‘ Joacyr de Freitas Dutra nasceu dia 1 de agosto de 1937, na cidade de Maranguape – CE. Ganhou no futebol o nome de Alencar pelo fato de começar a carreira (no infantil do Ceará) levado por um amigo chamado assim. Jogou no Bahia e no Palmeiras. Pelo clube baiano conquistou a Taça Brasil em 1959, competição esta que foi oficialmente a primeira de nível nacional entre clubes, criada pela CBD (idealizada por João Havelange, presidente da entidade na época) para substituir o Campeonato Brasileiro de Seleções Estaduais. Nessa competição só o campeão era classificado para a Taça Libertadores da América. Foi um título que entrou para a história do Esporte Clube Bahia, principalmente porque a disputa foi contra o Santos de Pelé & Cia. Alencar marcou o terceiro gol na vitória por 3 a 1. Na época o Santos tinha o melhor time do futebol brasileiro. Depois foi jogar no Palmeiras, onde disputou 62 jogos. Venceu 28, empatou 16 e perdeu 18. Marcou 28 gols.
ESPORTE CLUBE BAHIA
Corriam os anos da década de 50, quando o Ceará Sporting Club recebeu uma proposta considerada irrecusável pelo então manda-chuvas alvinegro pelo atacante Alencar. Menino ainda, Alencar era o principal goleador não apenas do Ceará Sporting, mas do futebol cearense. Mesmo com pouca idade, Alencar fora convocado em várias oportunidades para defender a camisa da seleção cearense que, naquela época disputava o Campeonato Brasileiro de Seleções. E foi exatamente numa dessas apresentações, contra o selecionado baiano que o menino foi visto arrebentando contra o Bahia no Estádio da Fonte Nova.
José Elias Bachá, presidente do Ceará Sporting nem discutiu a proposta e vendeu Alencar para o Esporte Clube Bahia. No dia seguinte, depois de uma rápida despedida dos pais e dos parentes, Alencar se mandou para o tricolor da Boa Terra e passou a compor um dos maiores ataques da história do Esporte Clube Bahia: Marito, Alencar, Léo e Biriba. Mas o time ainda tinha como destaques o goleiro Nadinho e o zagueiro Henrique.
Os pontos fortes do jovem atacante eram o arranque, com muita velocidade e o chute forte e certeiro, quase sempre indefensável para os goleiros. Naquela época, os times brasileiros jogavam com quatro atacantes, todos atuando ofensivamente. Léo, que depois jogaria no Fluminense do Rio de Janeiro, era o camisa 9. Marito era o camisa 7 e Biriba o camisa 11. Alencar só poderia ser o camisa 8.
No tricolor baiano Alencar conquistou o primeiro título importante, talvez o mais importante da sua carreira esportiva. O cearense de Maranguape foi campeão da Taça Brasil em 1959 (em cima do Santos, com Pelé e companhia), com o estádio Urbano Caldeira (Vila Belmiro) completamente lotado para o primeiro jogo da decisão. O Santos marcou logo 2×0, gols de Pelé e Pepe. Foi quando veio a reação que ninguém esperava. O Bahia venceu por 3×2, gols de Alencar (2) e Biriba. O terceiro gol do Bahia anotado pelo centroavante Alencar aconteceu aos 44 minutos da etapa complementar.
A segunda partida aconteceu no Estádio Fonte Nova em Salvador no dia 30 de dezembro de 1959. O público foi de 40.000 pessoas. Neste dia o Santos jogo muita bola. Acontece que neste jogo, Pelé estava num dia de genialidade comum e esmagou a defesa do Bahia. O Santos venceu por 2×0, gols de Coutinho e Pelé. A terceira e decisiva partida daquela grande decisão, aconteceu no Maracanã que recebeu um bom publico, quase todos torcendo pelo Bahia que entrou em campo com Nadinho, Beto, Henrique, Vicente e Nezinho; Flavio e Mario; Marito, Alencar, Léo e Biriba. O técnico Lula, do Santos, escalou a seguinte equipe para aquela grande final; Lála, Getúlio, Mauro Ramos de Oliveira, Formiga e Zé Carlos; Zito e Mario; Dorval, Pagão (Tite), Coutinho e Pepe.
O início do jogo era igual, mas foi o Santos quem abriu a contagem através de Coutinho aos 27 minutos de jogo. Dez minutos depois, o Bahia empatou com Vicente cobrando uma falta da intermediária. Nessas alturas, os baianos dominavam o jogo e os santistas demonstravam um cansaço com pouca disposição para disputar as bolas divididas. No primeiro minuto do segundo tempo, Léo marcou o segundo gol do Bahia. O Santos se desesperou. Aos 37 minutos, Alencar sacramentou a vitória, driblando o goleiro e marcando o terceiro do time Baiano. A festa já tinha começado na Bahia de todos os santos. Com esta vitória o Bahia adquiriu o direito de disputar a Libertadores da América em 1960.
Durante anos a história do futebol foi narrada de maneira equivocada, fazendo com que o Atlético-MG, Campeão Brasileiro de 1971, fosse considerado o primeiro campeão nacional. Pois a unificação dos títulos conquistados antes de 1971 faz justiça à era de ouro do nosso futebol, dando o justo reconhecimento ao Bahia como primeiro Campeão Brasileiro, com um título da Taça Brasil de 1959, conquistado sobre o esquadrão do Santos de Pelé & Cia. Na história, nosso campeonato foi “dividido” em dois cenários e entre todas as edições inúmeros artilheiros desfilaram com seus golaços e exibições geniais, mas antes disso você já parou para pensar quem foi o jogador a fazer o primeiro em competições nacionais? Ai está outro equívoco do futebol brasileiro.
Dizem que o primeiro gol em competição nacional foi marcado pelo argentino Héctor Scotta, atacante do Grêmio, aos 10 minutos do primeiro tempo, na vitória por 3 a 0 em cima do São Paulo F.C. no dia 7 de agosto de 1971, no estádio do Morumbi. Mas na verdade, o primeiro gol em competição nacional, foi anotado por Alencar, no jogo entre Bahia e CSA de Alagoas em 1959, ano da primeira edição da competição nacional. Na vitória por 5 a 0 dos baianos, o meia Alencar abriu o placar e gravou o nome na história como o primeiro jogador a fazer um gol na competição nacional. Nessa edição o Bahia sagrou se como campeão Brasileiro. Esta goleada aconteceu dia 23 de agosto de 1959. O jogo foi na cidade de Mutange – AL.
PALMEIRAS
Logo depois da conquista histórica do Bahia, Alencar se transferiu para o Palmeiras, onde jogou ao lado de Valdir de Moraes, Geraldo Scotto e companhia. Na época o time alviverde era formado por; Valdir, Djalma Santos, Valdemar Carabina, Aldemar e Geraldo Scotto; Zéquinha e Hélio; Américo, Alencar, Vavá e Gildo. O técnico era Geninho. Este foi o time que perdeu para o Corinthians por 3 a 0 no dia 9 de dezembro de 1962, em jogo válido pelo segundo turno do Campeonato Paulista daquele ano. O jogo foi no Pacaembu e os gols do alvinegro foram marcados por Silva (2) e Nei. Com a camisa alviverde Alencar marcou 28 gols.
Depois da Sociedade Esportiva Palmeiras, Alencar também defendeu o Botafogo de Futebol e Regatas, do Rio de Janeiro; o Bangu Atlético Clube, onde encontrou Ademir da Guia iniciando a carreira em Moça Bonita; o Botafogo de Ribeirão Preto (SP); a Ferroviária, de Araraquara (SP) e o Juventus (SP), antes de voltar ao Bahia no final de carreira. Apesar de ter jogado em todos esses times, Alencar encerrou a carreira muito jovem. Tinha apenas 31 anos. Treze anos depois de iniciar no Ceará Sporting Club.
FERROVIÁRIA
Como todos sabem, a Ferroviária de Araraquara sempre teve ótimos times, principalmente na década de 60, quando dificilmente um time grande da capital paulista conseguia sair de campo vencedor. Não levava os pontos da partida, mas geralmente levava algum jogador da Ferrinha, pois o time sempre tinha algum jogador que despontava para o sucesso. Um prova disso foi no dia 1 de setembro de 1963, quando o Santos foi até Araraquara enfrentar a Ferroviária. O Peixe tinha na época uma grande equipe, tanto é que neste dia jogou com; Gilmar, Ismael, Mauro Ramos de Oliveira, Modesto e Geraldino; Zito e Lima; Peixinho, Mengálvio, Coutinho, Pelé e Pepe. Ou seja, quatro campeões mundiais do ano anterior lá no Chile, na Copa de 1962.
Neste dia a Ferroviária jogou com; Dorival, Fogueira, Galhardo, Rodrigues e Zé Maria; Rubens Sales e Capitão; Antoninho, Alencar, Tales e Pio. O jogo terminou com a vitória da Ferroviária por 4 a 1, gols de Peixinho (2), Pio e Tales, enquanto que o único tento marcado pelo Peixe foi de Pelé. Neste jogo tivemos também um acontecimento que entrou para a história. Pela primeira vez em sua carreira, Pelé desperdiçou uma penalidade máxima. Ele deu a sua clássica paradinha e chutou, mas a bola foi para fora, levando a torcida da Ferrinha a vibrar e muito.
FORA DAS QUATRO LINHAS
Depois de pendurar as chuteiras, Alencar foi ser técnico de futebol. Ele trabalhou em vários clubes do Nordeste, como o Ipiranga, de Salvador/BA; o Treze, de Campina Grande/PB; o Fluminense, de Feira de Santana/BA; o próprio Esporte Clube Bahia e na Catuense. Ele revelou até o artilheiro Bobô, herói do título brasileiro do Bahia em 88, na Catuense no começo dos anos 80. Alencar, que foi casado com Dona Maria de Lourdes, deixou mais três filhos; Paulo Edílson, Patrícia e João Paulo.
Alencar morreu em Salvador/BA, em 27 de setembro de 1990, vítima de hepatite. “Foi uma pena, ainda não tinha garantia de um transplante com sucesso. Ele encerrou a carreira novo. Tinha apenas 31 anos”, conta o filho, que não esconde o orgulho do pai. “Sei que ele foi um grande craque. Chegou a ser chamado de Pelé da Bahia. E soube que ele fez um gol fantástico contra o goleiro Manga, do Santos, em plena Vila Belmiro”, conta o filho mais velho do grande atacante Alencar.