Tele Santana da Silva, o Mestre Tele, nasceu dia 26 de julho de 1931 na cidade Itabirito-MG. e faleceu dia 21 de abril de 2006. Portanto, amanhã fará dois anos que o futebol brasileiro perdeu não só um grande treinador, mas uma pessoa acima de tudo honesta e determinada a vencer. Por onde passou deixou grandes amigos, pois sempre foi um profissional exemplar e ao mesmo tempo um paizão para os jogadores com quem trabalhou.
O futebol começou cedo para Telê, mais precisamente no final da década de 40. Sua primeira equipe foi o América Recreativo de São João del Rey-MG., cujo técnico e presidente era seu próprio pai. Já o primeiro grande clube em que o atacante jogou foi o Fluminense, primeiro no juvenil e depois no profissional. Lá permaneceu pelos 9 anos seguintes e conquistou o primeiro título da carreira, o Campeonato Carioca de 1951, marcando dois gols na decisão contra o Bangu.
Em 1952, o tricolor carioca tinha a seguinte formação; Castilho, Píndaro, Pinheiro, Jair Santana e Bigode; Edson e Robson; Tele Santana, Villalobos, Marinho e Quincas. Neste mesmo ano, Tele Santana ganhou o apelido de “Fio da Esperança”, título de um filme que estava em cartaz nos cinemas. Fio devido ao pouco peso (apenas 57 kg). Esperança pelas qualidades como jogador e também pelas várias vezes que decidiu uma partida no finalzinho. Tanto tempo numa mesma equipe fez com que Telê deixasse seu nome gravado no coração do torcedor do Flu. Assim, numa votação promovida pela revista “Placar” em junho de 2000, Telê foi eleito o quinto maior jogador da história do Fluminense. Com a camisa do Fluminense jogou 556 partidas e marcou 165 gols, sendo o terceiro jogador que mais atuou pelo clube tricolor e seu terceiro maior artilheiro.
Torcedor confesso do Fluminense, Telê permaneceu no seu time de coração até 1960, ano que se transferiu para o Guarani de Campinas, onde jogou até 1963, sendo que em 1962 o bugre campineiro formou um grande esquadrão; Dimas, Ditinho, Hilton, Eraldo e Ferrari; Diogo e Tião Macalé; Tele Santana, Juvenal, Paulo Leão e Oswaldo. No final de carreira, em 1963, foi defender o Madureira do Rio de Janeiro e o Vasco da Gama, seu último clube.
Apesar dos títulos conquistados na boa carreira como jogador (campeão carioca em 51 e 59 e campeão do Rio-São Paulo em 57 e 60) jogando pelo Fluminense, Telê Santana ganhou destaque trabalhando como treinador, pois foi no banco de reservas, como técnico, que Telê conquistou mais títulos, fama, reconhecimento e dinheiro. Devido ao antigo vínculo com o Fluminense, a equipe juvenil do tricolor carioca foi a primeira a ser comandada pelo técnico, em 1967. Dois anos mais tarde, assumiu a equipe profissional interinamente, sagrou-se campeão carioca e ficou no cargo. A sua primeira importante conquista comandando um time foi o Brasileiro de 1971 pelo Atlético Mineiro. A partir daí Telê foi sendo cada vez mais respeitado como um treinador de ponta do futebol brasileiro. Outra conquista importante dele nos anos 70 foi com o Grêmio, campeão gaúcho de 77. Na época, o Tricolor Gaúcho sofria com o forte Internacional (bicampeão brasileiro 1975/76), que tinha Falcão, Carpegiani, Valdomiro, Lula, Dario, Manga, Figueroa e companhia.
Antes de chegar à Seleção Brasileira, Telê realizou um excelente trabalho no Palmeiras em 1979. Na época, o time de Palestra Itália fez uma ótima campanha no Paulistão, mas acabou sendo prejudicado com a paralisação da competição, o que acabou favorecendo o também forte Corinthians de Sócrates, Palhinha, Amaral, Wladimir, Zé Maria e do presidente Vicente Matheus.
No mesmo ano, mas no Campeonato Brasileiro, o Palmeiras aplicou uma goleada histórica por 4 a 1 sobre o Flamengo de Zico, em pleno Maracanã. Telê garantia assim sua ida para comandar o time canarinho, que nas suas mãos jogou um futebol bonito, ofensivo, como não se via desde 1970. Tele assumiu a seleção pela primeira vez em 1980. Dois anos depois, encantou o mundo com uma equipe que jogava sempre pra frente, colocando o gol como objetivo principal durante os 90 minutos de uma partida. No entanto, mesmo tendo uma equipe superior, o Brasil foi derrotado pela Itália, por 3 a 2 e acabou sendo eliminado tragicamente do Mundial da Espanha.
Em 1986, na Copa do México, Telê esteve mais uma vez dirigindo a Seleção Brasileira, que tinha um time envelhecido. O futebol de Zico, Sócrates e Falcão, maestros da equipe de 82, já não era o mesmo e o Brasil sucumbiu contra a França, nas penalidades máximas, na fase quartas-de-final. A fama de “pé-frio” começou a perseguir Telê, porém ele nunca se abateu com isso. No final de 89, ele voltou a dirigir o Palmeiras, que o demitiu após fracasso no Paulistão de 90. No mesmo ano, o Mestre Telê assumiu o São Paulo no lugar do uruguaio Pablo Justo Forlan. A missão não era das mais fáceis, já que o Tricolor do Morumbi tinha feito uma péssima campanha no estadual (ficou nas últimas colocações, mas mesmo assim conseguiu disputar o Paulistão do ano seguinte).
Com a personalidade de sempre, Telê apostou suas fichas no talento de Raí, que por pouco não fora negociado com o Flamengo, e em novatos como Antônio Carlos, Cafu, Leonardo e Elivelton. O resultado foi bom e o São Paulo foi vice-campeão brasileiro perdendo na final para o Corinthians por 1 a 0, gol de Tupãzinho no dia 13 de dezembro de 1990.
No ano seguinte, com mais entrosamento e com uma base montada do ano anterior, o São Paulo voltou a chegar na final do Brasileiro, mas desta vez conquistou o título e consequentemente um lugar na Libertadores de 92. No segundo semestre, o Tricolor, depois de uma mudança no regulamento, conseguiu entrar na disputa do Paulistão e faturou mais um caneco. Os anos de 92 e 93 foram repletos de glórias para o São Paulo de Telê Santana. O Tricolor faturou o bicampeonato paulista, o bicampeonato da Libertadores e o bicampeonato mundial. Com isso, Telê calava definitivamente a boca dos que o chamavam de “pé-frio”. O técnico trabalhou no São Paulo até 1996, quando foi obrigado a se afastar por problemas de saúde. Ele morava em Belo Horizonte-MG, onde contava com o apoio da esposa e dos filhos. Aliás, um deles, Renê Santana, virou técnico.
Dia 22 de dezembro de 2003, ele foi submetido à cirurgia para amputação de parte da perna esquerda. Três anos depois, dia 25 de março de 2006, voltou a ser levado para o Hospital Felício Rocho, em Belo Horizonte-MG na capital mineira. Telê, segundo boletim médico, apresentava infecção abdominal no intestino grosso. Foi internado em estado grave. Passou algumas semanas no hospital e morreu no dia 21 de abril de 2006 aos 74 anos, devido a múltipla falência dos órgãos.
O mineiro de Itabirito, considerado um dos maiores treinadores de todos os tempos, deixa órfã uma legião de amantes do futebol-arte. Perdeu duas Copas. Sim. Mas conquistou o mundo regendo a orquestra são-paulina em 92 e 93, período mais vitorioso do clube paulistano. Sua última aparição pública, aliás, ocorreu em dezembro de 2003. Na ocasião, o “Mestre” foi homenageado pelo São Paulo e lembranças de dez anos antes provocaram lágrimas em muitos dos cerca de 200 convidados para a cerimônia. O ex-técnico ganhou o título de cidadão paulistano, uma citação no Memorial do clube do Morumbi e uma placa em homenagem aos títulos conquistados em Tóquio, no Japão.
Como jogador ganhou nove títulos. Depois como técnico já com uma visão particular de futebol, formada nos muitos anos de trabalho, era um intransigente defensor de um futebol diferenciado, exigente e disciplinador, que exigia de seus comandados uma postura profissional dentro e fora dos campos. Foi este futebol que transformou Telê em “Mestre”, no comando de super campeão do time do São Paulo no início da década de 90. Como técnico, Tele Santana ganhou um total de 34 títulos, incluindo um Campeonato Brasileiro, duas Libertadores da América e dois Campeonatos Mundiais. Ao longo de sua carreira, conquistou muitos títulos e passou a ser conhecido como chato, exigente e disciplinador. Assim foi a carreira de Telê Santana da Silva.