CORINTHIANS 1X1 FLUMINENSE – Dia 5 de Dezembro de 1976

                O dia 5 de dezembro de 1976 entrou para a história do futebol mundial como o dia em que uma legião de fanáticos, ou melhor, de Fiéis, invadiu o Rio de Janeiro em nome de uma paixão por um clube, o S. C. Corinthians Paulista. Já se passaram décadas, mas até hoje a data é lembrada por torcedores e jornalistas como o dia da “Invasão Corintiana”, quando mais de 70 mil corintianos foram ao Rio para torcer pelo Timão contra o Fluminense, na semifinal do Campeonato Brasileiro, naquele que foi o maior deslocamento popular por causa de um evento esportivo em todos os tempos.

               Na época, o Corinthians amargava um jejum de títulos que já chegava aos 22 anos, mas inexplicavelmente sua torcida só crescera nesse tempo. Empolgados com a campanha alvinegra no Campeonato Brasileiro daquele ano, os torcedores corintianos esgotaram os ingressos disponíveis para a torcida do Timão, organizaram uma enorme caravana e dividiram o Maracanã com a torcida do Fluminense para assistir à partida, que foi disputada em grande parte sob uma chuva torrencial, deixando o jogo ainda mais dramático.

               O jogo ocorreu no estádio do Maracanã em um domingo, às 17:00h, do dia 5 de dezembro daquele ano. Das quase 147 mil pessoas presentes no estádio, calcula-se que cerca de 70 mil eram torcedores corintianos que se deslocaram de São Paulo em direção a capital fluminense, por ônibus, trem, avião ou automóvel particular.

CHEGADA AO RIO DE JANEIRO

               Mesmo com a promessa de transmissão direta da partida pela TV para o Estado de São Paulo, milhares de corintianos começaram a se dirigir para a cidade do Rio de Janeiro. O movimento na Rodovia Presidente Dutra aumentou a partir do dia 3 de dezembro, dois dias antes da partida, e se intensificou ainda mais no dia seguinte, sábado, dia 4, quando milhares de carros particulares, peruas e ônibus deixaram São Paulo com destino ao Rio de Janeiro, conduzindo torcedores para assistir o jogo no Maracanã.

               O movimento de torcedores quebrou o recorde de volume de tráfego na via, de acordo com o Departamento Nacional de Estrada de Rodagem, que implantou uma operação inédita até o momento e única até os dias atuais, a denominada “OPERAÇÃO CORINTHIANS”.

               Depois da grande movimentação entre sexta e sábado à noite, o tráfico na Dutra estava abaixo do normal na manhã de domingo. Ao chegarem, muitos corintianos percorriam ruidosamente as ruas de Copacabana e áreas centrais do Rio. No sábado de manhã, véspera da partida, havia grande concentração de corintianos na avenida Atlântica e em Ipanema. Os guardas de trânsito não puderam controlar o grande fluxo e, aos poucos, alguns torcedores estacionavam seus veículos no calçadão da praia. O auge da invasão ocorreu a partir das 8:00h de domingo, quando a grande maioria dos corintianos vindos de São Paulo já se concentravam no Rio.

               Os 300 ônibus da torcida organizada Gaviões da Fiel tinham chegado por volta das 4:00h de domingo. Também já estavam presentes integrantes de outras torcidas organizadas corintianas. A presença maciça de torcedores do Corinthians, calculada em torno de 70 mil pessoas, causou certos transtornos no Rio, com engarrafamentos, tumultos, agressões e até o esgotamento de bebidas e cigarros nos bares e lanchonetes das imediações do estádio do Maracanã.

               O Detran e a polícia militar tentaram organizar a “Operação Corinthians” para receber os torcedores que chegavam ao Rio, mas mesmo assim o engarrafamento estendido foi de cinco quilômetros na avenida Brasil, principal via de acesso à cidade. Nas proximidades do estádio do Maracanã, o trânsito fluía lentamente e o engarrafamento se estendeu por mais de dez quilômetros. Já no início da manhã de domingo, pouco menos de dez horas antes do pontapé inicial no estádio, o tráfego era complicado nos túneis Rebouças e Santa Bárbara, quando dezenas de milhares de torcedores começaram a se dirigir para o Maracanã. O policiamento em toda cidade foi feito por cerca de 1.500 soldados da polícia militar carioca.

DENTRO DO ESTÁDIO

               Os portões do estádio do Maracanã foram abertos às 13:00h, com mais de meia hora de atraso e certo tumulto. A demora na abertura ocorreu por conta da conclusão de um concurso da Escola Naval, realizada em pleno Maracanã, durante a manhã de domingo. A torcida corintiana chegou mais cedo ao Maracanã e conseguiu preencher rapidamente mais espaços do estádio que a do Fluminense, o que gerou atritos. Soldados da polícia militar formaram um cordão de alto a baixo das arquibancadas, na 

faixa que a divide ao meio, para acalmar os torcedores. Alguns ainda trocavam insultos e cantavam os gritos de suas torcidas. A torcida corintiana se concentrava especialmente nas arquibancadas (metade) e nas cadeiras, na proporção de 2/3 – não havia corintianos na geral. Foram registrados alguns desmaios e atendimentos médicos, especialmente por conta do forte calor durante toda a manhã e início da tarde na cidade, e até prisões.

               Às 15:00h, duas horas antes de começar a partida, as arquibancadas estavam completamente lotadas. Torcidas de times cariocas dividiram suas preferências. Do lado dos corintianos, haviam algumas bandeiras do Flamengo; do lado do Fluminense, bandeiras do Vasco da Gama. Garrafas e lixos se acumulavam em grandes quantidades, e os banheiros superlotados faziam com que torcedores urinassem em qualquer parte do estádio, sem a menor cerimônia.

               Nas tribunas de imprensa, cerca de 40 emissoras de vários Estados e as principais agências de notícias brasileiras se aglomeravam entre os pequenos espaços reservados para a transmissão da partida. O público pagante foi de 146.300 pessoas acrescidos de cerca de 12.000 menores de 14 anos que não pagavam ingressos, na época.

O  JOGO

               O gramado escorregadio fez com que as duas equipes iniciassem a partida de maneira cautelosa, com muita troca de passes. Em alguns momentos, o jogo apresentou alguma violência por parte dos atletas de ambas equipes. O árbitro baiano Saul Mendes aplicou o primeiro cartão amarelo da partida aos 10 minutos, após Rivelino receber uma entrada forte de Ruço. Aos 19 minutos, o Fluminense chegou ao gol. Após um rápido contra-ataque, Gil cruzou à meia altura na área corintiana. Carlos Alberto Pintinho se antecipou à marcação de Zé Eduardo e desviou a bola, que entrou no canto direito de Tobias.

               Após o gol, o Corinthians tentou reagir e seguiu no campo ofensivo, mas o time tocava a bola em demasia, demorando para chegar ao gol adversário. Romeu insistia em realizar cruzamentos na área do Fluminense, o que facilitava a vida da dupla Carlos Alberto Torres e Edinho. De tanto insistir, o Corinthians chegou ao gol. Aos 29 minutos, em novo escanteio cobrado por Vaguinho, Neca ganhou disputa de cabeça com Rodrigues Neto. A bola sobrou a meia altura na pequena área e Ruço marcou, de meia-bicicleta, no canto esquerdo do goleiro Renato. Durante o intervalo de jogo, a chuva se intensificou, mas o árbitro após consultar os jogadores, resolveu que a partida continuaria.

                Sem poder trabalhar a posse de bola, os chutões foram constantes e frequentemente paravam nas poças d’águas. Mario Travaglini tirou Cléber para entrada de Erivelto, e Duque substituiu Geraldão por Lance. Depois, foi a vez de Givanildo, com problemas na garganta, ceder espaço para Basílio. O jogo seguiu, porém sem jogadas de grande técnica. O Corinthians chegava mais ao ataque, mas sem aproveitar suas oportunidades. Já o Fluminense esbarrava na defesa corintiana. Com o empate no tempo normal, as duas equipes foram para a prorrogação de trinta minutos. O empate persistiu e a decisão foi para os pênaltis.

               Foi então que surgiu o gigante Tobias no gol alvinegro. O arqueiro corintiano defendeu as cobranças de Rodrigues Neto e Carlos Alberto Torres. Somente Doval marcou para a equipe carioca. Por outro lado, Neca, Ruço, Moisés e Zé Maria marcaram para o Corinthians, não havendo necessidade da quinta cobrança. Corinthians 4 a 1 e festa corintiana nas arquibancadas do Maracanã. Neste dia o Corinthians jogou com; Tobias, Zé Maria, Moisés, Zé Eduardo e Wladimir; Ruço, Givanildo (Basílio) e Neca; Vaguinho, Geraldão (Lance) e Romeu. Técnico foi o Duque.

               O jornal “O Estado de São Paulo” estampou na manhã da Segunda-Feira subsequente a épica vitória do clube paulista – “CORINTIANOS SÓ TRABALHAM NA TERÇA”, em letras garrafais na capa do jornal com a defesa de Tobias, que garantia o Corinthians na Final do brasileiro de 1976.

               A delegação corintiana foi recepcionada em Congonhas na manhã de segunda-feira por cerca de oito mil torcedores. A avenida Rubem Berta virou um extenso cordão alvinegro. O ônibus que levou o elenco ao Parque São Jorge foi invadido em movimento, e cerca de dez torcedores “surfaram” no ônibus até chegar ao Tatuapé. Foi algo simplesmente maravilhoso. Nunca uma torcida invadiu outro estado, com tamanha euforia. Os corintianos invadiram literalmente o Rio de Janeiro. Dizem os idiotas que torcida não ganha jogo. Pois ganha.

               Na véspera daquela partida, a Fiel Torcida Corintiana estava fazendo força em favor do seu time que ela tanto ama, pois realmente existe um bando de loucos, loucos por Ti Corinthians.

S. C. CORINTHIANS PAULISTA – 1976      –     Em pé: Zé Maria, Tobias, Moisés, Zé Eduardo, Givanildo e Wladimir      –     Agachados: Vaguinho, Neca, Geraldão, Ruço e Romeu
FLUMINENSE FUTEBOL CLUBE – 1976      –     Em pé: Felix, Toninho, Edinho, Silveira, Zé Mário e Marco Antonio      –     Agachados: Gil, Kléber, Manfrini, Rivelino e Zé Roberto

 

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