Almir Morais de Albuquerque nasceu dia 28 de outubro de 1937, na cidade de Recife – PE. Foi um atacante hábil e de muita disposição em campo. Teve várias passagens pela Seleção Brasileira e atuou em vários clubes brasileiros, como por exemplo, Sport Club do Recife, Vasco, América carioca, Santos, Flamengo e Corinthians. Também jogou no Boca Juniors, da Argentina e no Genoa, da Itália. Durante sua carreira, sempre foi um jogador de personalidade forte e explosiva, com justa fama de encrenqueiro, Almir protagonizou algumas das maiores polêmicas do futebol de sua época. Envolveu-se em diversas brigas, normalmente provocadas por ele mesmo. Entre essas brigas, destacam-se uma batalha campal entre os jogadores do Brasil e do Uruguai em partida realizada em 1959 entre as seleções dos dois países e, principalmente, a briga provocada por ele na final do Campeonato Carioca de 1966, quando jogava pelo Flamengo e decidia o título com o Bangu.
VASCO DA GAMA
Almir começou a jogar futebol profissionalmente, vestindo a camisa do Sport Clube Recife, em 1956, aos 19 anos. Foi rubro-negra a primeira camisa de Almir. Ainda no Sport, onde deu seus primeiros passos Almir sagrou-se “campeão do centenário” na categoria juvenil, em 1955. Não demorou muito para chamar a atenção dos dirigentes do Vasco da Gama, que previram para aquele rapaz o mesmo sucesso que obtiveram outros rubro-negros na equipe vascaína, como Ademir de Menezes e Vavá. De fato, Almir foi um sucesso ao ser lançado na equipe principal durante o campeonato carioca de 57, do qual foi considerado a revelação, e foi figura fundamental nos títulos do torneio Rio-São Paulo e do Campeonato Carioca de 58, que naquele ano o time era; Barbosa, Dario, Bellini, Orlando e Coronel; Écio e Rubens; Sabará, Almir, Vavá e Pinga.
Sua raça, valentia e espírito de luta eram contagiantes e empolgavam a torcida, e seus dotes técnicos não ficavam atrás. Caso Pelé não tivesse se recuperado a tempo de uma contusão para a Copa de 58, Almir era o jogador mais cotado para ser convocado para a sua vaga. Porém, no ano seguinte, Almir foi convocado para a seleção que disputou o Campeonato Sul-Americano em Buenos Aires. Foi quando começou a adquirir o rotulo de brigão e violento. Primeiro, foi o pivô de um enorme sururu no jogo Brasil 3×1 Uruguai, no Sul-Americano. Cinco meses depois, numa partida contra o América, houve um lance de bola dividida com o jogador Helio, que saiu com a perna fraturada e nunca mais voltou a jogar. Apesar disso, a categoria de Almir era incontestável, chegando inclusive a ser denominado “Pelé Branco”.
CORINTHIANS
Finalmente, no inicio de 60, o Vasco teve que liberá-lo mediante uma proposta irrecusável por parte do Corinthians. Foi a transação mais cara da época, ou seja, seis milhões e meio de cruzeiros. Dizem que foi pago do próprio bolso do então presidente Vicente Matheus. Sua missão era equilibrar a hegemonia do futebol paulista com o Santos e encerrar o jejum de títulos corintiano. Mas o Pernambuquinho, como também era chamado, teria causado ciúmes no elenco. Sua estréia no time alvinegro de Parque São Jorge aconteceu no dia 5 de abril de 1960, num amistoso contra o Vasco, pois fazia parte do contrato. Neste dia o Corinthians jogou com: Gilmar (Cabeção), Egidio, Olavo, Ari Clemente e Oreco; Benedito e Rafael; Lanzoninho, Almir (Luizinho), Higino (Batáglia) e Evanir. O Corinthians venceu por 3 a 0 com gols de Almir, Rafael e Lanzoninho. Com a camisa corintiana Almir disputou somente 29 jogos. Venceu 13, empatou 7 e perdeu 9. Marcou 5 gols. Sua última partida pelo Timão aconteceu dia 4 de janeiro de 1961, quando o Corinthians perdeu para o Flamengo por 2 a 1 pelo Torneio Octogonal de Verão.
BOCA JUNIORS
Depois de uma curta passagem pelo alvinegro de Parque São Jorge, foi jogar no Boca Junior, da Argentina e sua estréia foi justamente contra o Corinthians, num amistoso internacional. O jogo foi no estádio de La Bombonera e o Boca venceu por 5 a 0, sendo que Almir marcou dois gols. Este jogo aconteceu no dia 11 de junho de 1961. Depois de criar inúmeras confusões no clube argentino, foi vendido ao Genoa, da Itália, onde também ficou pouco tempo.
SANTOS F.C.
Sua passagem pelo time italiano também foi curta e logo regressou ao Brasil, desta vez para jogar no Santos, que tinha um excelente time na época e iria decidir o mundial contra o Milan. No primeiro jogo o Santos perdeu por 4 a 2 lá na Itália. Pelé, que marcou os dois gols santistas na primeira partida, estava fora do restante da decisão. Seu substituto, Almir, promete acertar Amarildo e dar o título aos santistas no segundo jogo. E o segundo jogo foi no Maracanã dia 14 de novembro de 1963. O primeiro tempo terminou com 2 a 0 para o Milan, mas no segundo tempo, Almir cheio de raça e disposição contagiava a virada sensacional do Santos. Com dois gols de Pepe, um de Almir e outro de Lima, o Santos venceu pelo mesmo placar da primeira partida.
Dois dias depois, Santos e Milan estavam de volta ao Maracanã para decidirem o título. O Santos jogou com; Gilmar, Ismael, Mauro, Haroldo e Dalmo; Lima e Mengálvio; Dorval, Coutinho, Almir e Pepe. Foi um jogo arrastado, de estudos, e que foi decidido num pênalti bem cobrado por Dalmo. Com 1 a 0, o Santos sagrou-se Bicampeão Mundial Interclubes. Anos depois, Almir deu uma declaração que naquele jogo ele entrou em campo completamente dopado. Pelo Santos, Almir conquistou os títulos de bicampeão da Taça Brasil em 1963 e 64, Paulista em 1964, Libertadores em 1963 e, finalmente o Mundial Interclubes em 1963. Em 1965, Almir estava de volta ao futebol carioca.
FLAMENGO
Depois de alguns anos Almir voltou ao Rio de Janeiro para jogar no Flamengo, onde permaneceu até 1967. Durante esse período, arrumou várias confusões, sendo a maior delas na final do Campeonato Carioca, quando o Flamengo decidiu o título com o Bangu, que na época tinha um grande time: Ubirajara, Fidelis, Luiz Alberto, Mário Tito e Ari Clemente; Jaime e Ocimar; Paulo Borges, Cabralzinho, Ladeira e Aladim. E foi com este time que o Bangu sagrou-se campeão carioca de 1966, ao vencer o Flamengo por 3 a 0. Este jogo aconteceu no dia 18 de novembro de 1966, no Maracanã. Depois de alguns anos, Almir deu a seguinte declaração: “Para jogar esta partida, eu tomei dois Dexamil. Outros jogadores tomaram também, porque nessas horas a bolinha aparece não se sabe como. Há sempre alguém oferecendo: quem quiser tomar, toma mesmo.
Silva não tomou, não gostava. Também não tomaram nada nossos homens do meio campo: Carlinhos e Nelsinho. Aquela decisão para mim era normal, não era a bolinha que iria me prejudicar. Havia outros problemas. Um deles era o juiz Airton Vieira de Moraes, o Sansão, que eu acho que também foi comprado. Só isso explica a conversa que ele teve comigo antes mesmo de começar a partida. Nós ainda estávamos fazendo aquecimento muscular no campo, batendo fotografias, dando entrevistas, quando Sansão se aproximou de mim e já foi advertindo: – Olha aí, Almir, eu estou de olho em você. Muito cuidado que eu vou te expulsar. Eu nunca dei bola para juiz nem para o Sansão, que é forte, nem para Armando Marques que é metido a enérgico.
Começou o jogo e nós tomamos dois gols em três minutos, entre os 23 e 26 do primeiro tempo. O Bangu virou o primeiro tempo com a vantagem de 2×0, gols de Ocimar e Aladim. Naquele dia Paulo Borges fazia misérias, justificando seu apelido de Gazela – Vai ser um massacre, pensei. No vestiário, no intervalo, o clima era muito pesado. Nós tínhamos consciência de que não dava mesmo para vencer o Bangu. Logo aos três minutos, ficamos grogues com o gol de Paulo Borges. Com 3 a 0 era o fim. O Flamengo ia sofrer uma goleada humilhante.
Além de nos golear o Bangu queria ensaiar um baile. Mas eu já havia decidido, eles não vão dar a volta olímpica. Eu já estava com raiva, e o sangue subiu à cabeça por volta dos 25 minutos quando o jogador Ladeira do Bangu discutiu com Paulo Henrique e deu um soco na cara dele. Mas Ladeira não esperou. Viu que eu estava uma fera, saiu correndo, eu fui atrás dele para dar-lhe uma surra. No meio do caminho, o nosso zagueiro Itamar, um mulato de um metro e noventa de altura, deu um salto e meteu o pé com vontade no peito de Ladeira. Ele caiu, eu vinha na corrida, fui logo chutando. A essa altura o campo era uma zorra. Recebi o troco na hora.
Como os banguenses queriam brigar, topei a parada. Olhei o bolo de jogadores e disse comigo mesmo: – Tudo o que estiver com camisa de listras brancas e vermelhas é inimigo. Comecei a distribuir socos e pontapés. Eu estava cercado por jogadores do Bangu, mas fui enfrentando todos eles. E todo mundo entrou na briga. Veio a policia e acabou com a festa. O juiz Airton Vieira de Moraes acabou cumprindo o seu papel: expulsou cinco jogadores do Flamengo e quatro do Bangu. Com isso, o Flamengo ficava com seis jogadores no campo, o jogo não podia prosseguir. Sansão deu a partida por encerrada, e o Bangu campeão”. E assim, de forma lamentável terminou o campeonato carioca de 1966.
Almir foi assassinado em 6 de fevereiro de 1973 por um grupo de portugueses, no bar “Rio-Jerez”, em frente à Galeria Alaska, em Ipanema, no Rio de Janeiro. Almir, com 36 anos, “catimbeiro, valente e brigão”, envolveu-se numa discussão e acabou morto a tiro ao intervir em uma situação onde seus assassinos estavam mexendo com travestis. Esta é a história de um jogador que só arrumava confusão, mas na próxima semana, o nosso leitor irá conhecer a história de um jogador que era um exemplo de disciplina. Até lá e uma boa semana a todos.