A PRIMEIRA INVASÃO CORINTIANA

                           Quando falamos de “Invasão Corintiana”, logo nos vem na memória aquela de 1976, quando a Fiel invadiu o Rio de Janeiro na semifinal do Campeonato Brasileiro e o Timão enfrentou o Fluminense no Maracanã, naquele dia 5 de dezembro. No entanto, há 46 anos atrás já havia acontecido a primeira invasão de corintianos em território adversário, que foi no dia 4 de janeiro de 1931, quando o Corinthians sagrou-se campeão paulista de 1930.

                           A primeira rodada do Paulistão de 1930 aconteceu dia 16 de março, quando o Corinthians derrotou a Portuguesa de Desportos por 3×1, gols de De Maria (2) e Gambinha. Nesse mesmo dia o Santos goleou o Juventus por 6×1 e desde então as duas equipes já mostravam suas forças e que iriam lutar pelo título daquele ano. São Paulo da Floresta e Palestra Itália corriam por fora.

                           Corinthians e Santos chegaram na última rodada empatados com 40 pontos na liderança, e coincidentemente jogariam entre si na rodada decisiva. Quem vencesse seria o campeão. O São Paulo da Floresta, que fora fundado e estreava naquele mesmo ano, tinha 39 pontos, e torcia por um empate entre os alvinegros, pois se vencesse seu último jogo, forçaria triangular desempate.

                           O São Paulo fez sua parte, ou seja, venceu o América por 2 a 1 no dia 28 de dezembro de 1930. Sendo assim, tudo ficava para o jogo entre Corinthians e Santos no dia 4 de janeiro de 1931 lá na Vila Belmiro. A torcida corintiana que sempre foi apaixonada pelo seu clube, por isso é chamada de Fiel, não deixou de marcar presença naquele jogo.

                            Guardadas as devidas proporções, essa euforia de hoje é até brincadeira perto do que a torcida corintiana fez naquele domingo. Não existiam estradas boas, carro não era coisa para qualquer um, o dinheiro andava curto e ninguém fazia campanhas por rádio. Era tudo no peito e na raça. Sendo assim, os corintianos lotaram oito composições do trem que saía da Estação da Luz e do Brás. Cada uma das composições levava dez vagões e não tinha espaço para mais ninguém. O preço da passagem era três mil-réis, ida e volta, e fazia um calor dos diabos. Coisa de 40 graus.

                            As arquibancadas eram de madeira e estalavam como gravetos no fogo. Os bombeiros precisavam jogar muita água na torcida e na madeira, para que muita gente não morresse de insolação ou queimada em um grande incêndio. Para esta partida o técnico do Corinthians, Virgílio Montarini, mandou a campo os seguintes jogadores; Tuffy, Grané e Del Débbio; Leone, Guimarães e Munhoz; Filó, Napoli, Gambinha, Rato e De Maria. Do outro lado, o técnico santista, Ramon Platero, escalou a seguinte equipe; Athiê; Aristides e Meira; Oswaldo, Hugo e Alfredo; Omar, Camarão, Feitiço, Victor Gonçalves e Evangelista. O árbitro foi Victórino Sylvestre.

                             O Santos marcou primeiro, Feitiço, logo aos dois minutos. A torcida corintiana  começou a gritar incentivando seus jogadores e deu certo, pois aos 20 minutos Gambinha empatou e aos 27 Filó desempatou. Final do primeiro tempo e 2×1 para o alvinegro de Parque São Jorge. Veio o segundo tempo e os corintianos irresistíveis. Aos 14 minutos De Maria marcou o terceiro gol corintiano, Gambinha aos 16 e Nápoli aos 27 fizeram 5×1 para o Timão. Festa nas arquibancadas. O Santos ainda descontou aos 35 através de Vitor. Final de jogo, Corinthians 5×2 Santos. 

                            Assim que o árbitro apitou o final do jogo, a torcida corintiana invadiu o campo e a festa começou lá mesmo, terminando em São Paulo, já no dia seguinte. Pegaram o trem de volta e muitos torcedores vieram em cima dos vagões, sem camisa e cantando. A Estação da Luz estava abarrotada de gente com rojões e bandeirolas. Acho que tinha mais gente do que tinha no aeroporto de Congonhas depois daquela decisão contra o Fluminense, no Rio de Janeiro, em 1976. A festa durou muitas horas e eu sei que muitos daqueles torcedores que voltaram em cima do trem morreram de pneumonia e de tuberculose, vítimas do vento e do calor das máquinas.

                            Com esta derrota do Santos, São Paulo e Palestra Itália ultrapassaram o Peixe na classificação geral do campeonato. O Campeonato Paulista de Futebol de 1930 teve o Corinthians como campeão, o artilheiro foi da equipe do Santos, Feitiço, com 37 gols. O fato marcante desse campeonato, além do tricampeonato do Corinthians, ficou por conta da estreia do São Paulo, conhecido na época por São Paulo da Floresta, que havia sido fundado naquele mesmo ano, fruto da união entre antigos sócios do Paulistano e da Associação Atlética das Palmeiras, que haviam abandonado o esporte. Ainda neste ano de 1930, o Corinthians passou a ser chamado “Campeão dos Campeões” e foi daí também que surgiu a expressão que é utilizada até hoje no hino do clube, onde se diz “Salve o Corinthians, Campeão dos Campeões”.

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