Vicente Matheus Bathe nasceu dia 28 de maio de 1908, na cidade de Zamora, Espanha. Tornou-se nacionalmente conhecido como presidente do Sport Club Corinthians Paulista por oito mandatos, sendo eleito pela primeira vez em 1959, além de ter logrado a eleição de sua esposa, Marlene Matheus, para sucedê-lo. Era considerado um dirigente à moda antiga, que usava recursos próprios para financiar projetos do clube. Era uma figura folclórica que produzia máximas (alguns dizem que propositadamente) carregadas de incorreções e divertiam amigos e desafetos. Como ele mesmo dizia, “tive uma infantilidade muito difícil”. Chegou à São Paulo aos 6 anos de idade, em 1914.
Era o mais velho dos onze filhos de um português casado com uma espanhola. Naturalizou-se brasileiro, tornou-se um empresário da construção civil pesada, mineração de pedreiras (extração de pedras e areia para construção civil). Em 1934, quando começava a fazer fortuna com a pedreira, entrou de sócio do Corinthians e comprou, na rua São Jorge, a casa mais próxima da sede do clube. A residência foi desapropriada anos depois, no entanto Matheus nunca mais se mudou das redondezas do Tatuapé.
PRESIDENTE
Foi se infiltrando na diretoria do clube até que em 1954 era o diretor de futebol quando o time foi campeão do IV Centenário da Cidade de São Paulo. Teve seu primeiro mandato como presidente em 1959 (1959 a 1961). E ganhou gosto pela coisa. Aquela cadeira giratória no Parque São Jorge o fascinou, o estimulou a enfrentar adversários nas urnas até 1991. Foi presidente também nos anos de 1972 a 1981; e 1987 a 1991. Foi em sua administração que o Corinthians venceu o famoso campeonato paulista de 1977, que acabou com o jejum de 22 anos e o primeiro Brasileiro em 1990. Matheus sabia usar a sua força política e popularidade para manobrar. Como não poderia estatutariamente se reeleger em 1991, lançou sua mulher Marlene Matheus à presidência e ficou como vice.
Na prática, dava continuidade ao mandato para desespero da oposição. O Corinthians virou uma espécie de fundo de quintal de sua casa, e não admitia deixá-lo por nada. Vicente Matheus, como tantos dirigentes, queixava-se da mídia. Dizia que muitos repórteres deturpavam o que ele falava. E lamentava que alguns jornalistas chegassem a lhe pedir dinheiro para escrever coisas positivas sobre o Corinthians e sobre sua administração. A mídia, de qualquer modo, foi responsável em grande parte pela fama alcançada por Matheus. Jamais demonstrou interesse em agradar jornalistas. Basta lembrar que, ao contrário do que acontecia com seu irmão, Isidoro Matheus, que, como vice-presidente de futebol do Corinthians, enviava um litro de uísque para cada jornalista esportivo de São Paulo no fim de cada ano. Vicente Matheus não era de presentear repórteres. E costumava dizer, após a entrevista: “Vê se escreve tudo certinho, heim?!”
Hoje, seria difícil Vicente Matheus conviver com esse esquema de patrocinadores e parceiros que acabam influindo muito no clube e chegam até a vender passes de grandes jogadores em pleno campeonato. Matheus resistia até à ideia de a camisa do Corinthians ter o nome do patrocinador. Depois, acabou cedendo. Mas não aceitava palpite de patrocinador. Ele era folclórico e centralizador. Lutava muito pelos interesses do clube. E, verdade seja dita, não usava o Corinthians para ser candidato a algum cargo na política e não roubava dinheiro do clube: ao contrário, chegou a colocar dinheiro do próprio bolso para comprar passes de jogadores (Almir, o Pernambuquinho, em 1960, por exemplo).
HOMEM SIMPLES
O estilo bonachão não passava de “fachada”. Foi o empregado que deu certo e se tornou patrão. Caracterizou-se como empresário de perspicácia nos negócios com seu estilo mandão, inerente à sua personalidade. Matheus nunca escondeu seu jeitão simplório. Trocava palavras nas frases (alguns diziam ser proposital, o que não seria difícil de ocorrer) e administrava o clube como se fosse uma microempresa. Não tinha visão estratégica, com ideia de investimentos ou de marketing. Ainda assim, ninguém duvidava de sua honestidade e amor ao clube. Por isso, Vicente Matheus é lembrado com saudade pelos torcedores.
Não apenas os corintianos, mas todos que achavam que diretor de clube que se leva a sério demais não tem graça. Seu amor pelo “Curintia”, como ele costumava dizer, era simplesmente fantástico. Em meio a torcida alvinegra, ele parecia mais um vovozinho aposentado nos jogos do Timão. Um careca brigão, irritado e irritante, mas que a cada bela jogada do Corinthians deixava escapar seu sorriso dócil de vovô. Com seu jeitão simples (muitas vezes ignorante), sua paixão pelo clube e seu sotaque espanhol, ele cativou a todos, principalmente a Fiel torcida corintiana.
A ÚLTIMA MORADA
Vicente Matheus foi casado duas vezes. Sua primeira esposa, (Ruth Pereira Matheus), era filha de um grande comerciante do bairro de Guaianases. Com ela teve duas filhas, Abigail Matheus e Dalva Matheus. Sua segunda esposa foi Marlene Matheus, que viveu com ele até o dia de sua morte, que ocorreu no dia 8 de fevereiro de 1997. Morreu aos 88 anos, de câncer, após ficar 14 dias internado no Instituto do Coração. Figura polêmica e divertida, Matheus foi sem dúvida um dos maiores dirigentes da história do futebol brasileiro e também de longe um dos mais lembrados pelos torcedores sejam eles corintianos ou não.
Infelizmente seu jazigo está aparentemente abandonado no cemitério da Quarta Parada em São Paulo e por alguma razão que não foi explicada no cemitério, o mesmo encontra-se também interditado. É preciso que alguém faça algo pela memória deste grande homem que hoje está esquecida. O torcedor corintiano que hoje está feliz pelos inúmeros títulos conquistados recentemente, não deixe de fazer uma homenagem a este que já não se encontra fisicamente entre nós, mas cuja alma será eternamente corintiana. Morrer só é o fim quando nos esquecemos daqueles que já não estão mais entre nós. Esquecer de nossos entes queridos é esquecer de um pouco de nós mesmos.
FRASES DE MATHEUS
E como esquecer de Vicente Matheus, se a sua vida foi marcada por amor, determinação, garra e muitas, muitas histórias que ficarão para sempre no folclore do futebol brasileiro. Naturalmente que as suas brincadeiras eram assimiladas “numa boa”. Só podia ser de Vicente Matheus trocadilho do tipo “quem entra na chuva é pra se queimar”, ou propositalmente trocar o nome do volante “Biro Biro” para “Lero Lero”. E quando o mercado europeu acenava com a possibilidade de tirar Sócrates do Corinthians, Matheus dava resposta esculachada para avisar que não tinha negócio: “O Sócrates é invendável e imprestável”. Se recordar é viver, que tal se deliciar com frases divertidíssimas criadas por esse folclórico dirigente. “Comigo ou sem migo o Corinthians será campeão”, debochava a cada início de campeonato.
Matheus se fazia de trapalhão e, sem querer, prognosticou inimaginável fusão de cervejarias extremamente concorrentes quando lascou essa: “Gostaria de agradecer a Antarctica pelas braminhas que nos mandou”. Vicente Matheus voltava de ônibus com a delegação do Corinthians de um jogo do interior, percebendo os jogadores muito cansados ordenou ao motorista parar em um hotel na beira da estrada, desceu primeiro que todos e foi até a recepcionista do hotel que lhe perguntou: O Senhor tem reservas?” E Vicente Matheus de pronto: “Tenho sim, cinco na linha e um no gol.” Na época do acidente radiotativo com Césio, em Goiânia, alguém comentou com ele: “O senhor viu o que o césio fez em Goiânia?” E Matheus respondeu: “Não sei, mas se esse Césio for bom mesmo, pode contratar ele pro Curintia. Ele é do Goias?”
Certo dia, Matheus acordou com tersol e ao chegar ao Parque São Jorge alguém lhe perguntou: “O que aconteceu?” e Matheus disse: “Não sei, acordei com esse tersol no olho”. Então a pessoa tentou corrigir: “Me desculpe, mas aí tem um pleonasmo” e Vicente Mateus arrematou: “Pra falar a verdade, já nem sei mais o que tenho neste olho, uns dizem que é tersol, outros dizem que é pleonasmo”. E quando lhe perguntavam sobre sua administração, ele respondia: “Minha gestação foi a melhor que o Curintia já teve”.
Suas frases célebres marcaram a história do futebol brasileiro. Se Vicente Matheus foi autor de todas essas pérolas, ou simplesmente levou a fama, não se pode afirmar. O melhor mesmo é se divertir! Vicente Matheus foi o maior e mais emblemático presidente da história do Sport Club Corinthians Paulista, por isso, nossa coluna de hoje faz esta justa homenagem à este homem que tanto amou e tanto lutou pela glória do futebol, em especial pelo seu glorioso “Curintia”.
POESIA EM HOMENAGEM A VICENTE MATEUS
Morreu Vicente Matheus
um dos maiores corintianos
e que durante muitos anos
foi o grande presidente.
E é por isso que hoje está
muito triste a fiel
mesmo sabendo que lá no céu
ele está feliz e muito contente.
Feliz porque ele sabe
que muito o amamos
e que dele nós lembramos
com muita emoção.
Pois durante a sua vida
dedicou-se totalmente
só para ver sempre contente
a torcida do Timão.
Homem simples e humilde
e de pouca escolaridade
mas que teve a felicidade
de presidir uma nação.
A nação corintiana
como ele assim chamava
e que tanto ele amava
do fundo do coração.
Como simples torcedor
ou como grande presidente
ele sempre esteve presente
nas mais importantes conquistas.
E como bom corintiano
ele passou a vida inteira
carregando a gloriosa bandeira
do S.C. Corinthians Paulista.
Durante sua vida
ele sempre foi chamado
e por muitos era taxado
de autoritário e miserável.
Porem para o Corinthians
ele foi maravilhoso
um homem carinhoso
gentil e muito amável.
Por isso hoje chora
a torcida corintiana
que no Brasil é soberana
pois são inúmeros os filhos teus.
E com a voz já embargada
eu digo entristecido
descanse em paz óh querido
Sr. Vicente Matheus.
José Carlos de Oliveira




