PALMEIRAS 2×2 JUVENTUS – Dia 22 de Julho de 1951

                 A Sociedade Esportiva Palmeiras conquistou um título que entrou para a história do clube esmeraldino, a Copa Rio de 1951. Com o intuito de não esfriar a paixão dos torcedores brasileiros pelo futebol, após a perda do título mundial para o Uruguai na Copa do Mundo de 1950, a Confederação Brasileira de Desportos (atual Confederação Brasileira de Futebol) organizou em 1951 o Torneio Internacional de Clubes Campeões (mesmo nome escrito no troféu), que depois ficou conhecida como a Copa Rio ou “Taça Rio”. A competição foi organizada pela Confederação Brasileira de Desportos, com a autorização da FIFA e tinha este nome por ser patrocinada pela prefeitura do Rio de Janeiro.

                 Para esta competição, ficou determinado que o número de participantes seria 8, e ficou determinado também que o critério de escolha dos países convidados seria a ordem de colocação dos países na última Copa do Mundo (1950), de modo que seriam convidados, a princípio, os campeões de Uruguai, Brasil (2 campeões: Rio de Janeiro e São Paulo), Suécia, Espanha, Inglaterra, Itália e Portugal; e caso algum deles desistisse, seriam convidados clubes dos países que se seguissem na classificação da Copa do Mundo de 1950. O Campeonato Mundial Interclubes de 1951, como foi batizado pela imprensa e organizadores, contou com a participação de oito times, divididos em duas chaves de quatro: Vasco da Gama – Brasil, Áustria Viena – Áustria, Nacional – Uruguai e Sporting – Portugal, com sede no Rio de Janeiro; Palmeiras – Brasil, Juventus – Itália, Estrela Vermelha – Iugoslávia e Olympique – França, com sede em São Paulo. 

               Realmente foi um dos feitos mais importantes do futebol brasileiro e da história gloriosa do Palmeiras. Em 1951, o Brasil ainda vivia a dor da perda da Copa do Mundo para o Uruguai, quando a CBD e a FIFA decidiram pela criação da primeira competição intercontinental interclubes da história do futebol, envolvendo os principais campeões europeus e sul-americanos, inspirados no sucesso do mundial de seleções em terras brasileiras: o Torneio Internacional de Clubes Campeões – Copa Rio.

COMO TUDO COMEÇOU

               Este título alviverde começou no ano anterior, quando conquistou o Rio-São Paulo, além de duas Taças Cidade de São Paulo e sagrou-se Campeão Paulista de 1950. A decisão do título paulista foi acirrada, pois ele só foi decidido na última rodada, quando se enfrentaram São Paulo e Palmeiras, quem vencesse seria o campeão. Este jogo era muito importante, não só pela conquista do título paulista, mas também porque o vencedor teria o direito adquirido de participar da Copa Rio no ano seguinte, onde participavam outros clubes da Europa. Este jogo aconteceu no Estádio Municipal do Pacaembu no dia 28 de janeiro de 1951, um dia de muita chuva na capital paulista, por isso, este jogo ficou conhecido por “o jogo da lama”. Para este jogo o técnico Ventura Cambon do Palmeiras mandou a campo os seguintes jogadores; Oberdan, Turcão, Palante, Waldemar Fiúme, Luiz Villa, Sarno, Lima, Canhotinho, Aquiles, Jair Rosa Pinto e Rodrigues.

                Do outro lado o técnico do Tricolor, o experiente Vicente Feola, o mesmo que comandou nossa seleção na Copa de 58 na Suécia, onde conquistamos o nosso primeiro título mundial, escalou a seguinte equipe; Mário, Savério, Mauro Ramos de Oliveira, Bauer, Rui, Noronha, Dido, Remo, Friaça, Leopoldo e Teixeirinha. O São Paulo abriu o placar aos 4 minutos de jogo. Aos 15 da segunda etapa o Palmeiras empatou através de Aquiles. Com este empate o Palmeiras sagrou-se campeão depois de disputar 22 jogos, sendo que venceu 13, empatou 6 e perdeu somente 3 vezes. E assim, o Palmeiras estava classificado para a Copa Rio, uma competição que todos os clubes paulistas desejavam participar.

               Para esta Copa Rio, as equipes vieram muito fortes. Por exemplo, o Vasco da Gama/RJ, que tinha em seu elenco oito jogadores que haviam disputado a Copa de 50 pelo Brasil, era o favorito disparado. Inclusive, o time vascaíno chegou a desprogramar compromissos no exterior, dando férias a seus atletas, para poder priorizar a Copa Rio. Mas a Juventus/ITA, onde sete feras da Azurra e uma da seleção sueca também atuavam, era outro time pra lá de forte. O Estrela Vermelha, por sua vez, carregava o status de ser a base da seleção da Iugoslávia, o mesmo acontecendo com o Áustria Viena, que tinha em seu time nada menos do que 10 nomes do selecionado austríaco.

              Olympique de Nice/FRA e Sporting/POR também se qualificavam como as mais fortes equipes de seus países, e o Nacional/URU trouxe para o Brasil dois campeões mundiais – Perez e Paz. Mas o Palmeiras também estava muito forte, pois seu elenco também era composto por verdadeiras feras: além de Jair Rosa Pinto, Juvenal e Rodrigues Tatu, personagens da chamada “Tragédia do Maracanã”, o Verdão tinha nomes como Lima, Waldemar Fiúme, Liminha, Canhotinho, Aquiles… O Palmeiras também deu prioridade máxima ao torneio, tendo feito cerca de um mês de concentração no Parque Antártica para o mesmo. Ou seja, já era esperado uma super copa aquela de 1951.

JOGOS DO PALMEIRAS

               O Palmeiras fez sua estreia dia 30 de junho diante da equipe francesa Olympique e não teve dificuldades para vencê-la por 3 a 0. A segunda partida foi dia 5 de julho diante do Estrela Vermelha da Iugoslávia e também venceu por 2 a 1. Na última partida pelo seu grupo, uma grande surpresa, uma derrota por 4 a 0 diante da Juventus da Itália. O goleiro Oberdan Catani foi considerado culpado e com isto foi substituído pelo goleiro Fábio, que jogou as partidas finais da competição. Sendo assim, Juventus e Palmeiras estavam classificados pelo grupo de São Paulo. Já no grupo do Rio de Janeiro, classificaram-se, Vasco e Áustria de Viena. As semifinais começaram no dia 12 de julho, quando a Juventus empatou com a Áustria de Viena em 3 a 3 no Rio de Janeiro. Aqui em São Paulo o Palmeiras derrotou o Vasco da Gama por 2 a 1. Nos jogos de volta que aconteceram dia 14 e 15 de julho, a Juventus derrotou a Áustria de Viena por 3 a 1, enquanto que o Palmeiras empatou com o Vasco em 0 a 0. Sendo assim, estavam classificados para a grande final, Palmeiras e Juventus da Itália.

               Na primeira fase a equipe italiana havia aplicado uma goleada de 4 a 0 e isto fazia com que a torcida esmeraldina ficasse muito preocupada com aquela final, que teve início no dia 18 de julho em São Paulo, no Estádio Municipal do Pacaembu. No entanto, a equipe palmeirense entrou em campo determinada e logo aos 20 minutos do primeiro tempo o ponta esquerda Rodrigues fez 1 a 0. Depois só administrou o resultado, que foi muito importante, pois para a segunda partida precisaria somente de um empate lá no Rio de Janeiro. E finalmente chegou o dia 22 de julho de 1951. O Estádio era o velho Maracanã, o mesmo palco que Jair da Rosa Pinto, Juvenal e Rodrigues estiveram naquela tarde triste do futebol brasileiro, quando perdemos a Copa de 50 para o Uruguai por 2 a 1. Sendo assim, estes jogadores alviverdes faziam questão daquela vitória sobre a equipe italiana, para esquecer aquele trauma do Maracanã. O público deste jogo foi de 100.933 pessoas, sendo que pagaram ingresso 82.892. Para esta partida o técnico palmeirense Ventura Cambon, mandou a campo os seguintes jogadores; Fábio, Salvador e Juvenal; Túlio, Luís Villa e Dema; Lima, Ponce de León (Canhotinho), Liminha, Jair da Rosa Pinto e Rodrigues. 

               Já o técnico italiano Carver, escalou a seguinte equipe; Giovanni Viola, Bertucceli e Manente; Mari, Parola e Bizzoto; Miccinelli, Karl Hansen, Boniperti, Johan Hansen e Praest.  A partida começa tensa e precisando da vitória a qualquer custo, os italianos foram pra cima, marcaram o primeiro gol aos 18 minutos do primeiro tempo, com Praest e acabaram a etapa inicial na frente. O Palmeiras voltou para o segundo tempo com muita disposição, empatando o jogo com Rodrigues, logo aos 2 minutos. A Juventus não se rendeu. Karl Hansen, aos 18, colocou o time europeu novamente na frente. O gol do título palmeirense saiu dos pés de Liminha, aos 32 minutos.

A GRANDE FESTA

               Após a conquista do torneio, houve uma grande comemoração no Rio de Janeiro para celebrar o título, a equipe palmeirense desfilou em carro aberto pela cidade do Rio de Janeiro. Na volta a São Paulo, o Palmeiras foi recebido por uma grande multidão na Estação Roosevelt de trem. No trajeto entre a estação e o Parque Antártica, o povo aglomerou-se em todos os lugares possíveis para reverenciar os campeões. A festa em São Paulo quando da chegada dos campeões do mundo foi inesquecível. Jornais da época apontam a presença de cerca de um milhão de pessoas, que saudaram os jogadores e membros da comissão técnica com lenços brancos, como era costume então. Dentre o público, presença marcante também de torcedores de outros clubes, já que a conquista palmeirense, como dissemos, resgatou o sentimento de brasilidade de cada torcedor depois da Copa de 50. Curiosamente, após esta importante conquista, o Palmeiras atravessou uma triste fase, não por sua equipe que era muito boa, mas pela falta de títulos, amargando também um tabu de sete anos sem vencer o Corinthians no Campeonato Paulista (1951 a 1958).

              Após o título do Palmeiras, o Jornal do Brasil se referiu a ele como Campeão dos Campeões do Mundo, ressaltando como o Palmeiras “tão bem soube levantar a moral do futebol brasileiro, levantando o título de campeão dos campeões do mundo”. Não só no Brasil, mas também em Itália e Uruguai (então, os únicos dois países campeões mundiais de seleções), a competição foi tratada como Mundial. Desde 2001, dirigentes do Palmeiras trabalhavam para que o título da Copa Rio de 1951 seja reconhecida como a primeira Copa do Mundo de Clubes da história. Mas com receio de provocar uma onda de pedidos de outros clubes como o Fluminense campeão da Copa Rio de 1952, a FIFA não confirmou, classificando a Copa Rio como um torneio intercontinental e não-FIFA. Os dirigentes do Palmeiras não recorreram da decisão da FIFA. Com efeito, Palmeiras e Fluminense (clubes que comprovadamente protocolaram o pedido na FIFA) tratam a Copa Rio em seus sites como um título mundial.

PALMEIRAS  DE  1951   –   Em pé: Dema, Osvaldo, Fábio Crippa, Juvenal, Luiz Villa e Valdemar Fiume      –     Agachados: Odair, Ponce de Leon, Liminha, Jair Rosa Pinto e Rodrigues Tatu
JUVENTUS DA ITÁLIS DE 1951  –   Em pé: Bertucceli, Manente, Giovanni Viola, Mari, Parola e Bizzoto      –     Agachados:Miccinelli, Boniperti, Praest, Karl Hansen e Johan Hansen

 

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