A NOITE DAS GARRAFADAS

                 No ano de 1957, o futebol paulista proporcionou um dos campeonatos mais disputados de toda sua história. O título foi decidido somente na última rodada. O campeonato paulista de 1957 foi disputado em duas fases. Dos vinte clubes que disputaram a fase inicial, apenas dez se classificaram. O campeonato começou dia 16 de junho e terminou dia 29 de dezembro.

                 Para este campeonato de 1957, o Corinthians era o favorito. Tinha um time com grandes valores individuais, uma estrutura técnica bem definida e uma garra que virou tradição. A equipe funcionava como um relógio, tinha personalidade e havia muita harmonia dentro do clube. O São Paulo não era exatamente o fantasma do campeonato, mas era quase e aparecia como a grande surpresa, tanto é que se classificou na última vaga que havia.

                 O Tricolor já tinha um líder, o zagueiro Mauro Ramos de Oliveira. Mas faltava um mestre em campo, que orientasse os jogadores, que desse ritmo ao jogo, que soubesse dosar suas energias. De preferência, um veterano, com experiência e malícia. Este jogador existia e morava no Rio de Janeiro. O São Paulo foi lá e trouxe Zizinho que deu uma nova vida ao time tricolor.

                 A decisão do título ficou para a última rodada entre São Paulo e Corinthians. Os episódios do primeiro turno voltaram a tona principalmente o choque entre Maurinho e Alfredo, que o lateral corintiano teve sua perna fraturada. Todos isentaram Maurinho, mas ficou a marca. Com isto, Luisinho “Pequeno Polegar” e Gino bateram boca.  A coisa ficou tão feia entre os dois que, no dia seguinte, quando os dois se encontraram por acaso na rua, Luisinho acertou uma tijolada em Gino.

                 Chegava então o dia 29 de dezembro de 1957, o dia da grande decisão do Campeonato Paulista daquele ano. As seis horas da manhã já tinha gente chegando ao Pacaembu. Quando foi uma hora da tarde, a garoa continuava e os portões foram fechados.

                 Primeiro entrou o São Paulo com Poy, De Sordi e Mauro; Sarará, Vitor e Riberto; Maurinho. Amauri, Gino, Zizinho e Canhoteiro. O meia campista Dino Sani, contundido não jogou neste dia pelo Tricolor, Sarará era seu substituto. Depois entrou o Corinthians com Gilmar, Olavo e Oreco; Idário, Valmir e Benedito; Claudio, Luizinho, Índio, Rafael e Zague.

                 O desfalque corintiano era Roberto Belangero que foi substituído por Benedito. O Corinthians tinha a vantagem do empate. Devido ao incidente do primeiro turno, o ambiente estava carregado. O trio de árbitros veio todo de fora. O juiz seria o carioca Alberto da Gama Malcher, e os bandeirinhas, os ingleses Cross e Lynch, que trabalhavam na Argentina.              

                 O jogo começa com o Corinthians mandando na partida e logo aos cinco minutos acontece o primeiro encontro Luizinho e Gino. O juiz não deixou por menos. Chamou os dois e ameaçou de expulsão. O primeiro tempo terminou com os dois times jogando bem abertos procurando o gol com insistência. O São Paulo aos poucos foi impondo sua técnica e equilibrou a partida. O drama corintiano começou aos dezessete minutos do segundo tempo. Zizinho cobra uma falta para Gino que, de cabeça, manda para Amauri que abre a contagem. Logo aos dezenove minutos, embalados pelo primeiro gol, Canhoteiro marca o segundo gol do São Paulo. Precisando ganhar o jogo, o Corinthians parte para o ataque e aos vinte dois minutos, Rafael, de puxada, diminuiu o placar.

                Como o Corinthians estava todo no campo do São Paulo e não marcava, um chutão para frente pegou Maurinho livre. O ponteiro bateu na corrida o lateral Olavo, invadiu a área, driblou Gilmar e marcou 3×1. Um gol que definiu o titulo para o São Paulo aos trinta e quatro minutos. Os corintianos ainda reclamaram impedimento que não houve. Olavo tenta agredir o juiz e um grupo de jogadores cercam o bandeirinha. Maurinho, empolgado com o gol, deixou a bola no fundo das redes, disse qualquer coisa para o goleiro Gilmar que saiu perseguindo o ponteiro são-paulino que somente parou com a chegada do grupo do deixa disso.

                O gol de Maurinho quebrou todas as esperanças de reação do Corinthians. No campo já não havia mais ninguém que pudesse evitar o desastre. Mas foi só terminar o jogo para o tempo fechar de novo. No meio de tanta confusão, os são-paulinos foram comemorar o titulo nos vestiários. Em vez de confetes tricolores, caiu uma chuva de garrafas, pedras e outros objetos enviadas pela torcida corintiana. Pelo incidente, a partida passou para a história como a “Noite das Garrafadas”. Depois desse título, o São Paulo ficou 13 anos sem conquistar um título paulista.

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