JOÃO AVELINO: um treinador folclórico, carismático e catimbeiro

                 João Avelino Gomes nasceu dia 10 de novembro de 1929, na cidade de Diamantina-MG. Foi um dos técnicos mais folclóricos, carismáticos e catimbeiro do futebol brasileiro. Trabalhou em diversos clubes e foi também auxiliar técnico de Oswaldo Brandão na campanha do titulo paulista de 1977, depois substituiu o titular durante os primeiros jogos do Brasileirão, quando Brandão pediu férias. Pelo Corinthians João Avelino comandou 11 jogos, com 6 vitórias, três empates e duas derrotas. O carismático técnico escreveu uma bela página na trajetória das equipes de São José do Rio Preto. Foi treinador do Rio Preto em 1958, 1960, 1967 e 1987 e criou laços afetivos com o América, onde trabalhou por 11 temporadas.

                Em 1956, o presidente Délcio Bellini comandou o time em alguns jogos, porém a equipe não decolou e João Avelino, aos 27 anos  de  idade,  foi contratado.  Num  dos  primeiros  duelos sob sua batuta, o América perdeu de 6 a 2 para o Palmeiras em jogo amistoso  que serviu  como pagamento do passe do zagueiro Martin Mansano, que havia sido vendido pelo Rubro ao clube da Capital.

               Teve o mérito de conduzir a agremiação rio-pretense ao inédito título da Segunda Divisão, que lhe garantiu o direito de disputar o Paulistão de 1958. Em 15 de abril de 1958 trocou o América pelo Rio Preto. Cinco dias depois, estreou perdendo o derby da cidade por 3 a 2, em jogo amistoso. No dia seguinte, as duas equipes voltaram a se enfrentar, com empate de 1 a 1. Avelino cansou de reclamar para a diretoria do Rio Preto sobre os materiais velhos e rasgados utilizados nos treinos e jogos. Como não era atendido, pediu para o roupeiro Serafim de Andrade “fazer um serviço” na cidade. Com o caminho aberto, entrou na rouparia, colocou fogo em tudo e obrigou os cartolas a comprarem novas camisas, calções, meiões e chuteiras.

               Depois de peregrinar por outras bandas, retornou ao Rio Preto em 1960, mas no dia 1º de outubro deixou o clube esmeraldino tentado por uma proposta de Cr$ 100 mil de luvas e Cr$ 300 mil de salários mensais, feita pela Ponte Preta. Entretanto, sua passagem foi curta na equipe campineira. Dois meses depois, lá estava ele de volta ao seu antigo reduto. Foi contratado pelo América para o lugar do demitido Conrado Ross. Chegou para o triangular da morte, a fim de tentar evitar o rebaixamento à Segundona. Porém, naufragou. Juventus e Corinthians de Presidente Prudente, se salvaram da queda e o Rubro caiu.

               Novas andanças do “velho cigano” até 1963 quando reapareceu no comando do América para levar o time ao vice-campeonato da Segundona. Perdeu a final para o São Bento, de Sorocaba. Depois disso, ficou distante dos clubes rio-pretenses por quatro anos. Depois, o “Velho Mestre” desapareceu da cidade por 16 anos. Neste período, trabalhou na Portuguesa, Nacional da Capital, Guarani de Campinas, São Bento de Sorocaba, entre outras equipes. Na Lusa, perdeu o emprego ao agredir o árbitro Romualdo Arpi Filho. Integrou a comissão técnica encabeçada por Oswaldo Brandão, que levou o Corinthians ao título do Paulistão de 1977, quebrando um jejum de 23 anos. Regressou ao América em 27 de julho de 1983 para substituir o gaúcho Ernesto Guedes. O time da Vila Santa Cruz estava na lanterna, mas Avelino conseguiu tirá-lo do sufoco e evitar sua queda. Ainda dirigiu o Rubro em outras ocasiões, como 1986, 1987 e 1992.

               Em 1992, último ano em que trabalhou no América, durante o Paulistinha, a passagem de João Avelino ficou mais marcada pelas polêmicas do que pelo desempenho da equipe em campo. Foi apresentado na quinta-feira, 8 de outubro de 92, em substituição a Roberto Brida. De cara, demitiu o preparador físico Renato Cabral e arrumou a maior confusão. Irritado, o fisicultor chamou Avelino de traíra, ameaçou sair na porrada e até partiu pra cima do treinador empunhando uma arma. Com Cabral fora do clube e os ânimos serenados, “71” estreou perdendo de 1 a 0 para o Novorizontino, em Novo Horizonte, dia 10 de outubro. Depois, seguiram-se mais três derrotas para Mogi Mirim (2 a 0, com um dos gols de Rivaldo), Marília (3 a 2) e Olímpia (3 a 1). Pegou o time em 7º lugar, deixou em 11º e, sem chances de classificação, abandonou o barco. Benedicto Ambrózio cumpriu tabela nas duas últimas rodadas.

               Entre muitas superstições e inovações, implantou o treino coletivo sem bola. Ele cantava as jogadas e o atleta simulava estar com a bola. O ponta tinha que ir à linha de fundo e simular o cruzamento. O centroavante fingia driblar ou finalizar a gol. Os obedientes boleiros cumpriam à risca a maluquice do treinador, copiada posteriormente por outros profissionais. Avelino sofria do Mal de Alzheimer desde 2000, quando passou a receber cuidados especiais da esposa, dona Yneida. Pelo folclore, catimba e sabedoria, ele deixa seu nome sacramentado para sempre no futebol brasileiro.

               João Avelino, o ex-técnico conhecido como 71, morreu na manhã do dia 24 de novembro de 2006, em sua casa, vítima de uma parada cardiorrespiratória. Ele morava em São Paulo quando morreu. Seu corpo foi enterrado no Cemitério Vila Nova Cachoeirinha, na zona norte da capital paulista. “Acho que foi melhor assim. Ele estava sofrendo demais e finalmente descansou. Agora deve estar sorrindo no lugar para onde foi”, afirmou seu filho Elton.

               O folclórico treinador, trabalhou em várias equipes do futebol brasileiro, entre elas Corinthians (campeão paulista de 77 como auxiliar de Oswaldo Brandão), Palmeiras, Paysandu, Nacional da Comendador de Souza, Noroeste de Bauru, CEUB de Brasília, Uberaba (MG) e América de Rio Preto (SP), clube pelo qual teve 10 passagens. “O último clube em que ele esteve foi o Cerro Porteño, do Paraguai. Ele trabalhava lá com o Carpegiani (técnico) e com o Gilberto Tim (preparador físico já falecido)”.

               Pouco antes do aparecimento da doença, o 71 trabalhou no projeto da prefeitura de São Paulo para crianças carentes, no Ibirapuera. “Ele trabalhava com o Badeco e outros ex-jogadores dando aulas para garotos. O João sempre adorou futebol. Não conseguia viver afastado dos campos”, conta Dona Yneida, que não tinha muito conhecimento sobre a doença. “Ele começou a confundir os assuntos. Não sabia o que estava acontecendo. Nunca tive um caso parecido na família. Depois, o João parou de falar e também de andar. Não reconhecia ninguém. Foi uma situação bem complicada para assimilar”, emociona-se Dona Yneida.

               Mesmo muito mal de saúde, as visitas ao treinador não eram frequentes. “Quem costumava aparecer muito aqui era o Luiz Augusto Maltoni (cronista esportivo), que já faleceu. Um dirigente do Paysandu esteve no outro dia aqui em casa e tomou um choque ao vê-lo. O João sempre foi um homem muito ativo. É difícil entender o que aconteceu”, fala a mulher do treinador. O Brasil ficou órfão de um dos treinadores mais folclóricos, carismáticos e catimbeiros do futebol brasileiro.

               Muitas pessoas não entendiam o porque de João Avelino ser chamado de “71”, mas a explicação é esta: Com 22 anos, cursava o SENAI em Belo Horizonte e seu número de inscrição era o 71. Acabou se transformando em um apelido que o carregou pela vida inteira. Mas Avelino não gostava de falar sobre a origem do apelido: “71”. Corriam várias versões, uma delas é que era o número da cela que teria ocupado numa prisão não se sabe por qual delito. Era impossível acreditar nisso porque era difícil imaginar João Avelino metido em qualquer desavença.

COISAS DE AVELINO

               Baixinho, moreno, usava sempre um chapeuzinho antigo na cabeça, era uma figura simpática. Dizia coisas inteligentes e às vezes engraçadíssimas. Entre os ‘causos’ que o tornaram famoso no futebol, contam que, para empatar jogo, já mandou martelar as traves, para o gol ficar menor, e até soltar uma mula brava no gramado do Canindé, para esburacar o campo. No Clube Atlético Taquaritinga, onde disputou a 1ª divisão do Paulista (e caiu) em 1984, consta que mandou colocar uma estátua de Nossa Senhora no vestiário e, quando os jogadores iam se trocar, ele virava a santa de costas, “pra não ver homem pelado”. Certa ocasião, Avelino foi trabalhar no Fortaleza e se espantou com o tamanho do goleiro, pouco mais de 1,70m de altura. E sabem o que o técnico fez para resolver o problema? Mandou diminuir a altura da trave. E quando perceberam a tramóia, Avelino já havia festejado um título cearense perseguido há cinco anos.

               Os ex-craques Palhinha e Basílio, amigos pessoais de Avelino, lembram que quando o mestre deparava com jogadores de chutes fracos dava-lhes uma bolota de cinco quilos, para fazerem embaixadas, visando ganhar força muscular e pegar mais forte na bola. Avelino, o popular “71”, deixou histórias inacreditáveis que requerem um livro, mas a coluna resume algumas neste pequeno espaço. João era assim: diferente, catimbeiro e folclórico. Por isso escreveu uma bonita página no futebol brasileiro. João Avelino faleceu dia 24 de novembro de 2006. Por isso dizemos do fundo do coração, “descanse em paz João Avelino”.

Em pé: Julinho, Ambrósio, Bertolino, Xatara, Fogosa, Villera, Delcio Bellini (presidente do clube) e o técnico João Avelino    –     Agachados: Cuca, Colada, Dozinho, Leal e Orias
Em pé: o técnico João Avelino, Pedro, Geraldo, Romualdo, Julião, Gaspar e Gualberto    –     Agachados: Osvaldinho, João Leal Neto, Zé Carlos, Maneca e Gelson
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