1958: um ano inesquecível para o povo brasileiro

                   Quem teve a felicidade de ter nascido antes de 1958, pode se considerar uma pessoa privilegiada, pois foi um ano que jamais deveria acabar, tantos foram os acontecimentos marcantes que jamais sairão da memória daqueles que estavam presente naquele momento único da nossa história. Foi o ano do bambolê, da juventude transviada, da vitória de Maria Ester Bueno em Wimbledon, do lançamento de Gabriela Cravo e Canela, do rinoceronte Cacareco elegendo-se vereador nas urnas em São Paulo, foi o início da Bossa Nova com o lançamento de um compacto simples lançado pelo baiano João Gilberto contendo as canções “Chega de Saudade” de autoria de Tom Jobim e Vinícius de Moraes e “Bim Bom” de autoria do próprio cantor. Neste ano também Adalgisa Colombo sagrou-se Miss Brasil, Carvalho Pinto elegeu-se no dia 3 de outubro, o Governador de São Paulo e nosso Presidente da República daquele ano era Juscelino Kubitschek de Oliveira.

FUTEBOL

                  No cenário futebolístico a dimensão foi bem maior, pois o ano de 1958 nos deu muitas alegrias. Primeiro pela nossa seleção que conquistou o primeiro título mundial e segundo pelos campeonatos estaduais que mexeram com todo o povo brasileiro. No Rio Grande do Sul, o campeão foi o Grêmio, em Minas Gerais quem conquistou o título foi o Atlético Mineiro, no Rio de Janeiro depois de uma final envolvendo Vasco, Flamengo e Botafogo, o clube de São Januário sagrou-se campeão, pois na época tinha um time quase que imbatível. E o Campeonato Paulista foi marcado pela histórica equipe do Santos de Pelé & Cia. que era um time quase imbatível, pois disputou 30 partidas e marcou 143 gols, desses, 58 foram marcados por Pelé, recorde até hoje e que dificilmente será quebrado.

                 O Peixe venceu 29 partidas, empatou 6 e perdeu somente 3, que foi contra o Noroeste por 1 a 0 no dia 10 de agosto, contra o Taubaté por 3 a 2 no dia 5 de outubro e contra a Ferroviária por 2 a 1 no dia 9 de novembro, ou seja, somente para times do interior. Mas isto geralmente acontecia, quando o jogo era logo após a chegada do clube santista de uma longa excursão pelo mundo a fora, onde os jogadores mal tinham tempo para descansar.

CAMPEONATO PAULISTA

                 O legítimo campeão paulista de 1958, foi o Santos F.C. A superioridade santista não se fez sentir apenas na tabela. Outros números tornaram o Santos indiscutivelmente melhor naquele torneio, mais especificamente o que o quarteto Pelé, Pagão, Coutinho e Pepe andou aprontando pra cima dos oponentes: 7×3 e 6×2 no Jabaquara, 6×0 e 5×0 no XV de Piracicaba, 4×0 na Ponte Preta, 5×2 no XV de Jaú, 4×1 e 8×1 no Ypiranga, 10×0 no Nacional (a maior goleada do campeonato), 8×1 e 7×1 no Guarani, 6×1 na Portuguesa Santista, 4×0 no Botafogo, 9×1 no Comercial, 7×1 no Juventus, e não menos importante que estes resultados foi  6×1 no rival Corinthians. Show de Bola é o que melhor descreve isso.

                A Primeira Divisão do Paulistão de 1958 foi disputada por 20 clubes, que jogaram entre si em turno e returno, sendo campeã a equipe que somasse mais pontos ao fim do torneio. Regulamento, aliás, idêntico ao do Campeonato Brasileiro desde 2006. Só algumas diferenças: a vitória valia 2 pontos (lembrando que a vitória só passou a valer 3 pontos nos anos 90) e o empate, 1 ponto. O campeão, garantia também a vaga na Taça Brasil. O último colocado seria rebaixado à Segunda Divisão do ano seguinte, sendo substituído pelo campeão da mesma. O certame iniciou-se no final de maio, mas os times grandes somente tiveram seus primeiros jogos em julho, pois estes haviam cedido jogadores para a Seleção Brasileira que disputou e venceu o Mundial em junho.

               Como era de se esperar, um time com a excepcional campanha descrita nas primeiras linhas não viria a ser campeão na última rodada do torneio. Porém, o São Paulo F.C., campeão paulista de 1957, apresentou um ótimo desempenho, o que fez com que se conhecesse o campeão somente na penúltima rodada, quando o Santos goleou o Guarani por 7×1, em Campinas. Naquela ocasião, o Alvinegro dependia apenas do empate. Na última rodada, em 18 de dezembro, o Alvinegro (que já era campeão) e o Tricolor (que já era vice) empataram por 2×2 na Capital, encerrando suas participações naquela edição do Campeonato Estadual.

               O Santos foi o campeão paulista de 1958, com 29 vitórias, 6 empates e 3 derrotas, 143 gols pró e 40 gols contra e credenciou-se a disputar a Taça Brasil de 1959. O Ypiranga foi rebaixado à Segunda Divisão, e o Comercial F.C. de Ribeirão Preto, foi promovido para o seu lugar. Pelé, com 58 gols, foi novamente o artilheiro do campeonato (já o tinha sido em 1957, com 17 tentos assinalados). O Peixe também se destacou com uma das melhores performances ofensivas da história da competição, com 143 gols marcados e uma média de 3,76 gols por jogo. O Campeonato Paulista teve 380 jogos e foram marcados 1.329 gols, com uma média de 3,5 gol por partida.

               Havia ainda mais coisas importantes no mundo da bola em 1958: uma reunião da Confederação Sul-Americana de Futebol (CONMEBOL) decretou a criação de um torneio continental, que reuniria os campeões nacionais dos times filiados. Este campeonato já tinha nome e data marcada para a primeira edição: Taça Libertadores da América, 1960. Para isso, a CBD teve a necessidade de criar um campeonato nacional, que foi inspirada na recém-planejada competição sul-americana, reuniria todos os campeões estaduais do país para disputar a Taça Brasil, que teve sua primeira edição em 1959. Assim, o Campeonato Paulista de 1958 não valia apenas o status de campeão do Estado, mas também dava o direito ao campeão de participar da disputa de um título brasileiro e, consequentemente, uma vaga na Libertadores.

SELEÇÃO BRASILEIRA

                O ano de 1958 foi um ano especial para o futebol brasileiro: foi nesse ano que a seleção do Brasil conquistou pela primeira vez a Copa do Mundo. Nos gramados suecos também brilhou um certo Edson Arantes do Nascimento, que em 4 jogos marcou 6 gols (sendo 2 deles na final contra os donos da casa), sendo o artilheiro do time nacional. Nossos dirigentes esqueceram de enviar ao Comitê Organizador da Copa do Mundo, os números das camisas que os jogadores brasileiros iriam usar durante a competição, sendo assim, coube ao uruguaio Lorenzo Villizio, que era um dos organizadores da Copa, colocar os números, e como ele não conhecia ninguém, colocou qualquer número para os jogadores. Ai nasceu o grande casamento de Pelé e a camisa 10.

               A nossa seleção estreou dia 8 de junho contra a Áustria e vencemos por 3 a 0, com dois gols de Mazzola e um de Nilton Santos. Depois enfrentamos os ingleses no dia 11 de junho e empatamos em 0 a 0. Depois daquele empate, um grupo de jogadores liderados por Nilton Santos, Didi e Bellini, fizeram uma sábia sugestão aos homens da comissão técnica, ou seja, que fossem escalados, Zito, Vavá, Garrincha e Pelé, uma vez que a próxima partida seria decisiva para que a nossa seleção continuasse na competição e também porque o adversário seria a favorita União Soviética. E mais sabiamente, a comissão técnica aceitou a sugestão.

             Era o dia 15 de junho e lá estavam frente a frente, brasileiros e soviéticos. Dois minutos de jogo, Garrincha bate a três zagueiros e chuta violentamente contra a trave. Um minuto depois, era a vez de Pelé chutar no travessão. Na jogada seguinte, de Didi para Pelé, de Pelé para Vavá e surge o primeiro gol brasileiro. Não seria exagero afirmar, que aqueles três minutos de jogo, fizera modificar a própria história do futebol brasileiro e superado a infantilidade 1930, a imaturidade de 1934, a inexperiência de 1938, o otimismo de 1950 e os nervos de 1954. Depois Vava marcou mais um gol e fechou o placar, 2 a 0 para o Brasil.

             Com este resultado, o Brasil passou para as quartas de final, e foi enfrentar País de Gales, uma seleção tecnicamente bem dotada.  Este jogo aconteceu dia 19 de junho, uma data que ficou marcada na história do futebol brasileiro, pois neste jogo, o ainda garoto Pelé, marcou seu primeiro gol em Copa do Mundo, um gol espetacular aos 21 minutos do segundo tempo que decidiu a sorte do jogo, pois vencemos a partida por 1 a 0. Veio a semi-final contra a poderosíssima França, no entanto com três gols de Pelé, um de Vavá e um de Didi, vencemos por 5 a 2. Estávamos classificados para a grande final que seria justamente contra os donos da casa, a Suécia.

              Era o dia 29 de junho de 1958 e o nosso técnico Vicente Feola mandou a campos os seguintes jogadores; Gilmar, Djalma Santos, Bellini, Orlando e Nilton Santos; Zito e Didi; Garrincha, Vavá, Pelé e Zagallo. E mais uma vez nosso escrete desfilou em campo e vencemos por 5 a 2, dois gols de Vavá, dois de Pelé e um de Zagallo. Brasil Campeão do Mundo pela primeira vez. Os jogadores deram a famosa volta olímpica. O povo brasileiro saiu às ruas para comemorar e a música que o povo cantava se referindo ao placar da partida final, era aquela marchinha carnavalesca da época “Jardineira”, que dizia; O jardineira por que estás tão triste, mas o que foi que aconteceu?  Foi a Camélia que caiu do galho, deu dois suspiros e depois morreu. 

              Neste mundial, tivemos 35 jogos, foram marcados 126 gols.  O Brasil fez 6 jogos, marcou 16 gols e sofreu apenas 4, por isso, foi o legítimo campeão de futebol, um esporte que é uma paixão que nasce no berço, se desenvolve na infância, aumenta na adolescência, amadurece na juventude e não abandona mais, até o fim da vida. Em resumo, este foi o ano de 1958, um ano que deixou saudade ao povo brasileiro, um ano em que não falávamos em drogas, aids, violência, sequestros, mensalão, inflação e muito menos de torcidas uniformizadas, que só levam violência aos estádios. Bons tempos aqueles…

Seleção Brasileira – Campeã do Mundo em 1958
Maria Ester Bueno  –  Campeã do Torneio de Wimbledon (Inglaterra) em 1958
Adalgisa Colombo – Miss Brasil em 1958
Juscelino Kubitschek de Oliveira – Presidente do Brasil em 1958
Pelé surge para o mundo e no Campeonato Paulista de 1958 marcou 58 gols, um recorde que jamais será quebrado
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