ORGULHO DE ERGUER A TAÇA: uma honra para poucos

                    O orgulho de cada um de nós torcedores ao longo de toda uma competição permeia sofrimentos, derrotas, alegrias, angustias, enfim um enorme arsenal de sentimentos dúbios que são deixados para um segundo plano, tão logo nossa equipe chega ao título. O grande marco que define esta transposição do sonho pela conquista até a sua efetiva materialização acontece quando vemos um de nossos representantes, o capitão de nossa equipe erguer a sonhada taça.

                    Quando falamos das conquistas de nossa seleção nas Copas do Mundo, podemos não lembrar de muitas coisas, quem marcou determinado gol, quem defendeu aquele pênalti, mas dificilmente esquecemos os nomes de nossos capitães campeões mundiais: Bellini, Mauro, Carlos Alberto, Dunga e Cafu, pois foram momentos marcantes para nós brasileiros, foram alguns segundos, mas que ficaram registrados em nossa memória e passe o tempo que passar, jamais será apagado, pois foi um momento de rara beleza.

COPA DE 1958

                    No mundial de 1958, disputado na Suécia, o nosso capitão era Hideraldo Luiz Bellini. Nascido na cidade paulista de Itapira, dia 7 de junho de 1930, Bellini entrou na história não somente por ser um dos grandes jogadores brasileiros de sua época, e por ter sido o capitão daquela equipe que conquistou o título mundial em 1958, mas principalmente por um gesto.

                   Coube a ele, motivado por pedidos de fotógrafos que queriam fotografar a Taça Jules Rimet, erguer os braços em direção do céu e levantar aquele símbolo da conquista do mundo através de nosso futebol. Bellini e seu gesto entraram para a história, e se a partir daquela Copa do Mundo, a camisa 10 passou a ser utilizada pelo melhor jogador do time, uma referência a Pelé, também a partir daquele instante, toda conquista de título, desde uma competição de bairro a Copa do Mundo, cabe ao capitão erguer a taça conquistada.

                   São poucas as pessoas no mundo que podem se orgulhar de ter criado algo, um produto, uma fórmula, um objeto e, até mesmo um gesto. Assim como surgiu o cumprimentar de mãos, o abraço, o beijo no rosto, Bellini pode se orgulhar de ter feito pela primeira vez um movimento que alegra dos mais jovens aos mais idosos, do mais rico para o mais pobre. Graças a ele, foi criado um dos gestos mais significativos do futebol e, até mesmo, dos outros esportes; o levantar da taça de campeão. Os brasileiros em especial, jamais esquecerão daquele gesto feito por Bellini no dia 29 de junho de 1958, dia em que conquistamos o primeiro título mundial, ao vencermos a Suécia por 5 a 2. Foi uma copa que jamais esqueceremos, pois foi neste mundial que o mundo conheceu Pelé, Garrincha, Gilmar e também o nosso capitão que orgulhosamente levantou a taça de campeão.

                  O título e o gesto de levantar a taça Jules Rimet só coroaram o excelente mundial realizado.  Bellini certa vez disse: “Foi sensacional ir à Suécia em 58, ainda garoto. Ser convocado já era um prêmio. Ser titular e capitão de uma seleção que só tinha feras então, nem era bom pensar. Foi uma campanha árdua, mas a conquista do título foi qualquer coisa de fantástico. Com a taça em cima da cabeça, vi o mundo todo aos meus pés. Sabia que o Brasil todo estava conquistando pela primeira vez o mundial e que aquela taça que eu segurava, seria nossa pelo menos por quatro anos e que todos haveriam de nos respeitar”. 

                  E quando lhe perguntam sobre aquele famoso gesto de erguer a taça, ele responde: “Não pensei em erguer a taça, na verdade não sabia o que fazer com ela quando a recebi do Rei Gustavo, da Suécia. Na cerimônia de entrega da Taça Jules Rimet, a confusão era grande, havia muitos fotógrafos procurando uma melhor posição. Foi então que alguns deles, os mais baixinhos, começaram a gritar: “Bellini, levanta a taça, levanta Bellini!”, já que não estavam conseguindo fotografar. Foi quando eu a ergui”, conta Bellini, rindo ao se recordar do histórico momento.

COPA DE 1962

                 No mundial de 1962, disputado no Chile, o nosso capitão foi Mauro Ramos de Oliveira, que nasceu dia 30 de agosto de 1930, na cidade de Poços de Caldas (MG). Já o nosso “Martha Rocha”, apelido de Mauro, que tinha justamente “tomado” o lugar de Bellini em campo, não simplesmente homenageou o seu antecessor, mas principalmente vez com que aquele gesto, ainda tratado como exceção em 1958, passasse a se tornar uma regra: “Ao conquistar o título, ergue-se a taça”. Para esta Copa, o técnico da nossa seleção, Aymoré Moreira, admirado com a coragem e a personalidade de Mauro, o escalou como titular e ainda lhe deu a tarja de capitão. Resultado; Brasil bicampeão mundial, com Mauro erguendo a taça do título.

                  Neste mundial do Chile, a nossa seleção jogou a final com; Gilmar, Djalma Santos, Mauro, Zózimo e Nilton Santos; Zito, Didi e Zagallo; Garrincha, Vavá e Amarildo.  Nesta Copa Pelé contundiu-se na segunda partida e ficou fora da competição, dando seu lugar a Amarildo, que o substituiu a altura. O maior zagueiro que o país já conheceu honrou o posto com uma impecável passagem pela seleção brasileira. Eternizou-se, também, com o uniforme canarinho e com aquele momento que todo brasileiro guarda na lembrança, o de levantar a taça de bicampeão mundial. Mauro que disputou 30 partidas com a camisa canarinho, faleceu dia 18 de setembro de 2002.

COPA DE 1970

                  No mundial de 1970, disputado no México, o nosso capitão foi Carlos Alberto Torres, que nasceu dia 17 de julho de 1944, na cidade do Rio de Janeiro (RJ). Quanto a Carlos Alberto, o que dizer de um jogador que passou a ser chamado por todos de “Capita” tamanho a nobreza de seu gestão e eficiência em ter capitaneado, embora muito jovem, uma das maiores equipes de toda  a história do futebol mundial. O gesto de erguer a taça estava lá novamente e durante muitos anos foi a única imagem que consolou nós, brasileiros, que tivemos de amargar quase 30 anos sem uma nova conquista mundial. Em 1970, Carlos Alberto era uma unanimidade e, sem dúvida alguma, o melhor lateral direito do mundo. Com a braçadeira de capitão, ele liderou a melhor seleção brasileira da história das Copas do Mundo ao tricampeonato. 

                   Pelo menos duas imagens de Carlos Alberto nesta competição se tornaram eternas.  A primeira é a do quarto e último gol brasileiro na goleada sobre a Itália por 4 a 1, na decisão do mundial. A outra imagem é tão marcante e conhecida quanto a primeira: o nosso capitão erguendo a Taça Jules Rimet, recebida após a conquista do Tri.  Foi um momento de coroação, não só para Carlos Alberto, como para outros craques daquela geração, como Tostão, Gérson, Rivelino, Jairzinho e o já consagrado Pelé. Ao conquistar o mundial, Carlos Alberto imortalizou seu nome no cenário mundial.

COPA DE 1994

                  No mundial de 1994, disputado nos Estados Unidos, o nosso capitão foi Carlos Caetano Bledorn Verri, que nasceu dia 31 de outubro de 1963, na cidade de Ijuí (RS). Nos meios futebolísticos, ele é conhecido por Dunga. E coube a ele voltar a repetir o gesto de erguer a taça, no entanto, sem qualquer sentimento nobre como pano de fundo, sabido que somos que ao mesmo tempo que levantava a nossa taça, xingava muitos dos profissionais da imprensa que ali estavam. Saber perder é para poucos, saber ganhar é para menos ainda.

COPA DE 2002

                 No mundial de 2002, disputado na Coreia e Japão, o nosso capitão foi Marcos Evangelista de Moraes, o nosso inesquecível Cafú, que nasceu dia 7 de junho de 1970, em São Paulo (SP). Nasceu justamente no dia em que o Brasil sagrava-se tricampeão mundial no México, ou seja, no dia em que Carlos Alberto erguia a Taça Jules Rimet. Mal sabia ele Cafu, que depois de 32 anos ele estaria repetindo aquele gesto. Cafu que foi um conhecido discípulo do grande Mestre Telê Santana, repetiu o gesto com uma doce declaração de amor a sua esposa, Regina, que tomou a mesma importância do seu bairro de origem, Jardim Irene, escrito em sua camisa, personagens que estiveram com ele na dificuldade e, agora, naquele momento, no auge.

                 Cafu soube resgatar todo o simbolismo que estava atrás daquele gesto de Bellini, e que tinha sido devidamente valorizado por Mauro, Carlos Alberto e Dunga. Não é por menos que o mês de junho, marca o aniversário destes dois capitães, Cafu e Bellini, que quis o destino, tivessem nascido no mesmo dia 7 de junho, com uma diferença de 40 anos, um em 1930 e outro em 1970. Diante disso, será que é grande a responsabilidade de ser capitão de nossa seleção?

                 Dentro de alguns meses teremos mais uma final de Copa do Mundo, ou seja, veremos mais uma vez aquele gesto de erguer a Taça de campeão. Mais uma vez teremos um brasileiro repetindo este gesto, o qual será pela sexta vez? Para um atleta profissional não existe momento mais marcante que este, pois é uma mistura de emoção, alegria e dever cumprido. E a recompensa por todo aquele esforço e dedicação durante aquele mês de competição, vem ao ver a alegria estampada em cada rosto do povo brasileiro, um povo que vibra, chora e se emociona a cada conquista de um mundial.

                  O orgulho de erguer uma Taça é inexplicável, somente aqueles que o fazem sabem a grandeza deste gesto. É um momento que ficará por toda eternidade gravada na memória de seu povo, assim como ficou aquela música quando conquistamos o primeiro título mundial que diz; A taça do mundo é nossa, com brasileiro, não há quem possa. Eh eta esquadrão de ouro, é bom no samba, é bom no couro.

BELLINI – Campeão Mundial de 1958
MAURO – Campeão Mundial em 1962
CARLOS ALBERTO – Campeão Mundial em 1970
DUNGA – Campeão Mundial de 1994
CAFU – Campeão Mundial em 2002

 

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