Paulo César de Araujo nasceu dia 27 de outubro de 1934, na cidade de Santos (SP). Durante toda a carreira de Pelé, ele teve somente três grandes companheiros de área. Pagão, Coutinho e Toninho Guerreiro. Pelé sempre diz, que todos foram muito importantes, no entanto, Pagão foi aquele que esteve ao seu lado no início da carreira profissional. Foi quem lhe ensinou muitas coisas, e também foi aquele que lhe deu muitos gols de presente, chegando assim, inúmeras vezes a artilharia dos campeonatos que disputou.
Por isso, Pelé jamais esquecerá do grande amigo e companheiro Pagão, de quem se lembra com muita saudade, daquele tempo que chegou na Vila Belmiro com apenas 16 anos de idade e foi muito bem recebido por jogadores que na época, já eram famosos e respeitados dentro do cenário nacional e, entre eles estava Pagão, o camisa 9 do Peixe no ano de 1956, ano em que ficou bicampeão paulista. Na época o Santos tinha o seguinte time; Manga, Ivan, Ramiro, Feijó e Formiga; Zito e Jair da Rosa Pinto; Tite, Pagão, Del Vecchio e Pepe.
O jogo que garantiu o título de 1956 ao Peixe aconteceu no Pacaembu e o adversário foi o São Paulo F.C. O Santos venceu por 4 a 2, com Del Vecchio marcando dois gols, Feijó e Tite completando a vitória santista. Neste ano de 1956, Pagão balançou as redes adversárias 34 vezes. Já no ano seguinte, o atacante marcou 33 gols, com 59 partidas disputadas. O começo de sua carreira aconteceu na várzea santista. Algum tempo depois foi jogar no Jabaquara Atlético Clube, levado pelo Papa, um descobridor de talentos na cidade de Santos. Depois passou pela Portuguesa Santista, indo para o Santos no ano de 1955.
SANTOS F.C.
Chegou no Santos a tempo de conquistar o bicampeonato de 1955/56. Dono da camisa 9 do Peixe, Pagão jogou até 1963 e nesse período, conquistou inúmeros títulos no Santos. Foi campeão paulista de 1955, 56, 58, 60, 61 e 62. Campeão da Taça Brasil de 1961 e 62. Campeão Sul-Americano, que hoje chamamos de Taça Libertadores da América em 1962 e Campeão do Torneio Rio-São Paulo de 1959. Foi artilheiro em vários campeonatos. Está entre os nove primeiros artilheiros da história do Peixe. Jogando pelo Santos, Pagão teve muitos momentos de felicidade, pois ao lado de grandes craques, realizou partidas memoráveis, que não só o torcedor santista lembra com saudade, mas também todo aquele que ama o futebol arte.
Por exemplo, quem não se lembra daquele jogo fantástico que aconteceu no dia 6 de março de 1958, uma quarta feira à noite, quando o Santos enfrentou a Sociedade Esportiva Palmeiras pelo campeonato paulista daquele ano? O alviverde tinha na época, um grande time, com jogadores de nível de seleção, como; Dema, Waldemar Carabina, Valdemar Fiume, Formiga, Nardo, Mazzola e tantos outros. No entanto, jogando pelo Santos, encontrávamos outras feras, como; Dalmo, Urubatão, Zito, Jair da Rosa Pinto, Pelé, Pepe e o camisa 9 Pagão. Até nos bancos de reserva, a disputa era sensacional. No banco do Palmeiras estava Osvaldo Brandão e no banco do Peixe, estava Luiz Alonso Peres, mais conhecido por Lula. Este foi sem dúvida alguma, o maior jogo da história entre os dois clubes, pois o placar foi de 7 a 6 para o Santos. O árbitro foi João Etzel Filho e neste dia, o Pacaembu recebeu um público de 43.068 pagantes, proporcionando uma renda de Cr$ 1.676.995,00.
Neste dia o Santos jogou com; Manga, Hélvio, Fioti, Ramiro (Urubatão) e Dalmo; Zito e Jair da Rosa Pinto; Dorval, Pagão, Pelé e Pepe. Os gols da partida foram marcados na seguinte ordem; Urias, aos 18 minutos, Pelé aos 21, Pagão aos 25, Nardo aos 26, Dorval aos 32, Pepe aos 38 e Pagão aos 46 minutos do primeiro tempo, que terminou com a vitória do Peixe por 5 a 2. Veio o segundo tempo e Paulinho marcou aos 16 minutos, Mazzola aos 19 e aos 27 empatando a partida em 5 a 5. O Palmeiras passou a frente do marcador através de Urias aos 34, mas Pepe empatou aos 38 e desempatou aos 41 minutos do segundo tempo. Realmente foi um jogo inesquecível e Pagão estava lá. Com a camisa do Santos, Pagão marcou 159 gols e é o nono artilheiro da história do Santos F. C.
SÃO PAULO F.C
Em 1963, Pagão foi jogar no São Paulo F.C. onde ficou por dois anos. Com a camisa do tricolor do Morumbi, Pagão realizou 59 partidas. Venceu 29, empatou 16 e perdeu 14. Marcou 14 gols. Nesse período, realizou inúmeras partidas que lhe trouxeram muitas alegrias, como por exemplo aquela do dia 15 de agosto de 1963, quando o São Paulo goleou o Santos por 4 a 1. Neste dia, aconteceu algo inédito na história do Peixe. Fugiu de campo. Este jogo entrou para a história como o jogo em que o Santos usou o recurso do “cai cai”. O jogo foi no Pacaembu, o árbitro foi Armando Marques.
O jogo começou equilibrado. Faustino abriu o placar para o tricolor aos 5 minutos. Pelé empatou aos 21. Mas nos oito minutos finais do primeiro tempo, aconteceu de tudo. Benê marcou o segundo gol do São Paulo aos 37 e Sabino marcou o terceiro aos 40 minutos. Final do primeiro tempo, 3 a 1 para o tricolor. Aí começou a confusão. Os santistas protestaram, o árbitro não tolerou as reclamações e expulsou Pelé e Coutinho. O time do Santos estava indignado, mas não adiantaram as desculpas. O Santos teria de voltar para o segundo tempo com nove jogadores. No intervalo, Osvaldo Brandão, técnico do São Paulo, sentenciou; “Este jogo não vai acabar, o Dr. Nelson Consentino, médico do Santos, já me disse que vão melar o jogo”. E foi o que aconteceu.
O Santos voltou a campo com oito jogadores, pois o lateral direito Aparecido, que havia estreado naquela tarde, ficou “contundido” no vestiário. O jogo recomeçou e logo aos sete minutos, Pagão marcou o quarto gol do tricolor. Começou então o cai-cai. Pepe e Dorval resolveram cair e esperar a maca, para não mais voltarem ao gramado. O árbitro Armando Marques deu a partida por encerrada, pois o Santos não tinha jogadores suficiente para prosseguir a partida. Final de jogo, vitória do São Paulo sobre o Santos por 4 a 1. Neste dia o São Paulo jogou com a seguinte formação; Suly, Ilso Neri, Bellini, Jurandir e Deleu; Roberto Dias e Benê; Faustino, Cecílio Martinez, Pagão e Sabino.
CRAQUE QUE DEIXOU SAUDADE
Em 1965 retornou ao Santos, onde jogou mais algum tempo, depois tentou nos Estados Unidos, mas não deu certo. Então resolveu encerrar a carreira em 1968, aos 34 aos de idade. Pagão, foi um dos jogadores mais técnicos e inteligentes que passaram pela Vila Belmiro. Franzino, machucava-se à toa, as vezes até sozinho, e seu apelido no Santos logo virou Canela de Vidro, mas a Canela de Vidro morria de amores pelo Santos e fazia tudo pela vitória. Foi apontado por Coutinho, seu sucessor no Santos, como maior centroavante que já viu atuar. Como o próprio Pagão afirmava, gostava de jogar fora da área. Não ficava estático na frente do ataque, armava e preparava as jogadas, que quase sempre resultava em gol. Foi o primeiro grande parceiro de Pelé, e sempre servia o Rei, deixando-o praticamente na cara do gol.
Todos esses frutos lhe renderam um admirador digno de ser admirado por toda a nação, o cantor e compositor Chico Buarque de Holanda. Para ele, Pagão é o seu maior ídolo. A paixão era tão grande, que Chico ainda menino e sem dinheiro, ia aos jogos do Santos no Pacaembu, e ficava esperando a abertura dos portões, após o intervalo, só para ver as incríveis jogadas de Pagão. Como um verdadeiro apaixonado pelo esporte bretão, Chico montou uma equipe de futebol para as peladas com os amigos no fim de semana: o Politheama (o próprio Chico se incumbiu em compor o hino da equipe). Nos inúmeros jogos do time contra combinados e equipes de masters a paixão e admiração pelo ex-atacante do Santos fica ainda mais clara. “Eu sempre jogo com a camisa 9, que era do Pagão. E toda vez, assino a súmula do jogo com o nome de Pagão. No começo o pessoal estranhou, mas agora já se acostumaram”, afirma Chico, que jura que há mais de 20 anos o Politheama está invicto.
Após muitas vitórias e conquistas, Pagão teve um fim um tanto desagradável. O jogador, de belos passes, de leveza a cada toque na bola, veio a falecer por falência do fígado em 4 de Abril de 1991, aos 56 anos. Paulo César Araújo pode existir muitos, mas Pagão só existiu um. Adepto do futebol-arte, este centroavante foi um dos maiores futebolistas do Brasil na década de 50, ao lado de outros grandes jogadores como Pelé e Pepe, formando um ataque conhecido como “ataque dos Ps”. Todos os títulos conquistados por Pagão, foram com a camisa do Santos F.C., clube que o projetou para o futebol e que ele sempre amou.
Apesar da alegria por ter vencido aquela partida em que o Santos fugiu de campo, no fundo ele saiu triste do gramado, pois em seu coração o Santos sempre esteve presente, pois foi com aquela camisa 9, que ele conquistou seus inúmeros títulos. Sem dúvida, o futebol perdeu um grande craque. Quem o viu jogar pode afirmar, que no futebol atual, não existe ninguém que possa se comparar a Pagão. Por isso, em nome de toda torcida santista e são-paulina, deixo aqui o meu sincero muito obrigado a este jogador, que realmente foi um verdadeiro craque de futebol, principalmente dentro da área, onde ele sabia tudo e mais um pouco.