MACHADO: goleiro que tomou 8 gols de Pelé num só jogo

                   Galdino Machado nasceu na Moóca, ex-goleiro do Juventus, Botafogo de Ribeirão Preto e da Ferroviária de Araraquara, XV de Piracicaba e Ponte Preta, tem dois filhos, três netos e uma neta e vive em Ribeirão Preto, há décadas. Nascido no tradicional bairro da Moóca, na zona leste da capital paulista, Machado participou de um episódio inesquecível da história do futebol brasileiro. Ele era o goleiro do “célebre” Botafogo de Ribeirão Preto que levou de 11 a 0 do Santos (oito gols de Pelé) na Vila Belmiro em jogo válido pelo 2º turno do Campeonato Paulista de 1964, um sábado à tarde, jogo este que iremos relatar com detalhes.

                  O mais incrível de tudo, é que neste jogo o arqueiro Machado foi escolhido o melhor jogador em campo, por ter evitado uns 25 gols do Santos. Se ele não tivesse fechado o gol na ocasião, o Santos teria ganho de 36 a 0, e Pelé teria marcado uns 15 gols. Depois que encerrou a carreira de jogador, passou a trabalhar como treinador e dirigiu inúmeros clubes do estado de São Paulo, em especial, times do interior, como foi o caso do Independente de Limeira.

BOTAFOGO

                 Em 1956, o arqueiro do Botafogo de Ribeirão Preto era Machado. E foi neste ano que ele ajudou o Tricolor de Ribeirão a conquistar o título da Segunda Divisão do Campeonato Paulista. O jogo foi contra o Paulista de Jundiaí e foi disputado na capita paulista, no estádio do Parque Antarctica. Neste dia o Botafogo jogou com; Machado, Julião, Fonseca, Digão, e Gil; Mário e Ponce; Noca, Moreno, Neco e Guina. O técnico era Agnelli. Após o jogo a torcida botafoguense invadiu as ruas de Ribeirão Preto para comemorar este título que entrou para a história do clube.

                 Era uma época dourada do futebol, principalmente para os times do interior. Todas as finais para decidir quem subiria para a divisão de elite do futebol paulista, eram disputadas na capital paulista, e as duas torcidas lotavam o estádio, pois recebia inúmeras caravanas que vinham de longe para torcer por sua equipe. E não foi diferente com as torcidas de Botafogo e Paulista.

                 Um fato pitoresco que aconteceu com Machado ainda quando jogava pelo Botafogo. Em 1963 jogavam Guarani x Botafogo de Ribeirão Preto em Campinas. Um clássico interiorano que já ia para o fim do jogo com o placar de 1 x 1. Foi quando o arbitro Apitou um pênalti contra o Botafogo. Todo o time do Botafogo foi contra o árbitro reclamando. E o jogo ficou por um bom tempo paralisado, naquele chuta, não chuta o pênalti. Foi quando o centro avante Paulo Leão do Guarani teve uma ideia. Chamou o goleiro Machado, e disse; Olha aqui Machado, eu tenho um compromisso ainda hoje e se essa pendenga não se resolver vamos sair daqui mais de meia noite.

                  Vamos fazer o seguinte: Eu vou chutar esse pênalti fora, diga a seus colegas. Todos concordaram. O arbitro colocou a bola na cal, e Paulo Leão bastante relaxado com as mãos na cintura esperando o apito do arbitro, e quando ele veio, Paulo Leão correu para a bola e encheu o pé para as redes. Machado ficou furioso por ter sido enganado, assim como todos os seus companheiros.

                 Neste ano de 1963, o Botafogo teve um de seus melhores times de sua história. Machado, Ditinho, Veríssimo, Tiri e Da Silva; Hélio e Adalberto; Zuino, Alex, Antoninho e Rezende. Este foi o time que empatou com o Corinthians dia 18 de agosto de 1963. O jogo foi realizado no estádio Luiz Pereira, na cidade de Ribeirão Preto. O árbitro da partida foi Armando Marques e o gol botafoguense foi anotado por Da Silva, enquanto que Manoelzinho marcou o gol corintiano.

FERROVIÁRIA

                 Para reformular o elenco e voltar à divisão Especial em 1966, a Ferroviária contratou o veterano goleiro Galdino Machado e se deu muito bem. Machado foi destaque do time grená Campeão da Divisão de Acesso, a segunda divisão. As boas atuações de Machado o consagraram como ídolo da torcida afeana por quatro temporadas e comandante do tricampeonato do interior, 67, 68 e 69. Com a camisa da Ferroviária, Machado fez grandes exibições. Uma das  grandes atuações de Machado foi naquele 4 de fevereiro de 1968, contra o São Paulo FC, no Morumbi, com vitória da Ferroviária por 2 a 1, gols de Valdir e Téia, enquanto que o gol do Tricolor foi anotado por  Rossi contra.

                 Neste dia o técnico Diede Lameiro mandou a campo os seguintes jogadores; Machado, Baiano, Belluomini, Rossi e Fogueira; Bebeto, Maritaca (Leocádio) e Bazani; Valdir, Téia e Pio. O técnico do São Paulo, Silvio Pirilo escalou o seguinte time: Picasso; Renato, Jurandir, Roberto Dias e Edílson; Lourival, Nenê e Ismael; Valter, Babá e Paraná.

                Outra partida que Machado guarda na lembrança, foi aquela realizada dia 1 de junho de 1968, quando a Ferroviária derrotou o Corinthians por 4 a 1 em pleno Pacaembu. O árbitro da partida foi Oscar Scolfaro e os gols da Ferrinha foram anotados por; Maritaca, Bebeto, Téia e Bazani. O único gol corintiano foi anotado por Paulo Borges quando o jogo já estava 4 a 0. Vale lembrar que o time do Corinthians foi praticamente o mesmo que quebrou o famoso tabu contra o Santos a três meses atrás. Machado com seu espírito de líder colaborou para formação de uma boa safra de goleiros que o sucederam como : Carlos Alberto Álimari, Sérgio Bergantin e Getúlio. Com a camisa número 1 da Ferroviária, Machado realizou 111 jogos. Conquistou 66 vitórias, 25 empates e 20 derrotas.

UM DIA NEGRO

                  Assim como Machado tem na lembranças grandes partidas, onde saiu de campo com a vitória, também tem alguns que ele prefere esquecer, como foi aquele do dia 21 de novembro de 1964. A tabela marcava para este dia o jogo entre Santos e Botafogo de Ribeirão Preto na Vila Belmiro pelo segundo turno do Campeonato Paulista. No meio da semana o Santos tinha sido goleado pelo Guarani, em Campinas, por 5 a 1. O time chegou a Campinas exausto de jogos no exterior e em cima da hora para enfrentar o perigoso Guarani, cujo técnico, afirmou antes da partida que estava otimista de que  venceria o Santos. E venceu mesmo! O Santos tinha uma particularidade: quando estava “mordido”, entrava em campo para arrebentar. E a derrota vexatória no meio da semana deixou o time fulo da vida. Todos já pressentiam que algo espetacular poderia acontecer naquele sábado de muita garoa na baixada Santista.

                 O Botafogo não era um time ruim, longe disso, tanto que no primeiro turno vencera o Santos, em Ribeirão, por 2 a 0, mas seria difícil segurar Pelé & Cia loucos para apagar a má imagem da derrota em Campinas. Está certo que no jogo do primeiro turno Pelé não jogou, substituído por Rossi. Mas a verdade é que o Botafogo era um dos melhores times do interior paulista, dirigido pelo conceituado técnico Oswaldo Brandão e com um goleiro que impunha respeito, o Machado. Neste dia o Botafogo jogou com; Machado; Ditinho, Hélio Vieira, Tiri e Carlucci; Berguinho e Adalberto; Zuíno, Alex, Antoninho e Gaze. Do outro lado o técnico Lula mandou a campo os seguintes jogadores; Gilmar, Carlos Alberto, Modesto, Haroldo e Geraldino; Lima e Mengálvio; Toninho Guerreiro, Coutinho, Pelé e Pepe.

                  Bem, a história desta partida tão distante hoje é bem conhecida. Mas imagine, a alegria do torcedor santista naquele dia ao final do primeiro tempo ao ver seu time já vencendo por 7 a 0, sendo que 5 dos gols foram de Pelé, os outros dois foram de Pepe e Coutinho. No intervalo do jogo o roupeiro do Santos apanhou a bola e guardou-a de recordação. Foi necessário providenciar uma nova bola para a segunda etapa. Muitos apostavam que o Botafogo não voltaria para o segundo tempo. Seria uma vergonha tomar de dez, os torcedores do Botafogo argumentavam, preocupados com a marca histórica que o Santos teria.

                 Mas o Botafogo, que por sinal não deu pontapés e jogou limpamente, não só voltou para a segunda etapa, como sofreu mais quatro gols e saiu da Vila Belmiro com a derrota inesquecível por 11 a 0. Os outros quatro gols foram marcados por Pelé (3) e Toninho Guerreiro. Vale lembrar que o Santos foi o campeão paulista de 1964, enquanto que o Palmeiras ficou com o vice campeonato um ponto na frente da Portuguesa, pois na última rodada o Palmeiras venceu o Comercial por 2 a 0, enquanto que a Lusa perdeu para o Santos por 3 a 2. O artilheiro do certame foi Pelé com 34 gols.

                 Machado ao recordar aquele dia que entrou para a história do futebol, comenta “Eu não achava que merecia ser o melhor jogador daquela partida. Logo que acabou o jogo, a torcida do Santos me aplaudia e o técnico Oswaldo Brandão veio na minha direção dizendo que tinha uma surpresa para mim. Os repórteres vieram na minha direção e eu fiquei indignado. “Como isso?”, eu perguntei a eles. Aí me contaram que Pelé me elegeu o melhor jogador em campo. Pelé disse que se não fosse por mim, ele não teria feito oito gols, seria muito mais”.

                  E quando lhe dizem que ele foi o melhor goleiro que já vestiu a camisa do Botafogo de Ribeirão Preto, Machado diz “Isso eu não posso dizer. O Botafogo teve ótimos goleiros ao longo de sua história. Mas eu não tinha ambição na vida, fiquei 12 anos no clube. Antigamente você era patrimônio do clube, hoje os jogadores são patrimônio dos empresários. Machado faleceu dia 15 de maio de 2015.

Em pé: Belvoni, Brandão, Fogueira, Joãozinho, Rossi e Machado   –    Agachados: Valdir, Leocádio, Téia, Bazani e Pio
1955 – Em pé: Digão, Tarciso, Tiri, Guina, Antonio Julião e Machado   –    Agachados: Laerte, Silva, Antoninho, Henrique e Géo
Em pé: Tarciso, Antonio Julião, Gil, Tiri, Benedito Julião e Machado   –    Agachados: Zuíno, Laerte, Antoninho, Henrique e Geo
Em pé: Tiri, Tatau, Tarciso, Antonio Julião, Ditinho e Machado    –   Agachados: Zuíno, Alex, China, Nair e Juan
Em Pé: Joãozinho, Fogueira, Rossi, Brandão, Adão e Machado    –    Agachados: Passarinho, Leocádio, Teia, Bazani e Pio

Em pé: Nico, Rossi, Oliveira, Fogueira, Baiano, Machado, a atriz Jackeline Mirna e o presidente Aldo Comito    –     Agachados: Waldir, Maritaca, Téia, Bazani e Nei
Em pé: Machado, Sula, Antônio, Julião, Gonçalves e Dicão     –    Agachados: Fernando, Moreno, Amorim, Neco e Paulinho
Postado em M

Deixe uma resposta