Wagno de Freitas nasceu dia 11 de novembro de 1950, na cidade de Sete Lagoas (MG). “Sei que tenho uma condição técnica limitada e tenho de suprir com garra e vontade”. A definição dada pelo próprio Vaguinho é a melhor representação do que foi a carreira do ponta-direita, ídolo do Corinthians nos anos 70 e até hoje um dos que dez atletas que mais defenderam a camisa do alvinegro de Parque São Jorge na história. Entre 1971 e 1981, ele atuou em 551 jogos pelo clube, marcou 110 gols e foi campeão paulista em 1977 e 1979. Neste período, o mineiro colecionou inimigos, foi taxado como “protegido” do presidente Vicente Matheus, era considerado internamente o responsável por revelar delitos dos companheiros de clube e também um “derrubador de técnicos”.
Tornou-se notória uma briga entre ele e o zagueiro Juninho, nos jogos entre Corinthians e Ponte Preta no início dos anos 80. Apesar dos atritos, o ponta foi um dos maiores símbolos do “espírito corintiano”. Nos dez anos que defendeu o clube, Vaguinho teve três lesões na perna, duas no malar, outra no maxilar e uma no nariz. Chegou, inclusive, a atuar com a mandíbula fraturada contra o Guarani pelas semifinais do Paulista de 1978. “Sempre me superei”, vivia dizendo o atacante.
INÍCIO DE CARREIRA
Vaguinho começou a carreira nas categorias de base do Democrata de Sete Lagoas, sua cidade natal, e logo despertou o interesse do Atlético-MG. O jogador não demorou a conquistar seu espaço, sendo convocado para figurar no grupo dos 40 atletas com chances de ir à Copa de 1970. Na última hora, ele acabou preterido pelo técnico Zagallo, que optou por levar um terceiro goleiro: Leão. Em 1971, o ponta se preparava para atuar na despedida de Pelé da seleção brasileira contra a então Iugoslávia no Maracanã, quando dirigentes do Corinthians chegaram no treino da seleção e anunciaram a contratação de Vaguinho. A negociação havia sido fechada horas antes com o Atlético-MG, mas o atleta só tomou conhecimento no gramado, com tempo apenas para se trocar, antes de viajar para São Paulo e assinar contrato.
CORINTHIANS
A estréia do ponta no Timão acabou sendo ironicamente contra o Atlético Mineiro e o amistoso foi desastroso para os corintianos, que terminaram goleados por 4 a 1. Neste dia o Corinthians jogou com; Ado, Miranda, Almeida, Luiz Carlos e Pedrinho; Tião, Adãozinho e Rivelino; Vaguinho, Mirandinha e Aladim. Apesar do revés inicial, Vaguinho virou rapidamente o titular da equipe e tornou-se “intocável” por oito anos, sendo retirado do time apenas por conta de lesões. O começo no clube paulista não foi dos melhores, com uma perna quebrada em lance com Gérson, do São Paulo, no Campeonato Brasileiro de 1971, em um lance em que o árbitro Armando Marques sequer marcou falta, apesar de o jogador ter tido de sair de campo carregado nos ombros. Ele ficaria afastado por quatro meses, até o início da temporada de 1972. Depois disso, passaria ser o titular da camisa 7 por quase uma década.
Passou por maus momentos, como a decisão do Campeonato Paulista de 1974, perdida para o Palmeiras, mas participou de um dos grandes momentos da história corintiana: a conquista do Campeonato Paulista de 1977. Vaguinho quase ficou fora do segundo jogo das finais contra a Ponte Preta. Quando soube que daria lugar a Luciano, comprou briga com o técnico Osvaldo Brandão, mas de nada adiantou e teve de ficar no banco, chateado por não sair no que poderia ser a foto do título (que o Corinthians conquistaria com um empate). Com a contusão de Palhinha ainda no primeiro tempo, Vaguinho substituiu-o e abriu o placar aos 42 minutos.
Se a Ponte Preta não tivesse virado o jogo no segundo tempo, ele poderia ter sido o herói da conquista, “cargo” que ficou para Basílio, autor do gol da vitória no terceiro jogo em lance que se originou em um chute do próprio Vaguinho na trave. “Pedi para o lateral Zé Maria jogar a bola no segundo pau, porque havia um buraco ali, mas ele errou o chute, a bola bateu na cabeça do Basílio e acabou sobrando para mim. Peguei quase caindo, ela veio toda quadrada, mas ainda deu para acertar o travessão, na volta, sobrou para Wladimir cabecear em cima de Oscar e deixar para Basílio marcar o gol da vitória corintiana sobre a Ponte Preta por 1 a 0, na decisão do Paulista de 1977, que encerrou um jejum de 22 anos e oito meses do time sem títulos estaduais. “É inesquecível. Isso ninguém vai tirar de mim”, disse o mineiro”.
Dois anos depois, lá estavam novamente frente a frente, Corinthians e Ponte Preta decidindo mais um título do Campeonato Paulista. Antes o Corinthians eliminou seu maior rival Palmeiras, ao vencê-lo por 1×0 no dia 30 de Janeiro de 1980 (quarta feira a noite), com gol de Biro Biro aos 7 minutos do segundo tempo. No domingo seguinte começava a decisão do campeonato de 79. E deu Corinthians 1×0 com gol de Palhinha aos 20 minutos do segundo tempo. Veio a segunda partida no dia 6 de Fevereiro, e desta vez não houve vencedor, terminando empatado em 0x0. Então teríamos a terceira e decisiva partida, onde saberíamos finalmente quem seria o grande campeão daquele ano. A grande decisão aconteceu no dia 10 de fevereiro de 1980.
O juiz da partida foi José de Assis Aragão, o palco foi mais uma vez o estádio Cícero Pompeu de Toledo – Morumbi, que recebeu um público de 90.578 pessoas, que proporcionou uma arrecadação de CR$ 8.986.120,00. – Corinthians 2×0 Ponte Preta, gols de Sócrates e Palhinha. Com esta vitória, o Corinthians conquistou seu 17º título estadual de sua história. O Corinthians jogou neste dia com a seguinte escalação: Jairo, Luiz Cláudio, Mauro, Amaral e Wladimir; Caçapava, Biro Biro e Palhinha; Piter (Vaguinho), Sócrates e Romeu (Basílio). Técnico – Jorge Vieira.
A concorrência só ficaria forte em 1979, quando Piter tirou o ponta da final do Paulista. No ano seguinte, foi a vez de Gil ser o rival de Vaguinho pela camisa sete. Sem espaço, o atacante expôs a insatisfação publicamente, sendo afastado pela direção, ao lado de Amaral, Geraldo e Djalma. Na despedida, Vaguinho provou a última das marcas corintianas. “Fui humilhado e esquecido. Não merecia por tudo que fiz nestes dez anos”, lamentou o jogador, apenas um dos muitos ídolos do clube, que deixaram o Parque São Jorge sob muita polêmica e longe dos holofotes. Com a gloriosa camisa do S. C. Corinthians Paulista, sagrou-se campeão paulista em 1977 e 1979 e nestes dez anos de clube, realizou 551 partidas.
Venceu 258, empatou 172 e perdeu 121. Marcou 110 gols, sendo um dos 20 maiores artilheiros do clube. Permaneceu no Corinthians até 1981, ano em que voltou ao Atlético Mineiro já com mais de 30 anos de idade, mas ainda ajudou o Galo das Alterosas a conquistar o campeonato mineiro de 1981. Em Belo Horizonte, ele defendeu o Galo por um ano, jogou algum tempo na Ponte Preta e depois foi transferido para o Santo André em 1982, onde encerrou a carreira no mesmo ano. Depois de aposentado passou a trabalhar como professor de futebol para crianças em São Gotardo (MG).
SELEÇÃO BRASILEIRA
Em 19 de dezembro de 1968, aos 18 anos, vestiu pela primeira vez a camisa da seleção brasileira, contra a Iugoslávia, em partida no Mineirão em que foram escalados apenas jogadores do Atlético. O Brasil venceu por 3 a 2 e Vaguinho marcou um gol e deu o passe para os outros dois. Dos treze jogadores que participaram daquela partida, Vaguinho foi um dos quatro que jogaram mais de uma vez com a camisa amarela, mas sua nova convocação só se daria em 15 de junho de 1971. Entrou no segundo tempo no lugar de Paulo Cesar Caju, na vitória sobre a Checoslováquia por 1 a 0 gol de Tostão. E foi titular no jogo seguinte, na despedida de Pelé da Seleção, que aconteceu dia 18 de julho de 1971 no Maracanã.
Neste dia o Brasil empatou com a Iugoslávia por 2 a 2, gols de Gerson e Rivelino. Depois, Vaguinho ainda vestiria a camisa da nossa seleção por mais quatro vezes em 1971, contra Hungria, Paraguai e duas vezes contra a Argentina. Só voltaria a ser chamado uma vez mais, para um jogo contra um combinado “Resto do Mundo”, em 6 de junho de 1976. No total, disputou sete jogos oficiais e um não-oficial pela Seleção, marcando um gol. Nos gramados, a maior decepção de Vaguinho foi jamais ter disputado uma Copa do Mundo.