Dirceu Lopes Mendes nasceu dia 3 de setembro de 1946, na cidade de Pedro Leopoldo (MG). A imprensa esportiva da época o apelidou de “O Príncipe da Bola”. Os súditos torcedores adotaram o apelido. Generoso, o “Anjo das Pernas Tortas”, Garrincha, chegou a referir-se a ele como “o melhor jogador do mundo”. Para os companheiros de time ele era o “amigão”, o bom-caráter. Os dirigentes o consideravam um jogador exemplar, cumpridor de seus deveres e obrigações. “Um homem corretíssimo, fabuloso”, segundo o ex-presidente cruzeirense Felício Brandi. Dirceu Lopes Mendes começou sua carreira nos juniores do Pedro Leopoldo, equipe de sua terra natal, a poucos quilômetros de Belo Horizonte. Em 1963 transferiu-se para os juniores do Cruzeiro, transformando-se num dos maiores fenômenos produzidos pelas divisões de base do clube.
Rapidamente, subiu para a equipe de profissionais do clube, onde fez a sua estréia no dia 1º de dezembro de 1963, num clássico contra o Atlético. Aos poucos, tornou-se o dono da camisa 10 do time e, ao lado de Tostão, formou uma das duplas mais geniais da história do futebol mundial. Juntos, marcaram nada mais nada menos que 472 gols. Destes, 224 foram seus, transformando-o no segundo maior artilheiro em toda a história do clube. Mas de todos os gols que Dirceu Lopes marcou, três são especiais para a torcida cruzeirense. Na noite do dia 30 de novembro de 1966, o Cruzeiro enfrentou o Santos, pentacampeão brasileiro, no Mineirão, pela decisão da Taça Brasil.
A missão da equipe não era somente interromper a seqüência de títulos dos santistas, mas acima de tudo, enfrentar o time de Pelé e Cia. O craque Dirceu Lopes foi o destaque daquele jogo marcando três gols na goleada de 6 x 2. Na segunda partida que aconteceu em São Paulo, outra bela atuação de Dirceu Lopes no jogo de volta no estádio do Pacaembu, quando Dirceu marcou um dos três gols da vitória de 3 a 2. Neste dia o Cruzeiro jogou com; Raul, Pedro Paulo, William, Procópio e Neco; Wilson Piazza e Dirceu Lopes; Natal, Tostão, Edvaldo e Hilton Oliveira.
O técnico era Airton Moreira, irmão dos também treinadores Zezé Moreira e Aymoré Moreira, todos já falecidos. Dez anos depois, Dirceu viveu outro momento de glória na carreira com a conquista da Copa Libertadores da América sobre o River Plate, da Argentina, após a vitória do Cruzeiro por 3 a 2, em Santiago, no Chile, na terceira partida da final.
O craque sempre privilegiou a coletividade e foi a partir de sua entrada na equipe, que o time deixou de ser reconhecido como o “Cruzeiro Duro”, um apelido que a equipe carregava desde a década de 40, por vencer os campeonatos na base da garra e da valentia, para ser aclamado como a “academia”, que conquistou o mundo à base de um toque de bola em ritmo cadenciado. Humilde, retraído e com jeitão interiorano, Dirceu Lopes teve o seu nome diversas vezes exigido pela torcida brasileira para a Seleção nas Copas do Mundo.
Chegou a ser convocado por João Saldanha para a Copa de 70 no México, mas acabou sendo cortado por Zagallo, quando este assumiu a Seleção às vésperas do torneio. Ele era a “arma secreta” de Saldanha para aquele mundial. Não teria uma posição fixa e sua função tática de homem-surpresa seria a mais importante entre as inúmeras feras da nossa seleção. “Logo quando assumiu, o Saldanha me disse que eu seria mais importante para o time que Pelé. Isso causou o maior rebuliço na época”, lembra Dirceu.
FRUSTRAÇÃO
Apesar de reconhecer que não era fácil disputar uma posição no time com tantas feras, pois a equipe tinha no meio-campo; Clodoaldo, Gerson, Tostão e Rivelino e no ataque Jairzinho e Pelé, o corte da Seleção foi a maior frustração na sua carreira de futebolista. Foram momentos difíceis para Dirceu Lopes que estava no melhor de sua forma. Somente esqueceu a injustiça com o passar dos anos. Dirceu acredita que não teve maiores oportunidades na seleção porque viveu uma época em que o Brasil estava muito bem servido por jogadores de meio campo.
Na seleção brasileira, Dirceu jogou 19 partidas e marcou 4 gols. Baixinho (1,63m), habilidoso e goleador, Dirceu driblava, lançava e chutava com ambas as pernas. No início de carreira procurava imitar Garrincha, mas com o tempo suas características se aproximavam mais do estilo de Pelé. Ele chegou a despertar o interesse do Santos quando o Rei resolveu abandonar a Vila Belmiro. “Se o Santos me comprar, irei para São Paulo pensando não em substituir Pelé, mas em corresponder à expectativa da diretoria”, chegou a declarar em 1974, já com 28 anos. Pelé é “um espelho dentro e fora de campo”, disse.
Mas a transferência para São Paulo não se concretizou e Dirceu, a exemplo da maioria dos grandes craques do passado, dedicou praticamente toda a sua carreira esportiva a um só time: o Cruzeiro de Minas Gerais. Apenas durante um ano (1975) defendeu uma equipe de outro Estado, quando jogou pelo Fluminense carioca. Depois, retornou à Raposa, jogando mais duas temporadas pelo clube. No total, Dirceu Lopes atuou em 594 partidas pelo Cruzeiro e encerrou sua carreira no Democrata de Governador Valadares em 1981, depois de uma passagem pelo Uberlândia, em 1979.
Com seu jeitão mineiro de ser, discretamente Dirceu foi afastando-se do futebol para dedicar-se à família e aos amigos, com quem se diverte dedicando-se a uma outra arte tipicamente mineira: contar “causos”. As pernas curtas e fortes, o drible rápido e o faro pelo gol foram, aos poucos, sendo substituídos pela fala mansa e o riso fácil, como armas para transmitir alegria e felicidade aos fãs, amigos e familiares. Tímido e sem liderança para coordenar grupos de jogadores, trocou a bola pela vida de empresário, como dono de uma fábrica de jeans em Pedro Leopoldo, sua cidade natal.
Mais tarde, entretanto, passou a ser orientador técnico de meninos das categorias de base. Atualmente, o ex-maravilhoso meia do Cruzeiro, de 1963 a 1977, é revelador de craques, tendo três franquias das escolinhas de futebol da Raposa. Uma delas é na própria cidade de Pedro Leopoldo (MG), onde mora. A outra é na cidade de Conselheiro Lafaiete. Casado, Dirceu tem quatro filhos (Juliana, Gustavo, Vinícius e Emerson). Agora, quando recorda histórias da carreira, Dirceu ainda não digere a passagem de apenas 19 jogos pela Seleção Brasileira e um amargo corte entre os jogadores relacionados à Copa do Mundo do México.
Na ocasião, teve de ceder o lugar para Dadá Maravilha, uma convocação política imposta pelo então presidente da República Emílio Médici, que o técnico Zagallo teve de engolir, diferente de seu antecessor João Saldanha, que havia projetado um lugar de destaque para Dirceu naquele mundial.
O fantástico Dirceu Lopes teve sérios problemas e chegou a ter dificuldades para se locomover devido a duas cirurgias a que se submeteu na região do quadril. E esse deslocamento ósseo aconteceu na cidade de Três Corações (MG), quando em um jogo entre Atlético de Três Corações e Cruzeiro, recebeu uma tesoura voadora de um jogador chamado Divino. Ali, estava acabando a carreira de um jogador que empata com Ademir da Guia em tudo: no talento, na humildade, na falta de ambição e vaidade, na má sorte e na injustiça.
Ambos foram esquecidos pela seleção brasileira de forma lamentável. No interior mineiro, Divino, o algoz de Dirceu Lopes, é visto como um Márcio Nunes, que acabou com a carreira de Zico no Maracanã, depois de uma entrada criminosa no Galinho de Quintino. Dirceu Lopes foi titular absoluto nos 12 anos em que atuou pelo Cruzeiro. Habilidoso e veloz, sua maior característica era arrancar pelo meio de campo com a bola dominada até a área adversária, vencendo seus marcadores com dribles desconcertantes.
Tais lances desarrumavam as defesas adversárias e abriam espaços para os companheiros de ataque ou então para si próprio, pois chutava muito bem, colocado, com força e precisão. A presença de Dirceu Lopes em campo era garantia de bom espetáculo e belos gols. Junto com Tostão, formou uma das maiores duplas ofensivas do mundo, comparável a Pelé e Coutinho, no Santos e Gerson e Jairzinho, no Botafogo.
Dirceu Lopes nunca foi esquecido pelos adversários. Numa oportunidade em que o Cruzeiro esteve em São Paulo, o time foi surpreendido no hotel com a visita de Garrincha. O craque foi lá apenas para cumprimentar Dirceu Lopes a quem se referiu como “o maior jogador do mundo”. Dirceu Lopes colecionou títulos, gols e premiações nas décadas de 1960 e 1970 – campeão mineiro juvenil em 1964; pentacampeão mineiro (1965-66-67-68-69); campeão da Taça Brasil em 1966; campeão da Copa Rio Branco pela seleção brasileira em 1967; artilheiro do campeonato mineiro de 1966 (18 gols); tetracampeão mineiro (1972-73-74-75); vice-campeão brasileiro em 1974 e 1975.
Recebeu três prêmios da Revista Placar, a “Bola de Prata” por ter sido eleito o melhor meia dos campeonatos brasileiros de 1970, 1971 e 1973. Com 601 jogos é o 2º jogador que mais vestiu a camisa do Cruzeiro superado apenas por Zé Carlos que fez 628. Dirceu Lopes é mais um dos inúmeros jogadores que brilharam em suas equipes, mas que nunca conseguiram mostrar todo seu talento com a camisa canarinho, mas ficará por todo e sempre, guardado em nossos corações, por tudo aquilo que fez pelo nosso futebol brasileiro.