João Batista Sales nasceu dia 19 de janeiro de 1945, na cidade de Conselheiro Pena – MG. Não era um craque, tinha um futebol “folclórico” e “desengonçado”, mas era muito querido pela torcida do Flamengo. Era conhecido por driblar zagueiros e logo depois, perder gols feitos. Ganhou o apelido de “Fio Maravilha”, após marcar o gol da vitória (3 a 2) de uma partida do Mengão contra o Benfica, de Portugal. Foi homenageado pelo cantor Jorge Ben com a canção homônima, que fez muito sucesso no cenário nacional. A canção foi lançada em 1972 e seu refrão “Fio Maravilha, nós gostamos de você” era cantado pela torcida flamenguista durante as partidas no Maracanã. Mas anos depois, o compositor teve de mudar a letra para “Filho Maravilha”, depois de uma briga na justiça sobre direitos autorais. Mas em 2007, o ex-jogador retirou o processo.
FLAMENGO
Levado por seu irmão Germano (ex-ponta esquerda do Flamengo, Milan e Palmeiras) ao Flamengo, Fio Maravilha começou a carreira no clube da Gávea, aos 15 anos. Como profissional jogou de 1965 até 1973. Sua estréia com a camisa rubro negra aconteceu dia 21 de abril de 1965, quando o Flamengo perdeu para o Bahia por 3 a 0. Na década de 70, o Flamengo começou a formar uma geração que daria as maiores glórias para o clube no esporte. Zico, que chegara ao clube em 1967 pelas mãos do radialista Celso Garcia, já se destacava nas escolinhas rubro-negras, enquanto que Fio Maravilha, Zanata, Paulo Henrique, Liminha, Reyes, Rodrigues Neto, Paulo Cesar Cajú e tantos outros, já faziam parte do elenco.
Em 1972, outra grande alegria foi a conquista do Torneio do Sesquicentenário da Independência do Brasil. Porém, aconteceu um desastre também, que seria reparado somente nove anos depois. A goleada de 6×0 do Botafogo fere a alma da torcida rubro-negra. Em 1974, Zico passa a titular da equipe principal do Flamengo e ganha o seu primeiro título como profissional, em cima do Vasco, campeão brasileiro do mesmo ano. O craque rubro-negro dá uma pequena amostra do que seria capaz de proporcionar ao clube. Nos dois anos seguintes, não teve como superar o Fluminense e sua máquina tricolor. Em 1973 João Batista Sales, o nosso querido Fio Maravilha deixou o Flamengo. Nesse período realizou 281 jogos. Venceu 124, empatou 88 e perdeu 69 vezes. Marcou 77 gols com a camisa rubro negra.
VÁRIOS CLUBES
No ano seguinte, Fio Maravilha deixou o Flamengo e foi jogar no Pará, defendendo as cores do Paysandu. Por lá ficou dois anos e foi para o Distrito Federal, onde jogou um ano no Ceub. Em 1977 jogou no Desportiva, do Espírito Santo. Em 1979 voltou ao Rio de Janeiro e jogou no São Cristóvão e foi num jogo contra o seu ex-clube, o Flamengo, que Fio Maravilha marcou dois gols em pleno Maracanã, dando assim, a vitória ao São Cristóvão.
ESTADOS UNIDOS
Em 1981, apareceu uma proposta para jogar nos Estados Unidos, no time New York Eagles. Defendeu a equipe durante uma temporada (quatro meses) e depois recebeu um convite para defender um time semi-profissional de Los Angeles, o Monte Belo Panthers. Foi naquela época que Fio conheceu a cidade de San Francisco, ao jogar no San Francisco Mercury. Gostou tanto da cidade que resolveu ficar por lá, mesmo que tivesse que abandonar a carreira. Foi o que fez, tornando-se entregador de pizzas. E logo se tornou técnico e treinador de equipes de futebol infanto-juvenis.
VISITA AO FLAMENTO
Ao chegar no Brasil, Fio Maravilha fez questão de fazer uma visita ao seu clube do coração, o Flamengo e ao chegar foi recebido por Zico e foi logo dizendo; “Não adianta os atuais atacantes marcarem gols se o Flamengo perder o jogo”. A visita cordial ao Flamengo foi apenas uma maneira de reviver o passado para Fio Maravilha. Atualmente morando em São Francisco, nos Estados Unidos, ele não pensa em voltar ao Brasil tão cedo e prefere assistir seus jogos de beisebol. Após um animado encontro com Zico, o ex-atacante rubro-negro foi perguntado qual o conselho para os atuais atacantes do clube. A resposta veio rapidamente. “A melhor receita do futebol é a vitória, ganhando mal ou bem. Não adianta nada marcar gol e perder o jogo” e disse ainda “A última vez que vim aqui tem uns quatro ou cinco anos. Fiquei muito feliz quando vi que o Zico aceitou o cargo de Diretor Executivo. E falei com a Patrícia hoje. Ela me pareceu uma pessoa muito feliz e boa gente. Mas ainda não penso em voltar ao Brasil, ou ao Flamengo. Ainda vou ficar muito mais tempo nos Estados Unidos vendo beisebol”.
Fio, que diz só lembrar de ter atuado em apenas um jogo ao lado de Zico, mas na verdade, foram mais vezes em 1971. Zico tem na recordação um deles. “Lembro que jogamos juntos na minha estréia pelo Flamengo. Apesar de jogarmos pouco, fizemos uma grande amizade depois. Fio é um cara abençoado pelo carisma e caráter, e vi muita coisa boa dele quando o conheci no começo da minha carreira. Então ficamos muito felizes com a visita dele. É um cara muito alegre e é sempre bom ouvir os mais experientes”.
VISITA A TERRA NATAL
O grande ídolo do Flamengo na década de 70, Fio Maravilha, conselheiro-penense de alma e coração, esteve na sua cidade natal Conselheiro Pena no mês de julho de 2007 e foi muito bem recepcionado. Mesmo meio debilitado, após ter feito cirurgia, João Batista de Sales (Fio Maravilha) esteve na cidade e participou do 30.º Penense Ausente, onde recebeu homenagens de amigos e da diretoria do clube, que colocou o nome FIO MARAVILHA no campo society do Uirapuru. Ao tomar a palavra, Fio disse; “Digo aos jovens penenses para terem muita força de vontade, simplicidade e humildade, para não desistirem de seus ideais e não se envolverem com vícios que não trazem vantagem nenhuma para saúde. Lembro que, quando era jovem, tínhamos uma turma animada e alegre e ninguém precisava se envolver com coisas erradas para isso”. Naquela homenagem ao ex-craque estava presente o fotógrafo e amigo do jogador, Capachildo, que ficou emocionado e sem palavras ao ser questionado o que ele achava de Fio Maravilho. Capachildo destacou a humildade e alegria do amigo, que não mudou nada, mesmo quando estava no auge de sua carreira.
Fio Maravilha disse ainda naquela noite “Cheguei a me arrepender de ir jogar futebol nos Estados Unidos. Falavam que o futebol estava crescendo, que ia ser legal, mas não foi nada disso. Primeiro fui para o New York Eagles, joguei uns meses. Depois para um time de Los Angeles, o Monte Belo Panthers, também durante uns quatro meses. Aí apareceu o Mercury, de São Francisco, onde joguei um mês e pouco, em 79, e foi quando acordei: acho que já é bom parar. Já estou nos Estados Unidos há mais de 30 anos e pretendo continuar morando lá, porém meu coração estará sempre presente nesta cidade, pois foi aqui que eu nasci.
MÚSICA
A letra original, composta em 1972, foi inspirada em uma jogada genial de Fio Maravilha em um amistoso do Flamengo contra o Benfica, no Maracanã. A torcida rubro-negra começou a gritar o nome do xodó Fio. Zagallo prontamente atendeu o pedido. Aos 33 minutos do segundo tempo, o ex-atacante marcou um golaço. O lance virou música. Mas anos depois, o compositor teve de mudar a letra para “Filho Maravilha”, depois de uma briga na Justiça sobre direitos autorais. Mas, no ano de 2007, o ex-jogador disse em uma entrevista em rede nacional que o processo dele contra Jorge Ben foi um mal entendido e ele autoriza o cantor a voltar a cantar a música da forma original, utilizando o nome dele (Fio Maravilha). “Eu tinha um amigo advogado que perguntou: – Escuta, o Jorge Ben falou com você, pediu autorização? – Disse que não e ele perguntou se tinha algum problema procurar o Jorge Ben, porque podia ser até que eu ganhasse alguma coisa.
Disse que não via problema. Aí, ele o procurou várias vezes, mas não foi atendido. Acho que a imprensa descobriu e já saiu falando do processo. Pedi ao advogado para parar com isso, mas ele disse que não dava mais. Eu nem sabia do processo, não queria nada disso”, disse Fio aos jornalistas. O atacante foi derrotado na Justiça e acabou sendo obrigado a pagar os honorários do advogado do compositor. Mesmo assim, Jorge Ben Jor passou a cantar “Filho Maravilha” porque não queria sequer mencionar o nome do novo desafeto.
Hoje, com mais de 70 anos, Fio Maravilha nem pensa em voltar ao Brasil, receoso da violência desenfreada. Esse mineiro de Conselheiro Pena trabalha até hoje como entregador de pizza nos Estados Unidos. Só em duas coisas Fio Maravilha mudou: está muito barrigudo e há muito tempo cuidou para melhor de seu ideal, principalmente dos dentes. Quando começou no Flamengo, Fio só tinha os dois caninos e era conhecido como Fio Vampiro. Vamos terminar esta matéria cantando aquele inesquecível refrão: Fio Maravilha, nós gostamos de você. Fio Maravilha, faz mais um pra gente ver.




