CORINTHIANS PAULISTA x CORINTHIANS DA INGLATERRA

                    Dia 5 de junho de 1988, tivemos um encontro de várias gerações de craques corintianos naquele domingo de manhã, no Pacaembu. Foi um jogo amistoso entre o Sport Club Corinthians Paulista contra o Corinthians da Inglaterra Mais de 15.000 corintianos puderam torcer de perto para ídolos do passado, como o Zagueiro Olavo, o atacante Carbone ou o ponta direita Cláudio, craques das fabulosas histórias que os pais costumam contar sobre os grandes heróis do Corinthians e que os filhos nem acreditavam que fossem mesmo de carne e osso.

                   Todos tiveram a oportunidade de relembrar contemporâneos de Rivelino, como o goleiro Ado, o zagueiro Ditão, o volante Tião e o centroavante Mirandinha. E ainda prestar uma homenagem a oito dos onze campeões da inesquecível final do Paulistão de 1977. Só Ruço, Luciano e Geraldão não apareceram. Vaguinho e Basílio, machucados, ficaram assistindo a tudo do lado de fora. Só que, mais uma vez, a genialidade de Sócrates roubou o espetáculo, como nos seis anos em que defendeu o clube.

                   Com uma dose extra de emoção: do outro lado do campo estava o Corinthian-Casuals, time inglês que serviu de inspiração para um grupo de jovens fundar o Sport Club Corinthians Paulista no dia 1° de setembro de 1910. A festa começou já no vestiário. Depois de muito tempo, os jogadores voltavam a se encontrar, Cláudio, por exemplo, demorou para reconhecer o atacante Milani. E olha que os dois atuaram juntos no Corinthians nos anos 40. O ex-zagueiro Domingos da Guia, o mais velho de todos, estava feliz em poder conhecer Rivelino e Sócrates pessoalmente.

                  Ninguém teve tempo de se aquecer. Rivelino aproveitou para combater o frio de 11 graus com um último cigarrinho na boca do túnel. Enquanto isso, Brandão tinha dificuldade para escolher os onze que começariam jogando. Então disse “Acho que vou escalar primeiro só os veteranos”. Mas Carbone o desaconselhou dizendo “Em cinco minutos estaremos perdendo de 5×0″, E Brandão rindo rebateu “Como é festa, eu peço para o juiz anular os cinco gols”. O árbitro Dulcídio Vanderley Boschilia também foi parte integrante da histórica partida. Ao encontrar Cláudio, Olavo e Cabeção, brincou: “Colecionei muita figurinha com a cara de vocês”. Dulcídio entrou em campo como os juízes de antigamente – calça comprida branca, camisa amarela e tênis, que lhe custaram um belo tombo.

                  Como a maioria dos jogadores estava meio fora de forma, o jogo foi dividido em dois tempos de 25 minutos. Eram tantos veteranos do lado do Corinthians que o banco de reservas ficou superlotado. Todos queriam entrar e participar. Foram 26 substituições ao todo – dezessete da equipe paulista e nove dos ingleses. O responsável pelo sistema de som nunca trabalhou tanto. Anunciou a primeira substituição assim: “Substituição no Corinthians”. Depois percebeu que os dois times tinham o mesmo nome e passou a falar: “Substituição na equipe paulista” ou “no time inglês”.

                   Cinco jogadores do esquadrão do Corinthians de todos os tempos, segundo a pesquisa de PLACAR em 1982, participaram da partida – Zé Maria, Wladimir, Cláudio, Rivelino e Sócrates. Outros três (Domingos da Guia, Gilmar e Goiano) estiveram no Pacaembu para prestigiar os companheiros. No primeiro tempo, o goleiro Ado mostrou ainda muita elasticidade, enquanto o Super Zé esbanjou a mesma raça de sempre. Cláudio, o maior artilheiro do clube (295 gols), não aguentou muito tempo e foi o mais aplaudido ao deixar o gramado. O grande show, porém, ficou com os dribles mágicos de Rivellino e os toques magistrais de Sócrates, que marcou o único gol da partida, encobrindo sutilmente o goleiro inglês.

                   No intervalo, Sócrates teve que posar para fotos junto dos ingleses. Faltando 15 minutos, Sócrates atendeu um pedido do time inglês e trocou o fardamento branco pelo rosa e chocolate. Os torcedores, por sua vez, imaginavam como seria bom se Sócrates e Rivelino tivessem jogado juntos. Possivelmente, o Corinthians não amargaria tantos anos de fila.

                   Na verdade, o resultado de 1×0 pouco importou. Todos, jogadores e torcida, saíram alegres em poder ver os craques do passado e o “pai” do Corinthians. Foi uma festa incrível e um dia inesquecível para todos os corintianos. O Corinthians Paulista jogou com Ado (Tobias), Zé Maria (Miranda), Olavo (Ditão, depois Amaral), Luis Carlos (Moisés, depois Guaraci) e Wladimir; Carbone (Tião, depois Tião Marino, depois Luís Antônio), Sócrates (Mirandinha, depois Ademir) e Rivelino; Cláudio (Bataglia, depois Ivan, depois Marco Antônio), Flávio (Geraldo José, depois Benê, depois Lance) e Lima (Romeu). Técnico: Oswaldo Brandão.

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