Jair da Rosa Pinto nasceu dia 21 de março de 1921. O Jajá de Barra Mansa como era conhecido, no entanto, nem de Barra Mansa era. Nascera ali pertinho, em Quatis, na Baixada Fluminense. Mas o apelido ficou. Veio a falecer no dia 28 de julho de 2005. Portanto, amanhã fará três anos que perdemos o grande Jair, que tão bem dignificou o nosso futebol brasileiro pelos clubes que passou e também pela nossa seleção. Sua primeira oportunidade no futebol surgiu em 1938, quando o garoto de 17 anos disputou o campeonato carioca pelo modesto Madureira, onde formou um trio sensacional; Isaías, Lelé e Jair, que eram chamados carinhosamente de “Os Três Patetas”. Em 1943 foi contratado pelo Vasco da Gama, juntamente com seus dois companheiros do Madureira.
Ficou quatro anos em São Januário e definitivamente despontou para o futebol nacional. Em 1945 sagrou-se campeão carioca pelo clube cruzmaltino, que naquele ano formou um grande esquadrão; Yustrich, Alfredo, Zago, Rafanelli e Argemiro; Eli e Jair; Djalma, Lelé, Isaías e Chico. Esse time era chamado “Expresso da Vitória”. Foi nesse ano também, que o Vasco começou a usar a camisa com a faixa transversal, uma vez que antes era totalmente preta. A ideia surgiu do então técnico Ondino Vieira, que havia trabalhado no River Plate da Argentina.
Em 1947, foi jogar no Flamengo. Entretanto, após uma derrota por 5 a 2 para o ex-clube, em 1949, alguns cartolas rubro-negros o responsabilizaram pela goleada sofrida, queimaram sua camisa 10 no vestiário e o afastaram da Gávea. Quem não perdeu tempo, foi o Palmeiras, que logo o contratou. No ano seguinte, em 1950, Jair da Rosa Pinto disputou a Copa do Mundo no Brasil, onde foi um dos melhores jogadores daquela seleção que acabou fracassando diante do Uruguai. Ainda naquele ano, sagrou-se campeão paulista pelo alviverde de Parque Antártica.
Em 1951 sagrou-se campeão da Copa Rio, um título que até hoje o Palmeiras pleiteia na FIFA o título de campeão mundial de clubes, pois a competição foi disputada por Palmeiras, Vasco, Áustria Viena, Nacional de Montevidéu, Sporting de Lisboa, Olympique de Nice, Juventus de Turim e Estrela Vermelha de Belgrado. Na primeira fase o Palmeiras venceu o Olympique por 3 a 0 e o Estrela Vermelha por 2 a 1, mas foi goleado pelo Juventus por 4 a 0. Na segunda fase enfrentou o Vasco. No primeiro jogo venceu por 2 a 1 e no outro empatou em 0 a 0. A grande final foi contra a poderosa Juventus da Itália, que já havia goleado o alviverde na primeira fase. Na primeira partida o Palmeiras venceu por 1 a 0.
A segunda partida aconteceu dia 22 de julho de 1951 no Maracanã, o mesmo estádio em que o Brasil um ano antes havia perdido o título mundial, por isso, ninguém mais que Jair da Rosa Pinto, fazia questão de sair de campo como campeão. Um empate bastava ao alviverde e foi justamente isto que aconteceu, 2 a 2. Os gols do Palmeiras foram marcados por Rodrigues e Liminha. Neste dia o Verdão jogou com; Fábio, Salvador, Juvenal, Túlio, Luiz Villa e Dema; Lima e Ponce de Leon; Liminha, Jair da Rosa Pinto; e Rodrigues. Muitos afirmam que este time era bem melhor que as duas Academias que o Palmeiras teve. Pelo Palmeiras, Jair disputou 241 jogos. Venceu 141, empatou 55 e perdeu 45. Marcou 71 gols.
Outro momento importante na carreira de Jair da Rosa Pinto, foi vivido em 1956, quando o craque se transferiu para o Santos F.C., já com 35 anos. O ex-palmeirense jogou ao lado do Rei do Futebol, Pelé, e foi campeão paulista pelo peixe logo em seu primeiro ano na Vila Belmiro. O próprio atleta do século relembra, saudoso, os tempos de convivência e aprendizado com Jair. Disse Pelé “Tenho por ele muita admiração e uma enorme gratidão. Ele me orientou demais no começo da minha carreira” Sim, porque no mesmo ano que Jair chegou no Santos, também chegava aquele garoto de 16 anos e, que em pouco tempo se tornaria o maior jogador de futebol de todos os tempos.
Em 1959, participou de uma final histórica, pois de um lado estava o Santos de Pelé e Jair da Rosa Pinto e do outro uma verdadeira máquina de jogar futebol, o Palmeiras, de Valdemar Fiúme e Mazzola. Foi um jogo simplesmente sensacional, onde o alviverde levou o título ao vencer o peixe por 2 a 1. Outro duelo sensacional entre Palmeiras e Santos, aconteceu no dia 15 de março de 1958. Desta vez o peixe levou a melhor, venceu por 7 a 6. O ataque santista era Dorval, Jair, Pagão, Pelé e Pepe.
Pelo Santos, Jair foi campeão paulista em 1956 e 1958 e campeão do Torneio Rio-São Paulo de 1959. Em 1962, já com 41 anos, Jair chegou no São Paulo F.C., clube em que teve uma curta trajetória, pois jogou somente 31 partidas. Venceu 20, empatou 4 e perdeu 7. Marcou 2 dois. No ano seguinte foi jogar na Ponte Preta, onde ficou até 1964. Foi lá que encerrou a carreira como jogador. Depois se tornou treinador e dirigiu o Tricolor, Juventus, Ponte Preta, Vitória da Bahia, Olaria, Santos, Madureira, Palmeiras e Guarani, sempre com passagens curtas.
SELEÇÃO BRASILEIRA
Com a camisa canarinho da seleção, vestida pela primeira vez em 1940 numa histórica goleada por 6 a 1 sofrida para a rival Argentina (o gol do Brasil foi do Jair), Jair da Rosa Pinto foi campeão sul-americano em 1949, vice mundial em 1950, e se notabilizou por um ataque inesquecível formado ao lado de Tesourinha, Zizinho, Heleno de Freitas e Ademir de Menezes. Pela seleção brasileira, Jair realizou 41 partidas. Venceu 25, empatou 5 e perdeu 11. Marcou 24 gols.
Jair da Rosa Pinto tinha as canelinhas finas, mas um canhão no pé. O jornal “A Gazeta Esportiva” chegou a oferecer 30 mil cruzeiros para o goleiro que defendesse um chute de falta do Jair. Caxambu da Portuguesa era a maior vítima dos coices de mula de Jair da Rosa Pinto. Em 1951 contra o Corinthians, Jair bateu uma falta que o goleiro Cabeção confessou que nem viu a bola passar. Fazia lançamentos precisos, colocava a bola onde queria. Em toda a decisão, poucos o superavam em garra e em vontade de vencer. Mesmo dono de técnica refinada, ele parecia querer compensar, nas decisões, a perda do título de 50. Saiu do Palmeiras aos 35 anos, mas ainda com disposição para emprestar seu talento ao Santos em que Pelé dava os primeiros passos. E Pelé lhe agradece até hoje pela valiosa ajuda.
Um jogador de muita raça, como aquela demonstrada na final de 1950, quando o Palmeiras precisava apenas de um empate contra o São Paulo que vencia por 1 a 0. Mas no intervalo gritou com seus companheiros e disse; “Todo mundo que pegar a bola, toca pra mim que eu vou lançar pra frente, uma hora faremos o gol”. E foi justamente isto que aconteceu. Aos 15 minutos do segundo tempo, Jair dominou e fez um de seus incríveis lançamentos. A bola parou em uma poça do inundado Pacaembu e sobrou para Aquiles, que empatou a partida e garantiu o título ao alviverde de Parque Antártica.
Jair da Rosa Pinto morreu na madrugada do dia 28 de julho de 2005, aos 84 anos de idade, vítima de embolia pulmonar. O maravilhoso e inesquecível meia esquerda do Vasco da Gama, do Palmeiras e do Santos, durante os anos de 40, 50 e 60, estava internado no Hospital da Lagoa, zona sul do Rio de Janeiro, onde se recuperava de uma cirurgia no abdómem. O corpo de Jair que residia no bairro da Tijuca, na capital carioca, foi velado no cemitério do Caju, zona portuária do Rio e cremado no mesmo dia de sua morte.
Ele passava boa parte do seu tempo cuidando dos muitos passarinhos que criava e revivendo mentalmente os seus tantos e tantos anos de glória no futebol, como jogador e como técnico. Jair que odiava ser chamado de Jair “da” Rosa Pinto, só não se conformava com uma coisa: não ter ganho a Copa de 50, e sempre dizia; “Isso eu vou levar para a cova, mas, lá em cima, perguntarei para Deus por que perdemos o título mais ganho de todas as copas, desde 1930”, brincava, lamentando profundamente, o mestre Jajá de Barra Mansa.