DERBY CAMPINEIRO: mais de um século de rivalidade

                  Há mais de cem anos atrás Guarani e Ponte Preta se enfrentavam pela primeira vez, mais precisamente dia 24 de março de 1912. Mal sabiam aqueles torcedores e muito menos aqueles jogadores, que aquela partida daria início a uma rivalidade de muitos e muitos anos. O clássico Guarani e Ponte Preta é um dos clássicos de maior rivalidade do país e o mais antigo do estado de São Paulo. De um lado o Guarani, único clube do interior a ser  campeão  brasileiro,  do  outro  a  Ponte Preta, tradicional  e uma das mais antigas agremiações do Brasil. Talvez por ser a maior cidade do interior do Brasil, Campinas tenha os dois dos clubes mais importantes, tradicionais e populares do futebol do interior e a rivalidade entre esses dois clubes a cada dia que passa parece aumentar mais.

HISTÓRIA

                 O ano era de 1900. A cidade, Campinas. Um grupo de estudantes do Colégio Culto à Ciência preenchia suas horas vagas jogando futebol no Bairro Ponte Preta – nome dado em função de uma ponte de madeira feita pela ferrovia, que para melhor conservação, fora pintada com piche. No dia 11 de agosto do mesmo ano, os estudantes que passavam a tarde jogando bola decidiram levar o hobby mais a sério. Foi fundada a Associação Atlética Ponte Preta. Onze anos depois, alguns adolescentes da classe média/baixa se reuniam na praça Carlos Gomes, uma homenagem da cidade ao grande maestro e compositor campineiro Antônio Carlos Gomes, para também jogar futebol. E, assim como os estudantes do Colégio Culto à Ciência, eles decidiram, no dia 2 de abril de 1911, fundar um time profissional de futebol. O nome? Guarany Foot-Ball Club, em homenagem à obra mais conhecida do maestro Carlos Gomes, nome da praça onde os rapazes passavam a tarde se divertindo.

O PRIMEIRO DERBY

                  O primeiro confronto entre as duas equipes da cidade ocorreu um ano depois da fundação do Guarani, ou seja, dia 24 de março de 1912. Na ocasião, a Ponte venceu o jogo pelo placar magro de 1 a 0, gol de Lopes. Desde então, as duas equipes travam uma disputa acirrada para disputar a hegemonia na cidade de Campinas. Nos 100 anos de rivalidade, ocorreram diversos fatos marcantes. A começar pelo jogo de 26 de setembro de 1948, primeiro clássico disputado no recém criado estádio Moisés Lucarelli, casa da Macaca. O jogo era válido pela segunda divisão do campeonato paulista, e o Bugre pregou uma peça no rival ao vencer a partida por 1 a 0. Entretanto, no primeiro Derby após a inauguração do estádio do Guarani, o Brinco de Ouro da Princesa, em 1953, a Ponte deu o troco num estrondoso 3 a 0.

AS GRANDES CONFUSÕES

                  O Derby Campineiro é marcado, além de muitas curiosidades, por rivalidade, brigas e confusões. E nos últimos anos, a violência entre as torcidas tem quase que constante presença nos estádios. Já em 28 de agosto de 1914, um amistoso realizado no campo do Sousas, trouxe a certeza de que este clássico teria uma rivalidade muito significativa, pois após a vitória do Guarani por 2 a 0, uma briga de grandes proporções tomou as ruas da então pacata cidade de Campinas. Mas a primeira grande confusão entre Guarani e Ponte Preta, aconteceu na abertura do returno do Campeonato Campineiro, na abertura do Campeonato.

                 Os dois já haviam se encontrado e o Guarani havia vencido por 2 a 0, o segundo jogo aconteceu dia 21 de maio de 1916 no Hipódromo, o Guarani vencia por 1 a 0 quando foi marcado um pênalti a favor do Guarani. Dois elementos da Ponte entram no gramado e ordenam a retirada do time. Esse ato provocou indignação nas arquibancadas; as famílias se retiraram e a confusão começou. Dentro e fora de campo o que se via era tão somente socos, bengaladas, empurrões e umas amostras de armas de fogo…

ANOS DOURADOS

                A década de 1970 foi inesquecível para Guarani e Ponte Preta. Em 72, 73 e 74, o Guarani conseguiu o título de Campeão do Interior do Campeonato Paulista. No fim da década, já em 1978, o Bugre sagrou-se Campeão Brasileiro e até hoje é o único clube do interior a conquistá-lo. Fez bonito também na Libertadores de 1979, quando terminou em terceiro lugar. Foi nessa época que o Guarani revelou o centroavante Careca para o mundo, assim como Zenon, que chamou a atenção dos grandes clubes do futebol brasileiro. Já a Ponte Preta, segundo clube mais antigo do Brasil dentre os que ainda estão em atividade, não ganhou nenhum título na década.

                Aliás, o único campeonato que a Macaca conseguiu vencer em toda a sua história foi a Segunda Divisão Paulista, em 1969. Mas nada disso ofusca o brilho de um time que foi vice-campeão paulista em 70, 77 e 79. Dentre alguns grandes jogadores, podemos citar os zagueiros Oscar e Polozzi, o goleiro Carlos e o meia campista Dicá. O sucesso de Guarani e Ponte Preta nos anos 70 era tanto que a Revista Placar de outubro de 1978 fez uma reportagem trazendo a “Seleção de Craques” dos arqui-rivais.

                Por três vezes a Ponte Preta foi vice-campeã paulista, mas aquela decisão de 1977 contra o Corinthians ficou marcada na história do futebol paulista. O Corinthians vinha de um jejum de 22 anos e 8 meses, sua torcida foi ao Morumbi naquele dia 9 de outubro pronta para fazer a festa, pois já havia vencido a primeira partida dias atrás. O Corinthians precisava somente de um empate, e a Fiel invadiu o Morumbi, 138.032 torcedores espremeram-se nos concretos do estádio (recorde de público do Estádio do Morumbi). Depois de estar perdendo a partida, a Ponte Preta virou o placar e venceu por 2 a 1. Foi um dia que o torcedor da Ponte jamais esquecerá. Neste dia a Ponte Preta jogou com; Carlos, Jair Picerni, Oscar, Polozzi e Odirlei; Vanderlei Paiva, Marco Aurélio e Dicá; Lúcio, Rui Rey e Tuta (Parraga).

                No ano seguinte era o Guarani que fazia seus torcedores vibrarem, havia chegado na final do Campeonato Brasileiro e o adversário era o Palmeiras. O título seria decidido em 180 minutos, ou seja, em duas partidas. A primeira foi realizada na capital paulista, e o Guarani venceu por 1 a 0, gol de Zenon. A segunda partida foi realizada no Estádio Brinco de Ouro, no dia 13 de agosto de 1978. Para o Guarani bastava um empate, mas venceu novamente e pelo mesmo placar de 1 a 0, gol de Careca aos 36 minutos de jogo.  Neste dia o Guarani jogou com; Neneca, Mauro, Gomes, Edson e Miranda; Zé Carlos, Manguinha e Renato; Capitão, Careca e Bozó.

A QUEBRA DE UM TABU

                Era o dia 28 de outubro de 2002. A partida valia pelo Campeonato Brasileiro. O jogo era no Brinco de Ouro. E o tabu… era grande. Desde 1987 a Ponte não sabia o que era vencer o Guarani. Poucos minutos antes do apito inicial do árbitro Paulo César de Oliveira, uma violenta briga entre a PM e a torcida da Ponte deixa o clima tenso no estádio. A bola rola com atraso de 15 minutos. A Ponte começou pressionando, mas foi o Guarani quem abriu o placar com Sérgio Alves cobrando falta. A Ponte pressionava, mas quem marcava era o Bugre. Aos 34 minutos, num rápido contra-ataque João Paulo marca um golaço: 2 x 0.

                A Ponte mostrou que não estava morta e Marinho descontou aos 38 minutos. E dois minutos depois, Lucas empatou. No segundo tempo, o jogo ficou morno até os 30 minutos quando a Ponte aproveitou descuido do Bugre no meio e virou o placar. Alex Oliveira roubou e fez passe na medida para Luciano Baiano, na direita. O lateral avançou e tocou para Basílio, que escapou da marcação e bateu cruzado na saída de Edervan: 3 a 2. E aos 45 minutos, Elivélton, de pênalti ampliou: 4 x 2. Era o fim do jogo, o fim de um tabu de 15 anos.

CURIOSIDADES

                Neste clássico campineiro temos várias curiosidades, como por exemplo; o primeiro Derby realizado no Estádio Moisés Lucarelli que pertence a Ponte, aconteceu dia 26 de setembro de 1948 e o placar foi de 1 a 0 para o Guarani. O primeiro Derby no Estádio Brinco de Ouro que pertence ao Guarani, aconteceu dia 7 de junho de 1953 e o placar foi de 3 a 0 para a Ponte Preta. O maior público registrado entre estas duas agremiações aconteceu dia 3 de junho de 1979, quando tivemos 38.948 pagantes. O jogo foi no Estádio Municipal do Pacaembu e neste dia o Guarani venceu por 2 a 0. Jogando no Brinco de Ouro, o maior público foi de 34.222 pagantes e isto aconteceu dia 30 de janeiro de 1980, quando a Ponte venceu por 1 a 0.

                Jogando no Moisés Lucarelli, o maior público foi de 31.116 pagantes e isto aconteceu dia 27 de fevereiro de 1977, quando a Ponte venceu por 3 a 1. A maior goleada aconteceu dia 5 de maio de 1960, quando o Guarani venceu por 6 a 0. O jogo foi no Brinco de Ouro. O maior artilheiro é Zuza do Guarani com 18 gols. No placar do Brinco de Ouro, no lugar do visitante, não aparece escrito Ponte Preta, mas somente AAPP. Da mesma forma no estádio Moisés Lucarelli, não aparece escrito Guarani, mas somente GFC. Somente 650 metros separam os dois estádios. 

                Quer seja Guarani ou Ponte Preta, o importante é que a cidade de Campinas está de parabéns, pois possui dois clubes de tradição do nosso futebol brasileiro e que honram a cidade. Esta rivalidade que já dura 100 anos, certamente irá durar mais um século e quem ganhará com isto serão os amantes do futebol, pois Guarani e Ponte Preta sempre fizeram grandes jogos, por isso é chamado de Derby Campineiro.

Seleção de Campinas em 1977 – Em pé: Carlos, Oscar, Mauro, Polozzi, Zé Carlos e Odirlei   –   Agachados: Lúcio, Renato Pé Murcho, Careca, Zenon e Tuta
Ponte Preta de 1977 – Em pé: Carlos, Oscar, Polozzi, Vanderlei, Jair Picerni e Odirlei    –   Agachados: Lúcio, Marco Aurélio, Rui Rey, Dicá e Tuta
Guarani de 1978  –  Em pé: Zé Carlos, Edson, Mauro, Miranda, Gomes e Nenéca     –    Agachados: Capitão, Renato, Careca, Zenon e Bozó

 

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