HÉRCULES: brilhou no Fluminense e no Corinthians

                   Hércules de Miranda nasceu dia 2 de julho de 1912, na cidade de Guaxupé (MG). Ainda hoje é considerado o melhor ponta esquerda de toda a história do Fluminense do Rio de Janeiro. Ganhou com justiça o apelido de “Dinamitador”devido ao seu chute fortíssimo. O apelido pegou a partir de 1936, quando se consagrou definitivamente no Rio de Janeiro, graças a seus gols de falta. Segundo o cronista esportivo Geraldo Romualdo da Silva, Hércules tinha “um canhão no pé esquerdo e um míssil no direito”.  Todos os dias aquele garoto mineiro de Guaxupé, subia no muro do Clube Paulistano.

                   Lá do alto ele ficava olhando os craques da época, que jogavam e treinavam no campo de futebol: Mário de Andrade, Formiga, Clodoaldo, Barthô e, principalmente  Friedenreich, seu maior ídolo.  Depois, voltava correndo para casa, eufórico, com o coração aos pulos. E dizia para sua mãe – “É inacreditável o que ele faz. Ninguém pode fazer coisas tão maravilhosas com a bola. Ele é formidável. Perfeito. Se eu pudesse um dia jogar ao seu lado, ficaria muito feliz”.

                   E o garoto Hércules Miranda não conseguia dormir direito, pensando nisso. Mas, quando conseguia, sonhava com o futebol de Friedenreich, seus passes, seus gols. Assim foi crescendo, e tentava imitar, com a bola de meia, o que Friedenreich fazia com uma de couro. Aos 16 anos, Hércules foi jogar como amador no Juventus, passando logo depois para o time principal, onde ficou até 1933. Era o inicio do profissionalismo e Paulo Machado de Carvalho foi buscá-lo para o São Paulo, o time do Friendereich. Mas seu ídolo já estava em fim de carreira.

                  Quando entrava em campo era no segundo tempo. Porém, continuava um craque. Chegou então a semana do jogo contra o Palestra Itália, que seria realizado no campo do São Paulo. Na véspera, Hércules foi ver a escalação do time: Moreno, Agostinho e Iracino; Rafa, Zazur e Orozinbo; Luisinho, Armandinho, Valdemar de Brito (no segundo tempo Friedenreich), Arakem e Hércules.

                  Friedenreich e Hércules, era demais. A noite ele não dormiu. O dia seguinte chegou, o jogo iniciado e no segundo tempo lá estavam em campo Freidenreich e Hércules lado a lado. A partida estava zero a zero e o tempo passando. Quase no fim, Hércules recebe de Arakem, vai na linha de fundo e entregou a bola nos pés de Friedenreich na marca do pênalti, frente a frente com o goleiro Aymoré Moreira. Friedenreich dominou a bola, preparou a direita e, quando Aymoré pulou, o artilheiro chutou com a esquerda no outro lado. Estava ganho o jogo. Gol de Friedenreich, passe de Hércules. Sonho realizado, um dos dias mais felizes do garoto Hércules Miranda. Uma emoção somente comparada a um jogo no dia 7 de janeiro de 1934, quando os paulistas se sagraram campeões brasileiros de seleções.

                   O jogo foi em São Januário, campo do Vasco e acabou empatado em 1×1. Houve, então, a necessidade de uma prorrogação, na qual quem fizesse o primeiro gol, antes dos 30 minutos, seria o campeão. Dada a nova saída, Romeu entregou a bola para Waldemar de Brito, que a passou para Hércules. Exausto, ele ainda conseguiu driblar o adversário e, num grande esforço, arrancou para a área, onde chegou tropeçando, quase caindo. Mesmo assim, conseguiu tocar a bola de lado do goleiro carioca Rei. A bola entrou bem mansinha. Foi uma festa. Hércules foi carregado pelos marinheiros do couraçado São Paulo que estava ancorado no Rio de Janeiro. Na volta a capital paulista, Hércules foi tirado do trem pela janela e festejado como nunca. Ele perdeu a bagagem, mas ganhou, menino ainda, o melhor momento de sua vida no futebol. O seu dia de glória.

FLUMINENSE

                   Como tinha passe livre, foi contratado pelo Fluminense, que ficou encantado com sua belíssima apresentação daquele dia em que Hércules jogou no Rio de Janeiro pela primeira vez. Sua estreia no clube das Laranjeiras, aconteceu no dia 12 de junho de 1935, quando o Fluminense venceu a Portuguesa de Desportos por 3 a 1 num jogo amistoso.  Para jogar no clube carioca, recebeu 10 contos de réis, uma fortuna na época, e assim o Fluminense passou a formar um grande elenco com jogadores de primeira linha, como por exemplo; Batatais, Ernesto Santos, Machado, Marcial, Brant, Orozimbo, Sobral, Russo, Gabardo, Vicentini e, a partir de então, Hércules que chegou no clube com uma grande fama.

                  O auge de sua carreira aconteceu no tricampeonato de 1936, 37 e 38, quando se tornou o artilheiro absoluto da campanha com 56 gols (23 gols em 1936; 23 gols em 1937; e 10 gols em 1938). Em 1940, foi de novo o artilheiro do time com 12 gols. Pelo clube carioca fez 164 gols em 176 jogos. Até os dias de hoje, é o quarto maior artilheiro do Fluminense. Em 1941, teve seu último ano de glória no Tricolor Carioca: surgiu Carneiro, que passou a dividir com ele a ponta-esquerda, e em 1942 Hércules, que encerrou a carreira cinco anos depois, pediu para ser vendido ao Corinthians, onde jogou ao lado de seu amigo Domingos da Guia, um dos zagueiros que mais trabalho tiveram para marcá-lo.

                  Durante aqueles anos que jogou pelo Fluminense, foi campeão carioca por cinco vezes (1936, 1937, 1938, 1940 e 1941). A sua passagem pelo Fluminense também ficou marcada fora dos gramados. Ele se casou com uma associada branca do clube, o que fez com que a diretoria tricolor proibisse o ingresso de atletas nos quadros sociais da entidade. Os dirigentes diziam que “Hércules tinha de saber qual era o seu lugar – lugar de empregado, lugar de mulato, lugar de crioulo”. Felizmente, Hércules se deu bem na vida e ao pendurar as chuteiras, em 1946, já era dono de casas e terrenos em São Paulo.

CORINTHIANS

                   Em 1942, trocou o Rio de Janeiro por São Paulo e veio jogar no Corinthians, que na época já tinha um grande time e com a chegada de Hércules, ficou ainda mais forte. Com a camisa do Corinthians, ele fez sua estreia no dia 16 de maio de 1942, quando o Timão enfrentou o Coritiba no Pacaembu, num jogo amistoso. O Corinthians venceu por 3 a 0, com gols de Servílio, Milani e Eduardinho.  Neste dia o Corinthians jogou com a seguinte formação; Joel, Agostinho, Chico Preto, Jango e Brandão; Dino e Eduardinho; Jerônimo, Servílio, Teléco e Hércules.  Na semana seguinte o Corinthians empatou com o São Paulo em 3 a 3, na estreia de Leônidas da Silva no time Tricolor. Este foi o maior público que o estádio do Pacaembu já recebeu, mais de 70 mil pessoas.  E na outra semana, o Corinthians venceu o Palestra Itália por 4 a 1.

                   O primeiro gol de Hércules com a camisa do Corinthians aconteceu no dia 7 de junho de 1942, quando o Timão venceu o Juventus por 3 a 1.  Quando Hércules chegou no Corinthians, já estava perto dos 30 anos. Nem por isso, deixou de brindar a Fiel Torcida Corintiana com seus gols espetaculares.  De 1942 até 18 de março de 1945, período em que vestiu a camisa do alvinegro de Parque São Jorge, Hércules realizou 73 partidas. Venceu 47, empatou 9 e perdeu 17. Marcou 56 gols.

SELEÇÃO BRASILEIRA             

                   Hércules também teve uma passagem marcante vestindo a camisa da nossa seleção brasileira, pois ele foi titular absoluto na Copa de 1938, disputada na França. Neste mundial o Brasil ficou em 3º lugar. Na primeira partida, dia 5 de junho, enfrentamos a Polônia. No tempo normal empatamos em 4 a 4. Na prorrogação fizemos 2 a 1, portanto, Brasil 6 x 5 Polônia. Na segunda partida, dia 12 de junho, empatamos com a Checoslováquia em 1 a 1. Na terceira partida, dia 14 de junho, voltamos a enfrentar a Checoslováquia, e desta vez vencemos por 2 a 1. Na quarta partida, dia 16 de junho, pela semi-final, enfrentamos a Itália e perdemos por 2 a 1, sendo que o segundo gol da Itália foi de pênalti  de Domingos da Guia em cima de Piola, o qual foi muito discutido na época. O jogador italiano agrediu Domingos da Guia, que de imediato revidou. O juiz só viu a agressão de Domingos da Guia e marcou pênalti.

                   Só nos restava então decidir o 3º lugar. Isto aconteceu no dia 19 de junho, quando enfrentamos e vencemos a Suécia por 4 a 2. O artilheiro daquele mundial, foi o brasileiro Leônidas da Silva com 8 gols e a Itália sagrou-se campeã ao vencer a Hungria por 4 a 2. Neste mundial tivemos algumas curiosidades, como por exemplo; Os jogadores brasileiros viajaram de navio até a França, o que durou 15 dias. Vários jogadores acabaram engordando, foi o caso do jogador Romeu, que saiu do Brasil com 70 kg. e chegou na França com 79 kg.  Na estréia da nossa seleção, jogamos de camisa azul e calção preto.

                  Hércules de Miranda, o dinamitador, faleceu dia 3 de setembro de 1982, no Rio de Janeiro. Foi um jogador que fazia juz ao nome próprio de Hércules, pois tinha um chute fortíssimo. Foi campeão carioca por cinco vezes, sempre pelo Fluminense e jogou seis vezes pela Seleção Brasileira, marcando três gols com a camisa canarinho. Em sua trajetória de 15 anos pelos gramados, Hércules escreveu seu nome com letras douradas no futebol brasileiro.

Em pé: Técnico Del Debbio, Junqueira, Brandão, Zezé Procópio, Oberdan, Osvaldo e Dino      –     Agachados: Luizinho, Lima, Leônidas da Silva, Remo e Hércules
Em pé: Jango, Pellicciari, Zalmer, Begliomini, Ciro e Domingos da Guia      –     Agachados: Jerônimo, Servilio, Paulo, Rui e Hércules
Em Pé: General, Domingos da Guia, Bino, Brandão, Begliomini e Dino      –     Agachados: Augusto, Servílio, Milani, Nandinho e Hércules
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