SANTOS 5×2 BENFICA – Dia 11 de Outubro de 1962

                Há mais de meio século, o Santos conquistou seu primeiro Título Mundial. Era o dia 11 de outubro de 1962, uma quinta-feira, na velha e bela Lisboa iluminada pela magia de um futebol que nunca mais se viu, Benfica e Santos fizeram a decisão do Mundial Interclubes. Tempos que lembrados agora parecem sonho, pois vivia-se o deslumbramento do futebol-arte! Santos e Benfica falavam não só o mesmo apaixonante idioma de Camões, mas também compartilhavam a mesma linguagem da beleza, da classe, da coragem e do jogo limpo. Um verdadeiro encontro de dois mundos gêmeos, que não pode jamais ser esquecido.

               Quem não teve a benção de ver, só mesmo através da literatura. Por isso decidi pesquisar mais sobre o jogo, sobre aquela época, e escrever. Sou suspeito para falar, pois vivi aquela época e agradeço a Deus até hoje por ter nascido numa época que o futebol era romântico, vibrante, não tinha quem não se apaixonasse pelo futebol naqueles anos dourados. Não havia torcida uniformizada, que hoje só vão aos estádios para provocarem brigas e mortes. Não havia propaganda nas camisas dos jogadores, assim como dirigentes que interferem até na escalação das equipes. Não havia jogadores que beijam o distintivo do clube e pouco tempo depois estão fazendo o mesmo em outro clube. O torcedor chegava mais cedo aos estádios para verem os aspirantes. Quem não se lembra da década de 60, quando o Corinthians tinha Rivelino nas preliminares. O Pacaembu ficava lotado duas horas antes de começar o jogo principal. O torcedor ia ao estádio de radinho colado ao ouvido ouvindo Fiori Giglioti com o seu programa “Cantinho da Saudade” pela Rádio Bandeirantes. Realmente quem viveu naquela época pode se considerar um verdadeiro privilegiado.

TAÇA LIBERTADORES DA AMÉRICA DE 1962

                Para se chegar ao título do Mundial Interclubes, primeiro é preciso passar pela difícil batalha que é a Taça Libertadores da América. Hoje com  a  presença da televisão em  todos os jogos, a  violência já  não é tão grande, mas no passado a coisa era terrível, pois a rivalidade entre os clubes sul-americanos era enorme, principalmente quando um clube brasileiro iria enfrentar um clube argentino ou uruguaio. E assim foi a Libertadores de 1962, quando Santos e Peñarol do Uruguai foram decidir o título daquele ano. A primeira partida aconteceu dia 28 de julho, na cidade de Montevideo, Uruguai. 

               Na abertura da decisão, no estádio Centenário, que recebeu neste dia um público de 55 mil pagantes, o equatoriano Spencer abriu o placar para o Peñarol aos 18 minutos do primeiro tempo.  Mas Coutinho empata aos 29. No segundo tempo Coutinho marcou mais um aos 25 minutos e assim o Santos venceu aquela partida de virada por 2 a 1. Veio o segundo jogo, agora no Brasil. Este jogo aconteceu dia 2 de agosto na Vila Belmiro, que recebeu um público de 30 mil pagantes.

               Os brasileiros estão desfalcados de Pelé, que se contundira num jogo do Campeonato Paulista, diante do Juventus. Começa o jogo e o Peñarol abriu o placar aos 18 minutos através de Sásia e Dorval empatou aos 27. Final do primeiro tempo. Logo aos 4 minutos de jogo da etapa complementar, Spencer marcou para o time uruguaio, mas um minuto depois, Mengalvio empata a partida novamente. Mas aos 28 minutos, Spencer novamente coloca o Peñarol na frente do marcador e este foi o resultado da partida, Peñarol 3×2 Santos em plena Vila Belmiro. Era necessário então uma terceira partida.

               Como mandava o regulamento se houvesse necessidade de uma partida extra, ela seria em campo neutro, sendo assim Santos e Peñarol jogaram no Estádio Monumental de Nuñes, na Argentina, que neste dia recebeu um público de 60 mil torcedores. Este jogo aconteceu dia 30 de agosto de 1962. Neste dia o Santos jogou com; Gilmar, Lima, Mauro Ramos de Oliveira, Calvet e Dalmo; Zito e Mengálvio; Dorval, Coutinho, Pelé e Pépe. Começou o jogo e logo aos 11 minutos, o zagueiro uruguaio Caetano marcou contra. Final do primeiro tempo. Aos 3 minutos da etapa complementar Pelé aumentou o marcador e quando faltavam um minuto para terminar a partida, Pelé marcou o terceiro gol santista. Santos campeão da Taça Libertadores da América de 1962.

MUNDIAL INTERCLUBES DE 1962

               Nesse ano ocorreu uma partida entre clubes do Brasil e Portugal. O clube português Benfica apresentava-se como bicampeão da Liga dos Campeões da UEFA e como repetente dessa competição, buscando um título mundial. Já o Santos participava pela primeira vez e foi o primeiro time brasileiro a vencer a Libertadores da América até então. O Benfica vinha com uma goleada de 5 a 3 no pentacampeão europeu Real Madrid e apresentava grandes espectativas de vitória. Por outro lado, o Santos apresentava bons resultados contra o Peñarol: ganhou de 2 a 1 no primeiro jogo, perdeu o segundo por 3 a 2 e goleou o time uruguaio por 3 a 0 no jogo de desempate. A primeira partida aconteceu dia 19 de setembro no estádio do Maracanã, pois dirigentes santistas alegavam que se jogasse no Pacaembu, torcedores do Corinthians, Palmeiras e São Paulo iriam torcer contra o Santos e também porque o Maracanã era o palco ideal para um super time mostrar seu talento.

PRIMEIRA PARTIDA

               Começa o jogo e aos 31 minutos, Pelé abriu o placar. Final do primeiro tempo. Na segunda etapa, o time português voltou com muita disposição e empatou a partida aos 13 minutos através de Santana. Mas a equipe santista não desanimou e voltou a frente do placar com um gol de Coutinho aos 19 minutos. Quando faltavam cinco minutos para o término da partida, Pelé marcou o terceiro gol santista. Quando todos achavam que aquele seria o placar final, Santana marcou o segundo gol português. Final de jogo, Santos 3×2 Benfica. Neste dia o Maracanã recebeu um público de 90 mil pessoas e o árbitro da partida foi Ruben Cabrera, do Paraguai.

SEGUNDA PARTIDA

               Pelé já era bicampeão mundial de futebol com a Seleção Brasileira e faltava-lhe o título máximo pelo Santos.  O mundo do futebol estava em Lisboa, para ver o grande acontecimento.  O campeão europeu e o campeão sul-americano num tira-teima espetacular.  De um lado o Rei Pelé e do outro Euzébio, também brilhante jogador português. Esta segunda partida aconteceu dia 11 de outubro de 1962, em Lisboa. Neste dia o Santos venceu por 5 a 2, sendo que o Peixe chegou a estar vencendo por 5 a 0, com três gols de Pelé, um de Coutinho e outro de Pepe. Esta partida é considerada por todos que assistiram, como a mais perfeita exibição de um time de futebol.  

              Foi a primeira vez que “A Voz do Brasil” não foi transmitida só para que os brasileiros pudessem ouvir a transmissão pelo rádio. Para espanto dos santistas, quando chegaram no hotel em Lisboa, viram que já estavam vendendo ingressos para a terceira partida, pois já davam como certa a vitória do Benfica naquele segundo confronto, uma vez que a equipe portuguesa jamais tinha perdido no Estádio da Luz, em Lisboa.   O jogador Lima chegou a fazer uma aposta com um funcionário do hotel.

              A aposta era que se o Benfica vencesse, Lima teria que dar dois pacotes de café brasileiro. Se o Santos vencesse, o funcionário teria que dar duas garrafas de um legítimo vinho português.  No dia seguinte ao jogo, o funcionário foi entregar o vinho com lágrimas nos olhos, então Lima resolveu fazer uma troca e lhe deu o café, para ele não ficar tão triste.  Neste dia o Santos jogou com; Gilmar, Olavo, Mauro e Dalmo; Calvet e Zito; Dorval, Lima, Coutinho, Pelé e Pepe. O técnico foi o saudoso Luis Alonso Peres, mais conhecido por Lula. Já a equipe do Benfica jogou com; Costa Pereira, Jacinto, Humberto, Raul e Cruz; Caven e Santana; José Augusto, Eusébio, Coluna e Simões. O árbitro foi o francês Pierre Schinter, auxiliado por Steiner e Boalilou. Público: Cerca de 80 mil pessoas, com 73 mil pagantes. Renda: 2,5 milhões de escudos. Os gols da partida foram marcados na seguinte ordem: Pelé, aos 15 e 25 minutos do primeiro tempo; Coutinho, aos 3, Pelé, aos 19, Pepe aos 32, Eusébio, aos 40, e Simões aos 44 minutos do segundo tempo.

               Com a vitória sobre o Benfica por 5 a 2, o Santos Futebol Clube de Pelé,  Coutinho e Cia, sagrava-se Campeão Mundial Interclubes. A partida disputada em Lisboa traduziu o poderio do Santos e o confronto Pelé x Euzébio, ficou marcado com um triunfo do Rei do Futebol, haja vista a grande expectativa criada em razão do encontro dos grandes craques. O jogo final foi marcado por muita tensão. O estádio estava lotado e, como não poderia ser diferente, a quase totalidade do público presente torcia para o Benfica. O Santos havia vencido o primeiro confronto, no Maracanã, por 3 a 2, em um jogo muito disputado.

               Na verdade, o que a torcida portuguesa viu foi o completo domínio do time brasileiro, que chegou a estar vencendo por 5 a 0. Os gols do Benfica só foram feitos nos últimos cinco minutos de jogo. Pelo bonito futebol, a equipe campeã deu sua volta olímpica sendo aplaudida de pé pela torcida adversária, algo jamais visto num estádio de futebol. Este jogo é tido por muitos dos jogadores e cronistas esportivos daquela época como a melhor apresentação do Santos em toda a sua história.

               Em cada posição o Santos tinha jogadores extraordinários, mas foi Pelé que fez mais. Pelé foi um jogador que assombrou o mundo e quando perguntam quando nascerá outro Pelé, parem de perguntar, pois não vai nasceu outro. Pelé foi só um. O Pelé foi um jogador como ainda não conheci e nem conhecerei, pois um jogador como Pelé só vai nascer daqui a mil anos. Prestem atenção, eu não disse cem, mas mil anos.

SANTOS FUTEBOL CLUBE – 1962      –      Em pé: Lima, Zito, Dalmo, Calvet, Gilmar e Mauro      –     Agachados: Dorval, Mengalvio, Coutinho, Pelé e Pepe
BENFICA – 1962      –     Em pé: Germano, Cruz, Raul, Cruz, Jacinto e Costa Pereira      –     Agachados: Santana, Simões, Torres, Eusébio e Cavem

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