Durante anos a história do futebol foi narrada de maneira equivocada, fazendo com que o Atlético-MG, Campeão Brasileiro de 1971, fosse considerado o primeiro campeão nacional. Pois a unificação dos títulos conquistados antes de 1971 faz justiça à era de ouro do nosso futebol, dando o justo reconhecimento ao Bahia como primeiro Campeão Brasileiro, com um título da Taça Brasil de 1959, conquistado sobre o esquadrão do Santos de Pelé & Cia.
No primeiro ano da Taça Brasil, tivemos 16 participantes, e o Bahia havia sido indicado como representante do Estado da Bahia, já que foi o campeão baiano de 1958. Com isso, foi habilitado a participar do certame. O Tricolor Baiano não era o favorito, até porque tinha concorrentes de peso, como o Vasco de Bellini e o Santos de Pelé, Pepe e Coutinho.
A decisão seria entre Bahia e Santos e o vencedor seria o primeiro participante brasileiro na Libertadores da América (a Taça Brasil foi criada para indicar um Campeão Brasileiro que iria representar o País na competição continental). O Santos achando que o titulo seria decidido em duas partidas, programou uma temporada pelo exterior para logo após a decisão da Taça Brasil. O clube paulista era poderoso, tinha Pelé, ganhador de muitos títulos e o grande favorito da competição. Entretanto, já no primeiro jogo realizado na Vila Belmiro, dia 10 de dezembro de 1959, o Bahia mostrou que pensava seriamente no titulo.
A primeira partida foi na Vila Belmiro no dia 10 de dezembro de 1959. O Santos marcou logo 2×0, gols de Pelé e Pepe. Foi quando veio a reação que ninguém esperava. O Bahia venceu por 3×2, gols de Alencar (2) e Biriba. O terceiro gol do Bahia anotado pelo centroavante Alencar aconteceu aos 44 minutos da etapa complementar. Depois daquela belíssima vitória, o favoritismo mudou de lado.
A segunda partida aconteceu no Estádio Fonte Nova em Salvador no dia 30 de dezembro de 1959. Neste dia o Santos jogo muita bola e venceu por 2×0, gols de Coutinho e Pelé. Naquele tempo não havia saldo de gols, prorrogação ou disputa por pênaltis. A diretoria do Santos não quis jogar o terceiro jogo em Salvador e exigiu um campo neutro. A CBD atendeu.
A terceira partida estava marcada para o dia 30 de janeiro de 1960. O Santos argumentou que não tinha datas disponíveis, pois seu calendário estava cheio. O Santos viajava demais. A CBD manteve o jogo para a data programada. Foi então que o presidente do Bahia, Osório Vilas Boas entrou na jogada. Psicologicamente, seu time não estava nada bem depois da derrota em Salvador. A temporada do Santos no exterior iria desgastar a equipe paulista. O Bahia teria tempo para se refazer. Por isso, concordou com o Santos e fez a CBD aceitar uma outra data: 29/03/1960, no Maracanã.
O Santos voltou de uma excursão arrebentado, pois o time vinha atuando de dois em dois dias. Pelé voltou com as amígdalas inflamadas e teve de fazer uma operação, o que o impediu de disputar o jogo final. Para esta grande decisão, o time do Bahia passou 45 dias concentrado na Ilha de Itaparica. Chegava então o dia 29 de março de 1960, o Maracanã recebeu um bom publico, quase todos torcendo pelo Bahia que entrou em campo com Nadinho, Beto, Henrique, Vicente e Nezinho; Flavio e Mario; Marito, Alencar, Léo e Biriba. O técnico Lula, do Santos, escalou a seguinte equipe para aquela grande final; Lála, Getúlio, Mauro Ramos de Oliveira, Formiga e Zé Carlos; Zito e Mario; Dorval, Pagão (Tite), Coutinho e Pepe.
O Santos abriu a contagem através de Coutinho aos 27 minutos de jogo. Dez minutos depois, o Bahia empatou com Vicente cobrando uma falta da intermediária. No primeiro minuto do segundo tempo, Léo marcou o segundo gol do Bahia. O Santos se desesperou. Aos 24 minutos o juiz expulsou Getulio. Formiga reclamou exageradamente e também foi expulso. Aí o Santos começou a apelar.
Aos 32 minutos, Coutinho agrediu Nezinho e foi colocado para fora. Vicente deu um soco em Coutinho e também foi obrigado a sair. Perdido por dois, perdido por mil, os santistas resolveram parar os baianos no pau. A polícia entrou em campo e esfriou os ânimos. O juiz Frederico Lopes expulsou outro santista. Dorval deu um tapa em Henrique e também saiu mais cedo.
Aos 37 minutos, Alencar sacramentou a vitória, driblando o goleiro e marcando o terceiro do time Baiano. A festa já tinha começado na Bahia de todos os santos. Em 29 de março de 1549 Tomé de Souza fundava Salvador, 411 anos depois, em 29 de março de 1960, o Esporte Clube Bahia se sagrava o Primeiro Campeão Brasileiro de Futebol.