violento temporal. O herói do jogo foi Leônidas da Silva, que inclusive marcou um gol com o pé descalço, pois enquanto arrumava sua chuteira, uma bola sobrou para ele marcar o gol. Com esta vitória o Brasil estava classificado para a próxima fase e o adversário seria a Checoslováquia. Esta partida marcou a inauguração do estádio Parc Lescure, em Bordeaux, o que fez com que nossa seleção viajasse 758 quilômetros de três, uma viagem de quase 12 horas.

                             Para o adversário e para a imprensa estrangeira, o Brasil tinha um ataque extraordinário, mas a defesa “algo fraca”. De fato, os cinco gols sofridos contra a Polônia ligaram o alerta do técnico Ademar Pimenta, mas ele só fez uma mudança: o goleiro Walter entrou no lugar de Batatais. Domingos da Guia, mesmo com febre, foi para o jogo. O Brasil jogou com; Walter, Machado, Domingos da Guia, Martim Silviera e Afonsinho; Zezé Procópio e Perácio; Lopes, Romeu Pellicciari, Leônidas da Silva e Hércules.  O árbitro foi o húngaro Pal von Hertzka. Era o dia 12 de Junho de 1938.

                             O Brasil abriu o placar aos 30 minutos de jogo através de Leônidas da Silva. A Checoslováquia empatou aos 20 da segunda etapa, quando fizeram uma tabela no meio da área e Domingos da Guia tentou cortar com o peito, mas conduziu a bola como braço. Pênalti marcado e convertido e assim terminou o jogo. Veio a prorrogação de meia hora, mas não tivemos gol, sendo assim, o placar final foi Brasil 1×1 Checoslováquia. O goleiro checo havia jogado mais de meia hora e fechado o gol mesmo com a clavícula deslocada após um choque com o atacante Perácio.

                             Este jogo foi uma verdadeira guerra campal. Três das quatro expulsões dessa edição da Copa aconteceram nessa partida. Zezé Procópio foi o primeiro, logo aos 14 minutos da etapa inicial, depois de dar um chute sem bola em Nejedlý. Aos 44 do segundo tempo, Machado e Říha trocaram agressões e também foram convidados a saírem do campo. Mas a verdade é que se o juiz fosse mais rigoroso, pelo menos a metade dos atletas deveria ter ido para o chuveiro mais cedo. O clima tenso seguiu por todo o jogo. Leônidas era o principal alvo dos checos, levando pontapés constantes. Um deles, desferido por Košťálek no fim do jogo, fez com que o craque brasileiro saísse carregado de campo e ficasse quase cinco minutos sendo atendido.

                            Como precisava haver um vencedor e naquela época não se falava em cobranças de pênaltis numa decisão, dois dias depois as duas seleções voltaram a campo, mas com times bastante diferentes, em grande parte devido as contusões da partida anterior, a qual recebeu o nome de
“Batalha de Bordeuax”. Para esta segunda partida o técnico Ademar Pimenta escalou a seguinte equipe; Walter, Jaú, Nariz, Brito e Brandão; Argemiro e Tim; Roberto, Luizinho, Leônidas da Silva e Patesko. Ou seja, somente dois jogadores que participaram do primeiro jogo é que estavam em campo. Os checos também não puderam contar com alguns jogadores do primeiro jogo, como o goleiro com a clavícula deslocada, outro com uma lesão na perna esquerda e outro com uma fratura no pé dirieto. O árbitro da partida foi o francês Georges Capdeville.

                             Comparado à guerra que foi no primeiro jogo, o segundo foi bem mais tranquilo. Mas ainda assim o brasileiro Nariz quebrou o braço e o tcheco Kopecký teve que deixar o campo carregado aos 30 minutos do segundo tempo. A partida foi tensa. Os checos começaram controlando o ritmo da partida e abriram o placar aos 25 minutos e assim terminou o primeiro tempo. Na segunda etapa logo aos 12 minutos Leônidas da Silva empatou o jogo. Três minutos depois, um susto. Senecký chutou rasteiro e Walter fez a defesa, mas a bola escapou de suas mãos e pareceu ter entrado cerca de um palmo no gol, antes que o goleiro pudesse puxá-la de volta. O árbitro francês não viu o segundo gol da Checoslováquia e mandou o jogo seguir. Logo em seguida, aos 17 minutos, Roberto vira o jogo com um belíssimo gol de voleio. E assim terminou o jogo, Brasil 2×1 Checoslováquia.

                             No dia seguinte, enquanto esperavam para embarcar no trem que os levaria de Bordeaux para Marselha, alguns jogadores ficaram fazendo embaixadinhas. Foi um verdadeiro show coletivo. Algo muito corriqueiro em todo território brasileiro desde sempre, mas que nunca tinha sido visto na Europa. Segundo os relatos, durante vários minutos uma bola foi sendo passada de pé em pé sem tocar o chão. Foi uma grande demonstração da habilidade brasileira no controle de bola, impressionando os jornalistas europeus. Na semifinal o Brasil enfrentou a Itália e foi derrotado por 2×1 e termino a Copa de 1938 em 3º lugar, ao derrotar a Suécia por 4×2. O artilheiro da Copa foi Leônidas da Silva com 8 gols. A Itália foi a campeã ao derrotar a Hungria por 4×2.

Deixe uma resposta