Abel Verônico da Silva Filho nasceu dia 2 de outubro de 1941, na cidade do Rio de Janeiro. Foi ponta esquerda do Santos de 1965 até 1972 e do América carioca de 1961 até 1965. Trabalhou por oito anos na Prefeitura de Praia Grande – SP. como professor de futebol para garotos. Tem quatro filhos, sendo que um deles é jornalista esportivo, onde foi um excelente repórter da Rede Globo de Televisão e atual comentarista da ESPN, o Abel Neto e tem seis netos. Dois dos filhos de Abel são gêmeos: Donald e Douglas. Eles nasceram em Guadalajara, México, onde Abel jogou quatro anos pelo Atlas.
Abel militou no futebol mexicano depois que deixou a Vila Belmiro, ou seja, de 1972 até 1976, quando encerrou sua brilhante carreira. Teve a honra de jogar ao lado de Pelé, fazendo com ele partidas memoráveis, que o torcedor santista certamente ainda guarda na memória. Pelo Peixe conquistou um titulo da Copa do Brasil, cinco Campeonatos Paulista, um Torneiro Rio-São Paulo e uma Taça Roberto Gomes Pedrosa.
AMÉRICA
Com apenas um ano de idade sua família mudou-se para Raiz da Serra, distrito de Magé (RJ). Curiosamente, o município também revelou outro fenômeno do futebol: Garrincha, nascido no distrito vizinho, chamado Pau Grande. Essa coincidência foi determinante para que Abel tivesse sua primeira chance em um time grande. O ponta-esquerda iniciou a carreira no Estrela Futebol Clube, equipe da fábrica de pólvora pertencente ao Exército localizada em Magé. O pai era funcionário da fábrica.
Aos 15 anos, acreditando em seu talento, Abel tentou teste no Flamengo. Treinou, mas não teve sorte. Sua história cruzou com a de Garrincha no ano seguinte, aos 16, quando a mãe encontrou com o ídolo de pernas tortas em uma domingueira de Raiz da Serra. Dona Nair ressaltou tanto as qualidades do filho, que Garrincha mandou que Abel o procurasse na terça-feira no Botafogo.
Dois dias depois, o ponta chegou com a irmã para ser apresentado ao técnico Marinho. Treinou um ano nas categorias de base do clube, mas acabou dispensado. Voltou para sua cidade e para o Estrela F.C., além de ter começado a trabalhar na mesma fábrica que o pai, na área administrativa. Ao alcançar a maioridade, serviu o Exército em Petrópolis, cidade próxima a Magé. Como era franzino, acreditava que a preparação feita nas forças armadas o deixaria mais robusto. Abel logo caiu nas graças do capitão, que o admirava pelo bom futebol e talento nas rotinas administrativas. Recebeu proposta para seguir carreira militar, mas foi demovido por um dos diretores de seu antigo clube, que o levou para tentar ingressar no Fluminense de Telê Santana. No entanto, a carreira teve início, de fato, no América (RJ), que havia acabado de ser campeão estadual. Este por sinal foi o último título estadual do América, ou seja, em 1960.
Em 1963 o América formou um grande time e quase repete a façanha de três anos atrás. No dia 18 de Agosto de 1963, num domingo, América e Flamengo se enfrentaram pelo primeiro turno do Campeonato carioca no Estádio do Maracanã, com os americanos saindo vitoriosos pelo escore de três tentos a um. Nesse ano o Clube de Regatas do Flamengo foi o Campeão Carioca, mas o América carimbou a faixa de campeão. Neste ano o América tinha a seguinte equipe: Pompéia, Luciano, Wilson Santos, Sebastião Leônidas e Itamar; Sílvio e Amorim; Zezinho, Carlinhos, João Carlos e Abel. Enquanto que o Mengão também tinha um grande time que neste dia o técnico Flávio Costa (nosso técnico na Copa de 50) assim escalou: Mauro, Murilo, Luís Carlos, Ananias e Vanderlei; Carlinhos e Nelsinho; Espanhol, Aírton, Dida e Osvaldo.
SANTOS F. C.
Dois anos depois, Abel deixou o Rio de Janeiro e veio jogar no Santos F.C., um time que na época tinha Zito, Mauro Ramos de Oliveira, Gilmar, Carlos Alberto Torres, Lima, Orlando Peçanha, Joel Camargo, Dorval, Coutinho e nada mais, nada menos que Pelé. Foi só vestir a camisa e começar a conquistar títulos. Quem mais gostou da chegada de Abel, foi o lateral Carlos Alberto, pois ele dizia que nos clássicos entre Fluminense e América, ele não conseguia pará-lo. Abel jogava muito e nunca conseguiu levar vantagem sobre ele. Abel chegava ao Santos para substituir Pepe, o Canhão da Vila. A transferência para o time da Vila Belmiro foi intermediada pelo representante do Peixe no Rio de Janeiro, Ramiro Valente. O técnico Lula teve então um agradável problema: na mesma época surgia o garoto Edu, que atuava na mesma função. Como escalar o time com dois ponta-esquerda com tamanha habilidade? Para resolver a questão, Edu passou a jogar na ponta direita.
Abel era um ponta que gostava de servir seus companheiros, fazia a jogada de linha de fundo e deixava os atacantes na cara do gol. Há uma cultura que precisa urgentemente ser mudada no futebol brasileiro, pelo fim da falta de respeito profissional. Trata-se da relação entre dirigentes e treinadores. E não me venham os acomodados dizer que é impossível, que é assim mesmo. O futebol tinha ponta-direita 7 e ponta-esquerda 11, hoje não os tem mais e os mais jovens não sentem a menor falta. Essa média de um treinador demitido por rodada do Brasileiro é ridícula. Primeiro porque joga nas costas desses profissionais uma responsabilidade que eles não têm e acaba encobrindo até a parte que lhes cabe no fracasso de determinado time.
Muitos times do Brasil possuem um elenco muito fraco, são jogadores que no passado, não teriam a menor condição de vestir camisas que tanto orgulho já deu aos seus torcedores, camisas estas que foram usadas por verdadeiros craques, mas que infelizmente nasceram em época errada e com isto acabaram morrendo na miséria, pois se eles jogassem nos dias de hoje, estariam bilionários pelo belíssimo futebol de apresentavam. São estes jogadores de hoje que nos faz sentirmos saudosistas.
Foram inúmeros os jogos pelo Santos que ficaram marcados na carreira de Abel, mas a final do Torneio Roberto Gomes Pedrosa em 1968 e o milésimo gol de Pelé em 1969, realmente são os mais lembrados pelo craque. No Roberto Gomes Pedrosa de 68, Palmeiras, Internacional, Santos e Vasco foram os times classificados que, a partir de 4 de dezembro daquele ano, uma quarta-feira, iniciaram os jogos do quadrangular para definir o título do Robertão, ou Taça de Prata, de 1968. Na primeira rodada o Santos venceu o Internacional em Porto Alegre por 2 a 1, gols de Pelé e Carlos Alberto cobrando pênalti. Para o Inter, Braulio marcou o único tento. Na segunda rodada o Santos enfrentou o Palmeiras no Morumbi. Ao contrário da expectativa da maior parte da crônica esportiva, quem mandou no jogo foi o Santos, que terminou o primeiro tempo com a vantagem de 1 a 0 (Abel, quase sem ângulo, aos 14 minutos) e fez mais dois no segundo (Edu aos 36 minutos, pegando rebote de uma falta que ele mesmo cobrou, e Toninho Guerreiro, aos 43). Os 3 a 0 deixavam o Santos em uma ótima situação para a última rodada. Na terceira e última rodada, o Santos enfrentou o Vasco da Gama em pleno Maracanã. Assim, na noite de 10 de dezembro, uma terça-feira, todas as atenções estavam voltadas para o maior do mundo, onde Vasco e Santos decidiriam a sorte da Taça de Prata de 1968.
O Vasco precisava vencer por uma diferença de três gols, pois havia perdido para o Palmeiras por 3 a 0 e vencido o Inter por 3 a 2, sendo assim, ao Peixe era necessário uma vitória simples. O técnico Paulinho de Almeida escalou o Vasco com Valdir, Ferreira, Brito, Moacir (Fernando) e Eberval; Benetti e Alcir; Nado, Valfrido, Bianchini e Danilo Menezes (Adílson). O técnico Antoninho mandou o Santos a campo com Cláudio, Carlos Alberto, Ramos Delgado, Marçal e Rildo; Clodoaldo e Lima; Edu, Toninho (depois Douglas), Pelé e Abel. A arbitragem foi de Arnaldo César Coelho. E o Santos venceu por 2 a 1, com gols de Toninho Guerreiro e Pelé, enquanto que Bianchini marcou para o Vasco. Quanto ao jogo do milésimo gol de Pelé, não precisamos fazer qualquer comentário, pois Abel teve a honra de estar ao lado do Rei naquele momento histórico. Abel jogou no Santos de 1965 até 1972 e nesse período disputou 326 jogos e marcou 29 gols.
OUTROS CLUBES
Em 1971, foi emprestado ao Coritiba, onde ficou por pouco tempo. Depois jogou no Londrina, outro clube do Paraná. Em 1972 foi para o México jogar no Atlas de Guadalajara, onde em 1976, aos 34 anos de idade, resolveu encerrar sua brilhante carreira. Pela seleção brasileira fez apenas um jogo, no qual marcou o único gol com a camisa canarinho. Voltou ao Brasil em 1976 e trabalhou como corretor de imóveis. Em 1982, concluiu o curso de Educação Física, que havia trancado alguns anos antes. Foi convidado para treinar as categorias de base da Portuguesa Santista. Em 1983, recebeu um convite para atuar no Qatar, na Arábia, onde permaneceu por quatro anos como treinador da equipe principal. Passou novamente pela Portuguesa Santista, retornou ao Qatar e ficou lá até 1995. Ao regressar a Santos, foi assessor da Secretaria de Esportes do Município, treinador do Estrela de Ouro Futebol Clube e em 2000 passou a trabalhar no Departamento de Futebol de Base do Peixe. Hoje, leva uma vida tranquila na baixada santista ao lado dos familiares.