Luis Matoso nasceu dia 29 de setembro de 1901, na cidade de São Paulo – SP. Foi um dos maiores artilheiros de todos os tempos com 400 gols computados. Jogou no Santos, no Corinthians e no Palestra, mas o time em que obteve mais destaque foi mesmo no Santos F.C. Com suas cabeçadas fulminantes e indefensáveis, e seus chutes de sem-pulo desferidos com a ponta da chuteira, Feitiço tornou-se o maior artilheiro fora da Era Pelé, e o quinto da história do alvinegro praiano, com 216 gols marcados. Jogou ainda no Rio de Janeiro, onde defendeu o Vasco da Gama, pelo qual ganhou seu segundo título, o Carioca de 1936 e também no São Cristóvão, onde encerrou sua brilhante carreira. Na Seleção Brasileira não obteve muito sucesso. Fez apenas quatro jogos, na Copa Rio Branco de 1931, e marcou seis gols com a camisa canarinho. Contra a Escócia, marcou quatro gols, contra Argentina marcou um e contra a Hungria, também marcou um gol.
Luís Matoso nasceu no Bixiga, no final do primeiro ano do século XX, e teve sua infância e juventude no bairro, onde começou a jogar futebol, aos dezesseis anos. Até então, seu esporte preferido era a bocha. Sem nada para fazer num domingo em que o dono das quadras manteve-as fechadas por luto, foi ver uma partida do Jaceguai, clube do Bixiga, e acabou convidado para defender o terceiro time. “Parece que sei”, foi sua resposta à pergunta do técnico se sabia jogar. Marcou três gols naquela partida. O apelido “Feitiço” deve-se a uma menina que assistia aos jogos do centroavante e dizia que “o Luizinho parece um feitiço quando joga”. Anos mais tarde, Feitiço contaria: “Sem saber, Nenela me deu um apelido que pegou e que me deu sorte para o resto da minha carreira.”
Com sua fama crescendo, foi chamado para jogar no Ítalo-Lusitano, de Pinheiros, e lá também marcou três gols em sua estreia. Com suas atuações na segunda divisão, ganhou o apelido de “El Tigre da Segunda Divisão”, alusão ao apelido que Friedenreich tinha. Defendeu o Corinthians em um amistoso em 1921, marcando um gol. Em 1922 foi para o São Bento, da capital paulista, atualmente extinto. Pouco depois quis voltar atrás para jogar no Palestra Itália, mas, segundo uma lenda popular, um dos diretores do São Bento, que era delegado, chamou-o à delegacia e ameaçou prendê-lo caso não honrasse o que tinha acertado. Lá mais uma vez marcou três gols em seu primeiro jogo, contra o Minas Gerais, embora em sua estreia pelo Campeonato Paulista, contra o Palestra Itália em 4 de junho, tenha passado em branco. Seu primeiro gol oficial foi contra o Internacional, em 15 de junho, quando marcou três vezes no segundo tempo da goleada por 5 a 0. Foi artilheiro do Campeonato Paulista em três temporadas (1923, 1924 e 1925).
PALESTRA ITÁLIA
Em março de 1925 foi emprestado ao Palestra Itália para a primeira excursão internacional da história do clube, à Argentina e ao Uruguai. Foram quatro jogos e três gols marcados. De volta ao São Bento para o Campeonato Paulista, ajudou o clube a sagrar-se campeão, o segundo e último título do clube da Praça da República, o primeiro tinha sido em 1914. Pelo Palestra Itália disputou 55 jogos. Venceu 34, empatou 9 e perdeu 12 vezes. Marcou 28 gols com a camisa alviverde.
Em 15 de maio de 1925, durante uma partida contra o Internacional, o São Bento sofreu um gol de Caetano, que marcou um gol “com bola e tudo”. Feitiço parecia inconformado com o gol e, na primeira oportunidade que teve, fintou vários adversários e marcou o seu próprio “gol com bola e tudo”, levando a torcida à loucura. A partida terminaria com vitória do São Bento por 3 a 2.
SANTOS F.C.
Em 1927, já no Santos, entraria para o famoso ataque dos cem gols formado por Osmar, Camarão, Feitiço, Araken e Evangelista, que marcou cem gols em dezesseis partidas, obtendo assim uma média que até hoje é recorde mundial de gols marcados em uma competição oficial (6,25 gols por partida). Feitiço marcou gols nos onze primeiros jogos do time, inclusive com quatro gols na mesma partida por duas vezes e três gols em quatro oportunidades. Mas em seguida ele foi eliminado da APEA, por causa de um incidente no Rio de Janeiro. O que aconteceu foi o seguinte: O Campeonato Paulista fora interrompido para a disputa do Campeonato Brasileiro de Seleções Estaduais.
Na final, entre Rio de Janeiro e São Paulo, disputada em 13 de novembro, no Estádio São Januário, o placar estava empatado, com um tento pra cada lado. Aos 29 minutos do segundo tempo, o árbitro Ari Amarante marcou pênalti de Bianco a favor dos cariocas. Os jogadores da Seleção Paulista se revoltaram e paralisaram a partida. O presidente da república, Washington Luis, que assistia à partida das tribunas, ordenou que a partida fosse reiniciada, mas Feitiço retrucou: “Diga ao presidente que ele manda no país. Na Seleção Paulista mandamos nós.” A partida acabou ali mesmo. Ainda no vestiário, o presidente do Santos, Guilherme Gonçalves, que também era presidente da APEA, anunciou à imprensa que Feitiço estava eliminado da liga, assim como o goleiro Tuffy.
O Santos encerrou o primeiro turno com doze vitórias e apenas uma derrota, para o Palestra Itália, na última das treze rodadas, já sem Feitiço. No quadrangular final o Santos bateu Guarani e Corinthians, mas perdeu para o Palestra e viu o título escapar, apesar dos exatos cem gols marcados, onze a mais que os palestrinos. Araken terminou como artilheiro da competição com 31 gols marcados, dois a mais que seu companheiro de ataque Feitiço, embora marcados em quatro partidas a mais. A CBD só foi perdoá-lo em meados de 1928, mas o Santos não consentiu, avisou que ainda achava que era cedo demais e tentou transformar a pena de eliminação em suspensão por dois anos.
A entidade nacional insistiu e passou a pressionar a APEA pela anistia, o que acabou ocorrendo, entretanto os jogadores puderam escolher o clube onde jogar. Tuffy foi para o Corinthians, mas Feitiço decidiu ficar em Santos. O interesse da CBD era poder contar com Feitiço no amistoso da seleção brasileira contra o Motherwell, da Escócia, em junho. Nessa partida, a única da Seleção em 1928, Feitiço marcaria quatro gols.
No Paulista de 1928 marcou dez gols e ficou a seis do artilheiro Heitor, do Palestra Itália. Feitiço participou de dois dos três amistosos da seleção brasileira em 1929, contra o Barracas, da Argentina, em 6 de janeiro, e contra o Ferencváros, da Hungria, em 10 de julho, marcando um gol em cada jogo. Voltou a sagrar-se artilheiro do Campeonato Paulista em 1929, com doze gols. Ele marcou mais um gol no segundo tempo da partida contra o Palestra Itália em 22 de setembro, mas todo aquele tempo foi desconsiderado pela APEA, pois o árbitro da partida passou mal no intervalo, sendo a segunda etapa dirigida por Urbano Caldeira.
Embora fosse o artilheiro do campeonato de 1929 e, alguns meses depois, também do ano de 1930 (com 37 gols em 26 jogos), Feitiço não esteve entre os catorze jogadores paulistas convocados pela CBD para os preparativos para a Copa do Mundo de 1930, no Uruguai. Provavelmente não teria feito diferença se ele tivesse sido convocado, pois uma divergência entre paulistas e cariocas fez com que o único paulista a representar a seleção brasileira naquele torneio fosse Araken, então brigado com o Santos.
Em 1931 seria artilheiro pela sexta vez, sendo a terceira consecutiva. Suas seis artilharias deixam-no atrás apenas de Pelé, artilheiro do Paulistão por onze vezes. Além disso, é hoje o quinto maior artilheiro da história do Santos, com 216 gols, além de ser com a melhor média, 1,43. No meio do campeonato, foi convocado para a seleção brasileira que disputaria a Copa Rio Branco contra o Uruguai. Entrou em campo com a camisa então branca da Seleção pela única vez em uma partida oficial, embora também a única de suas quatro atuações em que não marcou gol. Foram seis gols em seus quatro jogos pela Seleção.
CORINTHIANS
Chegou ao Corinthians no final de 1932, disputando dez amistosos e um jogo oficial e mantendo uma média de um gol marcado por jogo. Em partida contra o Uberaba cobrou um pênalti propositalmente para fora quando o placar já apontava 3 a 0. Com a camisa do Corinthians, disputou 12 partidas. Venceu 7, empatou 2 e perdeu 3. Marcou 12 gols, ou seja, uma média de um gol por jogo. Recebeu então uma proposta do Peñarol, do Uruguai, onde já havia futebol profissional, uma oferta tentadora que também foi aceita por Leônidas da Silva. Nesse período conquistou o Campeonato Uruguaio de 1935 e ainda tornou-se o primeiro estrangeiro a defender a Celeste Olímpica.
No Vasco da Gama ganhou o título de campeão carioca de 1936, seu segundo título estadual. Teve ainda uma passagem pelo Palestra Itália entre 1938 e 1940, encerrando a carreira no final desse ano, pelo São Cristóvão, do Rio de Janeiro. Ao todo, marcou mais de quatrocentos gols em sua carreira. É o terceiro maior artilheiro do Campeonato Paulista (6 vezes). Mais tarde foi árbitro de futebol. Feitiço morreu dia 23 de agosto de 1985.