SANTOS 4×6 JABAQUARA – Dia 31 de Julho de 1957

                  Começava o Campeonato Paulista de 1957 e o Santos tinha na época um grande esquadrão, inclusive com Pelé sendo promovido ao time profissional. Esse campeonato também representou a participação do Rei Pelé como “cartão de visita”, pois foi o artilheiro da competição com 17 gols.                  

                   Durante o campeonato o Santos fez jogos maravilhosos, aplicando inúmeras goleadas, como por exemplo, sobre o Linense por 7 a 1, São Bento de São Caetano de 5 a 2, XV de Piracicaba 5 a 3, Ponte Preta 7 a 2, Botafogo de Ribeirão Preto 4 a 2, Guarani de Campinas 8 a 1, Portuguesa de Desportos 5 a 2, Nacional da capital Paulista 7 a 1, Ypiranga 9 a 1 e Juventus 6 a 1, Portuguesa Santista 6 a 2, Portuguesa de Desportos 6 a 0 e Palmeiras 4 a 1.

                    E foi neste campeonato que tivemos um jogo que entrou para a história, pois foi um daqueles que o torcedor santista não se conforma até hoje com aquela derrota, pois o time tinha tudo para golear seu adversário, tamanha a diferença de qualidade técnica entre os jogadores.

                    A tabela do Campeonato Paulista de 1957, marcava para o dia 31 de julho, o jogo entre Santos e Jabaquara, na Vila Belmiro. Era uma quarta feira de muita chuva na cidade de Santos, por isso somente 5.619 torcedores foram ao estádio naquela noite. E  foram na certeza de ver mais um show de Pelé e seus companheiros, pois jamais imaginavam ver algo diferente. De um lado o Santos bicampeão paulista (1955 e 1956), com nomes consagrados como Zito, Pagão, Pepe, Pelé e tantos outros. Do outro lado um time modesto com bons jogadores e muito improviso e bota improviso nisso, que era o Jabaquara.

                     Para este jogo o técnico santista, Luiz Alonso Peres, o popular Lula, mandou a campo os seguintes jogadores; Laércio; Hélvio e Ivan; Fioti, Urubatão e Zito; Tite, Álvaro, Pagão, Pelé e Pepe. Um time para botar respeito a qualquer equipe do mundo. Do outro lado, o ainda desconhecido técnico argentino Filpo Nuñes, E para este jogo diante do Peixe ele escalou a seguinte equipe; Fininho; Pavão e Getúlio; Dom Pedro, China e Osvaldo Malcriado; Ari, Hélio, Washington, Melão e Bugre.

                     Mal começou o jogo e o Santos abriu o placar através de Pagão aos 8 minutos de jogo. A torcida santista vai ao delírio, já imaginando aquela goleada. Mas, para surpresa de todos, o Jabaquara empatou o jogo três minutos depois através de Melão. O torcedor santista continua tranquilo, pois quem tem Pelé, Pagão e Pepe em campo, não tem o que temer.

                     O jogo continua e quatro minutos depois do gol de empate, Pagão novamente marca para o Peixe e aos 22 minutos, Tite faz 3 a 1 e o torcedor santista volta a sorrir e ficar tranquilo, pois ainda tinha mais de vinte minutos do primeiro tempo e mais quarenta e cinco do segundo tempo.

                     Os torcedores do Jabaquara estavam desesperados, pois além do time jogar mal, ainda tinha um zagueiro completamente desconhecido, cujo nome era Osvaldo Malcriado e ainda por cima com este sobrenome, já viu né…. No entanto, aquelas coisas que somente os deuses do futebol sabem explicar, aos 33 minutos o Jabaquara diminui o placar através do ponta esquerda Bugre e para completar o desespero da torcida santista, o atacante Washington empata a partida aos 44 minutos. Final de primeiro tempo, Santos 3×3 Jabaquara.

                     Durante o intervalo os torcedores santistas não fizeram muita festa, pois aquela noite não parecia ser daquelas em que o time jogava muito bem, enquanto seu adversário mostrava muita garra em campo. E para desespero geral dos torcedores do Peixe, começa o segundo tempo e logo aos cinco minutos de jogo, o Jabaquara vira o placar fazendo quatro a três, através do meia esquerda Melão.

                      A esta altura nem o mais otimista torcedor do Jabuca estava acreditando no que estava vendo. Mas a alegria não parava por aí, pois aos 25 minutos e aos 28, o mesmo Melão marca mais dois gols e coloca o Jabaquara na frente do marcador em seis a três.

                      Começam então, a surgir alguns torcedores santistas – vizinhos da Vila Famosa – até de pijamas, para conferir se era mesmo verdade o que ouviam pelo rádio. No finalzinho, aos 42, China tenta interceptar um chute de fora da área e acaba marcando contra, diminuindo o vexame santista para 4×6. Assim que deu a saída, o árbitro aponta o centro de campo e encerra aquele jogo que entrou para a história, quando o Jabaquara derrotou o Santos por 6 a 4.

                       Mas houve troco após aquele confronto. Isso porque o Jabaquara, não tendo estádio, guardava todo seu material esportivo nas dependências da Vila Belmiro, além de mandar suas partidas, lá. Revoltado com a derrota, o presidente Modesto Roma mandaria botar tudo na rua, no dia seguinte.  Após essa vitória (além de uma outra diante da Portuguesa Santista) o Jabaquara passou a ser chamado por um tempo, de “O Dono da Cidade” em Santos e o episódio é até hoje lembrado no litoral pelos torcedores mais antigos.

                     A manchete no jornal no dia seguinte foi: “Terremoto na Vila. Arrasado o bicampeão paulista pelo modesto Jabaquara” O herói do jogo foi Melão com quatro gols na partida e assim  liquidou um dos maiores times de todos os tempos. O mais curioso de tudo desse jogo, foi que somente no dia seguinte que os torcedores do Jabaquara ficaram sabendo que o zagueiro Osvaldo Malcriado, era o tesoureiro do clube. Como Filpo Nuñes não tinha onze jogadores para colocar em campo, ele fez Osvaldo vestir o uniforme e jogar.

 

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