Suly Cabral Machado nasceu dia 29 de outubro de 1938, na cidade de Pelotas – RS. Foi um grande goleiro das décadas de 50 e 60. Jogou no Grêmio, no São Paulo e outros clubes, sempre com a mesma regularidade. Pelo Tricolor Paulista, disputou 107 partidas consecutivas, ou seja, do dia 23 de janeiro de 1963, até o dia 24 de janeiro de 1965, é o segundo recorde da história do São Paulo, perdendo apenas para Rogério Ceni. Ficou no Morumbi de 1961 até 1966 e nesse período realizou 266 partidas com a camisa número 1 do Tricolor. Foram 138 vitórias, 65 empates e 63 derrotas. Foi uma época difícil, pois não havia investimento na equipe, por causa da construção do Estádio do Morumbi. Mesmo assim, conseguiu muitas vitórias.
Durante o tempo que jogou no São Paulo, Suli participou de várias partidas em que ele jamais esquecerá, como aquela do dia 4 de dezembro de 1966, quando Rivelino bateu uma falta e a bola entrou pelo lado de fora e o árbitro Armando Marques (sempre ele) validou o gol.Ao término da partida, Suly deu uma entrevista dizendo que talvez nunca fosse reconhecido como um grande goleiro mas que, certamente, o seria como o único ao levar um gol com a bola entrando pelo lado de fora da rede. Este jogo o São Paulo venceu por 2 a 1, gols de Benê e Prado para o São Paulo e Rivelino para o Corinthians. Neste jogo a curiosidade ficou por conta dos treinadores, que eram dois irmãos.
O técnico do São Paulo era o Aymoré Moreira, enquanto o treinador do Corinthians era o Zezé Moreira. Outra partida que certamente Suly e toda a torcida do São Paulo não irá esquecer, foi aquela do dia 15 de agosto de 1963, quando o Tricolor enfrentou o Santos no Pacaembu e quando o placar já apontava 4 a 1 para o São Paulo, o time do Santos fugiu de campo. Este jogo ficou marcado como “jogo dos fujões”.
INICIO DE CARREIRA
Suly começou nos juvenis do G.E. Brasil e, em 1954, com apenas 15 anos de idade já figurava entre os campeões da cidade pela categoria de profissionais na reserva de Caruccio. Era o astro que surgia. Goleiro de ótima colocação, logo se impôs a admiração do público. Foi também campeão pelo G.E. Brasil em 1955 e no ano seguinte com o Xavante como titular para a longa e gloriosa “Excursão às Américas”. “Saiu grande e voltou maior”, juntamente com seus companheiros de jornadas inesquecíveis. Ganhou experiência na excursão e acabou transferindo-se para o Aimoré de São Leopoldo. Mais perto da capital gaucha, logo despertou a cobiça do Grêmio e acabou no estádio Olímpico, formando ao lado de Airton Pavilhão e Ênio Rodrigues um extraordinário trio final.
GRÊMIO
Em 1959, com 20 anos de idade, foi contratado pelo Grêmio. Chegou no Olímpico para ser reserva de Germinaro. Com a saída do goleiro argentino, Suly venceu Henrique na disputa pela camisa Nº 1 e assumiu a titularidade em 1960. Integrou, então, a equipe do Grêmio Pentacampeão Gaúcho, que tinha; Suly, Figueiró, Aírton e Ortunho; Elton e Ênio Rodrigues; Marino, Gessy, Juarez, Milton e Vieira. O título foi decidido contra o Pelotas dia 8 de fevereiro de 1961 e o Tricolor Gaúcho venceu por 7 a 0, com dois gols de Juarez, dois de Gessy, um de Milton Kuelle, um de Marino e um de Vieira. Este foi o 12º título estadual do Grêmio. Em clássicos, Suly estreou em um Grenal amistoso, realizado em 21 de abril de 1960 e vencido pelo Tricolor por 3 a 0. No Grenal seguinte, realizado no dia 21 de agosto do mesmo ano, o resultado foi ainda melhor: vitória gremista por 5 x 1. As boas atuações de Suly pela equipe gremista despertaram o interesse de grandes clubes do centro do País. Assim, na temporada seguinte, acabou deixando o Olímpico.
SÃO PAULO F. C.
Como o goleiro Poy já estava em final de carreira (encerrou dia 30 de abril de 1962), o São Paulo correu atrás de um substituto a altura do goleiro argentino. E não foi difícil de encontrar um grande goleiro para defender a meta tricolor, pois foram lá no sul do país e trouxeram Suly, que imediatamente assumiu a titularidade da equipe, que na época tinha a seguinte formação; Suly, Deleu, Vilásio, Riberto e Vitor; Roberto Dias e Benê; Faustino, Amauri, Baiano e Ailton. O técnico era Flávio Costa, o mesmo que comandou nossa seleção na Copa de 50 disputada aqui no Brasil. Este foi o time que enfrentou o Corinthians num jogo amistoso dia 24 de maio de 1961 no velho Pacaembu.
O jogo terminou com a vitória corintiana por 3 a 2, gols de Higino, Rafael e Neves para o alvinegro e Ailton e Amauri para o Tricolor. Naquela época, o São Paulo estava construindo o estádio do Morumbi e pouco ligava para os jogadores. Suly, Dias, Paraná, Jurandir e outros jogadores, levaram o time nas costas. O resto do time era até engraçado, a cada jogo aparecia um jogador contratado a preço de banana. O torcedor não aguentava mais, e nem os jogadores. Foram oito anos de dificuldades, com um time sem ataque e sem reservas.
Suly jogou no São Paulo de 1961 até 1966 e nesse período disputou várias partidas que jamais sairão de sua memória, como por exemplo aquela vitória sobre o Palmeiras por 5 a 2 no dia 15 de novembro de 1964. Os gols do Tricolor foram marcados por Del Vecchio (2), Zé Roberto (2) e o quinto gol foi contra. Contra a Portuguesa de Desportos foram duas as partidas que ficarão guardadas na lembrança do goleiro Suly. A primeira foi no dia 13 de agosto de 1961, quando o Tricolor goleou a Lusa do Canindé por 6 a 1, gols de Baiano (2), Célio (2), Agenor e Gonçalo. A segunda foi no dia 6 de dezembro de 1961, quando o São Paulo aplicou outra goleada sobre a Lusa, desta vez por 6 a 0, com gols de Benê (2), Prado (2), Canhoteiro e Roberto Dias. Ou seja, em apenas quatro meses, o São Paulo aplicou duas sonoras goleadas sobre a Portuguesa.
Mas de todas as partidas que Suly disputou com a camisa do São Paulo, tem uma que ele jamais esquecerá. Era o dia 15 de agosto de 1963, há exatamente 49 anos, quando Santos e São Paulo protagonizaram um espetáculo que até os dias de hoje é muito comentado, pois neste dia aconteceu algo inusitado, ou seja, o Santos fugiu de campo. O jogo era válido pelo Campeonato Paulista de 1963, o árbitro da partida era o até então desconhecido Armando Nunes Castanheira da Rosa Marques e o estádio era o velho Pacaembu, que neste dia recebeu um grande público, com uma arrecadação de CR$ 19.950.000,00. Em 1963, o Santos era um dos melhores times do mundo, dono de um elenco que dava inveja aos outros times, por isso, ganhar dessa equipe era motivo de satisfação. Mas aquele fatídico 15 de agosto ficaria marcado na história do futebol como o “jogo dos fujões” e até hoje é lembrado por muitos são-paulinos e que muitos santistas gostariam de esquecer.
A equipe do São Paulo era muito boa e contava com Pagão que durante muitos anos havia jogado na equipe de Vila Belmiro e guardava certa mágoa da equipe praiana por ter sido preterido. Na época o regulamento não previa substituição e se um jogador se machucasse, a equipe ficava com 10 elementos. Para este jogo o técnico santista Luiz Alonso Perez, mais conhecido por Lula, mandou à campo os seguintes jogadores; Gilmar, Aparecido, Mauro, Geraldino e Dalmo; Zito e Lima; Dorval, Coutinho, Pelé e Pepe. Realmente um time que impunha respeito a qualquer adversário. Do outro lado, o técnico Osvaldo Brandão escalou a seguinte equipe; Suly, Deleu, Jurandir, Bellini e Ilzo Neri; Roberto Dias e Benê; Faustino, Cecílio Martinez, Pagão e Sabino.
Logo aos 5 minutos de jogo, o Tricolor abriu a contagem através do ponta direita Faustino. O gol de empate santista veio aos 21 minutos através de Pelé. O jogo estava muito equilibrado e Pelé muito irritado com o árbitro Armando Marques. Aos 37 minutos, Benê desempatou a partida para o São Paulo. Três minutos depois, o ponta esquerda Sabino aumentou o placar para 3 a 1. Logo após o gol tricolor, Pelé que já estava bastante irritado com o árbitro, foi reclamar alegando irregularidade no gol são-paulino. Armando Marques o advertiu, mas Pelé continuou reclamando. E foi aí que o árbitro o expulsou de campo alegando agressões verbais.
Minutos depois Coutinho foi expulso também e assim terminou o primeiro tempo. Para o segundo tempo, o Santos voltou sem o lateral Aparecido, ou seja, o time santista estava com apenas 8 homens em campo. Aos 7 minutos Pagão faz o quarto gol. Aí começou o famoso “cai cai”. Primeiro foi o ponta esquerda Pepe e depois o ponta direita Dorval. Como diz a regra, com 6 jogadores o jogo não pode prosseguir e assim dessa maneira, o árbitro deu a partida por encerrada.
Em 1968 Suly foi emprestado ao Botafogo de Ribeirão Preto, depois voltou para o Brasil de Pelotas, onde jogou até encerrar sua brilhante carreira em 1973. Atualmente mora no Rio Grande do Sul, onde trabalhou como médico veterinário durante muitos anos, cuidando de todos os animais, embora não gostasse de visitar as granjas da região, pois ele diz que nunca gostou de frangos e perus. Agora aposentado aos 78 anos de idade, só quer saber de curtir a família e torcer para o Brasil de Pelotas e para o Grêmio, os times que tanto ama. Suly tem três filhos e seis netos e podemos dizer que é um homem feliz, pois por onde passou deixou grandes amigos e muita saudade aos companheiros de equipe.