ESCURINHO: um dos melhores cabeceadores do nosso futebol

                   Luiz Carlos Machado nasceu dia 18 de janeiro de 1950, na cidade de Porto Alegre – RS. Escurinho jogou ao lado de craques como Figueroa, Falcão, Valdomiro, Carpeggiani, e se consagrou ao entrar no final das partidas para resolver as dificuldades com gols de cabeça. É considerado o maior cabeceador dos 100 anos do Internacional de Porto Alegre. Tido como amuleto, costumava entrar no segundo tempo dos Gre-Nais para decidir o jogo. Na semifinal do Campeonato Brasileiro de 1976, marcou um dos gols mais bonitos e importantes da história colorada — depois de uma triangulação de cabeça feita entre ele, Falcão e Carpeggiani.

                  Sem dúvida, a triangulação que reuniu três excelentes craques (esses sim craques), Falcão, Carpeggiani e Escurinho é inigualável. Jamais alguns jogadores conseguirão repetir, e muito menos com tanto brilho e talento. O jogo foi no Beira Rio  contra o  Atlético Mineiro.  Falcão  lançou Paulo César Carpeggiani que, com a chapa do pé jogou a bola na cabeça de Escurinho, que passou para Falcão, que devolveu de cabeça e, novamente de cabeça, Escurinho deixou Falcão de frente pro gol. Ao Falcão só restou dar um toque e sair para o salto da glória pelo feito simplesmente singular.

INTERNACIONAL – RS

                 A ligação de Escurinho com o Inter vem desde sua infância. O jogador era um torcedor fanático e lembra até hoje das visitas que fazia ao terreno onde foi construído o Beira-Rio, na década de 60. A formação de Escurinho como jogador foi toda feita no Inter. Com 11 anos, ele começou sua trajetória nas categorias de base do clube. Sua chegada à equipe profissional aconteceu em 1970, depois de Escurinho marcar 59 gols no Campeonato Gaúcho de juvenis do ano anterior.

                O início foi difícil. O meia lembra que garantir espaço na equipe era tarefa árdua e ele acabou sendo emprestado para clubes do interior gaúcho, voltando a seu clube de coração em 1972 para participar de campanhas vitoriosas em campeonatos regionais. Em 1974, foi titular absoluto da equipe que conquistou o hexacampeonato estadual.

               No ano seguinte, o Inter realizou uma excursão pela Europa para a disputa de amistosos. Escurinho não viajou por não ter renovado seu contrato antes da viagem. Durante a excursão, destacou-se o poder de marcação e o vigor físico de Caçapava e Escurinho passou a exercer a função que definiu como “comandante do banco”.

               O primeiro jogo da decisão do Campeonato Gaúcho de 1975 estava complicado para o Inter. O Grêmio vencia o clássico por 1 a 0 no Estádio Olímpico e sua torcida cantava eufórica com a vitória parcial. Foi quando o técnico Rubens Minelli chamou Escurinho para entrar. O ex-jogador até hoje lembra do silêncio que tomou conta da torcida gremista quando ele se encaminhava à mesa para assinar a súmula. A torcida adversária parecia prever o gol de cabeça do meia, marcado as 45 minutos  do segundo tempo, que empatou a partida e levou a decisão para o Beira-Rio, onde o Inter venceu e conquistou o sétimo título estadual consecutivo. Essa foi só mais uma das partidas decididas por Escurinho nos anos 70. O jogador era um reserva de luxo da equipe bicampeã brasileira em 1975/76 e costumava marcar gols importantes em jogos decisivos.

               Na campanha do bicampeonato nacional, sempre que o técnico Rubens Minelli precisava de uma alternativa mais ofensiva, recorria a Escurinho. O jogador entrava e levava perigo no jogo aéreo, sua especialidade desde as categorias de base. Além de marcar gols, o meia participou de um dos lances inesquecíveis da história colorada, quando fez uma tabela de cabeça com Falcão que iniciou no meio-campo e terminou com a conclusão do camisa 5 já dentro da área do Atlético-MG, adversário naquela semifinal do Brasileiro de 1976.

              Escurinho deixou o Inter em 1978 e rodou por clubes brasileiros e sul-americanos antes de se aposentar em 1986. Sua ligação com o Inter, porém, nunca terminou. Até hoje o ex-jogador é um torcedor fervoroso e conta com orgulho que o ex-presidente Fernando Carvalho declarou várias vezes que vibrava com os gols de Escurinho nos anos 70. No primeiro encontro entre os dois após a conquista do título mundial, o antigo ídolo colorado retribuiu ao dirigente, afirmando: “se eu lhe dei alegrias quando o senhor era criança, o senhor fez um homem de 58 anos chorar.”

OUTROS CLUBES

              No Palmeiras, foi vice-campeão brasileiro em 1978, perdendo o título para o Guarani de Campinas. Neste ano o time do alviverde era o seguinte; Gilmar, Rosemiro, Marinho Perez, Alfredo Mostarda e Pedrinho; Ivo, Escurinho e Jorge Mendonça; Hamilton Rocha, Toninho e Baroninho. No ano seguinte foi para o interior paulista defender as cores da Internacional de Limeira, que no dia 4 de novembro de 1979 derrotou o Corinthians em pleno Pacaembu. Neste dia o técnico Alfredo Sampaio mandou a campo os seguintes jogadores;  Marcos, Isidoro, Beto Lima, Vininho e Donizete; Tornado, Elói e Escurinho; Mazinho, Camargo e Marquinho.

             Os dois gols da Inter foram marcados por Camargo, enquanto que para o Timão, Piter marcou o único tento.  Escurinho jogou ainda nos seguintes clubes; Coritiba, Barcelona do Equador, onde foi campeão em 1981, Vitória, Francana, Bragantino, CSA de Alagoas, Caxias – RS, La Serena, do Chile e por último o Avenida de Santa Cruz do Sul – RS onde veio encerrar sua brilhante carreira em 1986.

TRISTEZA 

               Na noite da festa do centenário do Inter, dia 4 de abril de 2009, lá estava Escurinho, alinhado em um terno de linho branco e um sorriso largo orgulhoso pelo convite do clube. Paulo Roberto Falcão o avistou e o cumprimentou efusivamente: Adivinhe quem chegou?  Escurinho identificou de pronto o amigo pela voz, mas não podia enxergá-lo. Diabético e dependente de hemodiálise, a visão de Escurinho se resume a sombras. Curtiu pouco a festa. Por volta das 23h, sentiu-se mal e foi removido para o Hospital de Pronto Socorro (HPS). Perdeu o restante da homenagem e nem conseguiu falar com seu ex-técnico Rubens Minelli e outros companheiros do passado. 

               Sua saúde se agravou e Luiz Carlos Machado, o Escurinho, ficou internado no Hospital das Clínicas de Porto Alegre. Foi submetido a uma cirurgia de amputação de parte da perna direita devido a sérias complicações provocadas por insuficiência renal e diabetes. Os médicos ficaram mais preocupados em debelar problemas clínicos mais graves que o levaram a respirar por aparelhos. Desde fevereiro de 2009, ele tratava do sistema vascular da perna. Chegou a perder parte do pé, mas não foi suficiente. Ele já tinha passado por uma revascularização, por isso os médicos decidiram pela amputação da perna um pouco abaixo do joelho – explicou o cirurgião vascular Ricardo Berger Soares, do Hospital das Clínicas de Porto Alegre.

               Escurinho deu entrada no hospital no dia 10 de abril de 2009. Ele foi transferido para a UTI do Hospital das Clínicas de Porto Alegre. Durante alguns dias, chegou a respirar com a ajuda de aparelhos. Com ajuda de uma prótese, seu plano agora é voltar a dar aulas em escolinhas de futebol, como fazia antes das complicações de saúde que surgiram no ano passado. Escurinho deixou o hospital depois de 35 dias internado, com a ajuda de cadeira de rodas.

               E emocionado, disse: “Estive bem perto da morte, agora estou bem, deixo uma fase pesada para trás. É incrível como uma situação de extremo perigo é capaz de mudar a cabeça da gente. Primeiro, passei por um grande conflito ao perder uma parte do corpo. Não foi fácil encarar essa decisão. Mas não havia como fugir, e venci essa etapa. Quando tudo parecia sob controle, apareceu um problema médico que me colocou para baixo. Foi quando eu senti o perigo de perto. Eu passei por duas experiências muito difíceis. Uma brutal, ao perder a perna; a outra, ameaçadora, ao passar vários dias no Centro de Tratamento Intensivo.

              Agora, tudo me parece com mais vida. Sou um novo homem. O meu desafio é não parar. Com uma prótese é possível continuar a dar aulas em escolinha de futebol, como fazia antes de ser interrompido pela diabete e pela insuficiência renal. Nestes dias de internação muitas pessoas me ligaram de todos os cantos do Brasil. E é apenas isso que eu necessito: conversar com meus amigos, nada mais”. Para ajudar no tratamento, o Internacional decidiu doar para ele a bilheteria do filme “Nada vai nos separar”, que narra os 100 anos de vida do Colorado, comemorados em 2009.

               Escurinho foi ídolo do Inter dos anos 70 e conquistou o octacampeonato gaúcho e o bicampeonato brasileiro 1975/76 com Falcão, Figueroa, Carpeggiani e Manga. Notabilizou-se por decidir os jogos nos últimos minutos fazendo gols de cabeça. É considerado o maior cabeceador dos 100 anos do Inter com o seu 1m84cm de altura. Quanto ao seu impulso na hora de subir, se devia aos treinamentos que fazia, sempre usava um colete de 8 kilos. No período de 70 a 77, sagrou-se heptacampeão gaúcho e bicampeão brasileiro. Sempre sonhou em ser compositor e gravar um CD. Escurinho morreu dia 27 de setembro de 2011.

 

1976   –   Em pé: Zé Maria, Manga, Figueroa, Vacaria, Marinho Peres e Falcão   –    Agachados: Valdomiro, Jair, Escurinho, Caçapava e Dario

1978   –   Em pé: Rosemiro, Leão, Beto Fuscão, Alfredo, Pires e Pedrinho   –    Agachados: Silvio, Jorge Mendonça, Toninho, Escurinho e Toninho Vanusa
Internacional de Limeira no ano de 1979 com Escurinho de centroavante

 

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