PAULISTÃO de 1970

               Depois do título paulista de 1957, o torcedor são-paulino curtiu um jejum de 13 anos. Foi uma época que a diretoria do Tricolor só pensava na construção do seu estádio, o Estádio Cícero Pompeu de Toledo, o Morumbi e, por isso, os primeiros elencos em que o São Paulo montou não tinha tanta força. Nessa época o clube estava em contenção de despesas. Mas mesmo assim, em 1967 foi vice-campeão paulista. Foi uma época em que pouco ligavam para os jogadores. Jogadores como Roberto Dias, Paraná, Jurandir, Suly e outros, aguentaram o time nas costas. O resto do time era até engraçado, a cada jogo aparecia uma jogador contratado a preço de banana. O torcedor não aguentava mais. Foram oito anos de dificuldades, com um time sem ataque e sem reservas. Mas no ano de 1970 tudo mudou.

              Por que o São Paulo merecia ganhar o título de 1970?  O que fez esse clube para acabar com suas inexpressivas campanhas dos últimos campeonatos e surgir, de repente, como um futebol novo e uma força de grande campeão? Antes de mais nada, a vitória do São Paulo foi a vitória da fé. Fé de um grupo de homens que acreditaram num plano de trabalho diferente, dinâmico e muito realista, onde não havia lugar para sonhos. Ali só cabia a consciência do futebol moderno e dos seus novos rumos. O São Paulo tomou um destes caminhos. A fórmula parece simples: união entre os jogadores + amizade + grande conhecimento do que é futebol + ausência de complexos e vícios. Resultado: um time preparado para ser campeão, ou, pelo menos, ter condição de disputar o título de igual para igual com seus adversários. Para isso contratou vários jogadores como por exemplo; Toninho Guerreiro, Pablo Forlan, alem do experiente Gerson. O técnico era Zezé Moreira.

               O Campeonato Paulista de 1970, teve somente 10 participantes assim relacionados; (conforme classificação final) São Paulo, Palmeiras, Ponte Preta, Santos, Corinthians, Portuguesa de Desportos, Ferroviária, Guarani, São Bento e Botafogo. Os cinco grandes como estavam disputando o Campeonato Nacional (hoje brasileirão) entraram somente na segunda e última fase. Os considerados pequenos, que eram onze, jogaram entre si e cinco deles se classificaram, juntando-se aos cinco grandes. E assim teve inicio o campeonato no dia 27 de junho, com o empate de 1 a 1 entre Corinthians e Ponte Preta.

              O São Paulo fez sua estreia no dia seguinte jogando em seus domínios diante do São Bento de Sorocaba e venceu por 1 a 0, gol de Miruca. As vitórias do Tricolor quase todas foram por diferença de um gol apenas. A única goleada que aplicou foi no dia 26 de agosto, quando derrotou o Botafogo de Ribeirão Preto por 4 a 0. O jogo foi no Morumbi e os foram marcados por Toninho Guerreiro (3) e Forlan.

               A Ponte Preta, que ficara apenas em 5º na primeira fase, surpreendentemente foi a sensação da competição. Recém subida da Segunda Divisão, o clube segurou um empate com o Corinthians na Capital, derrotou o tri-campeão Santos de Pelé na Vila, empatou com o São Paulo, derrotou o arqui-rival Guarani, venceu a Portuguesa e segurou outro empate contra o Palmeiras, ambos os jogos na Capital. Ficou invicta no 1º turno inteiro e só foi perder para o Santos já na 3ª rodada do returno. Depois disso seu rendimento caiu demais, ficando os próximos cinco jogos sem vencer.

               Palmeiras e o irregular São Paulo, que gastou muito dinheiro para montar um time e vencer o campeonato após 13 anos, cresceram e encostaram na Alvinegra Campineira. Na rodada de 23 de agosto, São Paulo e Palmeiras empatados com 17 pontos na vice liderança, 1 ponto atrás da líder, fazem confronto decisivo. O Palmeiras vence por 1 a 0, gol de Dudu aos 4 minutos de jogo e chega à liderança empatado com a Ponte. Porém depois da derrota, o São Paulo de Gérson engrena e ganha do Botafogo de Ribeirão Preto por 4 a 0 na sua maior goleada e do São Bento de Sorocaba por 3 a 0, gols de Toninho Guerreiro, Forlan e Edson, enquanto o Palmeiras iria enfrentar o Guarani de Campinas no dia 30 de agosto, mas devido a fortes chuvas, o jogo foi adiado para o dia 1 de setembro.

               Finalmente acontece o jogo o qual termina empatado em zero a zero. Depois o Palmeiras enfrentou o Santos no Morumbi e mais uma vez empatou, desta vez em 1 a 1, gol de Ademir da Guia e Manuel Maria. Enquanto isso a Ponte Preta tem dois tropeços, um diante da Portuguesa de Desportos  em  pleno  estádio  Moisés  Lucarelli  por  1 a 0,  gol de Luiz Américo e perde também para o São Paulo, seu concorrente direto ao título por 2 a 0, com dois gols de Toninho Guerreiro.

               Chegava então a penúltima rodada do campeonato e a classificação naquele momento era a seguinte: São Paulo com 23 pontos, o Palmeiras com 20, o Corinthians também com 20 e a Ponte Preta com 19 pontos. A penúltima rodada marcava os seguintes jogos: A Ponte Preta enfrentou a Ferroviária e empatou em 1 a 1 e com este empate foi a 20 pontos, ou seja, já estava fora da disputa pelo título. O Palmeiras não jogou nesta rodada, pois estava com um jogo na frente dos demais. Ou seja, o Palmeiras só poderia chegar aos 23 pontos e torcer para o São Paulo perder seus dois compromissos. O Corinthians enfrentou a Portuguesa de Desportos e perdeu por 1 a 0, gol de Valdomiro, ou seja, com essa derrota o Corinthians também dava adeus ao campeonato. Resumindo, se o São Paulo vencesse seu próximo compromisso, matematicamente seria o campeão, pois ninguém mais poderia alcança-lo

O JOGO DO TITULO

               Era o dia 9 de setembro de 1970, o estádio era o Brinco de Ouro da Princesa, que neste dia recebeu um público de 17.766 pagantes. O árbitro da partida era Armando Marques. Neste dia o técnico Zezé Moreira mandou a campo os seguintes jogadores; Sérgio, Forlan, Jurandir, Dias e Gilberto (Tenente); Edson e Nenê; Paulo, Terto (Benê), Toninho Guerreiro e Paraná. O craque Gerson não pode jogar, pois estava com a perna engessada. O Guarani jogou com; Perez, Wilson, Cidinho, Tininho (Guassi) e Ferrari (Cido); Hélio e Milton; Vagner, Capelozza, Vanderlei e Caravetti.

               Começou o jogo e aos 27 minutos da primeira etapa Toninho Guerreiro abriu o placar. Sete minutos depois o ponta direita Paulo aumentou para dois a zero, e assim terminou o primeiro tempo. Na segunda etapa a equipe são-paulina só administrou a vitória, embora aos 34 minutos sofreu um gol através do ponta direita Vagner. Mas para a alegria da torcida tricolor o árbitro apita o final da partida. São Paulo F.C. campeão paulista de 1970, depois de 13 anos de jejum.

               O que se viu logo em seguida foi Gerson jogando sua bengala para o alto e sair pulando numa perna só para abraçar seus companheiros. O torcedor são-paulino já não aguentava mais ficar tanto tempo sem gritar  “campeão”, por isso, naquela noite de 9 de setembro de 1970, ele pode extravasar toda sua felicidade, e mal sabia ele, que daquele dia em diante, muitas alegrias como aquela ou ainda maiores, ele iria ter até os dias de hoje.

               Depois de 13 anos sem títulos, economizando na compra de jogadores para terminar de construir o Morumbi, finalmente a torcida tricolor voltou a comemorar.  E a festa foi no pequeno estádio Brinco de Ouro da Princesa, em Campinas.  Eram 23 horas do dia 9 de setembro de 1.970, quando o São Paulo tornava-se Campeão Paulista.

               Ainda faltava mais uma rodada para terminar o campeonato daquele ano. O Palmeiras enfrentou a Portuguesa de Desportos e o jogo terminou empatado em 1 a 1, gols de César Maluco para o alviverde e Luiz Américo para a Lusa do Canindé. Outro jogo foi Ponte Preta e Botafogo, com vitória da Macaca por 2 a 1. E para fechar sua brilhante participação no campeonato, o São Paulo enfrentou o Corinthians, que queria carimbar a faixa de campeão do tricolor.

               Este clássico aconteceu dia 13 de setembro no estádio Cícero Pompeu de Toledo. O árbitro foi Vital Gilbert Loraux. A torcida tricolor compareceu em massa para recepcionar seus heróis e neste dia o público pagante foi de 63.373 pessoas. O São Paulo jogou com a mesma escalação que conquistou o título. O Corinthians jogou com; Ado, Miranda, Ditão, Luis Carlos e Pedrinho; Suingue, Tião e Rivelino; Paulo Borges, Servilio e Célio (Benê). E a festa são-paulina aumentou quando o ponta esquerda Paraná marcou o único gol da partida aos 19 minutos do primeiro tempo.

               Um dos principais responsáveis pelo sucesso do São Paulo, o homem que tem um bom pedaço dessa conquista é também quem menos aparece, quem nunca sai nos jornais, e quem nunca está nas horas de glória. João Carvalhaes, psicólogo, conselheiro, amigo, um preparador de jogadores, esse é o homem. Aquele que, antes e durante o campeonato, tinha sempre uma conversa com a equipe, todas as semanas. E era nessas conversas que os jogadores do São Paulo, principalmente os mais novos, se libertavam de seus medos e complexos, para entrar em campo cada vez mais confiantes em seu futebol.

                No Morumbi, todos têm a mesma opinião: o São Paulo ganhou o título graças à sua preparação técnica e psicológica e à grande união que  existiu  entre  todos  os jogadores.  Laudo Natel, presidente do clube, futuro governador do Estado, quase não conteve as lágrimas no dia da vitória. Para ele, como presidente, foi a realização total. Isto porque o São Paulo conseguiu ser campeão no ano da conclusão do Morumbi, o maior estádio particular do mundo.

               O Campeonato Paulista de 1970, teve 90 jogos e foram marcados 201 gols, o que nos dá um média de 2,23 gols por jogo. O artilheiro da competição foi Toninho Guerreiro do São Paulo com 13 gols. Ainda sobre Toninho Guerreiro, tem uma curiosidade. Ele foi campeão paulista pelo Santos F.C. em 1967, 68 e 69. Depois se transferiu para o São Paulo e ficou campeão em 1970 e 1971. Realmente era um jogador acostumado a títulos.

SÃO PAULO F.C. CAMPEÃO PAULISTA DE 1970 – Em pé: Gilberto, Sérgio, Samuel, Edson, Arlindo e Forlan         –     Agachados: Paulo, Térto, Toninho Guerreiro, Pedro Rocha e Paraná

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