SILVA: verdadeiro cigano dentro do nosso futebol

                 Walter Machado da Silva nasceu dia 2 de janeiro de 1940, na cidade de Ribeirão Preto – SP. Pelo nome Walter, poucas pessoas o conhece, mas pelo sobrenome Silva, com certeza muitos saberão quem é, pois brilhou no futebol na década de 60, pois jogou no Corinthians de 1962 até 1965 e depois no Flamengo até 1969. No time carioca foi artilheiro em 1965, 66 e 68. A pequena apresentação do ex-jogador, aliás, poderia dizer quase tudo sobre ele, entretanto, Silva é uma das mais completas enciclopédias futebolísticas. Foi um verdadeiro cigano no futebol.

                  Apenas para citar alguns clubes que ele jogou: São Paulo, Botafogo de Ribeirão Preto, Corinthians, Flamengo, Barcelona-Espanha, Santos, Racing-Argentina, Vasco da Gama e Botafogo. Tudo isto, sem falarmos que também disputou a Copa do Mundo de 1966, na Inglaterra. Começou no futebol aos 15 anos de idade jogando no São Paulo F. C. onde fez apenas oito  partidas e não marcou nenhum gol. Foi para o Botafogo de Ribeirão Preto e logo despertou o interesse do Corinthians, que o contratou em 1962.

CORINTHIANS

                 Sua estréia com a camisa do Timão aconteceu dia 21 de março de 1962, quando o Corinthians fez um amistoso contra seu ex-clube e empatou em 2 a 2. Neste dia o Corinthians jogou com; Aldo, Walmir, Clóvis, Ari Clemente e Oreco; Sidney e Rafael; Espanhol, Beirute, Silva e Gelson. Os gols corintianos foram marcados por Silva e Rafael. Durante o período que permaneceu em Parque São Jorge fez dupla de área com Flávio e também com Nei.

                  Era uma época romântica do nosso futebol, onde o Santos mandava no futebol paulista, tanto é que Silva nunca esquece um clássico contra a equipe do Peixe que aconteceu dia 6 de dezembro de 1964, quando o Santos venceu por 7 a 4, foi um jogo memorável com 11 gols, sendo um de Silva, enquanto que Pelé marcou 4 naquela tarde de domingo, onde o velho Pacaembu recebeu quase sessenta mil pessoas.

                   A última partida de Silva pelo Corinthians aconteceu dia 8 de março de 1965, quando o Timão fez um amistoso na cidade de Tiete  com a seleção da cidade e venceu por 3 a 1. Com a camisa do alvinegro de Parque São Jorge, Silva disputou 143 partidas. Venceu 77, empatou 31 e perdeu 35. Marcou 94 gols.

FLAMENGO

               Depois que deixou o Corinthians sem conquistar nenhum título, foi jogar no Flamengo. Sua estréia no Mengão aconteceu dia 27 de maio de 1965, quando o Flamengo venceu o Primeiro de Maio por 5 a 1 num jogo amistoso. Silva é um daqueles casos raros no futebol de jogador que marcou sua passagem por um time sem ter sido formado e sequer ter passado tanto tempo vestindo a mesma camisa. Silva, sobrenome que virou sinônimo de grande atacante na década de 60, passou apenas quatro anos no Flamengo, entre idas e vindas.

                O tempo foi suficiente para que o jogador, ganhasse a famosa pele Rubro-Negra. E ele vestia a lendária camisa 10, que teve Benitez, Rubens, Dida e ainda teria Zico. Habilidoso e excelente cabeceador, Silva teve 20 anos de uma carreira repleta de gols por onde passou.

                Por ser um atacante extremamente inteligente e articulador com espírito de liderança, ficou conhecido como “Batuta”, associação feita ao instrumento usado pelo maestro para reger a orquestra. Em 1964, o Flamengo contratou Silva para reforçar o time e o resultado não poderia ter sido melhor. Ao lado do polêmico Almir Pernambuquinho, Silva se destacou no Campeonato Estadual no Quarto Centenário do Rio e conduziu o time ao título.

                 No primeiro ano de Flamengo, marcou 21 gols em 39 jogos. No ano seguinte, 1966, se manteve em tão boa forma que foi convocado para a Seleção Brasileira. Em 1967 teve uma rápida passagem pelo Santos, mas foi o suficiente para sagrar-se campeão paulista. No ano seguinte estava de volta ao Mengão e novamente foi o artilheiro do campeonato carioca.

SELEÇÃO BRASILEIRA

               Sua estréia ocorreu no dia 1º de maio de 1966, no amistoso em que o Brasil venceu a Seleção do Rio Grande do Sul por 2 a 0. Fez parte dos 47 jogadores que foram convocados pelo técnico Vicente Feola para disputar a Copa de 66, na Inglaterra. Depois de muitos cortes, Silva continuou no grupo, mas não jogou as duas primeiras partidas, sendo que a primeira vencemos a Bulgária por 2 a 0, gols de Pelé e Garrincha e na segunda perdemos por 3 a 1, com Tostão marcando o único gol brasileiro.

                 No último jogo do grupo, enfrentamos Portugal, que tinha o atacante Eusébio em grande fase, tanto é que foi o artilheiro daquele mundial com 9 gols. E para esta partida Vicente Feola escalou Silva fazendo dupla de área com Pelé.  O jogo foi em Liverpool e o Brasil jogou no desespero, acreditando ainda numa classificação.

               Portugal, sem necessidade, adotou também a violência. Pelé sofreu inúmeras faltas e, caído, foi pisado. O Brasil mereceu ser eliminado nas oitavas de final, coisa que não acontecia desde 1934. Simões iniciou a contagem e Eusébio fez mais dois gols. Para o Brasil o único tento foi anotado por Rildo. Neste dia o Brasil jogou com: Manga, Fidélis, Brito, Orlando e Rildo; Denilson e Lima; Jairzinho, Silva, Pelé e Paraná. Com esta derrota o Brasil estava eliminado da competição.  Com a camisa da seleção brasileira, Silva disputou ao todo 8 partidas e marcou 5 gols.

DE VOLTA AO FLAMENGO                 

               Depois de duas temporadas brilhantes, Silva acabou se transferindo para o futebol europeu. Jogou um ano no Barcelona da Espanha, sem grande destaque. Voltou para jogar no Santos, mas retornou ao Flamengo em 1968 para mais uma temporada e meia. Ao todo, balançou a rede 68 vezes em 132 jogos pelo Rubro-Negro e conquistou a admiração do torcedor. Antes de encerrar a carreira, Silva ainda passou pelo Racing, da Argentina, sendo o único artilheiro que o time já teve em sua história.

              Jogou quatro anos com a camisa do Vasco e tornou-se a principal estrela do time campeão carioca de 1970. Em 1971 passou um período de alguns meses emprestado ao Botafogo, mas voltou no ano seguinte ao Vasco e chegou a fazer dupla de ataque com Tostão. Tinha grande talento para recuar e armar jogadas ou partir em arrancadas com dribles sucessivos que muitas vezes terminavam em gols.

               Um atacante de enorme vitalidade, boa impulsão para as cabeçadas e execução perfeita da matada no peito. Mas, mesmo defendendo o Vasco da Gama, o sangue Rubro-Negro o tornou uma das lendas da Gávea. Em 1973, foi defender o Rio Negro de Manaus, na Copa Brasil e depois retornou em definitivo ao Flamengo e como caminho natural de grande parte dos ex-jogadores, Silva trabalhou como treinador e auxiliar após pendurar as chuteiras, em 1974.

               Se firmou como olheiro atuando em divisões de base, mas ganhou as páginas do jornal ao se formar em Direito já sexagenário. Virou Dr. Silva. Graduado em direito, depois de abandonar os gramados, Silva que se parece em demasia com o ator Tony Tornado ainda hoje, preferiu não levar a carreira de advogado adiante. “Terminei a faculdade de direito em 1995, incentivado pela minha família. Cheguei a fazer estágio em um escritório, mas não quis seguir nesta nova profissão. Preferi voltar às origens e resolvi dar expediente de novo aqui”. Silva trabalha fazendo agendamento de casamentos, batizados e festa de formatura na Gávea.  

               Apesar das passagens por muitos clubes brasileiros, e de ser considerado o maior ídolo do Racing de Avellaneda da Argentina, Silva tem o coração rubro-negro e é apaixonado pelo Flamengo. Dentre as suas muitas histórias, estão a vivência de quem viu o ainda menino Zico subir ao gramado do Maracanã ao seu lado e ainda de ter convencido o então presidente do Flamengo, Veiga Brito a contratar Garrincha. Morador de Copacabana, ele conta que não perdeu um velho hábito. Colecionar todos os tipos de pentes. Isso mesmo, é capaz de comprá-los a granel.

               Na mesma velocidade com que “garfa” o cabelo várias vezes por dia. O que lhe rendeu o apelido de Tony Tornado, em alusão ao ator e cantor brasileiro que não se descuida da cabeleira. “Tenho sempre um pente no bolso da camisa. Ele me acompanha em todos os lugares. Acho que essa é a minha maior vaidade, já que continuo só andando de ônibus como na época de jogador” – revelou o ex-jogador. Silva é pai de Waltinho, Wallace (estes ex-jogadores) e Vânia; e avô de Mateus, Jéssica, Jonathan, Maria Vitória e Mariana.

                Silva morreu dia 29 de setembro de 2020. Estava internado há dez dias no Hospital Pró-Cardíaco no bairro de Botafogo, no Rio de Janeiro.                                                                    

Em pé: Augusto, Oreco, Cabeção, Cássio, Eduardo e Ari Clemente    –     Agachados: roupeiro Irineu, Bataglia, Silva, Nei, Rafael e Ferreirinha
1966 – Em pé: Murilo, Manga, Brito, Fontana, Oldair e Roberto Dias    –    Agachados: Garrincha, Alcindo, Silva, Fefeu e Rinaldo
Em pé: Carlos Alberto, Valdir, Brito, Fontana, Dudu, Rildo e Mário Américo   –    Agachados: Paulo Borges, Silva, Lima, Parada e Paraná
Em pé: Andrada, Renê, Paulo César, Alcir, Miguel e Eberval   –    Agachados: Marco Antonio, Roberto Dinamite, Tostão, Silva e Gilson Nunes.
1971 – Em pé: Mura, Ubirajara, Nei Conceição, Osmar, Brito e Valtencir    –   Agachados: Zequinha, Carlos Roberto, Silva, Roberto e Paulo Cesar
1962 – Em pé: Augusto, Oreco, Cabeção, Cassio, Eduardo e Ari Clemente    –   Agachados: Bataglia, Silva, Nei, Ferreirinha e Lucio

Em pé: Augusto, Oreco, Amaro, Eduardo, Ari Clemente e Heitor   –    Agachados: Davi, Nei, Silva, Ferreirinha e Lima
1964   –  Em pé: Oreco, Ari Ercílio, Galhardo, Edson, Eduardo e Heitor   –     Agachados: Marcos, Luizinho, Silva, Flávio e Bazani
1966 – Em pé: Orlando, Manga, Brito, Denilson, Rildo e Fidelis     –    Agachados: Jairzinho, Lima, Silva, Pelé e Paraná
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