COMERCIAL DE RIBEIRÃO PRETO x CORINTHIANS EM 1918

                   O Corinthians havia sido fundado apenas oito anos antes, mas já gozava de grande prestígio. Há exatos 100 anos, em junho de 1918, o Sport Club Corinthians Paulista jogava pela primeira vez na “capital do Café”, numa partida que atraiu as atenções de todos e foi considerada a mais disputada até então ocorrida na cidade. Pelo menos foi a mais aguardada e comentada, pois a mais disputada naquela cidade, foi sem dúvida alguma no dia 21 de agosto de 1966, quando o Corinthians derrotou o Botafogo por 4×3, sendo que até os 33 minutos da segunda etapa o Timão perdia por 2×0 e em apenas doze minutos saíram cinco gols.

                   Mas voltemos ao ano de 1918, quando num jogo amistoso entre Comercial de Ribeirão Preto e Corinthians parou a cidade de Ribeirão Preto, pois já alguns dias antes, o assunto na cidade era este jogo, pois o Comercial que havia sido fundado em 1911, com apenas sete anos já tinha conquistado o respeito dos clubes paulistas, pois naquele momento não havia no interior, adversários à altura de enfrenta-lo, mas agora iria enfrentar um grande time da capital, que inclusive já havia sido campeão paulista em 1914 e 1916 e possuía grandes craques, como Neco, o primeiro ídolo corintiano.

                  A fama do esquadrão comercialino no final da década de 1910 se espalhava pelo Brasil e deu origem a inúmeros convites, pois todos queriam desafiar o time da “capital do Café” que encarava e superava grandes times da capital paulista. Na edição de 4 de junho, cinco dias antes do jogo, o cronista esportivo de “A Cidade” enaltece a equipe visitante: “O Corinthians Paulistas, com jogadores sobejamente conhecidos como de alto valor, virão disputar jogo com o nosso Comercial. Virá completo o primeiro quadro dos laureados footballers, no qual figuram Casemiro, justamente reputado o maior keeper brasileiro, Néco, que acaba de figurar no conjunto representativo do foot-ball paulista, Bororó, Amilcar e outros valorosos jogadores”.

                  A equipe do Comercial tinha na época tantos jogadores bons, que se dava o luxo de escalar o “primeiro time” somente contra times de mais renome, como os grandes da capital e também o Guarani de Campinas. Contra times da região, bastava escalar o “segundo time”, formado por jogadores que almejavam uma posição na equipe principal. Sendo assim, para aquele jogo amistoso diante do Corinthians, todos estavam preocupados e muito concentrados, pois queriam provar a fama que haviam adquirido aos longo daqueles sete anos de sua existência.

                  Era o jogo mais importante do clube até então, por isso havia uma incerteza de uma vitória, embora a cidade confiava plenamente em seus jogadores. Na véspera do jogo, o jornal da cidade trouxe um alerta para que os jogadores se preocupassem com o conjunto e não com as atuações individuais, pois era o nome da cidade que estava na berlinda.

                   Finalmente chegou o grande dia, era o domingo de 9 de junho de 1918, dia de muito calor na capital do café. Uma grande multidão se comprimia nas arquibancadas a espera de um grande espetáculo, afinal, era o time do coração contra um grande time da capital paulista.

                    Para este jogo o Comercial jogou com a seguinte formação; Alvino, Henrique, Eurico, Bertone II, Bertone I e J. Franco, Belmacio, Orestes, Sizenando, Quinin e Oliveira. O Corinthians que era comandado por Amilcar, jogou com; Casemiro, Cesar e Nando; Gano, Amilcar e Ciasco; Américo, Benedito, Bororó, Neco e Basílio. O árbitro da partida foi Nestor Pedroso de Carvalho. Obs: Amilcar era zagueiro e ao mesmo tempo o técnico corintiano.

                    Ao final dos 90 minutos o time da capital do café saiu de campo vitorioso. Com um gol marcado por Quinin aos 15 minutos do segundo tempo. O jogo foi realizado no campo da Rua Tibiriça, em Ribeirão Preto, onde hoje se encontra o clube Recreativa. O atual campo do Comercial é o Estádio Palma Travasso, inaugurado em 14 de outubro de 1964 no jogo Comercial 2×3 Santos F.C.

                   Boa parte desses jogadores entraram para a história do Comercial dois anos depois, em 1920, ao participarem da uma vitoriosa excursão por Pernambuco e Bahia. Após seis partidas memoráveis (cinco vitórias e um empate), o Comercial retornou invicto e com o título, arrebatado dos pernambucanos, de “Leão do Norte”, o qual exibe até hoje.

                   Vale lembrar que no ano de 1918, o campeão paulista foi o Paulistano e o Corinthians na segunda colocação. O torneio ficou marcado pelo adiamento de diversas partidas, por conta da epidemia de Gripe Espanhola em São Paulo. O Palestra Itália abandonou o campeonato no decorrer da disputa. Ao todo, foram 67 jogos, 332 gols e o artilheiro foi Friedenreich do Paulistano com 25 gols.

Deixe uma resposta