JUNIOR: campeão mundial pelo Flamengo em 1981

                  Leovegildo Lins Gama Filho nasceu dia 29 de junho de 1954, na cidade de João Pessoa (PB).  Até a década de 70, Nilton Santos foi considerado o maior lateral esquerdo brasileiro de todos os tempos. Em 1974, contudo, surgiu um jogador que ameaçou este posto. Este jogador era Junior que jogava no Flamengo. No início, as comparações entre Nilton Santos e Junior eram vistas como um absurdo, mas aos poucos Junior foi conquistando a confiança de todos, até mesmo do próprio Nilton, que chegou a se colocar no mesmo patamar do jogador do Flamengo. Cláudio Coutinho, que viu Nilton Santos jogar e foi técnico de Junior, deu uma das melhores definições; “Nilton Santos sabia tudo de bola e era chamado de Enciclopédia do futebol, o Junior foi o Almanaque”. 

                  Quando pequeno, o futebol não era a grande paixão de Junior. Até os 10 anos de idade, ele preferia as figurinhas. Só foi se interessar pelo futebol anos mais tarde. Segundo filho de uma família de quatro irmãos, Junior nunca sonhou em jogar futebol profissionalmente. Na verdade, ele pretendia ser veterinário. Mas começou a dividir seu tempo entre o Flamengo e os estudos. Não conseguiu conciliar as duas coisas e acabou vendo que a vocação para o futebol era maior. Cursou o primário no Colégio Cócio Barcelos, depois fez o científico e chegou a ingressar no curso de Admininstração de Empresas, na faculdade Cândido Marques, mas trancou a matrícula quando estava no segundo ano.

                 O início no futebol foi um acaso. Junior começou defendendo o Juventus, um time de praia, onde seu irmão mais velho jogava. Paralelamente, vestiu as cores do Sírio Libanes no futebol de salão durante oito anos. A idéia de ser profissional, contudo, nunca havia sido colocada como um objetivo para Junior, pois segundo ele, quem joga na praia, normalmente faz isso porque ama o futebol e não tem interesse financeiro. Júnior entende ainda que a praia é o berço de grandes nomes do futebol brasileiro. “Cláudio Adão, Paulo Sérgio, Edinho, Edmundo, Romário. Todo esse povo começou na areia. São jogadores que têm uma malícia e um estilo diferentes, o que os torna especiais”.  Junior foi o Pelé das areias e se configurou como o maior jogador do mundo neste esporte.

                  Mas um dia resolveu fazer um teste no Fluminense, seu time de coração na infância. Foi reprovado. Tentou o Botafogo e recebeu mais uma resposta negativa. No Flamengo, em contrapartida, foi integrado ao elenco juvenil. Assinou seu primeiro contrato em 1973, quanto tinha 19 anos. Ganhava Cr$ 100,00, que usava para pagar o cursinho pré-vestibular. Mesmo atuando nas categorias de base do Flamengo, não deixou de estudar. O mundo pode ter perdido um bom administrador, mas certamente, o futebol agradece por isso.  Junior chegou ao Flamengo para atuar no meio de campo do time juvenil. Logo o treinador Modesto Bria o deslocou para a lateral direita, onde ganhou destaque.  Em 1974, Junior foi levado para o time principal. Sob o comando do treinador Joubert, ele estreou em um amistoso contra o Dom Bosco, no Mato Grosso.  

                  No início, ele atuava como lateral-direito, mas depois se efetivou na lateral-esquerda, onde colocou no banco de reservas Wanderley Luxemburgo, que na época era o lateral esquerdo do Flamengo. Algum tempo depois, Junior teve uma nova oportunidade. O lateral entrou em campo na estréia do rubro negro carioca no campeonato estadual, diante do Madureira. Entrou no segundo tempo e jogou apenas 20 minutos. Na semana seguinte, contra o América, entrou novamente e fez seu primeiro gol com a camisa do Flamengo. Era o início de um longo caso de amor. Até hoje, nenhum jogador na história do clube, vestiu tantas vezes a camisa rubro negra quanto o lateral Junior. Foram 857 jogos, sendo 492 vitórias, 210 empates e 155 derrotas. Marcou 73 gols.  Foi titular do Flamengo durante dez anos, sem intervalos.

                  Em 1984, foi vendido ao Torino, da Itália. A negociação que rendeu US$ 2 milhões aos cofres do Flamengo, foi uma forma de viabilizar a volta do meia Zico, maior ídolo da história do clube, que estava na Udinese da Itália. Jogou no Torino até 1987, depois foi jogar no Pescara, outro clube italiano, onde ficou até 1989. Neste ano, aos 34 anos, Junior voltou à Gávea. No ano seguinte, conduziu o time à conquista da Copa do Brasil.  Em 1992, quando já tinha 37 anos, conquistou seu último título, o Campeonato Brasileiro, com o jovem time da Gávea, que tinha Nélio, Marquinhos, Fabinho, Paulo Nunes, Marcelinho Carioca, entre outros. Nas finais o Flamengo derrotou o Botafogo. Junior marcou gols nos dois jogos decisivos; 3 a 0 e 2 a 2.

                  No ano seguinte, encerrou sua carreira como jogador e assumiu o cargo de técnico do Flamengo.  Como jogador do Mengão, foi campeão carioca em 1974, 78, 79, 81 e 91. Campeão da Taça Guanabara em 1978, 79, 80, 81 e 82. Campeonato Brasileiro em 1980, 82, 83 e 92. Copa do Brasil em 1990. Libertadores da América em 1981 e Mundial Interclubes em 1981.

                 Como treinador, Junior iniciou sua carreira em 1993. Com um time que não figurava entre os favoritos, conseguiu levar o Flamengo ao vice-campeonato na Supercopa da Libertadores. No ano seguinte, levou o Mengão à segunda colocação no campeonato carioca.  Depois deixou o cargo de técnico do Flamengo e resolveu se dedicar ao futebol de areia, onde atuava como treinador e jogador. Em 1997, voltou ao banco de reservas do Flamengo. Comandou a equipe por mais um ano e chegou à decisão do Torneio Rio-São Paulo, vencido pelo Santos.

                 Depois deixou o Flamengo e deu início a uma nova carreira, a de comentarista esportivo em canais de televisão. Hoje ele trabalha na Sportv.  Em 2003, Junior teve seu maior e mais curto fracasso na carreira de técnico. Ele comandou o Corinthians por sete dias, várias reclamações sobre a qualidade dos jogadores da equipe e duas derrotas por 3 a 0. Os adversários que minaram o trabalho de Junior foram o São Caetano dia 8 de outubro e o São Paulo dia 12 de outubro. O compromisso assinado com o time de Parque São Jorge, durou apenas uma semana. No dia 11 de dezembro, acertou com o Flamengo, desta vez como diretor técnico.  Como técnico do Flamengo, Junior comandou 76 jogos. Venceu 35, empatou 21 e perdeu 20 vezes.

SELEÇÃO BRASILEIRA

                  A partir de 1979, Junior passou a ser nome certo nas convocações da seleção brasileira. O “Capacete”, apelido dado pelos seus colegas de clubes, fez parte do inesquecível time de 1982, comandado por Telê Santana e que tinha a seguinte formação; Waldir Perez, Leandro, Oscar, Luizinho e Junior; Falcão, Sócrates, Paulo Isidoro e Zico; Serginho Chulapa e Eder. O Brasil, favorito, foi eliminado na Copa do Mundo da Espanha pela Itália, de Paolo Rossi, numa partida em que o empate já nos bastaria. Foi considerado o melhor lateral da Copa, fundamental para o esquema tático montado por Telê. Suas investidas pela esquerda, sempre trocando passes rápidos com Eder e Zico, eram a principal arma ofensiva de um dos maiores times que o mundo já conheceu.

                   Neste mundial, Junior entende que viveu um dos melhores momentos de sua carreira. No confronto com a Argentina, quando o Brasil venceu por 3 a 1, o lateral marcou o terceiro gol canarinho. Foi um lançamento de Zico, Junior entrou pela diagonal e bateu de primeira na saída do goleiro. Foi o gol mais bonito e o mais importante de sua carreira. Mas no jogo seguinte contra a Itália, a sorte não sorriu para nós brasileiros e fomos batidos pelos italianos por 3 a 2. Junior foi titular absoluto da seleção brasileira durante muitos anos. Disputou também a Copa de 1986, no México e as Olimpíadas de 1976. Com a camisa da seleção brasileira, Junior disputou 88 partidas e marcou 6 gols.

                   Embora não tenha nascido no Rio de Janeiro, ele tem o perfil característico do malandro carioca. É impossível não notar seu andar balanceado, sua fala mansa, sua pele bronzeada, seu sotaque típico da Cidade Maravilhosa. Acontece que Junior chegou ao Rio de Janeiro, ainda criança. Seu avô que era dono de uma fábrica de mosaicos, faleceu. Com isso, a família decidiu a sorte na então capital da República, o Rio de Janeiro. Ironicamente, o bairro escolhido pela família, foi o Botafogo, na zona sul. A localização quase complicou sua carreira, pois na época havia poucos campos a disposição perto de sua casa. Por isso, começou a jogar futebol de praia.

                   Por essa razão, Junior demorou para conhecer os gramados cariocas. Vestiu uma chuteira pela primeira vez aos 16 anos. Batia torto na bola, não conseguia nem correr direito. Mas quando se acostumou com elas nos pés, chegou a ser considerado o maior lateral esquerdo de um mundial (1982). Depois de mais de quarenta anos vividos na Cidade Maravilhosa, a figura de Junior se confunde com o nome do local. O próprio jogador entende que, atualmente, é mais carioca que paraibano. Por isso ele sempre diz; “Sou carioca por opção. Vivo aqui há muito tempo e amo essa cidade. Adotei o Rio de Janeiro e o Rio de Janeiro me adotou”.

                  Sempre gostou de um samba, inclusive, durante a Copa de 82, lançou um disco com duas músicas, com o título de “Povo Feliz”. Vendeu 350 mil cópias. Atualmente, Junior continua jogando suas peladas. Mas nada de seriedade. “Antes era profissional, fazia pelo meu clube e pela seleção. Agora, jogo apenas para me divertir. Não consigo ficar longe da bola”, define o nosso Leovegildo, mais conhecido por Junior. O homem que nasceu na Paraíba e foi vencer no Rio de Janeiro, graças ao talento maravilhoso que Deus lhe deu como jogador de futebol.

JUNIOR E PELÉ
Em pé: Raul, Mozar, Marinho, Carlão, Junior e Andrade      –     Agachados: Doval, Leandro, Nunes, Zico e Adilio
Em pé: Waldir Peres, Leandro, Oscar, Falcão, Luizinho e Junior      –     Agachados: Sócrates, Toninho Cerezo, Serginho Chulapa, Zico e Eder
Em pé: Carlos, Sócrates, Júlio César, Edinho, Elzo e Branco      –     Agachados: Junior, Careca, Alemão, Edson e Casagrande

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