Edvaldo Alves de Santa Rosa nasceu dia 26 de março de 1934, na cidade de Maceió (AL) e faleceu dia 17 de setembro de 2002, no Rio de Janeiro. Dida foi descoberto em Maceió, aos 19 anos. A seleção de Alagoas enfrentava uma grande rival, a Paraíba, e perdia por 3 a 1 no início do segundo tempo. Foi quando o jovem meia esquerda, então no CSA, entrou na partida e desmontou a defesa adversária, com três gols e a virada para 4 a 3. A delegação de vôlei do Flamengo, que assistia ao jogo, se impressionou com aquele garoto franzino que era carregado nos braços após a partida e relatou o que vira a um representante do time da Gávea. Um ano depois, Dida chegava ao Flamengo com problemas de nutrição, icterícia e lombrigas. Mesmo após um tempo de molho e um tratamento de fortalecimento, que o permitiu aterrorizar a defesa titular nos treinos, Dida integrava o time de aspirantes do clube da Gávea.
FLAMENGO
Neste ano o Flamengo contava com os seguintes jogadores; Garcia, Chamorro, Marinho, Joubert, Pavão, Guto, Jadir, Dequinha, Jordan, Carlinhos, Evaristo, Paulo Henrique, Joel, Paulinho, Moacir, Rubens, Índio, Henrique, Benitez, Zagallo e Esquerdinha, todos jogadores a nível de seleção. Ao saber que iria jogar com estas feras, o nosso Dida que já era muito tímido, ficou muito nervoso e com isso teve icterícia e ficou de cama por cerca de 20 dias. Gilberto Cardoso, que era o presidente do Flamengo na época, mesmo sem conhecê-lo, cuidou de seu tratamento.
E foi nesse período, que Dida fez amizade com todos os jogadores, pois aos poucos foi se ambientando no clube. Sua estréia no time profissional foi logo num clássico. As contusões de Evaristo e Benitez forçaram a sua estréia contra o Vasco da Gama. A boa atuação na vitória por 2 a 1 no dia 17 de outubro de 1954 e nas partidas subseqüentes, não garantiu a permanência do jogador no time titular. Isto só se concretizaria no campeonato seguinte, na histórica final contra o América.
No Campeonato Carioca de 1955, o Flamengo havia vencido os dois turnos classificatórios para o hexagonal final, que teve o América como campeão. Nos jogos-desempate, vitória rubro-negra no primeiro, por 1 a 0, e goleada do América no segundo: 5 a 1. O tricampeonato do Flamengo (campeão em 1953 e 1954) estava em risco e dependia de uma vitória no jogo final. Eis que surge um Dida infernal e marca todos os gols de seu time em uma atuação antológica: 4 a 1 para o Flamengo. Ou melhor, 4 a 1 para Dida. “Fiz gol até de orelha… Quando eu cabeceei, a bola resvalou na minha orelha e entrou. Fiz um gol de perna esquerda do bico da grande área que nem Perácio, que era tido como grande chutador, faria. Em mil chutes daqueles, normalmente eu não faria nenhum”, declarou Dida à um jornalista.
Zico tinha um ano e um mês de vida quando Dida derrubou o América no Maracanã, em 4 de abril de 1956. A admiração de Zico por Dida, desde então, só cresceu. Empolgado pelos feitos do goleador, narrados pelo pai José Antunes, o Galinho promoveu Dida a estrela do ataque do seu time de botão. “É uma honra ser ídolo do Zico. Na época em que ele era garotinho, eu estava no auge e evidentemente as pessoas se apegam aos jogadores. Os meus ídolos são o Zico, não para retribuir, mas porque ele me dobrou no número de gols na história do Flamengo, e o Zizinho, que jogava muito,” declarou Dida.
Além de muitas estrelas que compunham a constelação rubro-negra, outra atração ocupava o banco da equipe, o folclórico treinador paraguaio Fleitas Solich, que era chamado de “Feiticeiro”. Mas foi ele que lançou Dida no time titular, e que até hoje o torcedor flamenguista lhe agradece de coração. Dida sempre viu Fleitas Solich como um pai. Por exemplo, não permitia que um atleta fumasse. Chegou até a por em prática um esquema inédito no Brasil; ele ia, se possível, de casa em casa para ver se o atleta não tinha saído. Às 22:00 horas o atleta tinha que estar em casa. Este método deu certo por um bom tempo, mas em 1956, quando o Flamengo deveria conquistar o tetracampeonato, o pessoal já estava cansado de ser oprimido e certamente esse foi o principal motivo da perda do título. Depois disso, o Flamengo amargaria um bom jejum, pois só voltou a ser campeão carioca em 1963.
SELEÇÃO BRASILEIRA
Já como titular absoluto na equipe do Flamengo, aconteceu o que parecia natural, Dida foi convocado para disputar a Copa de 1958, na Suécia. A convocação para este mundial, reuniu jogadores de São Paulo e Rio de Janeiro. A fama de Pelé ainda não era sombra do que se descobriria ser o seu talento. Outra lenda, Garrincha, não começaria a competição como titular. O técnico Vicente Feola não se contentou com o desempenho do ponta na goleada por 4 a 0 sobre a Fiorentina e colocou Joel contra a Internazionale de Milão; outro 4 a 0. Garrincha saiu do time por um lance em que, após estabelecidos os 3 a 0, driblou o goleiro, esperou o zagueiro alcança-lo, driblou novamente e tocou para o fundo das redes. Com isto, Feola ficou preocupado e achava que Garrincha não tivesse a seriedade exigida para a envergadura de uma Copa do Mundo. Nestes dois amistosos, Dida entrou como titular da nossa seleção e depois foi substituído por Vavá.
O time titular na estréia do mundial foi o seguinte; Gilmar, De Sordi, Bellini, Orlando e Nilton Santos; Dino Sani e Didi; Joel, Mazzola, Dida e Zagallo. Nosso adversário foi a fraca Áustria, que vencemos por 3 a 0. No jogo seguinte não passamos de um empate em 0 a 0 contra a Inglaterra. Dida já não estava mais na equipe, havia perdido o lugar para Vavá, mas faltava Pelé e Garrincha, que entrariam na vitória de 2 a 0 contra a União Soviética. Com a legendária dupla, o campeonato mundial viria sem maiores preocupações.
Dida não gostou de ser tirado do time e quase abandonou a seleção, só não o fez porque os companheiros Zózimo, Djalma Santos e Nilton Santos não deixaram. E ao explicar o motivo de tal revolta, Dida falou grosso com Feola; “Eu acho isso uma covardia, eu sou melhor que Pelé, ele está apenas começando, enquanto que eu já tenho quatro anos de Flamengo e sou o goleador do Rio de Janeiro”. Mas o tempo mostrou que Vicente Feola estava certo em fazer aquela substituição. Pela Seleção Brasileira Dida atuou em 8 partidas, sendo 7 vitórias e 1 empate. Marcou 5 gols com a camisa canarinho.
Ao voltar para o Brasil, enfrentou uma fase muito ruim dentro do Flamengo, que só cessaria com o Rio-São Paulo de 1961. Mesmo marcando gols de todas as maneiras, Dida não foi convocado por Aymoré Moreira para a Copa de 62, no Chile. Mesmo tendo mudado de técnico, aquela briga de 1958 ficou registrada, pois o histórico de Dida foi passado para o técnico seguinte. Já com 29 anos de idade, Dida foi parar no banco de reservas, depois de um desafeto com o novo técnico do Flamengo, Flávio Costa. Aborrecido com aquela situação, Dida resolveu sair do Flamengo, onde marcou 244 gols e é até hoje, o segundo maior artilheiro do clube da Gávea, só perdendo para Zico que marcou 508. Com a camisa do Flamengo, Dida disputou 350 partidas. Venceu 216, empatou 59 e perdeu 75 vezes.
PORTUGUESA DE DESPORTOS
Seu novo clube foi a Portuguesa de Desportos, que o contratou em 1964. Na Lusa do Canindé, Dida foi vice-campeão paulista de 64 jogando ao lado de Orlando, Félix, Jair Marinho, Ditão, Vilela, Wilson Silva, Wilson Pereira, Edilson, Henrique Pereira, Pampolini, Nair, Almir, Neivaldo, Ivair, Nilson, Silvio e de seu grande amigo e companheiro de Flamengo e Seleção, o também falecido Henrique Frade. O técnico era Aimoré Moreira. Esta final de 1964 foi contra o Santos F.C. num domingo a tarde, debaixo de um verdadeiro dilúvio que caiu na Vila Belmiro, e o torcedor da Lusa contesta até hoje, pois Ivair sofreu um pênalti escandaloso do lateral Ismael e o árbitro Armando Marques não marcou.
O lance aconteceu no primeiro tempo, quando o placar ainda estava em branco. O Santos venceu por 3 a 2 e todos os gols aconteceram no segundo tempo, sendo eles na seguinte ordem: Toninho, Pepe, Ismael (contra), Ditão e Pepe de falta. Com a camisa da Lusa, Dida marcou 54 gols. Depois foi jogar no Atlético Junior de Barranquilla, da Colômbia, onde marcou 46 gols. Em 1967, aos 33 anos, com 420 gols no currículo, Dida pendurou as chuteiras e retornou à sua casa, o Flamengo, onde passaria a trabalhar de auxiliar técnico, e posteriormente nas categorias de base. Nos últimos anos de vida, Dida vivia recluso e não dava entrevistas, afirmando sempre que não tinha mais o que falar.
O ex-jogador trabalhou por 20 anos no Flamengo, onde revelou alguns dos craques que conquistariam o Mundial Interclubes de 1981. Além dos problemas financeiros. Chegou a ter oito apartamentos. Depois foi vendendo todos eles. As complicações pulmonares abalaram Dida no final de sua vida. A partir de 1998, Dida ficou impossibilitado de trabalhar no Rubro-negro, por causa dos seguidos problemas clínicos. Dida, o maior ídolo de Zico no futebol, morreu no dia 17 de setembro de 2002, no Rio de Janeiro, onde foi sepultado, aos 68 anos de idade. Ele foi vítima de insuficiência hepática e respiratória.