Ronei Paulo Travi nasceu dia 7 de maio de 1939, na cidade de Canela – RS. No meio futebolístico era conhecido por Picasso, um apelido que carrega desde criança e que nem ele mesmo sabe o porque. Muitos pensam que desde criança gostava de pintar, daí o apelido, mas ele mesmo confessa que nunca gostou de pintura. Sendo assim, fica uma incógnita sobre seu apelido. Era um goleiro acima da média. Era seguro, tinha ótimos reflexos e sabia sair jogando com extrema facilidade. Era diferenciado dos demais goleiros de sua época. Diziam que ele não enxergava muito bem, principalmente à noite. Esta era a explicação pelos gols que costumava tomar de longe, principalmente quando o jogo era noturno. Começou sua carreira no extinto Cruzeiro de Porto Alegre, no ano de 1960, onde jogou até 1963, quando veio para o futebol paulista, mais precisamente no Palmeiras.
PALMEIRAS
Chegou ao Parque Antarctica no final de 1963. Na época o alviverde tinha um grande time, que era formado por; Picasso, Djalma Santos, Djalma Dias, Valdemar Carabina e Vicente; Zéquinha e Ademir da Guia; Julinho Botelho, Servilio, Vavá e Gildo. O técnico era Sylvio Pirilo. Esta foi a equipe que derrotou o Corinthians por 5 a 2 no dia 4 de dezembro de 1963, pelo segundo turno do Campeonato Paulista. Os gols do alviverde foram marcados por Vavá (2), Julinho (2) e Servilio. Enquanto que para o alvinegro, os dois gols foram marcados pelo ponta esquerda Lima. Este jogo foi no Pacaembu numa quarta feira à noite, que recebeu um público de 50.947 pessoas. O árbitro foi Armando Marques.
Neste ano o Palmeiras sagrou-se campeão paulista e o jogo que decidiu o título do Campeonato Paulista de 1963, aconteceu no dia 11 de dezembro, quando o Palmeiras derrotou o Noroeste por 3 a 0, com dois gols de Servilio e um de Julinho Botelho. O jogo foi no Pacaembu que recebeu neste dia um público de 37.023 pagantes. Neste ano o Palmeiras formou um time que o torcedor palmeirense jamais esquecerá. Alias, era o único que fazia frente ao poderoso Santos de Pelé no início dos anos 60.
Depois de dois anos foi emprestado ao também extinto Prudentina, da cidade de Presidente Prudente. Em 1965 retornou ao Parque Antarctica e no ano seguinte foi novamente emprestado, desta vez para o Juventus da Moóca. Jogando pelo Juventus, Picasso foi eleito o melhor goleiro do Campeonato Paulista de 1965 e isto fez com que o Palmeiras pedisse seu retorno ao Parque Antarctica.
Pelo Palmeiras, Picasso realizou 46 partidas, sendo 29 vitórias, 9 empates e 8 derrotas. Sagrou-se campeão paulista em 1963 e 1966 e campeão do Torneio Rio-São Paulo de 1965. Mesmo jogando poucas partidas, Picasso teve participação importante na conquista do Campeonato Paulista de 1963. Goleiro ágil e com muita elasticidade. No dia 7 de setembro de 1965, na célebre partida inaugural do estádio do Mineirão, quando o Palmeiras representou a Seleção Brasileira e goleou a Seleção Uruguaia por 3 a 0, Picasso entrou no segundo tempo no lugar do contundido Valdir Joaquim de Morais.
SÃO PAULO
Em 1967 foi contratado junto ao São Paulo F.C. Na época o Tricolor tinha um grande time, mas já estava a dez anos de jejum de título, pois o último foi em 1957. Quando chegou no Morumbi o time era o seguinte; Picasso, Renato, Jurandir, Roberto Dias e Edilson; Nene e Lourival; Almir, Adilson, Babá e Paraná. O técnico era Sylvio Pirilo, o mesmo que já havia trabalhado com ele no Palmeiras há 4 anos atrás. Esta foi a equipe que empatou com o Corinthians e 3 a 3 no dia 13 de agosto de 1967 pelo primeiro turno do Campeonato Paulista. Os gols do Tricolor foram marcados por Babá, Adilson e Paraná. Enquanto que para o alvinegro de Parque São Jorge marcaram, Flávio (2) e Rivelino. O jogo foi no Morumbi e o árbitro foi Olten Aires de Abreu.
Picasso foi ídolo numa época difícil. O São Paulo estava construindo o estádio do Morumbi e pouco ligava para os jogadores. Picasso, Jurandir, Roberto Dias, Paraná e outros jogadores, levavam o time nas costas. O resto do time era até engraçado. A cada jogo aparecia um cara contratado a preço de banana. O torcedor não aguentava mais, e nem os jogadores. Foram muitos anos de dificuldades, com um time sem ataque e sem reservas. Jogador titular não tinha direito a folga. A família ficava sempre em segundo plano.
Por ser um ótimo goleiro, chegou a Seleção Brasileira, onde teve a felicidade de jogar em cinco partidas. Na época, a seleção era comandada pelos cariocas e a preferência era a de jogadores do Rio de Janeiro. Em 1968, Picasso estava convocado para defender a Seleção Brasileira que iria excursionar pela Europa. Uma semana antes da apresentação, porem, o azar bateu em sua porta. Fraturou o pé num jogo contra o Santos e com isto ficou vários meses sem poder jogar. Com isto, Felix foi chamado em seu lugar e acabou sendo o titular na Copa de 70, quando conquistamos o Tricampeonato Mundial. Em 1970, finalmente o Tricolor quebrou o jejum e sua torcida finalmente soltou o grito de “É Campeão”.
Picasso ainda estava no São Paulo quando sagrou-se campeão paulista, mas como reserva do goleiro Sérgio. Mas Picasso lembra muito bem daqueles anos de jejum, o São Paulo entrava em campo, digamos, sem pretensão de conquistas. O time era modesto, sem estrelas, e cabia a Roberto Dias os poucos momentos de alegria da torcida. E dessa forma, o São Paulo atravessou uma década inteira até chegar o ano de 1970. Naquele ano, o São Paulo formou uma de suas melhores equipes da sua história. A equipe era assim formada; Sérgio, Forlan, Jurandir, Dias e Gilberto; Edson e Gerson; Paulo, Terto, Toninho Guerreiro e Paraná.
A festa pela conquista do título paulista foi no pequeno estádio Brinco de Ouro da Princesa, em Campinas. Eram 23 horas do dia 9 de setembro de 1970, quando o São Paulo tornava-se Campeão Paulista ao derrotar o Guarani por 2 a 1. Pelo São Paulo, Picasso disputou 161 partidas, sendo 75 vitórias, 45 empates e 41 derrotas. Sagrou-se campeão paulista em 70 e 71, embora como reserva.
OUTROS CLUBES
Logo após a conquista do título, como não tinha muitas oportunidades, Picasso foi emprestado ao Bahia no segundo semestre de 1970, onde assumiu a titularidade e ganhou a Bola de Prata da revista Placar, como melhor goleiro da Taça de Prata daquele ano. Aliás, Picasso foi o primeiro goleiro a ganhar este troféu. No clube baiano ficou apenas um ano, retornando ao Morumbi. Em 1972 foi jogar no Atlético Paranaense ao lado de Sérgio Lopes que havia jogado no Grêmio, Buião que havia jogado no Atlético Mineiro e no Corinthians, Sicupira, que naquele ano foi o artilheiro com 29 gols e é ainda hoje um dos maiores ídolos do Atlético Paranaense com 131 gols marcados com a camisa do rubro-negro paranaense. Outro jogador que jogou ao lado de Picasso foi Joãozinho que havia jogado no Cruzeiro e na seleção brasileira e outros craques. Enfim, o Atlético Paranaense formou naquele ano um grande time e acabou conquistando o título estadual.
Neste mesmo ano de 1972, Picasso também atuou no Grêmio de Porto Alegre, onde jogou por quatro anos. Naquela época o tricolor gaucho tinha um grande time que era formado por; Picasso, Cláudio Oliveira, Ancheta, Beto Fuscão e Bolivar; Carlos Alberto e Iura; Zéquinha, Tarciso, Humberto Ramos e Loivo. O técnico era Carlos Froner. Em 1976 deixou o sul e foi jogar no nordeste, mais precisamente no Santa Cruz, de Recife, onde sagrou-se campeão pernambucano naquele ano. E foi lá no Santa Cruz que Picasso resolveu encerrar sua carreira de jogador de futebol.
Depois de pendurar as luvas, Picasso chegou a trabalhar como treinador. Foi dirigir o Caxias, em 1978, quando o time gaúcho arrancou até bons resultados, ou seja, vitória sobre o Flamengo, no Maracanã e empate com o Corinthians no Pacaembu em 0 a 0. Este jogo aconteceu dia 8 de julho de 1978, pela terceira fase do Campeonato Brasileiro. Neste time do Caxias, o zagueiro da equipe era Luiz Felipe Scolari, o famoso Felipão, campeão mundial na Copa de 2002, como treinador, e atual técnico da nossa seleção.
HISTÓRIAS
Quem passa pelo bairro da Azenha, em Porto Alegre, não pode suspeitar que sobre aquele imponente estádio pintado de cinza claro, localizado na Avenida Carlos Barbosa, pesa uma maldição de muitos anos. Lá, onde o Grêmio treina, se concentra e joga, todos aprenderam que o infeliz que vestir a camisa número 1 do time titular não terá um futuro promissor no time. Poderá viver momentos de glória, mas, mais cedo ou mais tarde, acabará por cair em desgraça. Superstição ou não, a verdade é que, desde 1970, essa tem sido a sina de todos os goleiros do Grêmio.
Por exemplo, Picasso, que depois de brilhar no São Paulo jogou pelo Grêmio entre 1973 e 75, teve sorte ainda mais negra: diziam que era cego, que não enxergava bem à noite, e por isso tomava frangos em jogos noturnos. Amargurado, deixou o clube e o futebol. Há, porém, aqueles que não acreditam no sobrenatural. Rui Carlos Ostermann, o articulado comentarista e editor do departamento de esportes da Rádio Gaúcha, é um deles. Para esse velho conhecedor do futebol dos pampas, a verdade mesmo é que o Grêmio tem uma vocação impressionante para crucificar goleiros.
Sendo assim, Picasso está absolvido de todas as calunias que recebeu enquanto defendeu o tricolor gaúcho. Hoje com 74 anos, Picasso mora no Rio Grande do Sul. Tem três filhos e cinco netos. Era dono de uma madeireira na cidade de Jaquirana, no Rio Grande do Sul, mas depois resolveu vendê-la e hoje leva uma vida tranquila e confortável ao lado dos familiares.