Vicente Ítalo Feola nasceu dia 1 de novembro de 1909, em São Paulo. Sua família é originária da Holanda, e lá “Vicente” é o nosso “José brasileiro”. Contrariamente ao que muitos pensam, Feola jamais jogou no São Paulo. Quando era aluno do Coração de Jesus, morava no Bom Retiro e jogava no “Estudante”, que deu origem ao São Paulo Futebol Clube, que tinha sua sede no final da Rua Augusta, onde hoje está localizado o clube do Paulistano. Foi nessa agremiação que iniciou sua carreira de técnico e, posteriormente, dirigiu o São Paulo. Os são-paulinos de então cobiçavam o campo do Palestra Itália, o Parque Antárctica, mas não conseguiram tomá-lo, e a esse tempo, durante a 2ª Grande Guerra, o São Paulo instalou-se no campo do Germânia, lá no Canindé, onde ficou por muitos anos.
Feola na Copa de 58, foi flagrado diversas vezes dormindo no banco de reservas, tido e havido, como dorminhoco, mas quase ninguém sabe o porque. Acontece que os suecos, para desarticular a seleção brasileira, pretendiam fazer com que os jogadores ficassem na esbórnia, e enviavam lindas mulheres da mais velha profissão do mundo para o hotel. Feola e o Paulo Machado de Carvalho, atentos a isso, ficavam vigiando no corredor do andar onde os atletas estavam instalados e impediam a saída destes e a entrada daquelas. Assim, era a noite do técnico e do chefe da delegação.
Então, enquanto o jogo corria, era acometido do sono, como fora flagrado por diversas vezes. Além dessa explicação, existe outra que é bem mais séria. Feola sofria de angina. Quando abaixava a cabeça e fechava os olhos, estava apenas esperando a angustiante dor no peito passar. De qualquer forma, Feola parecia não ligar para a boataria. Paulo Machado de Carvalho também não se importava. Afinal, o cartola conhecia o técnico de longa data e sabia muito bem do que Feola era capaz: montar um time bem arrumado, trabalhar sem alarde e manter uma convivência agradável com todo o elenco de jogadores.
SÃO PAULO F. C.
Vicente Feola é até hoje o técnico que por mais vezes dirigiu o S.P.F.C., ou seja, chegou a dirigir o time em 10 oportunidades diferentes. Era um lendário treinador de times amadores quando chegou ao Tricolor, e até o 1º título em 1948, já havia dirigido o time por duas vezes. Foi bicampeão paulista, em 1948 e 1949, últimos títulos de Leônidas da Silva. Era um treinador adorado por seus jogadores e pelos dirigentes das equipes, por isso é que foi tantas vezes chamado a tocar o time tricolor, o que fez sempre com muita competência. Na conquista do campeonato paulista de 1948, que foi o seu primeiro título na carreira, o time do São Paulo era assim formado; Mário, Savério e Mauro; Ruy, Bauer e Noronha; China, Remo, Ponce de Leon, Leônidas da Silva e Teixeirinha.
No mundo do futebol existem vários tipos de técnicos, os linha dura, os estrategistas, os motivadores, e o técnico “paizão”, Vicente Feola, se enquadrava nesse último. Amigos de todos calmo e muito competente, Feola teve a sua trajetória ligada ao S.P.F.C., clube onde foi técnico e dirigente. Em sua época de dirigente, quando um técnico caia, quem assumia era Feola. Ao todo foram 10 passagens efetivas como técnico do Tricolor, somando 524 jogos, recorde no clube. Foram 290 vitórias, 105 empates e 129 derrotas.
SELEÇÃO BRASILEIRA
A primeira partida de Vicente Feola no comando da Seleção Brasileira aconteceu no dia 4 de março de 1958, pouco tempo antes do embarque para a Suécia. O Brasil goleou o Paraguai por 5 a 1, em jogo válido pela Taça Oswaldo Cruz. Os gols brasileiros foram marcados por; Zagallo (2), Pelé, Vavá e Dida. Feola foi uma escolha inesperada para o comando técnico da seleção na Copa do Mundo de 1958. Ele havia largado a função de treinador em seu time, o São Paulo, por sofrer de problemas cardíacos. O gorducho comandante, 48 anos e mais de 100 quilos, fora promovido a supervisor do clube (com o cargo de técnico de campo entregue ao húngaro Bela Gutman).
Feola conduziu sua equipe com discrição e tenacidade na Copa, mas ficou marcado por um injusto boato: o de que pegava no sono durante treinos e até jogos. Ficou difícil desmentir a história depois que fotógrafos flagraram o comandante de olhos cerrados em pleno banco. Foi o 1º técnico a ser campeão mundial pela Seleção Brasileira em 1958, tendo a ousadia de colocar um garoto de apenas 17 anos no time, o menino Pelé. Ao lado do dirigente Paulo Machado de Carvalho (que comandou a delegação brasileiras nas Copas de 1958 e 1962), Feola insistiu muito para levar entre os convocados que participaram do Mundial da Suécia um jogador franzino, de apenas 17 anos, que em pouco tempo seria destaque em todo o mundo: Pelé.
Se não fosse a insistência do treinador, provavelmente Pelé seria cortado da delegação brasileira que embarcou para a Suécia. No último jogo-treino da Seleção, que foi contra o Corinthians, Pelé se contundiu após dividida com Ari Clemente. Na época, os médicos da Seleção diziam que Pelé não teria tempo suficiente para se recuperar antes do mundial, daí a explicação de Pelé começar a Copa como reserva, só entrando no decorrer da competição. Mas diante da insistência de Feola, e por pura “birra” do treinador, a história do maior jogador de futebol de todos os tempos não teve outro final, pois o verdadeiro, todo mundo já sabe.
Na Copa da Suécia, coube também a Vicente Feola escalar uma dupla de ataque que marcou a história no futebol mundial: Pelé e Garrincha. Jogando juntos, os dois jogadores jamais perderam uma partida com a camisa da Seleção. Vicente Feola seria também o técnico da nossa seleção na Copa de 1962, que foi disputada no Chile, afinal, eram praticamente os mesmos jogadores, mas devido a um problema de saúde, quem foi em seu lugar foi Aymoré Moreira, que também sagrou-se campeão do mundo.
COPA DE 1966
Antes do mundial de 1966, disputado na Inglaterra, Feola trabalhou na Argentina, comandando um dos clubes mais populares do país, o Boca Juniors. Mas deixou o clube para atender o pedido da comissão técnica da nossa seleção, que o queria novamente no comando do nosso selecionado. Infelizmente, a bagunça que ocorreu na preparação para a Copa de 66, quando o Brasil chegou a ter quatro times treinando juntos, e a fraquíssima participação propriamente dita na Copa, encerraram a carreira de Feola como técnico de seleção, que foi diretamente responsabilizado pelos fatos negativos.
Mas depois se veria que não foi bem assim, havendo muita interferência política na seleção por parte dos dirigentes da CBD e do país, na época governado por um regime militar que via no futebol, uma ótima forma de se promover internacionalmente e também junto à população brasileira mais carente. O Brasil estreou no mundial dia 12 de julho vencendo a Bulgária por 2 a 0, gols de Pelé e Garrincha. Depois começaram os vexames, uma derrota para a Hungria por 3 a 1, com Tostão marcando o único tento.
Seu último jogo pela seleção aconteceu em Liverpool, cidade dos Beatles, na Copa de 66: derrota de 3 a 1 para Portugal e o fim do sonho de conquistar o tricampeonato, título que somente chegaria quatro anos mais tarde, na Copa do México. No total, Feola comandou o Brasil em 74 jogos, de acordo com dados da CBF (Confederação Brasileira de Futebol). Foram 54 vitórias, 12 empates e 8 derrotas. No comando da seleção, foi campeão da Taça Oswaldo Cruz (1958), da Copa do Mundo da Suécia (1958), da Taça Bernardo O`Higgins (1959), da Copa Roca (1960) e da Taça do Atlântico (1960).
HOMENAGEM
Vicente Feola faleceu dia 6 de novembro de 1975. Foi um dos grandes treinadores do futebol brasileiro. Foi o primeiro a trazer a Jules Rimet para o Brasil. Foi quem iniciou essa era de vitórias, de títulos, de consagrações da Seleção Brasileira, em Copas do Mundo. Além de Pelé e Garrincha, para muitos além de Didi e Nilton Santos, a seleção brasileira de 1958 foi a melhor de todos os tempos simplesmente pela presença do Sr. Vicente Ítalo Feola no banco, o único técnico que compreendeu a essência do futebol brasileiro, daí porque dormisse, cochilasse durante as pelejas, em absoluta paz consigo…
Feola foi grande pelo seu método de treinamento, sempre exigindo o máximo de seus comandados, em todos os treinos, fato comum agora, mas raríssimo nos anos 50 e 60, o que demonstrava que ele era chato mesmo, mas nesse mundo do futebol, só quem é realmente chato, consegue conquistar o que deseja. Vai ver que Feola, Telê, Felipão e Muricy Ramalho são da mesma família. Pelo menos, no quesito chatice, eles são. E ainda bem que foram iguais também no que diz respeito a títulos. Feola tinha humildade, a perfeita consciência de seu papel e de suas possibilidades, por isso se dava o luxo de cochilar no banco de reservas, pois colocava os melhores para jogar e, de resto, bastava não atrapalhar. O bicho era certo. E então sonhava…