Airton Ferreira da Silva nasceu dia 31 de outubro de 1934, na cidade de Porto Alegre – RS. Quem viu Airton jogar afirma que foi um dos melhores zagueiros do mundo. O goleiro Suly que jogou no São Paulo e no Grêmio em 1960, diz jogou com grandes zagueiros como Bellini, Mauro Ramos e tantos outros, mas Airton era bem superior a todos eles. Com certeza o leitor deve estar curioso o porque de Airton Pavilhão. Tudo aconteceu no dia 23 de junho de 1954, quando o craque que jogava no Força e Luz do Rio Grande do Sul, foi negociado com o Grêmio de Porto Alegre, até aí tudo bem, mas o curioso é que Airton foi trocado por um Pavilhão de Arquibancadas, daí o apelido Airton Pavilhão, que ele carregou até o fim de sua carreira. Foi um jogador que ficou marcado no Tricolor Gaúcho, pois foi um grande craque, tanto é que foi convocado para defender nossa seleção brasileira em sete oportunidades, mesmo jogando no sul, que naquela época era muito difícil. Teve também uma passagem bem curta pelo Santos em 1960, onde jogou apenas 3 meses.
GRÊMIO
Iniciou sua carreira em 1949 jogando no Força e Luz, um pequeno clube do Rio Grande do Sul, que costumava revelar jogadores e que Inter e Grêmio sempre iam buscar. Em 1954 foi negociado com o Grêmio, através de uma transação que foi no mínimo muito curiosa, assim como foi curiosa a negociação do jogador Oreco que jogava num time da cidade de Santa Maria-RS e foi adquirido pelo Internacional de Porto Alegre com a promessa do Inter construir um Muro que iria cercar todo o estádio daquele time do interior. Anos depois Oreco foi jogar no Corinthians, onde ficou por oito anos, chegando inclusive a defender nossa seleção brasileira em oito oportunidades. Airton era um zagueiro de muita raça, com isto, logo que chegou ao Grêmio ganhou a simpatia da torcida tricolor.
Em 1954, o Grêmio estava tentando montar um time forte para enfrentar o Inter, que ganhava tudo naquela época e tinha jogadores como Larry, Bodinho, Chinesinho, Oreco e outros. Naquela época, o Campeonato Gaúcho era muito forte. Se perdesse um ponto, perdia o campeonato. O treinador do Grêmio na época era Osvaldo Rolla, o Foguinho, que o tirou da posição de centromédio, onde Airton jogava no Força e Luz, e o colocou como zagueiro. E foi a partir daí, que Airton se firmou na posição e nunca mais deixou de ser titular. Sua estréia com a camisa do Grêmio aconteceu dia 1 de agosto de 1954, quando empatou com o Cruzeiro de Porto Alegre em 1 a 1. Dois anos depois, o Grêmio sagrou-se Campeão Gaúcho e a coisa começou a melhorar.
Quando o Grêmio começou a ganhar títulos estaduais (de 1956 até 1960), começou a jogar contra o Santos, o Botafogo e outros clubes do centro do país pela antiga Taça Brasil, que reunia os campeões estaduais. O Grêmio começou a jogar fora, jogou no Rio de Janeiro, São Paulo e em outros lugares. Depois, passou a fazer excursões, que era uma coisa que os clubes brasileiros faziam muito na época. Foi para Europa e o time começou a plantar uma sementinha para ser famoso. Ganhou de todo mundo na Grécia, jogou na Rússia, Alemanha e outros países importantes dentro do futebol.
PELÉ E GARRINCHA
Quando Airton viu Garrincha jogar ficou impressionado, pois era um jogador diferenciado. “O complicado é quem é forte e vai direto pro gol. Esses são os mais difíceis. O Garrincha era diferente, era driblador, mas também era objetivo e, diga-se de passagem, muito gente fina, estive com ele na Seleção. Nunca joguei contra ele, mas era mais fácil que o Pelé, com certeza. É que nem a cobra e o sapo. A cobra não ataca. Quem tenta fugir é o sapo. Era isso que eu tentava fazer. Agora, marcar o Pelé mano a mano era brabo. Uma característica do Pelé é que ele era forte e objetivo, não era tipo o Ronaldinho que fica driblando para lá e para cá.
Ele pegava a bola e partia para cima, não ficava dando driblezinho à toa. O Ronaldinho….(risos) Eu queria marcar o Ronaldinho! Uma vez joguei contra o Pelé e sem querer trombei nele, ou melhor, ele trombou no meu corpo e aí quem ganhou fui eu, que era mais alto e forte. Ele caiu, e eu disse “tudo bem, negrão”?. E ele “tudo, Airton, não se preocupe porque eu sei que você não precisa disso”. Quase me arrepio quando lembro disso! Os treinadores às vezes me mandavam bater, mas eu sempre desobedecia. Eu pensava: se eu tenho a chave da porta, porque vou arrombar? Se eu machucasse algum jogador eu ficava com vergonha, porque significava que eu não podia com ele. Eu sempre quis fazer o melhor de mim e ser o melhor de todos, e isso valia para o Grêmio também.
Se na minha equipe um amigo meu errasse eu dizia “sinto muito, gosto de ti, mas tu vai sair do time” e eu dizia pro treinador, esse aí não dá. Para teres uma ideia, eu fiz 125 gols na minha carreira. E olha que eu era zagueiro e a gente jogava quase sempre só no domingo e muito pouco na quarta. Senão ia fazer muito mais gols. Todo ano eu era o melhor jogador do campeonato. Aí parei de disputar, porque era sempre o melhor. Aí fui me convencendo que eu era realmente o melhor. E que era bom mesmo.” disse Airton em uma de suas entrevistas.
Realmente, Airton foi um defensor de técnica apurada, que jogava com a cabeça erguida e jamais usava o recurso das faltas violentas. Certa vez em um confronto do Grêmio contra o Santos no Estádio Olímpico Monumental, entrou para a história do futebol ao aplicar um “chapéu” em Pelé, sendo este o único jogador a realizar tal feito sobre o Rei do Futebol. E por falar em Santos, Airton jogou na equipe santista durante três meses somente e explica o porque; “O Santos pagava muito melhor. Mas não era pelo salário que eu quis ir para lá, e sim para me tornar mais conhecido, para me apresentar para mais gente, para que mais pessoas me vissem.
Era muito difícil se tornar conhecido jogando no Rio Grande do Sul, naquela época. E o jogador aqui no Sul, para aparecer era brabo. O Grêmio quando foi campeão do mundo disseram que foi sem querer, e o Flamengo, quando ganhou, fizeram um tremendo carnaval. O motivo de eu ter jogado somente três meses no Santos foi o seguinte, eu morro de medo de viajar de avião e como naquela época o Santos viajava mais que os nossos presidentes, resolvi voltar à Porto Alegre”.
SELEÇÃO BRASILEIRA
Sua primeira participação com a camisa canarinho foi no Pan-americano de 1956, quando fomos campeões. Depois chegou a ser convocado para a Copa do Mundo de 1962, no Chile. Aliás, foi o primeiro jogador fora do eixo Rio-São Paulo a ser convocado. No entanto, num dos treinos Airton fez uma jogada que fazia constantemente no Grêmio e o técnico Aymoré Moreira não gostou e o cortou. Mas como era essa jogada? Levava a bola em direção à linha lateral do campo chegando junto à bandeirinha de escanteio puxando com ele os atacantes. De repente, virava o corpo e, colocando uma perna por trás da outra, de letra, recuava a bola para as mãos do goleiro. Para um jogador comum, uma verdadeira insanidade. Para Airton Ferreira da Silva, o “Pavilhão”, era “apenas uma jogada comum. Com isto deixou de disputar a Copa do Chile, onde sagramos bicampeões mundiais.
GRE-NAL
Airton disputou inúmeros GreNais. Sempre respeitou o adversário, pois trata-se de um grande clube. Sobre esse assunto Airton nos diz; “Eu acho que o jogador tem que ter dois amigos para entrar em campo, o juiz e a torcida. Se ela gostar de ti, tudo bem. Por parte do Inter, eles tinham uma relação de amor e ódio comigo. Vou lhe contar uma emoção que eu senti. Era um Grenal, jogo duro, e eu estou lá atrás como zagueiro e nós estamos atacando lá na frente, na área deles. De repente, olho para a torcida e eles começam a me vaiar, e eu disse “o jogo está lá, olhem para o jogo!”.
Naquele momento, eu pensei, “deixaram de ver o jogo para prestar atenção em mim. Eles realmente me amam”. Sua última partida com a camisa do Grêmio foi no dia 5 de novembro de 1967, quando o Tricolor Gaúcho empatou em 2 a 2 com o Perdigão, da cidade de Videira – SC. Pelo Grêmio jogou 13 anos e foi campeão gaúcho de 1956 até 1960 e de 1962 até 1967. Em 1971, encerrou sua brilhante carreira atuando pelo Cruz Alta, do Rio Grande do Sul.
Airton Ferreira da Silva, mais conhecido por Airton Pavilhão. Para muitos, um dos maiores jogadores que já vestiu a camisa do Grêmio. Para outros, o maior zagueiro da história do futebol brasileiro e mundial. Na metade do ano de 1954, foi cedido ao Grêmio por 50 mil cruzeiros mais o antigo pavilhão social do Estádio da Baixada. Obsoleto para a modernidade de um Estádio Olímpico prestes a ser inaugurado oficialmente, mas grandioso para o acanhado Estádio da Timbaúva, localizado na atual rua Dr. Alcides Cruz, 125.
Em 2007 foi homenageado pelo Grêmio, quando da inauguração do Centro de Treinamento que levou seu nome. O que mais emocionava Airton era ver alguém dizer que o pai falava muito dele, ou um homem, já adulto, lhe agradecendo por ter feito o pai dele tão feliz. Sua auto-estima ia lá em cima. “É maravilhoso saber que eu fiz tanta gente feliz”. Airton Pavilhão faleceu dia 3 de abril de 2012, devido a infecção generalizada dos órgãos, no Hospital Ernesto Dornelles em Porto Alegre. Foi considerado por Pelé, um dos ícones do futebol Mundial, como o maior zagueiro de todos os tempos.