Benedito de Assis da Silva nasceu dia 12 de novembro de 1952, na Vila Prudente, zona leste da cidade de São Paulo. Assis formou com Washington a dupla apelidada de Casal 20, em homenagem a um famoso seriado de TV da década de 80. Virou herói da torcida do Fluminense e carrasco da torcida do Flamengo ao fazer gols contra o Mengão, geralmente nos últimos minutos das partidas. Como aconteceu no dia 11 de dezembro de 1983, final do campeonato carioca, 45 minutos do segundo tempo, e o zero a zero persistia teimosamente no placar, até que surgiu o pé de Assis para fazer o gol da vitória, o gol do título para delírio da torcida tricolor. Na decisão de 84, os tricolores, mais uma vez levantaram a taça, novamente contra o Flamengo, novamente por 1 x 0, novamente com gol de Assis, novamente nos minutos finais.
COMEÇO DE CARREIRA
Jogando pelo Juventus, seu primeiro contato com o futebol quase acabou em desilusão. Depois de apenas dois meses no clube, Assis foi dispensado. A situação também se repetiu na Portuguesa, forçando-o a desistir do esporte. Trabalhando de dia e estudando à noite, ele jogou nos campos de várzea nos finais de semana em troca de cachê. Para aumentar a renda, algumas vezes ele chegou a jogar em quatro equipes, duas vezes no sábado e duas no domingo. O dinheiro que recebia lhe permitia comer uma pizza na Mooca ou pagar um sorvete para a namorada. Foi nessas andanças por terrenos esburacados que um olheiro viu o atacante jogar e o levou para São José dos Campos.
Ele é grato ao rapaz, mas guarda na memória apenas o primeiro nome: Luís. “Ele mexia com mesa de sinuca e quis me levar para jogar no São José Esporte Clube. Foi realizado um coletivo no clube e a diretoria pediu para Assis ficar. Ele, que dormia no alojamento, acabou sendo contratado. Não deu muito tempo e, sem receber, o jogador de apenas 22 anos parou tudo e voltou ao antigo lar. Depois de passar pela Internacional de Limeira, sua carreira começou a decolar na Francana, onde foi artilheiro da equipe.
Em 1979, disputando a primeira divisão do Campeonato Paulista, Assis fez um gol contra o São Paulo e chamou a atenção dos dirigentes tricolores. Com o aval do então técnico Carlos Alberto Silva, o atacante foi contratado e realizou o sonho do pai, seu grande incentivador na carreira. E se emociona ao lembrar de que ele não pôde vê-lo realizado. “Meu pai incentivou muito a minha carreira, ele era são-paulino roxo. Mas quando eu tinha 18 anos ele faleceu. Só que a força espiritual dele sempre esteve em mim”.
ATLÉTICO PARANAENSE
Após uma curta passagem pelo Internacional de Porto Alegre, Assis chegou ao Atlético Paranaense, trocado juntamente com Washington pelo lateral Augusto. Nascia aí o famoso “Casal 20”. Cada vez mais entrosados, os gols começariam a surgir, muitos em jogadas combinadas que, apesar de simples, os adversários não conseguiam parar: lançamento pelo alto para Washington, bola de cabeça para Assis completar. Era sempre assim, Assis foi o artilheiro do time naquela campanha com 11 gols. No rubro-negro, Washington e Assis deixaram de ser bons jogadores para se tornaram mitos.
Juntos, ajudaram o Furacão a conquistar o Campeonato Paranaense de 1982, encerrando um jejum de doze anos sem título. Infernizaram as defesas adversárias, fazendo com que a equipe chegasse à semifinal do Campeonato Brasileiro de 1983. Antes nas quartas, o Atlético eliminou o São Paulo. Venceu por 1 a 0 em pleno Morumbi, com gol de Assis. Esguio, elegante e habilidoso, Assis marcou época com a camisa atleticana. Foi ídolo de uma geração e conquistou muitos torcedores, que viraram atleticanos graças ao ótimo time de 82/83.
FLUMINENSE
Tamanho foi o sucesso do casal 20 que vários clubes se interessaram pelos jogadores. Acabaram sendo negociados com o Fluminense. Na época, o Flu só queria levar Washington por ser mais jovem, mas acabou sendo convencido a ficar com os dois. Assis jurou que iria provar seu valor e conseguiu. Dentro de campo, calou os críticos, tanto é que virou ídolo e até hoje é respeitado por todos no Fluminense. Um dos maiores ídolos da torcida do Fluminense de todos os tempos, Assis foi autor do gol que deu o campeonato estadual de 1983, em cima do rival Flamengo, aos 45 minutos do segundo tempo. O Flamengo precisava do empate pra ser campeão.
O jogo estava em 0 x 0, e já se encaminhava para o final. A torcida do Flamengo já comemorava o título, e todos, jogadores, dirigentes, repórteres de campo, todo mundo se preparava pra entrar no gramado, quando ocorre o inesperado: Assis recebe um lançamento primoroso, em posição absolutamente legal. A zaga do Flamengo tentou fazer a famosa “linha burra”, mas não funcionou. Então, aos 45 minutos do segundo tempo, Assis avança com a bola pela direita, entra na grande área, fica cara a cara com o goleiro, tendo tempo ainda de ajeitar com o pé esquerdo – ele é canhoto – e chuta pro gol. Dois zagueiros rubro-negros ainda tentam desesperadamente tirar a bola, mas ela já tinha endereço certo. 1 x 0 Flu.
Era o gol do título do tricolor das Laranjeiras, gol altamente festejado, pois, afinal, fora um lance inacreditável. Fluminense Campeão Carioca de 1983. Assis é tão importante para o clube carioca que o gol antológico foi eleito pela torcida como um dos mais importantes na história do Fluminense. Imortalizado num painel de fotos no Museu do Maracanã, o gol também foi de fundamental importância para a caminhada rumo ao tricampeonato estadual de 83/84/85 e a conquista do Campeonato Brasileiro de 84. Na decisão de 84, os tricolores, mais uma vez levantaram a taça, novamente contra o Flamengo, novamente por 1 x 0, novamente com gol de Assis, novamente nos minutos finais.
Assis costumava marcar muitos gols no Flamengo, decidindo dois campeonatos cariocas a favor do Flu, o que lhe rendeu o apelido de “Carrasco do Flamengo” e uma musiquinha da torcida tricolor para os rivais: Recordar é viver, Assis acabou com você! Assis disputou 177 partidas pelo Fluminense e fez 54 gols, entre 1983 e 1987. Suas belas atuações no Fluminense o levaram à Seleção Brasileira, aos 32 anos de idade. Assis atuou três vezes na Seleção Brasileira e fez gols importantíssimos.
FINAL DE CARREIRA
Maneca, como alguns lhe chamam, ainda voltou a jogar no Atlético em duas ocasiões e em ambas foi campeão. Em 1988, alternou a condição de reserva com a de titular e foi muito importante para o título. Em 1989 foi jogar no Paysandu, do Pará, mas ficou somente uma temporada por lá. Em 1990, voltou ao Furacão como reserva, não teve participação tão decisiva, mas inspirou os mais jovens. Foi uma ótima forma de encerrar a carreira, vestindo a camisa do Atlético Paranaense, clube que o consagrou.
Ele ainda tentou ser técnico, mas não teve o mesmo sucesso da época de jogador. Assis foi eleito para integrar a Seleção dos 80 Anos do Atlético. Magro alto (1,81m), de pernas compridas, a primeira impressão que muitos tinham ao vê-lo correr em campo era a de um jogador desengonçado. Mas bastava tocar na bola para que se revelasse sua técnica apurada com o pé esquerdo, seu futebol simples que fazia o jogo correr e seu incrível dom para o jogo aéreo. Hoje em dia Assis brinca com bola com uma freqüência bem menor que antes e também se distanciou do amigo Washington.
O Casal 20 se separou e cada um foi para um lado. Às vezes, o destino os aproxima, mas depois disso voltam para os seus cantos e tudo continua normalmente. “Eu perdi um pouco o contato com o Washington, mas às vezes conversamos por telefone. Nos encontramos em churrascos e peladas em Curitiba. Depois da gente, é muito difícil uma dupla marcar tanto assim em um clube.
Assis confessa, “O que mais sinto falta é de jogar. No final do ano passado eu disputei um campeonato interno das agências do Bradesco, para maiores de 35 anos, e venci”, conta o ex-atacante Assis, que fez fama principalmente no Fluminense e chegou à Seleção Brasileira. E mesmo longe dos gramados ele mostra que continua vitorioso e matador. “Acho que encontraria espaço no futebol de hoje, pois possuo a técnica, que é um dom. A gente vê os atacantes perderem gols fáceis que eu até lamento. Tem de estar bem preparado na parte emocional”, afirma, dando uma dica para os mais jovens.
Mas a experiência só vem com o tempo e Assis sofreu bastante em seu início de carreira. Hoje em dia é até fácil falar do passado, mas só ele sabe o quanto sofreu. “No começo foi complicado. Durante toda sua carreira, foi campeão por inúmeras vezes como; campeão paulista em 1980 pelo São Paulo, campeão gaúcho em 1981 pelo Internacional de Porto Alegre, campeão em 1982, 88 e 90 pelo Atlético Paranaense, tricampeão carioca em 1983/84/85 e campeão brasileiro em 1984 pelo Fluminense. Assis faleceu dia 6 de julho de 2014.