ZÉ CARLOS: brilhou no Botafogo/RJ nos anos 70

                        José Carlos Pessanha nasceu no município de Campos dos Goytacazes (RJ), em 29 de abril de 1955. A mãe, dona Urcíndia Pessanha, não esquece o trabalho danado que teve com o rapazola, que ignorava os livros escolares para oferecer o próprio destino no campo do Nova Brasília Futebol Clube.

                       Jogava inicialmente como lateral-direito. Ainda que criticado pela rispidez, o lugar no time só era garantido pela seriedade com que mordia os tornozelos dos adversários!

                       A camisa de goleiro apareceu por acaso, mais pela necessidade do treinador do Nova Brasília, que não encontrava ninguém disposto em encarar o desafio de ficar torrando debaixo das balizas castigadas pelo sol impiedoso da região. E assim os anos foram passando. Com 1;80 de altura, Zé Carlos logo aprendeu os segredos da posição e quase foi parar no Fluminense.

                       Foi então que o amigo Alair, também goleiro, o levou para os quadros amadores do Botafogo de Futebol e Regatas em 1972. Aprovado pelo lendário Neca, Zé Carlos assinou um “contrato de gaveta” para ganhar 150 cruzeiros por mês, mais alojamento e comida.

                       Sempre dedicado aos treinamentos, o jeito sisudo de Zé Carlos logo despertou os instintos provocadores do companheiro Mário Sérgio Pontes de Paiva, que o apelidou de “Dobermann”, uma raça de cão com fama de temperamento pouco amigável.

                       Esperando por uma oportunidade, Zé Carlos foi relacionado como suplente de Ubirajara para enfrentar o Flamengo, compromisso válido pelo segundo turno do Campeonato Carioca de 1975.

                       Quando o experiente Ubirajara deixou o gramado machucado, os torcedores do Botafogo temeram pela sorte do time. Afinal, o que poderiam esperar de um jovem goleiro pouco conhecido. Contudo, Zé Carlos calou os céticos no crepúsculo da partida, ao garantir o empate com uma defesa memorável em uma cobrança de falta perfeita de Zico.

                        Com a bola colada junto ao corpo, Zé Carlos pousou elegantemente no gramado, para prontamente subir no conceito do técnico Zagallo.

25 de maio de 1975 –  Campeonato carioca segundo turno – Botafogo 2×2 Flamengo – Estádio do Maracanã – Árbitro: Valquir Pimentel – Gols: Nilson Dias aos 28’ do primeiro tempo; Doval aos 9’, Marinho aos 14’ e Doval aos 42’ do segundo tempo.

Botafogo: Ubirajara (Zé Carlos); Miranda, Chiquinho, Artur e Marinho; Carlos Roberto e Ademir; Rogério (Cremílson), Nilson Dias, Fischer e Dirceu. Técnico: Zagallo. Flamengo: Cantarelli; Júnior, Jaime, Luís Carlos e Rodrigues Neto; Liminha e Geraldo; Doval, Luisinho, Zico e Paulinho (Luís Paulo). Técnico: Joubert.

                        Convocado para os Jogos Pan Americanos em 1975, Zé Carlos voltou da Cidade do México com a medalha de ouro e continuou absoluto na meta do Botafogo.

                        Em grande fase, Zé Carlos fez parte da série de 52 partidas invictas do Botafogo na temporada de 1978, quando participou de todos os compromissos e foi indicado como o melhor goleiro do ano para o troféu da revista Manchete Esportiva.

                        Todavia, o violento acidente automobilístico em abril de 1979 o manteve longe dos gramados por um período considerável. Zé Carlos só voltou ao futebol no início da década de 1980. Jogou ainda pelo América (RJ), Colorado (PR) e o 9 de Julho de Cornélio Procópio (PR). *Algumas fontes registram ainda uma passagem pelo Rio Branco (ES).

                         Zé Carlos também trabalhou como preparador de goleiros no Atlético (PR), Coritiba (PR), Ituano (SP) e União São João de Araras (SP). Em 1995 foi convidado pelo ex-treinador Carbone para trabalhar nos Emirados Árabes. Desde então, não voltou mais ao Brasil.

ACIDENTE DE AUTOMÓVEL

                        A década de 70 foia pior para Zé Carlos devido ao acidente que causou uma fratura em cada uma das pernas e que o fez parar por longos dois anos. Quando retornou, já na década de 80, ele não pôde atingir o mesmo nível de antes.

                         No quarto de paredes brancas e descascadas da Casa de Saúde São Miguel, o goleiro Zé Carlos estava um tanto atordoado. Pouco lembrava da batida frontal que sofreu contra uma Brasília que trafegava na contramão. Foi uma noite horrível. Enfermeiras correndo e gritos de dor!

Ao lado da esposa Cármen Lúcia, Zé Carlos amanheceu melhor, embora ainda não tivesse o perfeito entendimento do risco de nunca mais praticar o futebol.

                        Na verdade, Zé Carlos já teria muita sorte se conseguisse andar normalmente. Lídio Toledo, um dos médicos que acompanhava o jogador não parecia muito otimista:

– “Em minha carreira nunca vi um caso assim. Ele fraturou o fêmur em vários lugares e a articulação do joelho foi destruída”.

                       Mergulhado em total devaneio, Zé Carlos ainda acreditava que poderia enfrentar o Flamengo no dia 29 de abril de 1979, justamente no dia de seu aniversário. E de fato, o goleiro precisava continuar. Compromissos financeiros não tem a nobreza da piedade!

                        Com o salário comprometido em dívidas pela prestação da casa e do automóvel, o apertado orçamento doméstico parecia momentaneamente aliviado, graças ao empenho público do Botafogo em antecipar a renovação contratual do jogador.

                       Além disso, os companheiros solicitaram aos dirigentes o pagamento dos prêmios e “bichos” ao goleiro, assim como fizeram anteriormente no caso do atacante Nilson Dias. Paralelamente, o presidente Charles Borer também prometeu um emprego ao goleiro como funcionário no clube, caso ele não pudesse voltar aos gramados.

Em pé: Zé Carlos, Beto, Osmar, Wesley, Renê e Rodrigues Neto      –  Agachados:  Cremílson, Mendonça, Dé, Manfrini e Paulo César Caju
1970  –   Em pé: Perivaldo, Zé Carlos, Luizinho, Rodrigues Neto, Renê e Osmar. Agachados: Gil, Mendonça, Nilson Dias, Bráulio e Paulo César Caju
Colorado em 1986  –   Em pé: Ari Marques, Vilson, Zé Carlos, Eneas, Augusto e Dantas    –    Agachados: Ronaldo, Luis Carlos, Pacheco, Zico e Odilon
Colorado em 1987   –    Em pé: Ari Marques, Vilmar, Caxias, Gilberto, Zé Carlos e Carlinhos    –    Agachados: Moacir (massagista), Castorzinho, Hélio Ninho, Leocir, Zico e Odilon
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