Rodolpho Carbone nasceu dia 2 de novembro de 1928, na cidade de São Paulo. Se o amigo leitor considera algum jogador de hoje como provocador e arreliento é porque certamente não viu jogar Rodolpho Carbone. Ele era lá daquele pedaço da Zona Leste invadido pelos imigrantes italianos, e, como tal, só poderia mesmo começar sua carreira profissional no Juventus, onde atuou ao lado de Júlio Botelho, o imortal Julinho, antes de se transferir para o Corinthians, que amargava longa fila de dez anos sem títulos, quando, inclusive, fazia do Corinthians uma de suas vítimas preferenciais. Mas, quando chegou ao Parque São Jorge, em 1951, sua ascensão foi meteórica. Naquele mesmo ano, se tornou artilheiro do Campeonato Paulista, com 30 gols. Era o principal destaque de uma linha (Cláudio, Luizinho, Baltazar, Carbone e Mário) que chegou a marcar até 103 vezes em 28 jogos, com a fantástica média de 3,67 por partida, superando pela primeira vez na era profissional a marca dos 100 gols.
Em seus bons tempos, Carbone chegou a ser elogiado na letra da música “Gol de Baltazar”, de Alfredo Borba que dizia: “O Mosqueteiro ninguém pode derrotar, Carbone é o artilheiro espetacular”. Nos anos seguintes, no entanto, o futebol oportunista de Carbone foi caindo de produção. Na campanha do título paulista de 1954 (a do IV Centenário), ele já não era mais titular, cedendo o lugar ao jovem Rafael. Ainda assim, participou de duas partidas, dia 14 e 21 de novembro, quando o Corinthians venceu o Catanduva E. C. por 3 a 1 e o Linense por 2 a 1 pelo segundo turno do campeonato paulista daquele ano de 1954.
ARTILHEIRO E CATIMBEIRO
Estreou no Timão em 29 de abril de 51 num amistoso contra o Nacional do Paraná, e, aos 44 minutos do primeiro tempo, marcou o primeiro de uma inacreditável fieira de gols que o transformaria num dos maiores artilheiros da história da Fazendinha. Neste dia o Corinthians jogou com; Cabeção, Homero e Alfredo; Idário, Touguinha e Julião; Cláudio, Luizinho, Baltazar, Carbone e Nelsinho. Este jogo foi em Rolândia-PR e o Timão venceu por 5 a 2.
Meia ponta-de-lança, como se dizia na época, para diferenciar o meia-armador do meia-ofensivo, Carbone era um jogador com raro faro de gol. Metia-se defesa adentro, para surpreender beques e goleiros. Fazia gols de todo jeito, de canhota, de direita, de cabeça, como viesse a bola. Ah, sim, muitas vezes era deslocado para a ponta-esquerda, fosse para dar entrada na meia a Jackson, fosse para ceder seu posto ao menino Rafael, que também foi outro grande jogador do Corinthians na década de 50. Mas, Carbone não desequilibrava seus adversários apenas nos arranques fatais ou no senso de colocação na área. Era um espinho na alma dos beques e goleiros, com suas provocações e desafios.
Se Luizinho, o Pequeno Polegar, na outra meia, levava os adversários à loucura com seus dribles desmoralizantes, Carbone ia mais fundo: córner cobrado, ao saltar com o goleiro, puxava-lhe o calção, quando não ia mais além na desfeita, que o decoro me impede de citar. “Sentia vontade de mata-lo”, confessou décadas mais tarde o goleiro Poy, do São Paulo. E, num daqueles jantares de veteranos do Corinthians que Cláudio Cristovam de Pinho, o Gerente, promovia, Carbone deleitava-se em lembrar infinidades dessas passagens, com aquele humor típico do Brás, Belém, Mooca e adjacências.
E, naquele ano glorioso de 1951, ano em que finalmente o Corinthians saiu da fila, todos os goleiros sentiam gana de matar Carbone, que findou o campeonato como principal artilheiro, com 30 gols. O ataque do Corinthians era assim formado: Cláudio, Luizinho, Baltazar, Carbone e Mário. Carbone saiu da Fazendinha em 1957 para uma breve passagem pelo Palmeiras, antes de jogar pelo Botafogo de RP e encerrar sua carreira no próprio Juventus, onde tudo começou.
DESPEDIDA
Sua despedida do Corinthians aconteceu dia 12 de janeiro de 1957, num jogo amistoso contra o Rosário Central da Argentina. O jogo foi no Pacaembu e os argentinos levaram a melhor vencendo por 2 a 1. Pelo Corinthians, Carbone jogou de 1951 até 1957 e nesse período disputou 231 partidas (venceu 153, empatou 37 e perdeu 41) Marcou 139 gols e foi campeão paulista de 51/52/54 e do Rio-São Paulo em 53 e 54 com a camisa do alvinegro de Parque São Jorge.
Dia 25 de maio de 2008, Carbone não resistiu a um infarto do miocárdio que teve e veio a falecer. Com isto, a Nação Alvinegra perdeu um de seus ídolos históricos. O meia esquerda da década de 50, um dos principais jogadores nas importantes conquistas do Corinthians de 1951 à 1957, período em que ele orgulhosamente vestiu a camisa alvinegra. Ele faleceu na cidade São Paulo aos 80 anos de idade e seu corpo foi sepultado no dia seguinte no Cemitério da Quarta Parada, na zona leste de São Paulo. A diretoria do Timão lamentou o ocorrido e colocou em seu site oficial uma nota de luto por um dos maiores jogadores da sua história.
PRINCIPAIS CONQUISTAS
Pouco tempo antes de Carbone falecer, houve uma confraternização lá no Parque São Jorge, entre jogadores do passado e do presente e naquela oportunidade Carbone disse: “É muito importante fazer assim uma reunião mensal, rever os amigos. Uma vez por ano é muito pouco. E para as gerações que estão vindo agora, é importante conhecer a história do clube, os jogadores do passado que fizeram história dentro do Corinthians. E também porque ajuda os craques que estão hoje em má situação, que estão passando dificuldades. É o caso do Adãozinho, que está passando por sérios problemas financeiros”. Ainda nesta festa perguntaram à Carbone, “De todas as suas conquistas, quais são as que ficaram mais marcadas na memória”? E Carbone respondeu: “ Teve o campeonato paulista de 1954, do IV Centenário, o Paulista de 1951, em que eu fui artilheiro com 30 gols e o bi de 1952.
Teve também a Copa de Caracas (Pequena Copa do Mundo, que reuniu Roma, Barcelona e a Seleção de Caracas em 1954, da qual o Timão foi campeão invicto), o torneio internacional de Montevidéu. Enfim, tem bastante lembrança, bastante recordação, mas o título de 1951, sem dúvida alguma foi o mais importante da minha carreira. No começo do ano, em fevereiro, o Corinthians conquistou o Torneio Rio-São Paulo com uma campanha de sete jogos, cinco vitórias, um empate e uma derrota. Naquele ano o técnico era o ex-jogador Rato, que conseguiu dar uma grande alegria para a torcida corintiana, quando levou o Timão ao título estadual. O Corinthians passou como um rolo compressor sobre seus adversários e alcançou a fantástica marca dos 103 gols em apenas 28 partidas. Durante o campeonato, aplicou várias goleadas, como por exemplo os 9×2 em cima do Comercial de Ribeirão Preto.
Outra goleada foi 7×1 no Jabaquara, ainda 7×2 em cima do Juventus e 4×0 sobre o São Paulo F.C. Chegava o dia 13 de janeiro de 1.952 e o Estádio do Pacaembu recebeu neste dia, 35 mil pagantes. Juiz da partida foi Francisco Kohn Júnior e com duas rodadas para terminar o campeonato, enfrentou o Guarani de Campinas. Resultado da partida, 4×0 para o Time do Parque São Jorge. Gols de Jackson, Carbone e Baltazar (2). Na última rodada, para fechar com chave de ouro, enfrentamos nosso maior rival, o Palmeiras e o resultado foi de 3×1 para o Corinthians. Este jogo aconteceu dia 27 de Janeiro de 1952 no Estádio Municipal do Pacaembu.
Os gols corintianos foram marcados por: Carbone, Jackson e Luizinho, enquanto que para o Palmeiras marcou Rodrigues. Julião do Corinthians e Liminha do Palmeiras foram expulsos de campo aos 41 minutos do segundo tempo”. E quando perguntaram “De todas as gerações do Corinthians, qual é a aquela que você mais gosta de se lembrar”? Sem pensar um só segundo, Carbone respondeu: “Os corintianos mais velhos, o pessoal que ainda freqüenta o clube, dizem que o melhor time que eles viram jogar foi o Corinthians entre 1950 e 1960. Foi o melhor time que teve. Com Gilmar; Homero e Olavo; Idário, Goiano e Julião; Cláudio, Luizinho, Baltazar, Carbone e Mário.
Carbone é tio de José Luis Carbone, ex-meia do Botafogo carioca e que depois que encerrou a carreira, passou a trabalhar como técnico de futebol. Foi o técnico do Palmeiras, quando decidiu o título paulista em 86 contra a Inter de Limeira, mas não foi feliz, pois a Internacional acabou sagrando-se campeã paulista daquele ano, ao derrotar o Verdão por 2 a 1 em pleno Morumbi. Carbone foi um jogador que escreveu seu nome com letras douradas no Corinthians. Quem viu jogar pode garantir, foi um dos melhores atacantes que o alvinegro já teve em todos os tempos. Por isso, a fiel torcida corintiana o reverencia até hoje.