FINAL DO CAMPEONATO CARIOCA DE 1966

                Campeonato Carioca de 1966. O Bangu, como ocorrera nos dois anos anteriores, estava perto do título. Em 1964 e 1965 deixara escapar a taça no final, ficando em ambas as vezes com o vice-campeonato. A arma principal do time era o ataque utilizando os lados do campo. O ponta-direita e um dos maiores jogadores da história do time era Paulo Borges. Na tarde de 18 de dezembro de 1966, o maracanã recebia cento e quarenta mil torcedores para assistirem a decisão do Campeonato Carioca daquele ano. Mais de cem mil eram torcedores do Flamengo. Estádio lotado para saber se o Flamengo de Almir seria bicampeão ou se finalmente o Bangu de Paulo Borges levaria o troféu.

               O Bangu jogou com; Ubirajara, Fidelis, Mário Tito, Luis Alberto e Ari Clemente; Jaime e Ocimar; Paulo Borges, Ladeira, Cabralzinho e Aladim. Este foi o grande time do Campeonato Carioca de 1966 e muito bem dirigido pelo treinador Alfredo Gonzalez. O Flamengo na decisão era um time cheio de problemas técnicos e psicológicos. Valdomiro, Murilo, Jaime, Itamar e Paulo Henrique; Carlinhos e Nelsinho; Carlos Alberto, Almir, Silva e Osvaldo. O técnico foi Reganeschi.

               Aos 24 minutos do primeiro tempo, Ocimar cobrou uma falta de fora da área e marcou 1×0. Três minutos depois o Bangu aumenta para 2×0 através de Aladim. No intervalo, Almir avisou a todos que estavam nos vestiários do Flamengo. “Eles não vão ter volta olímpica”. Foi com esta disposição que o Flamengo voltou para o segundo tempo.

                E logo aos três minutos Paulo Borges marcou o terceiro gol. Ele deu um chapéu no zagueiro Ditão para um lado, para o outro e, com a bola ainda no ar, deu um chute violentíssimo, indefensável para o goleiro Valdomiro. A partir deste gol, o Bangu partiria para uma goleada histórica. O time estava bem, contrastando com um Flamengo que mais lembrava um moribundo.

                Os torcedores rubros negros estavam calados. O placar de 3×0 para o Bangu era um sinal evidente da derrota, pois, além da diferença nos números, o adversário dominava o jogo. Os caminhos da reação pareciam fechados. Vinte e seis minutos e tudo estava na mesma.

                De repente, o futebol acaba, cedendo lugar a uma das maiores confusões já registradas no maracanã. O lateral Paulo Henrique do Flamengo se preparava para cobrar um lateral quando Ladeira tentou impedir e o provocou. Paulo Henrique respondeu com palavrões e recebeu uma bofetada do atacante do Bangu. Almir estava ligado na partida e disposto a tudo para não aumentar a humilhação. Era demais para uma tarde só. Primeiro, os frangos de Valdomiro, que mais tarde foi acusado pelo próprio Almir de ter se vendido. Depois, as contusões de Carlos Alberto e Nelsinho. Agora, o tapa de Ladeira. Almir perde inteiramente o controle.

                Partiu, desesperadamente, na direção do Ladeira, que preferiu correr, mas em direção a zaga do Flamengo. Itamar, um negro forte de 1,85 e chuteira 43, pula com os dois pés no peito do atacante, que cai. Almir que vinha correndo chutou sua cabeça. A esta altura, o gramado do maracanã já era palco de uma verdadeira loucura coletiva. Ari Clemente do Bangu vem por trás de Almir e o agride. Imediatamente é cercado por Silva, Itamar e o próprio Almir. A torcida do Flamengo, até então calada com a derrota, resolve agitar suas bandeiras, como se cada soco, cada pontapé, valessem como um gol que o time não conseguiu fazer. E num desabafo começa a gritar – Almir, Almir, Almir.

                 Ladeira deixa o campo de maca. O juiz Airton Vieira de Moraes conversa com o treinador Reganeschi, que consegue tirar Almir do campo. Mas, quando Almir vai descendo o túnel ouve alguém gritar “Volta Almir. Acabe de vez com a festa deles”. Foi o suficiente. Ele dá meia volta e parte novamente para o gramado. É ameaçado pelo goleiro Ubirajara e lhe dá um soco. É cercado por Ari Clemente, Mario Tito, Luis Alberto e Fidelis. Almir começa a distribuir socos prá todo lado. Bate e apanha. Silva e Itamar correm em seu socorro. Com muito custo, os policiais conseguem dominar Almir e levá-lo definitivamente para fora do campo. Sua saída lembra um lutador de box deixando o ringue após um combate. Os espectadores se dividem em vaias e aplausos.

               No meio do campo, o juiz Airton Vieira de Moraes resolve expulsar cinco jogadores do Flamengo: Valdomiro, Itamar, Paulo Henrique, Almir e Silva. E mais quatro do Bangu: Ubirajara, Luis Alberto, Ari Clemente e Ladeira. Futebol não teve mais. Os banguenses deram a volta olímpica com poucos aplausos. A torcida do Flamengo vaiava e gritava o nome de Almir. E assim, de forma lamentável terminou o Campeonato Carioca de 1966.

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