A BATALHA DOS AFLITOS

                  Passaram-se mais de 10 anos desde aquele 26 de novembro de 2005, mas a partida entre Grêmio e Náutico, pela Série B do Campeonato Brasileiro daquele ano, está fresquinha na memória do torcedor brasileiro, em especial do torcedor gremista. Foi uma coisa realmente inacreditável o que aconteceu, jamais imaginávamos que pudesse ver alguma coisa parecida como aquilo. De um lado a façanha do Grêmio, do outro o fracasso do Náutico, que perdeu dois pênaltis. O Grêmio, com sete homens contra 11, conseguiu fazer o gol que deu a vitória. Temos aí a “Batalha dos Aflitos”, um dos episódios mais marcantes da história do futebol brasileiro.

                 Já antes mesmo de qualquer pessoa imaginar o desfecho do que se tornaria  a “Batalha dos Aflitos”, o clima no estádio era completamente desfavorável para os gaúchos, que eram hostilizados pela torcida. No vestiário, local que os jogadores deveriam ter o mínimo de tranquilidade para se preparar, o clima era totalmente reverso. Onde era para se ter ar puro, sentia-se o forte cheiro de paredes recém pintadas; no lugar da serenidade, uma forte sirene antes da equipe entrar em campo; no lugar do aquecimento no gramado, os jogadores e dirigentes tricolores encontraram portões cadeados que impossibilitavam a passagem.

                Neste dia o Grêmio jogou com; Galatto, Patrício, Pereira, Domingos e Escalona; Nunes, Sandro, Marcelo e Marcel (Ânderson); Lipatin (Marcelo Oliveira) e Ricardinho (Lucas). Técnico: Mano Menezes. Após os transtornos antes do árbitro apitar, o jogo começou com nervosismo dos dois lados, muitas reclamações e entradas duras de ambos os lados. Na bola, o Náutico era quem estava melhor, mas mesmo assim não conseguia transpor a defesa gaúcha. Na beira do gramado, o técnico Mano Menezes gesticulava e tentava fazer com que seus jogadores não entrassem em provocações, mas não obtinha êxito.

                Aos 32 minutos do primeiro tempo, após cruzamento muito forte da ponta direita, o zagueiro Domingos perdeu o tempo de bola e derrubou Paulo Matos. Pênalti. Em meio à muitas reclamações, o lateral Patrício se jogava no chão insinuando uma simulação, mas nada que pudesse mudar a decisão de Djalma Beltrami foi feito. A penalidade estava marcada e estava ali a chance do Grêmio se complicar de vez na competição. A responsabilidade ficou para Bruno Carvalho. Na finalização, o lateral-direto do Timbu escorregou em um buraco, cavado por Marcel na marca do pênalti, e chutou fora do alcance de Galatto, mas acertou a trave direita. Alívio momentâneo para os gremistas espalhados por Recife, Porto Alegre e pelo mundo.

               Do pênalti perdido até o intervalo, a equipe da casa mandou na partida e criou algumas oportunidades, parando ou no goleiro gremista, ou em chutes errados. O segundo tempo chegou e com ele faltavam apenas 45 minutos para o Grêmio não sofrer um gol e voltar para a Série A. Tarefa fácil? Nenhum pouco. Aos 35 minutos, depois de uma finalização da entrada da área, o árbitro carioca sinalizou toque no braço do volante Nunes e marcou outro pênalti para o Náutico. Pronto. Estava armada a confusão que deixou a partida paralisada por 20 minutos.

               Indignados, os gremistas realizaram todos os tipos possíveis de reclamações junto ao árbitro. A partir daí, começaram a ‘pipocar’ cartões vermelhos. O primeiro foi para Patrício, que peitou o árbitro logo após a sinalização. Pouco depois, antes mesmo da entrada do policiamento em campo para defender o juiz, Nunes foi expulso. Quando o árbitro, com a bola na mão, pensou que tudo estava resolvido e foi posicionar a bola para a cobrança do pênalti, Domingos deu um tapa na ‘pelota’ e foi mais um a ir para a rua.

                Sem ninguém mais podendo ser expulso, se não a partida acabaria ali com vitória para o rival, o Grêmio tinha apenas sete em campo, mas milhões que acreditavam na força e bravura daqueles poucos que restaram para defender a história de um clube centenário. Ademar correu, bateu e o jovem Galatto, de 22 anos, fez a defesa mais enigmática de sua vida, que lhe rendeu o apelido de “Homem de Gelo”. Na sequência, escanteio cobrado para a área gaúcha, bom trabalho defensivo dos poucos que ainda estavam em campo e a bola no pé de outro garoto: Anderson, de 17 anos. Com o campo inteiro para carregar a bola e prender o jogo, ele  invadiu a área e deu um toque sutil para vencer o goleiro do Náutico e marcar o gol do acesso e do titulo. Por tudo isso, esse confronto ficou eternizado como a ‘Batalha dos Aflitos’.

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