MILÉSIMO GOL DE PELÉ – Dia 19 de Novembro de 1969

                   Dia 23 de outubro de 2019, Pelé completou 79 anos de idade e no dia 19 de novembro de 2019 completou 50 anos que ele marcou o milésimo gol de sua carreira, no entanto, ainda hoje aquele gol é lembrado por todos os brasileiros. Muitos brasileiros com certeza se lembram do dia 19 de novembro como o dia do milésimo gol e acabam esquecendo que neste dia também comemoramos o Dia da Bandeira. Até mesmo a chegada do homem à Lua pela primeira vez se tornou um pormenor para os amantes do futebol no ano de 1969. O fato histórico aconteceu em julho, mas em  novembro, Pelé marcaria  o  milésimo gol de sua brilhante   carreira,   tornando-se   assim,   o   primeiro jogador profissional de futebol a atingir tal marca.

                   O número 10, persegue Pelé desde a Copa de 1958 que disputamos na Suécia, quando nossos dirigentes se preocuparam com todos os detalhes, no entanto, esqueceram de enviar ao Comitê Organizador da Copa do Mundo, os números das camisas que os jogadores brasileiros iriam usar durante a competição, sendo assim, coube ao uruguaio Lorenzo Villizio, que era um dos organizadores da Copa, colocar os números, e como ele não conhecia ninguém, colocou qualquer número para os jogadores. Ai nasceu o grande casamento de Pelé e a camisa 10. Mas além do nº 10, outro número fez parte da carreira de Pelé, ou seja, o nº 1.000.  Nunca um atleta tinha alcançado tantas vezes o número 1.000 nas estatísticas do futebol. Pelé fez a milésima partida com a camisa do Santos. Fez o milésimo gol de toda sua carreira e também o milésimo gol com a camisa do Santos F.C., o único clube que defendeu como profissional aqui no Brasil.

                 A milésima partida com a camisa do Santos, aconteceu em 1972, quando o Peixe enfrentou o Santa Cruz, do Recife, pelo campeonato brasileiro daquele ano.  O milésimo gol com a camisa do Santos, aconteceu no dia 9 de julho de 1972, na cidade de San Francisco, Estados Unidos, quando o Peixe enfrentou a Universidade do México, durante uma das inúmeras excursões que o Santos fez ao exterior.  Pelé fez a festa da torcida presente ao estádio, marcando o gol de nº 1.000 com a camisa santista. Para completar o show, ainda naquela partida, ele marcaria o gol de nº 1.001.

              Finalmente vem o terceiro nº 1.000 da carreira do Rei Pelé, ou seja, o milésimo gol de toda sua brilhante carreira de jogador de futebol. Com certeza não foi o mais bonito nem tão pouco o mais difícil, mas certamente o mais importante de toda sua carreira. E tudo isto aconteceu no dia 19 de novembro de 1969. Mas antes de chegar este dia, ou seja, quando Pelé já havia marcado 999 gols, todos os jogos do Santos eram aguardados com muita expectativa, pois todos queriam ver de perto aquele que seria um gol histórico, não só para Pelé, mas também para o mundo, pois até então, nenhum jogador deste planeta, havia conseguido tal façanha.

               Muito bem, num destes jogos que antecederam o milésimo gol, o Santos enfrentou o Bahia em pleno estádio da Fonte Nova, em Salvador, no dia 16 de novembro de 1969.  O estádio estava completamente lotado, pois todos estavam na esperança de ver aquele que seria o gol mais comentado de todos os tempos. O jogo já ia caminhando para o seu final, quando Pelé deu uma arrancada daquelas que o torcedor brasileiro bem conhece. O goleiro saiu nos seus pés, mas foi driblado numa simples gingada de corpo e, de pé direito chutou ao gol.  A bola tinha endereço certo, ou seja, as redes do Bahia. Os torcedores já estavam em pé, prontos para gritarem GOL, mesmo sendo contra seu time do coração.

              Mas o que ninguém imaginava, é que Nildo, um dos zagueiros do Bahia, surgiu do nada e, esticando a perna esquerda consegue evitar o tão esperado milésimo gol, jogando a bola para escanteio. O que se viu naquele momento, foi algo surpreendente. O estádio inteiro começou a vaia-lo e a xinga-lo, pois com aquele simples gesto de evitar o gol, ele acabou com o sonho de milhões de brasileiros que esperavam por aquele momento, como se espera uma criança que está para nascer.  E para desespero daqueles torcedores, alguns minutos depois, o árbitro deu por encerrada aquela partida.

              Cinco dias depois deste episódio, o Santos enfrentou o Vasco pelo Torneio Roberto Gomes Pedrosa, o Campeonato Brasileiro da época. Era o dia 19 de novembro de 1969. O Maracanã recebeu naquela noite, um público de 65.157 pagantes, todos na expectativa do tão esperado gol mil. O cenário era o melhor possível. O Santos jogou aquela noite com a seguinte formação; Agnaldo, Carlos Alberto, Ramos Delgado, Djalma Dias (Joel Camargo) e Rildo; Clodoaldo e Lima; Manoel Maria, Edu, Pelé (Jair Bala) e Abel.  Enquanto que o Vasco jogou com; Andrada, Fidélis, Moacir, Fernando e Eberval; Bougleaux e René; Acelino (Raimundinho), Adilson, Benetti e Danilo Menezes (Silvinho). 

              O árbitro foi o pernambucano Manoel Amaro de Lima (já falecido). O Vasco abriu o placar aos 17 minutos de jogo através de Benetti. Aos 10 do segundo tempo, Renê marcou contra o gol de empate do time santista. Finalmente chegou o momento mais esperado daquela partida, ou seja, aos 33 minutos da etapa final, quando o zagueiro Fernando derrubou Pelé dentro da área e o árbitro não teve dúvidas, marcou o pênalti. O que se ouviu a partir daquele momento, foi um só grito; “Pelé, Pelé…” E lá foi Pelé cobrar o pênalti.

             Todos os jogadores do Santos ficaram na linha do meio campo, isso já estava combinado. Quando Pelé fizesse o milésimo gol, o jogador correria até  o meio do campo para abraça-los.  “O jogo parado, o estádio inteiro calado. Eu, a bola e o Andrada. Naquela hora tive um terrível medo de falhar. Fiquei nervoso. Sabia que todos esperavam o gol. Fiz o sinal da cruz antes de cobrar e corri para a bola” diz o próprio Rei, em um de seus depoimentos sobre o dia histórico.

              Pelé partiu em direção à bola, deu a tradicional paradinha e chutou forte, no canto esquerdo, exatamente às 23:23hs. O goleiro Andrada caiu muito bem, até chegou a tocar na bola, mas não evitou o gol. Nervoso, o goleiro argentino começou a socar o chão, mas já era tarde. Bola na rede, fato consumado. Enquanto o primeiro jogador profissional a marcar mil gols na história do futebol buscava a bola e a beijava, no intuito de correr em direção aos companheiros, dezenas de jornalistas e fotógrafos invadiram o campo, cercando-o de câmeras e microfones.

              O primeiro depoimento, emocionado, foi dado ao repórter Geraldo Blota da Rádio Gazeta, e assim ele iniciava um discurso em prol das crianças pobres e abandonadas do Brasil: “Dedico este gol às criancinhas do Brasil”. A consagração do Maracanã, responsável por uma repercussão em jornais de todo o mundo, foi tão grande quanto a ida do homem à lua naquele mesmo ano. Depois de driblar os jornalistas, Pelé correu abraçar seus companheiros. Depois vestiu uma camisa do Vasco com o nº 1.000 e deu a volta olímpica. Esta foi a partida de nº 909 de Pelé com a camisa do Santos.

              Vale a pena lembrar que o primeiro gol da carreira de Pelé como profissional, aconteceu no dia 7 de setembro de 1956, quando o Santos goleou o Corinthians de Santo André por 7 a 1, onde Pelé marcou o sexto gol da partida e, o goleiro na ocasião era o Zaluar. O gol de nº 500, aconteceu no dia 2 de setembro de 1962, quando o Santos empatou com o São Paulo em 3 a 3 pelo Campeonato Paulista. Este jogo foi realizado na Vila Belmiro e os gols do tricolor foram marcados por Roberto Dias (2) e Sabino, enquanto que para o Peixe marcaram Pelé (2) e Coutinho. O segundo gol de Pelé foi o de nº 500.  Em toda sua carreira, Pelé marcou 1.281 gols sendo: 1.091 pelo Santos F.C., 95 pela Seleção Brasileira, 65 pelo Cosmos de New York, 15 pelas Forças Armadas, 9 pela Seleção Paulista, 3 pelo Sindicato dos Atletas e 3 num combinado Santos/Vasco, ocorrido dia 19 de junho de 1957, quando venceu o Belenenses de Portugal por 6 a 1.

              Pelé realmente foi um jogador fora de série, bateu todos os recordes de um jogador profissional. Jogou em 62 paises, realizou 1.371 jogos e marcou 1.281 gols. Conquistou ao longo de sua brilhante carreira, 53 títulos, entre eles, três Copas do Mundo (58, 62 e 70).  Jogou pelo Santos 1.115 vezes, venceu 725, empatou 200 e perdeu 190 e marcou 1.091 gols com a camisa do Peixe. Foi 11 vezes artilheiro do campeonato paulista, marcando ao todo 445 gols. No ano de 1958, marcou 58 gols no Campeonato Paulista, um recorde que permanece até os dias de hoje e que dificilmente será quebrado. Marcou 8 gols numa só partida.

              Isso aconteceu no dia 21 de novembro de 1964, quando o Santos goleou o Botafogo de Ribeirão Preto por 11 a 0. Foi recebido como um rei em todos os cantos do mundo, pessoas ilustres se curvaram diante dele, chegou até a parar uma guerra na Nigéria por 48 horas. E para coroar sua magnífica carreira, no dia 15 de maio de 1981, recebeu o troféu de “Atleta do Século”. Enfim, Pelé foi um jogador que as pessoas ficam perguntando quando nascerá outro igual a ele. Parem de perguntar. Não vai nascer outro. Pelé foi só um, pois um jogador como Pelé só vai nascer daqui a mil anos. Prestem atenção, eu não disse cem, mas mil anos. Quem gosta de futebol e teve a sorte de ver Pelé em campo, pode se considerar um ser humano privilegiado. Por tudo isso, agradeço à Deus, por ter me concedido este privilégio de ter visto ele jogar, pois a minha juventude certamente não seria a mesma, se não existisse Pelé.

Pelé bate o pênalti do seu gol Nº 1.000
Goleiro Andrade se estica todo mas não consegue evitar o gol
Goleiro Andrade vendo a bola no fundo do gol
Pelé pega a bola e a beija
Pelé é carregado nos braços pela multidão
Como jogou o Santos naquele dia 19 de novembro de 1969    –    Em pé: Carlos Alberto, Agnaldo, Ramos Delgado, Djalma Dias, Clodoaldo e Rildo    –    Agachados: Manuel Maria, Lima, Edu, Pelé e Abel

               

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