FORLAN: símbolo da garra uruguaia

                       Pablo Justo Forlan Lamarque nasceu dia 14 de julho de 1945, na cidade de Soriano, que fica há uns 280 km de Montevidéu – Uruguai. Destacava-se pela garra. Atribuía-se a ele a frase: “O melhor momento de se amedrontar adversários são os primeiros cinco minutos do jogo, quando o juiz nunca dá cartão”. Travou grandes duelos com Nei do Palmeiras. O encontro deles era uma atração a parte. Não queria competir com ninguém, só não gostava de ser mandado. E no campo, queria ver todo mundo dando sangue, como ele fazia. O “Caveira Simpática”, como passou a ser chamado pelos companheiros, se transformava durante as partidas. Se o time estivesse perdendo, corria como um louco, xingava, empurrava os companheiros para a vitória. Se estivesse ganhando, procurava manter os companheiros acesos para garantir a vitória. Hoje seu filho faz sucesso na Seleção Uruguaia, principalmente na Copa de 2010, disputada na África do Sul, onde foi apontado como um dos melhores jogador daquele mundial.

PEÑAROL – URUGUAI

                       Chegou no Peñarol em 1962, aos 17 anos de idade, para jogar no juvenil e depois de um ano e meio passou para o profissional. No clube uruguaio, Forlan sagrou-se campeão da liga uruguaia em 1964, 65, 67 e 68. Foi campeão também da Copa Libertadores da América e do Mundial Interclubes em 1966. Ainda neste ano, disputou a Copa do Mundo da Inglaterra e depois voltou a representar seu país no mundial de 1974, sendo campeão da Copa América em 1967. Enfim, foi um jogador que deu muitas glórias ao futebol uruguaio. Teve a sorte de pegar uma fase muito boa no Peñarol, com isto conquistou inúmeros títulos importantes para o clube. O Peñarol na época estava entre os melhores times do mundo, assim como o Santos de Pelé e o Palmeiras da Academia.

SÃO PAULO F.C.

                      Foi contratado pelo Tricolor em 18 de maio de 1970. Chegou com 4 dias de atraso. Desentendeu-se com Gérson logo no primeiro treino e, ao entrar em campo, naquele verão de 1970, não correspondeu à expectativa de dirigentes e torcedores. Como aquele uruguaio alto, magro, de cabelos compridos e jeito desleixado poderia dar certo no Morumbi? A resposta veio poucas semanas depois, quando Pablo Justo Forlan Lamarque se adaptou ao clube e começou a impor sua forte personalidade aos companheiros. A verdade é que Pablo Forlan, durante o tempo que jogou no São Paulo foi símbolo de garra. Ajudou a equipe a conquistar o bicampeonato de 1970 e 1971, ao lado de Gérson, Pedro Rocha e outros. Em 1975 foi campeão paulista novamente. Forlan sempre teve o perfil de um jogador de muita raça. Pegava bem na bola, em curta e longa distância. Fazia gols de fora da área.

                    Com a camisa do Tricolor do Morumbi, Forlan fez grandes partidas, mas, segundo ele próprio a melhor foi na penúltima partida do Paulistão de 1970 contra o Guarani, quando o São Paulo sagrou-se Campeão Paulista depois de 13 anos na fila. Depois do jogo, o presidente do São Paulo deu a seguinte declaração: “O São Paulo foi uma coisa até a chegada de Forlan e outra depois”.  Pablo Forlan ficou no São Paulo até o dia 1 de setembro de 1975.

                   Depois de um jogo contra o Flamengo, em que o Tricolor venceu por 2 a 0, Forlan estava voltando para o Uruguai e o presidente do Corinthians, Vicente Matheus, mandou buscá-lo. Fez uma proposta para ir jogar no Corinthians, achava o lateral um pé-quente. Era muito dinheiro que ele oferecia, era o dobro. Matheus tinha contato com os dirigentes do São Paulo, se inteirou e sabia quanto ele ganhava. Mas Forlan falou que o único time que jogaria, se resolvesse continuar em São Paulo, era o no São Paulo F.C. No outro dia, ligaram do Morumbi para o atleta querendo saber o que era aquilo que estava sendo noticiado e se haveria o jogo de despedida. E Forlan explicou tudo como aconteceu e disse que por mais dinheiro que lhe oferecessem, ele não iria para o Corinthians. Quinze dias depois houve o jogo de sua despedida e foi muito lindo. Inesquecível.

                    O jogo foi contra o Corinthians, no Morumbi. A torcida Tricolor lotou o estádio. Ficou gente de fora e olha que naquela época cabiam 145 mil pessoas no estádio. Hoje não, só 60 ou 70 mil… Quando o São Paulo entrou em campo, foi impressionante a quantidade de bandeiras tricolores. O São Paulo venceu por 1 a 0, gol do Paraná. Neste dia o São Paulo jogou com: Sérgio, Forlan, Jurandir, Roberto Dias e Gilberto; Édson e Nenê; Paulo, Terto, Toninho e Paraná. O Gerson estava machucado e o técnico era o Zezé Moreira. Com a camisa do Tricolor do Morumbi, Forlan disputou 240 partidas. Venceu 115, empatou 77 e perdeu 48. Marcou 8 gols.

                   Depois do São Paulo, Forlan jogou no Cruzeiro, em 1977, no Nacional do Uruguai, em 1978, e encerrou a carreira no Defensor do Uruguai, equipe que atuou de 1979 a 1984. Forlan participou de duas Copas do Mundo, em 66 e 74. Em 1990, ele foi técnico do São Paulo, antes de Telê Santana assumir. “Coloquei no time de cima o Cafu, o Antônio Carlos e mandei contratar o Leonardo, que era do Flamengo”, lembra Forlan. “Hoje, não tenho muita vontade de voltar a trabalhar como técnico. Para ser treinador, eu cobro caro, já que não aguento ser xingado pelos torcedores. Além disso, aqui no Uruguai, por exemplo, o técnico trabalha em um ano para receber os salários no outro ano”, diz o ex-lateral-direito.

APAIXONADO PELO BRASIL

                    Depois de viver algum tempo no Brasil, Forlan se apaixonou pelo país e mesmo residindo no Uruguai atualmente, procura sempre estar atualizado com as notícias brasileiras, principalmente aquelas ligadas ao futebol. Ao saber que foi criado aqui no Brasil uma cooperativa de jogadores do passado, a “Craques de Sempre”, que pontua ídolos como Dorval, Mengálvio, Coutinho, Leivinha, Félix, Dudu, Badeco, Gilberto Sorriso e tantos outros, Forlan já foi questionando: “Leivinha, como está? Zito vive? E Pepe? E Coutinho? Parece que emagraceu. Badeco está bem? Gilmar, como passa? E Nilton Santos, tem notícias dele? E Rildo? E o Mauro?”. Para seu alívio, foi informado que Leivinha, Zito, Pepe, Coutinho, Rildo e Badeco estão todos bem. Por outro lado, ficou muito triste ao saber que Gilmar sofreu um derrame, que Nilton Santos vive em uma clínica de saúde e que Mauro morreu. “Coisas da vida”, suspira Forlán, que cita a filha Alejandra, que sofreu acidente automobilístico aos 17 anos, em 1991, ficando paraplégica, e que hoje, aos 36, mantém uma fundação voltada para a conscientização de jovens em relação à direção perigosa. O sorriso, que nunca foi muito aberto, se prenuncia quando fala da felicidade de ver a filha trabalhando e sendo referência em responsabilidade social no país.

                    O mesmo sorriso surge quando fala dos filhos Pablo, que também jogou, Adriana e Diego, que ganhou o título de melhor jogador da Copa do Mundo na África do Sul, e dos netos Andréa, filha de Pablo, e Thiago, filho de Adriana. Dos quatro filhos, apenas Diego não conseguiu completar a faculdade (Administração Internacional) por causa do futebol. Quando questionado se gostaria de ver o neto jogando bola, Forlan responde no jargão futebolês: “Iiii, tudo depende, quem sabe… Mas eu gostaria sim, como não, e quem sabe no São Paulo. Seria muito bom ter mais um do futebol na família”. Ele sabe o que diz, pois seu pai foi jogador na década de 1930 e seu sogro, Juan Carlos Corazzo, foi um grande craque e técnico de renome no Uruguai e na Argentina.

                   Segundo Forlan, quando a FIFA elege o melhor do mundo, deveria fazer por posição. Como exemplo ele cita Pelé e Maradona, que para ele foram os melhores jogadores de todos os tempos. E quando Forlan se refere ao Maradona, ele até se emociona e diz; “ Para mim, é uma pessoa de um coração imenso. Uma vez ele chegou para mim e disse: “Pablo, se você precisar fazer um jogo para levantar renda para o tratamento de sua filha, pode me avisar que eu vou”. “Marcamos a data e olha que data, dia 29 de dezembro. E ele veio. O estádio ficou lotado, 65 mil pessoas. Veio Francescoli, Recoba. O Nelinho e o Branco só não vieram porque o avião teve problemas e não pôde decolar. Pessoas de coração grande, sem dúvida nenhuma. Diego Maradona é uma pessoa especial, mas é preciso entender, ele tem seus problemas. Todos nós temos, mas seu coração é enorme”.

                  Pablo Justo Forlan Lamarque, o Forlan, lateral-direito do São Paulo de 1970 a 1975, mora em Montevidéu, no bairro Carrasco, no Uruguai, onde trabalha como representante e olheiro de jogadores jovens do futebol uruguaio. Ele é casado e pai de quatro filhos, sendo dois deles jogadores de futebol: Pablo, o mais velho, jogou no Deportivo Maldonado (Uruguai) e Diego Forlan, caçula, foi atacante do Independiente de Avellaneda (Argentina), do Manchester United (Inglaterra) e em 2005 transferiu-se para o Villareal (Espanha), sempre fazendo muitos gols. Desde 2003, Diego Forlan tornou-se titular da seleção uruguaia, inclusive sendo apontado como o melhor jogador e artilheiro da última Copa do Mundo disputada na África do Sul, onde a Espanha conquistou pela primeira vez o título mundial.

                  Forlan era um jogador extremamente aguerrido em campo, sendo reconhecido por imprensa, torcida e jogadores pela raça, dedicação e virilidade com que jogava, às vezes, até de forma um tanto violenta, especialmente na marcação. Comemorava triunfos diante da torcida, batendo a mão contra o escudo do seu clube sobre o peito. Fora de campo é um ser humano maravilhoso.

FORLAN EM DESTAQUE PELO PEÑAROL DO URUGUAI
Em pé: Gilberto, Sérgio, Samuel, Edson, Arlindo e Forlan      –      Agachados: Paulo, Terto, Toninho Guerreiro, Pedro Rocha e Paraná
Em pé: Jurandir, Sérgio, Gilberto, Arlindo, Edson e Forlan     –      Agachados: Terto, Pedro Rocha, Toninho Guerreiro, Gerson e Paraná
Em pé: Gilberto, Sérgio, Jurandir, Edson, Forlan e Dias     –     Agachados: Paulo, Terto, Toninho Guerreiro, Paraná e Gérson
Em pé: Gilberto, Sérgio, Dias, Edson, Jurandir e Forlan      –     Agachados: Paulo, Terto, Toninho Guerreiro, Gerson e Paraná
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