No ano de 1943 o São Paulo F. C. sagrava-se campeão paulista. Foi o segundo título do São Paulo e seu primeiro título após sua re-fundação, em 1935. Desde 1937 o Paulistão sempre ficava entre Corinthians ou Palmeiras, o que gerou a piada de que, para decidir quem seria o campeão, bastava jogar cara ou coroa, já que só havia duas possibilidades. Um dirigente são-paulino questionou a piada, perguntando quando, nesse caso, o São Paulo seria o campeão. Lhe responderam que o São Paulo só seria campeão Paulista, quebrando a hegemonia quando a moedinha caísse em pé. Ao fim do campeonato, com o título São Paulino, a diretoria tricolor fez uma carreata, tendo um carro alegórico com uma moeda de pé.
O Campeonato Paulista de 1943, teve a participação de 11 equipes, conforme relação abaixo; (por ordem da classificação final) São Paulo, Corinthians, Palmeiras, Juventus, Ypiranga, Santos, Portuguesa de Desportos, Comercial, Portuguesa Santista, São Paulo Railway e Jabaquara. Teve início dia 21 de março com uma sonora goleada corintiana sobre o Jabaquara por 9 a 0, gols de Hércules (3), Jerônimo (2), Milani, Servilio, Dino e Eduardinho. O campeonato foi disputado em pontos corridos, onde todos enfrentam a todos, em turno e returno. Em caso de empate na liderança ao fim do returno, haveria um super campeonato entre esses: um mini torneio com pontuação independente, em turno único entre cada um dos líderes empatados. Não havia classificação a outros torneios nem rebaixamento.
Durante o campeonato tivemos várias goleadas, por exemplo; a Portuguesa de Desportos venceu o Jabaquara por 4 a 0, o Corinthians venceu o São Paulo Railway por 7 a 1, o Juventus venceu o Jabaquara por 6 a 0, o Corinthians venceu a Portuguesa de Desportos por 6 a 1, a Portuguesa por sua vez venceu o Jabaquara por 6 a 0, o Palmeiras venceu a Portuguesa Santista por 5 a 0, o Corinthians venceu o Jabaquara por 8 a 2, o Ypiranga venceu a Portuguesa Santista por 7 a 3, o Palmeiras venceu o São Paulo Railway por 8 a 2, o Santos venceu o Comercial por 7 a 2, o Palmeiras venceu o Ypiranga por 6 a 0, o Corinthians venceu o Santos por 5 a 2 e a Portuguesa Santista por 6 a 1.
Já o time do São Paulo que foi o campeão daquele ano, teve resultados espetaculares, digno de um verdadeiro campeão. Venceu a Portuguesa Santista no primeiro turno por 8 a 1 e no segundo turno por 9 a 0, venceu o Santos no primeiro turno por 6 a 1 e no segundo turno por 4 a 1, venceu a Portuguesa de Desportos por 3 a 0 e outros resultados que fizeram sua imensa torcida vibrar e sentir que realmente aquele ano seria o ano do Tricolor.
Para este campeonato o São Paulo se preparou muito bem, pois queria acabar com aquela conversa que só seria campeão caso a moeda caísse em pé. Então contratou Rui e Noronha, do Vasco, Luizinho, Gijo e Zezé Procópio, do Palmeiras, Remo veio de Minas e Pardal do Rio Grande do Sul, e mais alguns jogadores das bases vão compondo a nova equipe. Mas ainda é pouco. Em abril de 1942 chegou aquele que se tornaria o primeiro grande ídolo da história tricolor: Leônidas da Silva. Em sua estreia, em partida contra o Corinthians, 42 mil pessoas compareceram. Recorde de público até hoje no Estádio do Pacaembu. E tem mais. No início de 1943 chega Antonio Sastre, veterano da Seleção Argentina e do Independiente, com 31 anos de idade… Para descrédito de muitos, o futuro começou.
Este campeonato foi equilibrado desde o início. O São Paulo perde para o Ypiranga logo na segunda rodada (1×2), e a seguir empata com Portuguesa e Juventus (ambos por 1×1) e perde o clássico com o Corinthians (1×2), resultados que derrubam o técnico Conrado Ross. Foi quando Paulo Machado de Carvalho resolveu contratar o português radicado Jorge de Lima, o Joreca, funcionário da FPF, além de jornalista e radialista era também um ex-árbitro, que quando apitava jogo do São Paulo vivia prejudicando o tricolor. E o novo fôlego dá resultado logo nas primeiras partidas: 6×1 no Santos, 8×1 na Portuguesa Santista e vitória no clássico com o Palmeiras: 2×1. Em uma goleada de 9×0 na Portuguesa Santista, na rua Javari, Sastre, pouco afeito a marcar gols, deixa 6 só nesta partida para entrar para a história: recordista de gols em uma partida pelo São Paulo. Com uma sequência de 12 vitórias, o São Paulo chega à última rodada necessitando apenas de um empate.
Corinthians, Palmeiras e São Paulo protagonizaram uma emocionante corrida ponto a ponto até a última rodada. O final do Torneio foi marcado pelos Clássicos. Em seus antepenúltimos jogos, Corinthians, líder com 30 pontos enfrentou o São Paulo, vice-líder empatado com o Palmeiras, ambos com 28. O São Paulo venceu por 2 a 0, chegando a 30 pontos, passando o Palmeiras e empatando com o Corinthians na liderança. No jogo seguinte, venceu ao Santos por 4 a 1 na Vila Belmiro e ultrapassou o Corinthians, chegando aos 32 pontos. O Corinthians precisaria vencer seu penúltimo jogo, para voltar a liderança. Mas era o Derby Paulista contra o Palmeiras terceiro colocado, o qual venceu por 3 a 1, ficando com 30 pontos, assim como o Corinthians contra 32 do São Paulo! E o São Paulo enfrentaria na última rodada, justamente o Palmeiras, que era o terceiro colocado.
Última partida do campeonato e o São Paulo iria enfrentar o Palmeiras. O Corinthians havia goleado a Portuguesa Santista na véspera por 6×1 e aguardava o resultado do Choque-Rei decisivo. Ao São Paulo um empate bastava, mas a vitória palmeirense obrigaria à realização de um torneio-desempate com o Trio de Ferro. A torcida comparece em massa no Pacaembu: 42.143 torcedores. E presenciaram um grande jogo.
O JOGO DO TITULO
Este jogo aconteceu dia 3 de outubro de 1943, o estádio era o Pacaembu, que havia sido inaugurado há 3 anos apenas. O árbitro da partida foi Carlos de Oliveira Monteiro, mais conhecido por Tijolo. Para esta partida o técnico Joréca do São Paulo mandou a campo os seguintes jogadores; King, Piolim, Virgílio, Zarzur e Noronha; Zezé Procópio e Remo; Luizinho, Sastre, Leônidas da Silva e Pardal. Já o técnico Del Débbio do Palmeiras escalou a seguinte equipe; Oberdan Catani, Junqueira e Osvaldo; Brandão, Og Moreira e Dacunto; Caxambu, Gonzales, Cabeção, Villadoniga e Canhotinho.
Logo aos 6 minutos de jogo, Sastre sofre um carrinho do zagueiro Junqueira e tem uma contusão séria. Mas o veterano não se abate e não aceita a recomendação da comissão técnica de sair do jogo (na época não era possível fazer substituições e com sua saída o Tricolor ficaria com 10 homens em campo). E mesmo jogando recuado e debilitado comanda as ações tricolores e contagia seus companheiros com sua garra e determinação. Uma partida carregada de emoção e cheia de lances de pura beleza e plasticidade… ok, pode ser um exagero, mas não foi exagero o destaque que os goleiros King do São Paulo e Oberdan do Palmeiras receberam, considerados os melhores em campo.
E quando goleiro é o melhor em campo é sinal que não teve gol… e os atacantes não podem ser acusados de falta de empenho. E o jogo terminou empatado em 0 a 0 e com este empate, o São Paulo sagrou-se Campeão Paulista de 1943, ou seja, a moeda caiu em pé. Logo após a conquista do título, houve uma grande carreata, era o desfile da vitória na Avenida Pacaembu, onde teve até carro alegórico, que carregava uma grande moeda prateada, em pé, na carroceria de uma caminhonete, que acabou se tornando o símbolo da campanha.
Era preciso muita coragem e sangue- frio, na época para ser são-paulino no início da década de 40, já que, para os seus adversários, o clube tricolor não passava de um time de refugos, com os veteranos Piolim, os reservas vascaínos Zarzur e Noronha, o problemático Leônidas da Silva e o argentino Antonio Sastre. Este título pode ser considerado um divisor de águas: a partir dele, ninguém mais duvidou da grandeza fulgurante do São Paulo. É que o time tinha ficado 12 anos sem ganhar o Paulista e os adversários procuravam exteriorizar um certo menosprezo ao clube. Pois a moeda caiu em pé, e nunca mais ninguém olhou o São Paulo com desprezo. Pudera, porque o título de 1943 deu início a uma fase e que o time passou a ser chamado de “Esquadrão de Aço”, “Rolo Compressor” e nomes semelhantes.
O Campeonato de 1943 foi o primeiro em que Leônidas da Silva atuou inteiro pelo São Paulo. No ano anterior entrara apenas na sétima rodada. Ele era muito famoso e visado. Artilheiro da copa de 1938, Leônidas tinha 29 anos quando veio para o Tricolor, depois de ter passado uma fase conturbada na qual esteve até preso. Muitos o consideravam acabado para o futebol. Mas o Tricolor apostou nele e apostou alto, comprando seu passe por 200 contos de réis, a maior quantia até então paga no Brasil por um jogador. O investimento do São Paulo foi pago nos primeiros jogos com a presença de Leônidas. Renderam, cada um dos jogos, mais de 200 contos de réis aos cofres do Tricolor.
CURIOSIDADES
Neste Campeonato Paulista de 1943, tivemos 110 jogos e foram marcados 498 gols, dando uma média de 4,53 gols por jogo, realmente uma média muito alta, principalmente para os dias de hoje. Somente o São Paulo marcou 63 gols, pois tinha um ataque espetacular; Luizinho, Sastre, Leônidas, Remo e Pardal. O artilheiro da competição foi o jogador corintiano Mário Milani com 20 gols. O São Paulo campeão disputou 20 jogos. Venceu 15, empatou 3 e perdeu somente duas vezes, uma para o Ypiranga logo na segunda rodada, que aconteceu dia 27 de março e a segunda derrota foi para o Corinthians no dia 2 de maio, na sexta rodada, derrota esta que fez com que a direção Tricolor mudasse de treinador, quem sabe foi aí o grande acontecimento que fez nascer o campeão paulista daquele ano.
Na classificação final o São Paulo ficou com 33 pontos, o Corinthians com 32 e o Palmeiras com 31. Realmente foi um campeonato disputado ponto a ponto, onde uma vitória era muito importante. Este foi o primeiro título do São Paulo, isso mesmo, o primeiro título, você deve estar se perguntando como assim? E o de 1931? Esse não é contabilizado oficialmente pelo São Paulo, pois corresponde a primeira fundação, o Tricolor só contabiliza os títulos conquistados a partir de 1935, na segunda fundação. Naquela década o São Paulo ainda seria campeão em 1945, 46, 48 e 49. Até os dias de hoje o Tricolor já conquistou 22 títulos paulista.